Guarda-chuva bom é aquele que guarda a chuva ou aguarda um brinde com ela mesma?
Guarda-chuva bom tem que ser exótico?
Guarda-chuva bom é grande?
Tem que ter teto solar ou enfeites para camuflar?
Guarda-chuva bom pode ser VIP ou tem que ser popular?
Guarda-chuva bom é côncavo ou convexo?
Imagens: Google
Este famoso utensílio, sobrevivente às intermináveis gerações de microchips, ainda é o nosso companheiro quando a tecnologia da previsão do tempo nos informa o dia de seu uso. Porém, o que será que acontece que sua qualidade ou funcionalidade não evolui? Não adianta você escolher o modelo mais fashion, o mais popular, o mais caro ou o mais mais alguma coisa, quando você mais precisa dele, é que nem computador ou impressora com cartuchos vazios: nos deixa “na mão”! Neste caso, na mão repleta de mililitros de água corrente dos céus, e como numa combustão, uma efervescência de raiva e vontade de mandar aquilo pra longe, depois do banho sem permissão e da novelinha que os espectadores de plantão presenciam de graça. Aí não dá pra ser sutil nem poético com as palavras e soltar um “Pota Mherda” é inevitável. E não adianta reclamar, você acaba comprando justamente o pior dos piores porque é o que mais próximo de ti está, afinal, onde existe guarda-chuva bom? Ok, fui muito genérico, então vou completar: bom para não nos banhar? Recentemente precisei fazer a substituição dos meus (sim, tem que ter o de reserva, afinal, produto descartável tem alta rotatividade), e parei em uma daquelas bancas “especializadas” em bolsas e guarda-chuvas.
Fiquei contente ao ver a quantidade de modelos dos quais, certamente, teria um que fosse a altura do que eu esperava: forte, resistente e que fizesse qualquer vento passar como se fosse uma pena caindo (“aham, Claudia, senta lá”) Perguntei os preços, pedi para armá-los e conferir a arte do acabamento. Mas a senhora empreendedora, que no português claro é “um sete um”, apertou a tecla close caption dos meus olhos e conforme eu ia focando num modelo ou abrindo-o, parecia que ela previa minhas indagações e ia soltando algumas frases de alto impacto: “Este, fiu, é o melhor, é mais caro mas é o melhor…” E lá o seu Marcelo, com o olhar microscópico nas costuras e encaixes dos arames, ia observando e marcando as seguintes questões, que mais parecia um diálogo pornô pela propriedade das palavras utilizadas:
“Ele não estica mais?”
“Ele fica assim?”
“Tem outro igual pra eu ver?”
Só com estas perguntas, a tiazinha empreendedora já ia se incomodando com meu momento InMETRO para com os seus produtos. E ela não desanimou, afinal, empreendedora não desiste jamais de seus planos e me solta uma segunda frase de alto impacto plus:
“Ah, mas este aí é assim mesmo, você chega em casa e dá uma costuradinha que já tá novo.”
Pronto, me empreendi prendendo a língua para não soltar uma gargalhada de alto impacto também! E disfarcei olhando os outros mais “baratos”, demonstrando o grande interesse pelos seletos produtos que eram-me oferecidos. Enquanto não saí de lá, ela não desligou o close caption e me mostrou a funcionalidade do modelo automático. E na hora de armá-lo… pimba, empreendia minha língua novamente: o Guarda-chuva não abriu! kkkkkkkkkkkkkkk Ela fez a sua piadinha estratégica que não me convenceu, porém, expressei uma feição de inocência e concordei com a brilhante observação que ela me fez:
“É só você dar uma forçadinha que ele abre…” (nas mentes férteis, esta frase causará muito mais que um alto impacto kkkkk).
Aquele Stand Up já estava me cansando e eu via que não seria de lá que meus já molhados tostões ficariam, e após alguns modelos testados e ignorados, a empreendedora tornou-se a maior das sínicas e mal educadas, respondendo o meu “obrigado, eu só queria ver, hoje” com um “Não adianta você ver em outro lugar que não tem melhor…” E a frase saía num tom de raiva e derrota, pois eu estava me comportando como um consumidor que avalia o produto e pesquisa preços antes de comprá-lo.
Enquanto só o tempo avança…
No fim das contas, acabei comprando na banca ao lado, de um senhor que era a calma em pessoa e que me mostrou que aqueles modelos que eu queria não tinham jeito mesmo, que eram frágeis, porém mostrou-me, dentre as marcas oferecidas, o que apresentava melhor acabamento e o que era de “segunda linha” (Aham, Claudia, senta lá 2). Pronto, empreendedor que se preze mostra o que o outro esconde: o valor do seu trabalho e do seu atendimento. Continuei no trilho dos guarda-chuvas descatáveis, com o desvio dos ventos e evitando a aba no formato ciclame, mas resistente em não me desfazer desta tecnologia que não avança, pois nem todo mundo que está na chuva, está lá porque quer ou deseja se molhar. “Não adianta você ver em outro lugar que não tem melhor…”
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