Sim, existe.

Muitos podem discordar. Dizer que tudo na vida é relativo, que cada pessoa tem o seu livre arbítrio, suas dificuldades e seu tempo. Isso também é verdade, porém, ignorar ou negar o caminho reto não significa que ele não exista.

Pode ser difícil, estreito e lento, mas existe.

Qual é o caminho certo?

É compreender e seguir a lei natural que é a lei de Deus. É a única necessária à felicidade do homem. Ela indica o que ele deve fazer ou não fazer. O homem só se torna infeliz porque dela se afasta.

Como ela é eterna e imutável, como o próprio Deus, é a única rota verdadeiramente segura. Deus não se engana, os homens é que são obrigados a modificar as suas leis porque são imperfeitas.

A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nessas leis.

Existe um modelo?

Sim, Jesus. Ele foi o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo.

Conforme esclarece Kardec na questão 625 do Livro dos espíritos:

“Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.

Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes as desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e dominar os homens.”

Afinal, quais são essas leis? Bem, vejamos a seguir.

Divisão da lei natural

Quando Kardec propôs aos Espíritos Superiores a divisão das Leis Morais em dez tópicos (dez Leis), eles admitiram essa divisão como aceitável para fins didáticos, no entanto, esclareceram que a última, a Lei da Justiça, do Amor e da Caridade, é a mais importante por conduzir o homem mais depressa à perfeição, além de conter todas as demais.

Vamos a elas (clique para navegar até o conteúdo):

 


Lei de Adoração

Todos compreendemos, mesmo que inconscientemente, que acima de tudo existe um princípio criador, um ente supremo, Deus, que rege o universo e suas criaturas em todos os níveis de evolução. É um sentimento inato que se manifesta de formas diferentes em diversos povos e eras.

Mas por que adorar?

Pela adoração o homem aproxima Deus a sua alma. Elevando o pensamento é criada uma conexão com a fonte criadora. E o pensamento é radiação eletromagnética poderosíssima, que ativa e conduz fótons antimateriais magnetizados, portadores das mais diversas propriedades de indução mental e física. Quando carregados de estímulos salutares de ordem espiritual e natureza superior, são suscetíveis de causar e otimizar estados positivos. (Revista O Reformador. Setembro/1987 ano 105, págs. 28 e 29).

Portanto é fácil concluir que basta o pensamento com a vontade bem direcionada para entrarmos em sintonia com a espiritualidade superior e com Deus.

Mas adorar não é contemplar. A vida contemplativa, inerte, apenas de reflexão, é um desperdício pois o potencial do homem deixa de ser usado em benefício do semelhante. A verdadeira adoração é a que nasce da ação útil em favor do outro, desenvolvendo assim os potenciais riquíssimos que a criatura humana possui e ainda disso não se deu conta.

Adorar não necessita de hora, local, imagens ou símbolos. A verdadeira adoração é a do coração. Aquela que se entrega ao sentimento puro, simples e verdadeiro.

Lei do Trabalho

O trabalho é uma lei da natureza, e por isso é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e os seus prazeres.

O trabalho é essencial para o avanço intelectual e moral dos espíritos encarnados. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade.

Tudo na natureza trabalha. Tudo coopera. O sol envolve o mundo em seus raios, espalhando calor e luz . Os vegetais absorvem luz solar, CO2 e água, ajudando a atmosfera com a liberação de oxigênio. Os animais se nutrem das plantas e de outros seres vivos, mas também se sacrificam para servir de alimento ao homem. O homem trabalha para conservar o seu corpo físico, assim como fazem os animais, mas além disso, trabalha para desenvolver suas habilidades e entendimentos.

Toda ocupação útil é considerada trabalho. Estudar, fazer as tarefas escolares, domésticas, profissionais, cuidar de quem é incapaz, orar em favor dos doentes,  fazer um trabalho voluntário, são maneiras de se trabalhar.  Deus quer que cada um seja útil, de acordo com as suas habilidades.  O trabalho nos ensina a disciplina, a paciência e a obediência.

Através do trabalho remunerado conseguimos prover as nossas necessidades materiais, como se alimentar e se vestir. Mediante ao trabalho voluntário (sem remuneração), podemos nos elevar moralmente.

Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra oportunidade de o praticar. Basta que se esteja em relações com outras pessoas para que se tenha ocasião de fazer o bem.

Tem o homem, portanto, deve colocar todo o seu esforço no trabalho digno e edificante em prol de si próprio e do semelhante. Não nos esqueçamos, por fim, que Deus nos ajuda, na medida em que nos esforçamos na busca do que precisamos. Tudo concorrerá em nosso favor se trabalharmos com afinco, humildade, fé e confiança.

Não há milagres: as grandes obras, conquistas e vitórias são frutos, unicamente, do trabalho digno.

Lei de Reprodução

É evidente que a reprodução dos seres vivos é uma lei da natureza, pois, sem ela, o mundo deixaria de existir. Observa-se sua presença nos reinos vegetal, animal e hominal.

Com o passar dos tempos, e como consequência da lei da reprodução, as espécies animais e vegetais se aperfeiçoam, substituindo-se as mais primitivas por outras mais avançadas. A teoria da evolução das espécies, elaborada por Charles Darwin em 1859, demonstra que os animais evoluem a partir de uma seleção natural onde sobrevivem os organismos capazes de se adaptar melhor ao meio ambiente.

Um exemplo é o próprio homem que evoluiu ao longo dos tempos e sua constituição genética e física sofreu inúmeras transformações. Ao comparar o diâmetro da caixa craniana (cabeça) do homem atual com nossos ancestrais primitivos, observa-se como ela aumentou de tamanho. Outro exemplo são as raças humanas, incontáveis surgiram e desapareceram dando lugar a outras com características diferentes e melhor adaptadas.

Hoje o homem possui a predominância da inteligência sobre a força física, contrário ao que ocorria no passado. Isso é resultante do aperfeiçoamento progressivo dos espíritos que, a cada nova encarnação, desenvolvem suas habilidades. Para suportar esses espíritos aperfeiçoados, são necessários corpos físicos cada vez mais adaptados a essa condição.

Essa adaptação ocorre através de mudanças na constituição genética, sendo fundamental para isso a reprodução dos seres.

Portanto, a lei de reprodução está implicitamente ligada ao progresso.

Lei de Conservação

O instinto de conservação é uma lei da natureza pois todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o seu grau de inteligência. Nuns é puramente mecânico e noutros é racional.

Nos irracionais o instinto de conservação funciona equilibradamente, obedecendo a controles automáticos, sem maiores problemas. Superado o perigo, voltam à normalidade.

No ser humano o mecanismo é mais complexo, posto que, exercitando a inteligência, somos chamados a participar desse controle. A dificuldade reside em nosso despreparo. É natural que, em face de uma ameaça o instinto de conservação mobilize defesas, colocando-nos de prontidão, despertos, ativos ao máximo.

Entretanto, trata-se de um estado de exceção que deve ser prontamente superado ou nos esgotaremos, favorecendo a evolução de desajustes físicos e psíquicos. Seria como uma máquina colocada a funcionar em velocidade máxima, ininterruptamente. Em pouco tempo necessitaria de reparos.

O instinto de conservação está presente em todos os seres porque devem colaborar nos desígnios da Providência, ou seja, na evolução. E para isso, é preciso viver. A vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.

O homem deve procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa. Foi por isso que Deus lhe deu o instinto de conservação e esse instinto o sustenta nas suas provas. O instinto de conservação faz com que o homem passe a repelir a ideia da morte e lute pelo prolongamento de sua vida. Deste modo, cabe tão somente a ele aproveitar ou não as oportunidades de crescimento que a jornada terrestre proporciona.

Deus, dando aos seres a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios para isso. Se ele não os encontra é por falta de compreensão. Deus não podia dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. É por isso que faz a terra produzir de maneira a fornecer o necessário a todos os seus habitantes, pois só o necessário é útil; o supérfluo jamais o é.

O homem, no entanto, deve ter o pleno conhecimento da sua posição de usufrutuário – tem a posse momentânea, podendo “usar e fruir”, porém, com a condição inalienável de “conservar”, ou “bem empregar” tudo aquilo que lhe foi emprestado.

Consequentemente, de forma natural, em havendo o abuso, haverá a responsabilização proporcional.

Lei de Destruição

A destruição é uma lei da Natureza, porque é necessário que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Isso a que chamamos destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e melhoria dos seres vivos.

A palavra “destruição” tem um significado maior e mais abrangente do que o próprio termo supõe, pois a destruição recíproca dos seres vivos parece, à primeira vista, não estar de acordo com a bondade e a justiça divina. Ao invés do sentido literal de “aniquilamento”, é preciso entendê-la enquanto transformação, renovação, tanto física quanto moral, que se presta aos desígnios do Criador.

O homem, enquanto inteligência finita, submetido que está aos estreitos limites da matéria, consegue abarcar apenas alguns pormenores dessa realidade transcendental da natureza divina e, portanto, não tem a compreensão global das leis eternas e imutáveis do Criador.

O ciclo biológico da vida, ou seja, destruição, renascimento e regeneração, é uma transformação contínua que visa ao aperfeiçoamento dos seres vivos. É um vir-a-ser ininterrupto, onde cada ciclo representa apenas facetas combinadas entre si, que compõem a manifestação de um todo indestrutível: o princípio inteligente.

Assim, o que se destrói sob o imperativo desta lei, é tão somente o invólucro exterior, serve de instrumento de trabalho para o espírito. Este invólucro se destrói aqui, para renovar-se mais adiante, em outras existências, transmudando-se em instrumento mais aperfeiçoado através da lei de reprodução. , mais adequado as novas exigências do espírito, que estará também mais enriquecido e capacitado para exigir formas de manifestação mais condizentes com sua realidade espiritual.

Deste modo, até mesmo no que para a visão circunscrita do homem pareça ser destruição há o comando de uma inteligência superior, que tudo encaminha à Lei do Progresso.

Para se nutrirem, os seres vivos destroem-se entre si, mas apenas para obedecer ao equilíbrio natural decorrente das Leis de Conservação e de Destruição conjugadas.

Muito embora a destruição, enquanto transformação, seja imprescindível para a regeneração dos seres, a natureza lhes dá os meios de preservação e conservação para que nada ocorra antes do tempo justo. Se assim não fosse, a destruirão não seria então renovação, já que estaria entravando o desenvolvimento do princípio inteligente, prematuro então para tais progressos.

A destruição que ultrapassar os limites de segurança e necessidade, como o da caça enquanto mero lazer, por exemplo, revela o atraso moral do espírito, pois que toda destruição sem um objetivo útil denota uma transgressão às Leis de Deus.

O homem tem direito de destruição sobre os seres inferiores da criação, como os animais e as plantas, a fim de prover sua nutrição e segurança, mas o abuso desse direito, por interesse econômico, poder ou crueldade, é prejudicial, e ele responderá pelos seus excessos.

Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.

Lei de Sociedade

 O homem é um animal social como disse com acerto Aristóteles, querendo com isso dizer que ele não basta a si mesmo, mas foi criado para conviver com seus semelhantes.

A sociabilidade e uma tendência natural e obedece ao imperativo da lei do progresso que rege a humanidade. E na vida de relação que o homem se desenvolve, enriquece e satisfaz os anseios de compartilhar que caracterizam a natureza do seu espírito.

Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. Todos os espíritos foram criados perfectíveis, e no itinerário da perfectibilidade, todos precisam uns dos outros, pois não há como desenvolver as potencialidades, burilar as faculdades morais e intelectuais senão no convívio social, na permuta cons­tante de afeições, conhecimentos e experiências.

Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem o seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são fei­tos para viver em sociedade e não isolados.

A lei de sociedade impulsiona o homem à comunhão, à solidariedade, ao amor. Quando Jesus recomenda o amor ao próximo, tal mandamento revela que a natureza do espírito é o amor, o qual só existe quando manifesto, exteriorizado. Desta forma a lei de amor implica necessariamente a lei de sociedade. É na vida social que se revela a essência divina que habita o espírito humano.

No entanto, mesmo que o homem encontre satisfação na vida de isolamento, não pode viver uma consciência feliz aquele que não é útil a ninguém, que vive para si mesmo tão somente, sem concorrer para o bem-estar da sociedade.

Aqueles que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo estão assumindo, na verdade, uma atitude de egoísmo. E mesmo aquele que se isola com o fim de expiar faltas, também incide em erro, de vez que o isolamento faz a pessoa cair em outro mal, o da omissão, pois deixa de praticar a lei do amor e da caridade. Fazer maior bem que o mal que se tenha feito, essa é a melhor expiação.

Porém aqueles que se afastam do bulício citadino, buscando no retiro a tranquilidade reclamada por certa natureza de ocupação, assim como os que se recolhem a determinadas instituições fechadas para se dedica­rem, amorosamente, ao socorro dos mais necessitados, embora afastados da convivência social prestam excelentes serviços à sociedade, adquirindo duplos méritos, porquanto, além da renúncia às satisfações mundanas, têm a seu favor a prática das Leis do Trabalho e da Caridade.

Lei de Progresso

O progresso é lei natural, cuja ação se faz sentir em tudo no universo. Ela atua em toda a criação, desde o átomo até o anjo. Há uma inexorabilidade. Quer estejamos encarnados ou desencarnados, todos estaremos sujeitos à lei do progresso.

Essa lei impede que o homem permaneça indefinidamente em seu estágio de infância espiritual que de nada lhe valeria se fosse perpetuado. A permanência em tal estágio aparentemente lhe daria um estado de felicidade, que é a felicidade do bruto, como a do animal, cujos instintos estão inteiramente satisfeitos.

Sendo perfectível, o homem traz em si o gérmen do seu aperfeiçoamento. Por isso, é impelido a progredir incessantemente. O progresso moral, que é o grande objetivo do Espírito, é uma conquista decorrente do progresso intelectual, porque, através deste último, a criatura humana aprende a discriminar os valores para poder escolher o que mais lhe convém, usando a faculdade do livre-arbítrio.

A possibilidade de escolha, após o conhecimento discriminativo, é função da inteligência que assim cria a responsabilidade do ato. A ação automática, instintiva ou imitativa, realizada sem a determinação da vontade é ato casual, mecânico ou condicionado, não tendo um valor moral e denota apenas um estado circunstancial do Espírito.

Só passo a passo os povos conseguem atingir o progresso. Por enquanto, o homem tem usado o conhecimento para alimentar a sua inferioridade moral, gerando como consequência a necessidade do sofrimento como instrumento de sua elevação moral. Um dia o homem equilibrará as duas forças, o conhecimento e a moral, atingindo a sabedoria.

O progresso é uma força viva da natureza, não estando no homem o poder de sustá-lo pelas leis oriundas de seu egoísmo e orgulho. Quando muito o embaraça, mas sempre está sofrendo a sua ação construtiva. Os abalos físicos e morais que sofre a humanidade de tempos em tempos são a mostra de sua presença transformadora.

É verdade que ainda estamos longe de equilibrar o progresso intelectual com o moral, mas a finalidade do homem na terra é justamente esta. Às vezes é preciso que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas.

Lei de Igualdade

Todos os homens são iguais perante Deus, que os criou simples e ignorantes, e perante a lei natural, pois os direitos são para todos. A desigualdade que vemos entre os homens é fruto de sua própria evolução e esforço, baseada no fato de que cada um é herdeiro de si mesmo ao longo de sua trajetória evolutiva, onde forja a sua superioridade espiritual.

O que à primeira vista pode parecer uma injustiça a variedade e desigualdade de aptidões é a prova maior da harmonia divina, expressa em sua lei de progresso, que coloca Espíritos de condições evolutivas diferentes, um ao lado do outro, com a finalidade de que o que estiver em situação pior encontrar um modelo que lhe sirva de meio e estímulo para sua melhora.

A diversidade de aptidões facilita o desenvolvimento da solidariedade entre todos, pois aquilo que um não faz o outro faz, e no final, todos precisam uns dos outros, entendendo-se que só na troca é que se desenvolve o amor fraterno e o respeito mútuo.

Espíritos de planos superiores têm como finalidade servirem de auxiliares do progresso, quando reencarnam em mundos e meios inferiores, dando assim, testemunho de sua compreensão e renúncia, desempenhando papel de real valor na ordem geral evolutiva.

Portanto, as condições de desigualdade social são criadas pelo homem e não determinadas por Deus. Nascem geralmente do abuso no campo do egoísmo e do orgulho e se desfazem através do mecanismo reencarnatório. A única desigualdade natural é a do merecimento e que dá nascimento à hierarquia moral.

É utopia a igualdade absoluta das riquezas porque a diversidade das faculdades e dos caracteres logo a desfaria pela força dos acontecimentos. O importante não é uma igualdade absoluta mas uma distribuição equitativa baseada na lei de justiça, de amor e de caridade, únicas capazes de anularem o egoísmo e o orgulho.

A exploração do trabalho de muitos enseja o enriquecimento ilícito de poucos, que perante as leis maiores se candidatam a múltiplas dificuldades espirituais posteriores. A riqueza deve servir para reparar injustiças e ajudar a coletividade crescer proporcionando-lhe o bem-estar que consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sente.

Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba. A miséria é fruto da imprevidência da sociedade, por um lado, e da preguiça e da acomodação, por outro, e só a educação moral dos seus membros é que a eliminará definitivamente.

Perante Deus e a lei natural o homem e a mulher têm direitos iguais, pois que a ambos foi concedida a inteligência e a consciência de escolha do bem e do mal e também a faculdade de progredir.

A inferioridade com que a mulher é tratada provém de preconceitos milenares de que o homem, sendo mais forte muscularmente, tem o direito de oprimir e dominar a sua fragilidade. Deus, porém, forneceu a força para amparar e proteger e não para escravizar e esmagar.

O homem e a mulher, por terem funções específicas, só podem suportar as provas e vencerem juntos se mutuamente se ajudarem.

Uma legislação para ser perfeitamente justa deve consagrar os direitos igualitários do homem e da mulher, respeitando a diversidade das funções, para evitar uma confusão e superposição de papéis que cabem a cada um e que geraria uma situação competitiva.

Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos.

Lei de Liberdade

É da natureza do Espírito a necessidade de se libertar. Como a liberdade absoluta não existe, vive a criatura situações em que deve obedecer. Na raiz da obediência por imposição residem as primeiras sementes da rebeldia. Com a sua rebeldia o homem quebra a harmonia entre sua consciência e a criação.

Esta harmonia só será restabelecida pelo conhecimento, compreensão e observância da lei divina ou natural. Por ter em sua intimidade (inconsciente) todos os gérmens das potencialidades divinas de que é dotado, o espírito busca libertar esse potencial, através de sua ação permanente, buscando torná-lo vivenciável e consciente.

Este é o caminho que o Espírito realiza, através da linha do princípio e finalidade. Quanto mais livre do seu inconsciente mais responsável se torna o indivíduo pelo que faça; quanto mais sabe mais deve fazer.

Porém todo aquele que tira proveito de outrem, usando-o egoisticamente para atingir os seus próprios fins, transgride a lei de liberdade, incorrendo em uma forma de escravização.

A desigualdade natural das aptidões tem servido como desculpa para o domínio dos fracos pelos fortes, quando cumpriria a estes fornecerem meios e recursos para aqueles crescerem. Isto se dá não apenas no plano individual, como também no empresarial, entre os povos e as nações. Cada ser, individual e coletivamente falando, tem o direito de se pertencer, sendo contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem.

E quanto a liberdade de pensamento, é uma condição básica para o Espírito sentir-se livre. A espontaneidade e a criatividade, que são fatores espirituais, devem sempre estar presentes no pensamento da criatura, evitando que ela se robotize, apenas repetindo em circuito fechado, o que lhe imprimem, através dos modernos meios de massificação. Perante a lei divina o homem é responsável pelo que pensa e pelo que faz de seu pensamento.

Por ser a liberdade de consciência corolário da liberdade de pensar, é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso. Assim como os homens, pelas suas leis, regulam as relações de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações entre ele e o homem. Tem-se como claro que Deus se manifesta no homem através da consciência; quanto mais consciente é o homem, mais próximo de Deus.

Por ser a crença manifestação do entendimento íntimo do Espírito, ela sempre será respeitável quando conduzir o homem à prática do bem, e será reprovável, qualquer atitude de repressão à crença de quem quer que seja, a menos que esta leve o indivíduo para a prática do mal.

Neste caso, em vez da repressão, deve-se utilizar o esclarecimento e a educação. Se alguma coisa se pode impor, é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o melhor meio de os fazer admitidos seja utilizando de violência. A convicção não se impõe. Uma doutrina será reconhecida como boa e útil, quando fizer homens de bem, visto que toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa.

Lei de Justiça, Amor e Caridade

Faz parte da natureza intrínseca do Espírito a noção e o sentimento de justiça, que se desenvolvem na medida que o progresso moral avança. A lei de justiça se manifesta de maneira diferente entre os homens em face da mistura das paixões e dos interesses pessoais e de grupos, que a caricaturam.

Basicamente ela consiste em cada homem respeitar os direitos do outro, conforme o ensinamento cristão: “fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem”. Como o homem deve viver em sociedade, nascem-lhe obrigações de relacionamento que preveem respeito aos direitos do próximo. Na falta deste respeito surgem perturbações no seio social, que acabam por se generalizar, dificultando até o bom relacionamento entre os povos e as nações.

Conquanto, à primeira vista, a atribuição de direitos iguais, a si e aos semelhantes, pudesse dar ideia de anarquia, tal fato não ocorreria, desde que, aquele que tivesse valor fosse reconhecido pelo que não o tivesse. Estamos falando de uma hierarquia natural, que nasce do bom-senso e da responsabilidade dos que se acham em plano superior. Bem diferente das hierarquias impostas e defendidas à custa de opressão e lutas destruidoras, que apenas geram revolta e revanchismos.

A propriedade mais primária que o indivíduo possui como direito natural é a vida. Deve respeitá-la ao máximo em si e no seu semelhante e se torna réu, quando atenta contra a sua ou a do seu próximo, comprometendo-lhe a existência corporal.

O direito sobre a propriedade material lhe é defeso, desde que, conquistada com trabalho honesto e legitimada pelo uso não egoísta. A propriedade verdadeira é aquela que foi adquirida sem prejuízo de outrem, devendo o homem se contentar com o que possui e não se deixar levar de maneira desvairada, acumulando bens materiais, que no mais das vezes, servem para estabelecer grandes lutas fratricidas entre os herdeiros.

O roubo pode ser considerado como sendo todo o ato de apropriação indébita, não apenas conseguida através da força e da violência, mas também da astúcia enganadora em qualquer ação que prejudique alguém. Fortunas conseguidas através deste procedimento, que são louvados pelos mesquinhos como obras de vivacidade e esperteza, quase sempre deixando atrás de si marcas de lágrimas e dores dos espoliados, devem ser consideradas como erigidas pelo roubo.

Caridade é o amor em ação. O verdadeiro sentido da caridade está na benemerência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas. Portanto, não está apenas na ajuda material aos desafortunados sociais, está também presente no amor aos inimigos, que significa perdoar-lhes as ofensas, quase sempre nascidas da ignorância, do orgulho e da vaidade, retribuindo-lhes o mal com o bem.

É um erro fazer da caridade sinônimo de esmola consequência da miséria que é uma chaga social, pois uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação.

Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente, embrutece-se. Triste ainda da sociedade que não fornece meios de recuperação, pelo trabalho e pela educação, àqueles que são inclinados, por falta de recursos, à marginalidade e ao crime.

Faz mais caridade quem gera emprego e trabalho do que quem distribui bens de consumo. É mais caridoso dar ao homem meios para lutar pelo seu próprio pão do que encher-lhe o estômago com a esmola que avilta, deseduca, torna dependente e acomodado quem a recebe.

Conclusão

Sem dúvidas, compreender e seguir a lei natural não é fácil, porém, estamos nesse plano justamente para isso. Inclusive, fomos nós mesmos que colaboramos para que nossa sociedade chegasse ao ponto que está hoje, materializada e individualista.

Portanto, é imperativo nosso esforço no caminho contrário. E o conhecimento e aplicação desse conjunto de leis é a única rota verdadeiramente segura.

Prova de que misericórdia divina nunca abonda e tudo provê.