Letras Pequenas... O Leão Que Temos cá Dentro

Do pequeno e do grande. Do medo e da coragem. De um rato e de um leão. O primeiro, invisível e silencioso; o segundo, exuberante e ruidoso. O rato quer ser como o leão.

Descubra as diferenças. O pequeno: "Ele era tão pequenino – nem dá para acreditar – que ninguém nele reparava, mas nunca, nem pensar. Uns pisavam-no, outros sentavam-se nele, sem verem a pobre criatura. Ah, sim… vida de rato é bem dura."

O grande: "Entretanto, muito em cima, lá no alto do rochedo, as coisas eram diferentes. Havia um leão… que medo! O bicho grande e dentudo fazia a todos sentir a importância que tinha pela força do seu… rugir."

Acredita o rato que, se aprender a rugir, tudo será diferente. Vão deixá-lo pertencer ao grupo, fará novos amigos e terá uma vida melhor. Põe-se então a caminho de um encontro com o leão. Está convicto de que será o "chefe da família" dos animais que o ensinará a ter voz.

"Sentia que era assustador o que ali ia tentar… mas, se queremos mudar as coisas, primeiro temos de ser nós a mudar."

É disto que fala "O Leão Que Temos cá Dentro". Não nos parece coisa pouca, mesmo que muitos olhem para aquela afirmação como uma "frase batida", a de que a mudança começa sempre em nós. Pode até ser uma ideia estafada... para os adultos; para as crianças, não.

A autora do texto é britânica e tem um apelido curioso, Bright, que aproveitou para dar nome à sua página online: Look on The Bright Side. Que se pode traduzir por algo como "veja o lado positivo/bom". Por isso, não admira que na biografia da escritora divulgada na editora se escreva: "O seu trabalho para a infância inclui uma série de histórias e personagens inspiradas em animais, poemas e mensagens afectuosas."

Percebe-se o esforço do tradutor para manter o ritmo do texto original e de encontrar as palavras certas para que as rimas funcionem em português. Há soluções felizes, outras nem tanto. Mas, no conjunto, a leitura é escorreita e dá vontade de a fazer em voz alta.

O ilustrador, Jim Field, é também "designer" e dirige filmes de animação, como se adivinha pelas formas, expressões, dinâmica e localização das personagens na sequência de páginas. Ganhou o prémio Booktrust Roald Dahl Funny em 2011 pelo livro de fotografia "Cats Ahoy", com texto de Peter Bently. Também já desenhou para histórias de Kes Gray, Michelle Robinson, Michael Broad, Jeanne Willis, Steve Cole e para o comediante David Baddiel.

E afinal o que se passou com o rato medroso que por instantes se revelou destemido?

Chegado junto ao leão, eis o que aconteceu: "O Leão, todo a tremer, começou a recuar, e andando para trás caiu de patas para o ar! 'Não me faças mal!', gemeu. 'Oh, peço-te por favor!' Não é que o grande Leão de ratos tinha pavor?"

Assim se iniciou uma bela amizade. Cada um com o seu tamanho, mas os dois a sentirem-se grandes. Na voz e no afecto. 

O Leão Que Temos cá Dentro
Texto | 
Rachel Bright
Tradução | Carlos Grifo Babo
Revisão | Sónia Silva
Ilustração | Jim Field
Edição | Editorial Presença
64 págs., 10,90€

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