quarta-feira, 8 de junho de 2016

Xilogravura e Pintura são as técnicas artísticas que encantaram na entrada da Novela “Velho Chico”



(foto: reprodução/ Tv Globo)

Acredito que muitos já tenham visto esta imagem ou parte dela, e sempre me questionei sobre quem seria o artista a produzir maravilhosa obra que parece estar em movimento. Em vários canais de comunicação é possível encontrar uma reportagem sobre a entrada da novela, mas fiz uma triagem e separei aqui o melhor conteúdo.

A abertura de "Velho Chico" abusa das cores e formas para traduzir os sentimentos da história e a arte regional pelas mão de Samuel Casal e Mello Menezes. Gravado em Florianópolis SC no estúdio da Animaking, o trabalho realizado pelos artistas traduz o universo mitológico e simbólico que permeia o rio São Francisco numa narrativa puramente visual. E para dar rítmo às imagens, Caetano Veloso arremata o conjunto da obra cantando "Tropicália".

O painel principal, que mede 1,8m x 1m, levou cinco dias inteiros para ser realizado, mas a concepção da peça demorou mais tempo: começou com uma reunião com o diretor Luiz Fernando Carvalho e os autores Edmara Barbosa, Bruno Luperi e Alexandre Romano, diretor de arte da abertura e ganhou corpo ap´pos uma viagem à Bahia, onde a equipe acompanhou de perto as gravações da novela.

"Isso nos ajudou muito a compreender a real profundidade artística de trabalho. A produção de arte era tão impecável que até cheiros foram reproduzidos em cada ambiente para ajudar os atores a entrar na história. Voltamos com a certeza de que o processo artístico de uma obra real, desenvolvida de forma artesanal era o caminho certo para contar a história na abertura', explica Romano. Segundo ele, foi Carvalho quem apontou a arte dos muralistas sul-americanos, dos artistas do tropicalismo brasileiro, as platibandas coloridas das casas do sertão e as carrancas e artesanato do São Francisco como fontes de inspiração.



O Ritmo da Correnteza

Para casar as imagens com a canção escolhida para abrir Velho Chico, Tropicália, Romano e sua equipe tiveram um novo desafio. "Foi um presente e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade para chegar em uma explosão convergente. A música é desconstruída, falando de tudo ao mesmo tempo com uma dinâmica não linear. Nela buscamos pequenas abstrações para representar sua força de forma visual combinada a força da história, juntando ainda as quebras de ritmo". 

Confira o making of da novela:


"Mello é um artista super talentoso e experiente, que passeia fácil por diferentes estilos e tem uma expressividade incrível nas pinceladas. Procurávamos um artista que trabalhasse com entalhe em madeira ou alguma técnica parecida com a xilogravura para termos a dimensão física do volume e do regionalismo, mas não queríamos nada tão tradicional como o cordel. Encontramos o trabalho incrível do Samuel, que era diferente de tudo que já tínhamos visto".

Samuel Casal nasceu em 1974 e é ilustrador profissional desde 1990. Ilustrador freelancer, quadrinhista e gravurista, também colabora com publicações nacionais e internacionais. Começou no jornal de sua cidade, Caxias do Sul (RS). De lá para cá, já publicou sua arte na Superinteressante, Folha de São Paulo, Le Monde Diplomatique, Exame e Die-Gestalten, entre outras. Publicou HQs na Argentina, França, Alemanha, Bolívia, Chile e Espanha.

Faturou oito prêmios HQMix de 2001 à 2007 e é coautor de um pequeno clássico recente da HQ nacional: Prontuário 666: Os Anos de Cárcere de Zé do Caixão (2008).




O desenho foi desenvolvido durante algumas semanas, e a produção final durou cinco dias de trabalhos simultâneos em um galpão/estúdio em Florianópolis: Mello traçou a base a lápis e começou a cobrir com cores e formas simples, e Samuel dava forma aos desenhos. Por fim, Mello voltava e pincelava detalhes.

 O artista Mello Menezes, durante a produção do mural


"Para o processo da animação stop motion (quadro a quadro), que usamos em algumas partes, Samuel precisava traçar e parar para fotografarmos e isso atrapalhava muito a dinâmica do trabalho dele que é muito intuitivo. A conclusão é que mesmo para os dois artistas experientes, todo trabalho foi uma grande novidade", conta Romano.

A história seguia um roteiro, que contempla lendas da região, como a índia Iati, cujas lágrimas após perder seu amor na guerra dão origem ao São Francisco, além de símbolos, como a serpente (o mal e a cobiça do homem pela natureza) e o cardume (o alimento e a vida vindos de suas águas).

"O cardume vai diminuindo, mostrando a realidade atual do rio, onde nos peixes estão ficando escassos por conta da invasão das águas do mar. Voltamos a ver a serpente e depois dela um homem e uma mulher, separados pelo rio. Eles representam um amor proibido, dividido por famílias que disputam o poder sobre a natureza, e mais a frente se enroscam no amor e viram o rio de amor, com as cores da fauna e flora brasileira, que tomam conta do rio. Em seguida, as embarcações e suas carrancas que espantam o mal, para que os navegantes sigam seguros", explica.

Os arquétipos do homem e da mulher, responsáveis por tomar conta da natureza, são banhados pela energia da vida, representada pelo sol. Embalada por "Tropicália", na voz de Caetano Veloso, a abertura ganhou uma reedição para criar relações entre som e imagem.

"Assim, como uma obra de arte numa galeria, nós deixamos para o público diversas formas de interpretar a história, as referências e seus significados", diz.

Ficha técnica da abertura

Direção de Criação: Sergio Valente, Mariana Sá
Criação: Alexandre Romano, Christiano Calvet, Roberto Stein, Renan de Moraes.
Direção: Alexandre Romano
Direção de Arte: Alexandre Romano, Christiano Calvet
Artistas Plásticos: Mello Menezes e Samuel Casal
Edição: Alexandre Romano
Composição e animação digital: Renan de Moraes, Flavio Mac, Gustavo Duval, Felipe Lobo, Wanderson Andre Santos, Alexandre Romano.
Ilustrador Assistente: Igor Ching San
Produção Executiva: Orlando Martins
Logo design: Christiano Calvet
Atendimento: Carla Sá, Bernardo Magalhães, Suzana Prista, Fabienne Verbicaro
Produção e Stop Motion: AnimaKing

Segue link dos artistas:
Mello Menezes
Sanuel Casal

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