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Ano 4 Junho/Julho 2004

Protótipos
PROGRAMA HABITARE CONSTRÓI NOVOS MODELOS PARA A HABITAÇÃO POPULAR




Casa popular não precisa ser sinônimo de má qualidade. Soluções simples, associadas a novas tecnologias, podem ser usadas para a construção de moradias mais dignas. É o que profissionais de áreas como arquitetura e engenharia civil estão buscando demonstrar através da construção de pequenas casas apoiadas pelo Programa Habitare. O projeto de construção de protótipos prevê a concepção de casas-modelo que integrem conceitos de economia, desempenho, qualidade e conforto na habitação social. A idéia é que as construções sejam usadas como modelos de divulgação de tecnologias não convencionais e permitam a continuidade de estudos como avaliações de desempenho dos materiais. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) são instituições que participam do projeto e estão construindo novos modelos para a habitação popular. A USP, que desenvolve uma telha alternativa em fibrocimento vegetal, e a Coppe/RJ, que trabalha com tijolos de solo-cimento com adição de resíduos, também preparam seus protótipos para demonstração.




Em Florianópolis, no campus da UFSC, duas casas-modelo de tipologias semelhantes foram construídas com materiais diferentes: uma é executada em madeira de reflorestamento do tipo pinus e a outra é feita de blocos pré-moldados, concretos e argamassas produzidos com a adição de resíduos. Cinzas de termoelétricas, cinzas de cascas de arroz e entulho da construção civil são resíduos usados como ´aditivos´ nos novos materiais.

 No caso do protótipo em madeira, construído em parceria com a empresa Battistella, de Lages, o objetivo é ampliar o sistema de produção da empresa, que há vários anos atende a classe média e média-alta, para novos públicos. De acordo com a coordenadora do projeto, professora Carolina Palermo Szücs, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, a revisão do sistema construtivo foi viabilizada para atender a uma faixa de renda de quatro a dez salários mínimos. O modelo que está sendo demonstrado tem 37 metros quadrados, distribuídos em dois pavimentos, e utiliza intensivamente a madeira. Tanto nas paredes e entrepisos, quanto na cobertura, que tem estrutura e telhas de madeira.




Ao lado da casa-modelo de madeira, um outro protótipo foi erguido em alvenaria estrutural, com blocos modulares produzidos com adição de cinzas da Termoelétrica Jorge Lacerda. A construção também está permitindo o uso e avaliação de um concreto produzido com adição de cinzas da casca de arroz, que conferem alta resistência ao produto. De acordo com a coordenadora do projeto, professora Janaíde Cavalcante Rocha, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Construção e do Laboratório ValoRes (Valorização de Resíduos na Construção) da UFSC, o protótipo também está sendo usado para pesquisa e demonstração de soluções para a construção sustentável. Estão sendo experimentadas instalações elétricas otimizadas para baixo consumo de energia, painéis fotovoltaicos para geração de energia e sistema de aproveitamento da água de chuva. Um sistema de tratamento de esgoto no local da construção está também em avaliação.




Outro protótipo que também está sendo desenvolvido pelo Programa Habitare e que será inaugurado em breve emprega um processo construtivo em painéis pré-moldados de cerâmica estrutural. A construção vai permitir a aplicação de painéis verticais, horizontais e curvos, que vêm sendo montados no próprio campus universitário. O protótipo terá 80 metros quadrados e será construído nas proximidades do Departamento de Engenharia Civil. Considerado um dos mais econômicos e racionais métodos construtivos, a alvenaria estrutural elimina o ´esqueleto´ da obra. Por isso, pode gerar construções mais econômicas do que prédios estruturados em concreto armado ou em aço. Há redução no uso de concreto e ferragem, economia no uso de madeiras para formas e necessidade de menor espessura nos revestimentos. De acordo com o coordenador do projeto, professor Humberto Ramos Roman, do Departamento de Engenharia Civil da UFSC, os estudos buscam também ganhos em termos de qualidade. " A principal vantagem incorporada ao sistema em estudo é a possibilidade de racionalizar o processo de produção, minimizando as improvisações e deixando o processo de construção menos sensível a problemas como falta de materiais ou chuvas”.




No campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a busca de tecnologias sustentáveis para a habitação de interesse social também está se concretizando na construção de uma casa-modelo. Localizada no campus do Vale, em Porto Alegre, a casa de 46 metros quadrados (dois quartos, sala, cozinha e banheiro) foi planejada levando em conta conceitos de sustentabilidade e padrão de qualidade superiores ao encontrados em moradias populares. A ´pequena´ casa está permitindo o estudo, o projeto e a aplicação de técnicas construtivas em que as condições ecológicas e bioclimáticas são prioridade. O modelo demonstra soluções simples e também avançadas em busca da sustentabilidade da construção. Em termos de arquitetura bioclimática, por exemplo, emprega estudos de orientação solar e dos ventos para beneficiar o conforto térmico. A parte externa da casa conta com pergolados, para dar suporte a plantas que perdem as folhas no inverno. O teto possui forro duplo para manter o calor no inverno, com circulação de ar para auxiliar o resfriamento do telhado no verão. O referencial teórico usado na concepção do projeto também leva em conta conceitos da permacultura, que busca uma integração harmoniosa e sustentável entre o ambiente, as pessoas e suas necessidades de habitação, alimentação e energia, entre outras. O coordenador do projeto, professor Miguel Aloysio Sattler, integrante do Núcleo Orientado à Inovação na Edificação (Norie/UFRGS), explica que o projeto não deixa de lado a preocupação com custos, mas busca componentes para um novo paradigma de habitação popular.




A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) é outra instituição que participa do processo de construção de protótipos integrado ao Programa Habitare. Em sistema de autoconstrução, realizado com a participação de famílias dos futuros moradores, a UFSM ergueu cinco protótipos voltados à habitação social. O projeto permitiu o desenvolvimento de quatro tipologias diferentes. O objetivo das construções é associar aspectos técnicos e econômicos para proporcionar condições dignas de moradia. As casas foram construídas nas cidades de Santa Maria e de Santa Cruz do Sul. A iniciativa conta com financiamento da FINEP, dentro do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), da Caixa Econômica Federal e da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac). Conta também com a parceria de outras instituições, entre elas a Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul e a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec). A seleção dos moradores que construíram os protótipos e habitarão as casas foi realizada junto à Secretaria Municipal da Habitação

De acordo com o professor da UFSM , José Mario Doleys Soares, levando em conta as condições climáticas do Rio Grande do Sul, foi necessário projetar utilizando um sistema construtivo racionalizado. Em termos de inovação, foi adotado um sistema construtivo de alvenaria estrutural, com blocos cerâmicos vazados na vertical. Os blocos vazados permitem a passagem das instalações elétricas e hidráulicas, o que evita os ´rasgos´ nas paredes. Segundo o professor, a facilidade de construção e a redução de desperdícios indicam uma tecnologia que poderia ser oferecida a outras famílias.


Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Carolina Palermo Szücs
Professora
UFSC - ARQ
48 331-9741 r29

Miguel Aloysio Satler
Professor
NORIE/UFRGS
(51) 3308 3900 / (51) 3308 3518

Janaíde Cavalcante Rocha
Professora
NPC/Lab. Valores/UFSC
48 3721 5169

José Mario Doleys Soares
Professor
FATEC / UFSM