A estância hidromineral de Caldas de Cipó, às margens do rio Itapicuru, é a mais antiga do País. (BAHIA, 1986b)
Dentro do município de Cipó é visível por todos que as grandes e por que não, as mais importantes construções encontrassem abandonadas ou foram demolidas, exemplos como o grande Hotel, o Hadium Hotel (onde se encontrava o cassino), o clube Balneário e o teatro municipal demonstram o abandono e a falta de capacidade dos gestores em tentar resgatar tais construções, e de acordo com Lazzerini (2007) “um dos primeiros hospitais termais das Américas surgiu no Vale do rio Itapicurú, em Cipó.”, só que o mesmo foi destruído e hoje em seu lugar existe apenas a área abandonada sem nenhum resquício desse hospital.
Com o objetivo de um crescimento urbanístico bem planejado o governo do Estado através de um decreto de lei, transformou Cipó em área de segurança nacional e tornou obrigatória à administração do município apenas por engenheiros civis ligados a Secretaria de Agricultura e Obras Públicas. Para tanto, foram nomeados: o Engenheiro Oscar Caetano e o Engenheiro Aristóteles S. Gomes. Esta lei vigorou por 30 anos indo até 1975.
Cipó, ao menos no início de sua história, como município, seguiu um caminho diferente da maioria dos municípios brasileiros, pois foi feita de maneira planejada visando o crescimento ordenado e esse crescimento através de um planejamento contínuo durou aproximadamente trinta anos, contudo ainda sem a participação efetiva da população, já que a mesma não tinha direito ao voto.
Pegando o trecho do site da Bahiatursa fica explicito o descaso com que o Grande hotel foi tratado, eis o trecho: “a implantação da Bahiatursa, pela Lei Estadual 2.563, de 28/08/1968, tinha o propósito de construir e estimular a construção ou adaptação de hotéis... Em sua primeira fase de atividade priorizava-se reformar e ampliar as instalações e serviços do Grande Hotel de Itaparica e do Grande Hotel de Cipó. No entanto, o que se viu foi a construção de um hotel em Juazeiro,..., Esse deslocamento deveu-se à interferência do então governador, Luiz Viana Filho, originário da região do São Francisco. Vale observar que o hotel de Itaparica não deixou de ser reformado, Já o de Cipó só foi reinaugurado no segundo governo de Antônio Carlos Magalhães (1979/83).”
Ao ler a história de Cipó percebe-se que ela está marcada pelo interesse ou não de personagens em particular, como o Padre Antonio Monteiro Freire, ou o Dr. Genésio Salles. Este último, visionário, talvez tenha sido o maior empreendedor do município de Cipó, e através da concessão que ele ganhou para administrar naquela época a “Estância hidromineral de Cipó”, fez vários investimentos, sendo o responsável pelo cassino, teatro e indiretamente de outras construções no município e região.
Caldas de Cipó, para alguns, ou Cipó, como de fato é, cidade marcada por grandes obras, inaugurações com personagens importantes da história nacional, como descreve Guimarães Rosa(1983, p. 171-173) a chegada de Getulio à nosso município:

" Em Caldas-do-Cipó, pude ver reunidos – espetáculo inédito, nos anais sertanejos e creio mesmo que em qualquer parte – cerca de 600 vaqueiros autênticos dos “encourados”: chapéu, guarda-peito, jaleco, gibão, calças, polainas, tudo de couro, couro de veado mateiro, cor de suçuarana. /.../ Fui com Assis Chateaubriand, que é o rei do (sic) entusiastas, e tive de vestir também o uniforme de couro e montar a cavalo (num esplêndido cavalo paraibano), formando na “guarda vaqueira” que foi ao campo de aviação receber o Presidente Getúlio Vargas. A mim coube “comandar” os vaqueiros de Soure e de Cipó (!) "

É difícil imaginar que fatos como esse tenham ocorrido numa cidade do agreste da Bahia em meados da década de 50, mas aconteceu. A vantagem de Cipó naquela época era por ter um empreendedor como Genésio Salles, por fazer parte do planejamento da atividade turística da Bahia, devido a suas águas termais que atraia uma grande quantidade de turistas na época e pelo fato da cidade possuir um Cassino que impulsionava a vinda de muitos jogadores do Brasil e de outros países. Como foi observado por Mello e Silva (1996):

" Até o final da década de 70, Salvador aparecia quase como o único destino turístico do Estado. Ele observa que, em 1964, no Guia turístico do Brasil, com 91 páginas de texto, constava sobre a Bahia quase uma página sobre Salvador e 6 linhas sobre Cipó. O Guia Quatro Rodas de 1965 só apresentava 8 localidades baianas. "

É inaceitável ver a situação em que o município de Cipó encontra-se e ficar apenas discutindo na beira das esquinas ou em bares as ações de político A ou B, Cipó já foi grande por que teve grandes homens, visionários, empreendedores, e com atitude, mas hoje a maioria dos munícipes preferem ficar brigando por políticos, não por políticas públicas, e por uma vaga na prefeitura para ganhar um salário mínimo ou um pouco mais, ao lutar pelo crescimento sustentável do município de Cipó.
Não quero me colocar na posição de juiz, até porque é compreensível que a falta de oportunidades obrigue muitas pessoas a ficarem numa posição desconfortável, a de aceitar determinados tipos de submissão para honrar com suas contas a pagar, filhos para sustentar, e outros problemas que é comum da vida. Mas é inaceitável a qualquer cidadão a venda de seu voto em prol de beneficio próprio a custa de uma população e do desenvolvimento dela. Se for para errar que seja com dignidade e na tentativa de acertar.
Ao fazer uma comparação entre o passado glorioso e o presente frustrante, chego a conclusão que um dos principais fatores que fizeram a diferença em Cipó foram as atitudes que aquelas pessoas como Genésio Salles tiveram como em 1926, quando, como está relatado na Gazeta médica da Bahia (1926) “ele com o fim de chamar a atenção dos poderes públicos para aquelas águas, empreendeu uma arrojada viagem de automóvel de Alagoinhas a Cipó, a primeira que se fazia ao Nordeste do Estado, sendo que não havia estrada naquela época para Cipó. Alguns anos após esse feito o governo do Estado resolveu asfaltar a rodovia de Alagoinhas à Cipó.” Em comemoração a esse feito foi construída uma estátua, que para não mudar o contexto de Cipó, ela não existe mais.
As justificativas mais ouvidas pela decadência de Cipó estão relacionadas diretamente com o fechamento do cassino, só que essas pessoas se esquecem que o motivo maior do desenvolvimento da cidade foi por causa das águas termais, que davam a Cipó a categoria de Estância hidromineral. Se águas termais não são atrativos como muitos “entendidos” de Cipó dizem, por que cidades como Caxambu, São Lourenço, Cambuquira, Lambari, Caldas Novas, Águas da Imperatriz, Águas de São Pedro e outros tantos aqui no Brasil e Vichy e outras cidades no mundo, tem suas economias altamente dependentes do turismo “termal”?
É claro que nesses lugares existe uma estrutura adequada para receber os turistas, as águas são aproveitadas de várias maneiras, como na utilização para cosméticos, lazer, tratamento alternativo.
Hoje Cipó vê sua economia altamente dependente de duas áreas: o artesanato e a prefeitura; e acredito que enquanto não aprendermos que somos parte fundamental desse presente, Cipó continuará sendo como quase todas as cidades do interior do nordeste, um município exportador de pessoas que buscam melhores condições de vida nas grandes cidades, como aqui já foi um dia.

Fonte: ---- / Matéria: Lauro Alisson / Postagem: Salvo Horley