Obra do coletivo Serigrafistas Queer, que faz parte da programação. Foto: Eduardo Ortega/Divulgação
Obra do coletivo Serigrafistas Queer, que faz parte da programação. Foto: Eduardo Ortega/Divulgação
cultura

Em 2024, Masp terá programação focada na diversidade LGBTQIA+

De Leonilson a Francis Bacon, programa exibe artistas queer do mundo todo

Em 2024, o Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) se dedica a contar as Histórias da diversidade LGBTQIA+ no mundo, reunindo obras de artistas emblemáticos como o brasileiro Leonilson e o pintor anglo-irlandês Francis Bacon. 

As primeiras exposições foram inauguradas em 23 de fevereiro de 2024 e o programa segue aberto até 13 de abril de 2025, com ingressos entre R$ 30 (meia) e R$ 60 (inteira). Toda terça-feira a entrada é grátis. Confira a programação completa abaixo.

A programação dá sequência às exposições dedicadas às “Histórias no Masp”, que incluem “Histórias da Infância” (2016), “Histórias da Sexualidade” (2017), “Histórias Afro-Atlânticas” (2018), “Histórias das Mulheres, Histórias Feministas” (2019), “Histórias da Dança” (2020), “Histórias Brasileiras” (2021-2022) e “Histórias Indígenas” (2023). 

“Em português, a noção de histórias – diferente do conceito de História tradicional – sugere narrativas mais abertas, multívocas, inacabadas e não totalizantes, abrangendo não apenas relatos históricos, como também histórias pessoais, contos e narrativas ficcionais”, explica a assessoria do Museu.

A partir desse conceito, a série de 2024 propõe novas narrativas visuais, mais inclusivas, diversas e plurais, trazendo uma multiplicidade de vozes no conjunto de artistas apresentados e de obras selecionadas para as exposições.

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Programação

Gran Fury: arte não é o bastante
23 fev. a 9 jun.
1o subsolo
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP, com assistência de David Ribeiro, assistente curatorial, MASP

Primeira exposição do coletivo Gran Fury na América Latina, grupo considerado referência para as práticas de ativismo artístico das décadas de 1980 e 1990. Em atividade entre 1988 e 1995, em Nova Iorque, o Gran Fury denunciava a posição negligente do governo dos Estados Unidos sobre o HIV/aids. Em sua atuação, pressionou o trabalho de órgãos governamentais para o aumento da criação de políticas públicas de tratamento e conscientização.

Sala de vídeo: Masi Mamaní, a Bartolina Xixa
23 fev. a 14 abr.
2o subsolo
Curadoria: Matheus de Andrade, assistente curatorial (Masp)

Masi Mamaní atua como bailarina, performer e artesã, fazendo parte da comunidade LGBTQIA+ na região da Quebrada de Humahuaca, localizada na região noroeste da Argentina, que faz fronteira com Bolívia e Chile. Desde sua infância, em Salta, a artista demonstra interesse pelas danças folclóricas andinas. Em 2016, deu vida à personagem Bartolina Xixa, uma “drag diversa”, conforme sua própria definição.

Masi Mamaní (Jujuy, Argentina, 1995). Ramita Seca, La colonialidad permanente, 2019. Frame do vídeo.
Masi Mamaní (Jujuy, Argentina, 1995). Ramita Seca, La colonialidad permanente, 2019. Frame do vídeo. Crédito: divulgação/MASP

Sua inspiração veio de Bartolina Sisa Vargas, uma heroína indígena histórica no contexto de colonização andina, que liderou inúmeras revoltas pela liberdade do seu povo e foi brutalmente assassinada pelos colonizadores espanhois no século 18.

Arte na moda: Masp Renner
22 mar. a 9 jun. 
2° subsolo
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico (Masp), e Leandro Muniz, curador assistente (Masp)

Ao longo de três temporadas, desenvolvidas entre 2018 e 2022 com diferentes equipes curatoriais, o projeto Masp Renner convidou e acompanhou o processo criativo de 26 duplas de artistas e estilistas que conjuntamente produziram 78 roupas criadas especialmente para o acervo do museu.

Francis Bacon: A beleza da carne
22 mar. a 28 jul.
1º andar
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico (Masp), e Laura Cosendey, curadora assistente (Masp), com assistência de Isabela Loures, assistente curatorial (Masp)

Francis Bacon é considerado um dos mais importantes pintores da arte do século 20, com mais de seis décadas de produção. Filho de pais ingleses, teve uma infância difícil, em um ambiente familiar violento. Aos 16 anos, foi expulso de casa por seu pai. Após passar um período em Berlim e em Paris, fixou-se em Londres a partir dos anos 1930, onde iniciou sua carreira como artista. Bacon construiu uma obra contundente e marcante, conhecida sobretudo por sua maneira particular de retratar as figuras humanas, especialmente retratos e nus masculinos. Em suas obras, pintou frequentemente seus companheiros, amantes e amigos da boemia londrina.

Mário de Andrade: duas vidas
22 mar. a 9 jun.
Mezanino
Curadoria: Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora (Masp), com assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial (Masp)

A produção intelectual do brasileiro Mário de Andrade sobre música, artes visuais e arquitetura, seus romances, contos e poemas, além dos levantamentos etnográficos realizados pelo artista, foram e continuam sendo centrais para a compreensão do modernismo no Brasil e para a construção de uma ideia de identidade brasileira. Contudo, somente em 2015, 70 anos após sua morte, quando todos os seus escritos caíram em domínio público, a produção literária de Mário de Andrade começou a ser analisada à luz da homoafetividade, um assunto considerado tabu até então. 

A exposição será a primeira a tratar do olhar queer do colecionador a partir de uma seleção das obras de arte e imagens sacras por ele reunidas, hoje sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. A exposição será composta majoritariamente por desenhos e gravuras, sendo alguns apresentados pela primeira vez ao público, bem como um conjunto de fotografias captadas por Mário em suas viagens ao norte e nordeste do Brasil entre 1927 e 1935. Complementam a mostra retratos do crítico realizados por pintores de quem era próximo, além de documentos e fotografias dele próprio. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Tourmaline
26 abr. a 23 jun.
2o subsolo
Curadoria: Teo Teotonio, assistente curatorial (Masp)

Tourmaline é uma artista, cineasta, escritora e ativista estadunidense cuja prática destaca manifestações culturais, opressões e modos de sobrevivência das comunidades negra, queer e trans, trazendo à tona saberes e vivências dissidentes com o objetivo de impactar a instituição artística e, consequentemente, a cultura e a sociedade como um todo. Seus filmes e fotografias reescrevem narrativas e histórias dominantes através de citações e referências a importantes figuras da resistência queer, como a ativista Marsha P. Johnson, em novos contextos imaginados pela artista, que também aparece em algumas produções. Valendo-se da intersecção entre ficção e realidade, Tourmaline procura reformular crenças e iniciar uma mudança de paradigma com o intuito de imaginar um futuro em que opressões de raça, gênero e sexualidade percam suas forças. 

Catherine Opie: o gênero do retrato
5 jul. a 27 out.
2º subsolo
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico (Masp), e Guilherme Giufrida, curador assistente (Masp)

Catherine Opie é conhecida por seus retratos da cena queer californiana desde o final dos anos 1980, mas sua produção se estende para outros gêneros artísticos, como paisagens e cenas do cotidiano de diferentes grupos sociais e comunidades, especialmente de seu país, os Estados Unidos. 

Um dos elementos fundamentais do trabalho da artista é o registro de diferentes performances de gênero através de uma revisão crítica do gênero retrato. Sua obra ressalta que todo retrato tem gênero pois nas fotografias, categorias sexuais convencionais e binárias são explicitadas, mas podem também ser desconstruídas.

Lia D Castro: em todo e nenhum lugar
5 jul. a 17 nov.
1° subsolo
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora (Masp), e Glaucea Britto, curadora assistente (Masp)

Por meio de pinturas, gravuras, objetos, fotografias e desenhos, a brasileira Lia D Castro aborda as maneiras como o afeto e o cuidado podem ser importantes ferramentas de transformação social. A artista se utiliza do trabalho sexual para investigar como as relações de raça, classe e gênero se dão em situações de vulnerabilidade e intimidade. Ela desenvolve seus trabalhos a partir de encontros com homens cisgêneros, em sua maioria brancos, heterossexuais, de classe média e alta, para subverter relações de poder e violência que possam surgir daí, transformando-as em responsabilidade e afeto. Temas como masculinidade e branquitude são abordados por D Castro nessas trocas, envolvendo diretamente seus colaboradores. A atuação da artista também se estende às práticas de educação sobre antirracismo e antitransfobia, com referências a obras de importantes autoras e autores negros, como Frantz Fanon, Toni Morrison, Conceição Evaristo, entre outros. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Ventura Profana
5 jul. a 18 ago.
2o subsolo
Curadoria: David Ribeiro, assistente curatorial, MASP

A baiana Ventura Profana é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual, cuja prática está enraizada na pesquisa sobre as implicações e metodologias do deuteronomismo, uma tradição interpretativa das escrituras sagradas do cristianismo relacionada à difusão das igrejas neopentecostais. Seu disco de estreia, Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor, foi lançado em 2020 em parceria com Podeserdesligado. Também realizada em parceria com Podeserdesligado, a performance “Cântico dos Cânticos” foi premiada na categoria Melhor Performance no Prêmio de Artes Cênicas Negras Leda Maria Martins, em 2019.

Leonilson: Agora e as oportunidades
23 ago. a 17 nov.
1° andar
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico (Masp), com assistência de Teo Teotonio, assistente curatorial (Masp)

Leonilson é um artista central da arte contemporânea brasileira. Embora seja identificado com a chamada Geração 80 no Brasil, seus trabalhos mais icônicos foram produzidos no final da década e nos primeiros anos de 1990. Muitas de suas obras são reflexões poéticas e pessoais sobre sua vida e o mundo, apresentando aspectos autobiográficos. Os trabalhos assumem feições de uma espécie de diário escrito, desenhado e pintado, em torno de temas como o amor e os amantes, os sentimentos e a sexualidade, o corpo e a doença — o artista descobriu ser HIV+ em 1991, e faleceu dois anos depois.

A exposição concentra-se nos últimos cinco anos de vida do artista, seu período mais rico e complexo, intitulado Leonilson tardio, e será organizada cronologicamente: cinco salas no primeiro andar do museu, cada uma dedicada a um ano de produção do artista. A mostra reunirá cerca de 150 trabalhos, entre eles desenhos, esculturas, bordados e objetos, bem como documentos e cadernos do artista. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Kang Seung Lee
23 ago. a 27 out.
2o subsolo
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente (Masp)

O coreano Kang Seung Lee é um artista multidisciplinar cujo trabalho destaca histórias pessoais e experiências individuais marginalizadas. Ao explorar, redescobrir e apropriar-se de imagens e textos de arquivos públicos e privados, como coleções de arte, artefatos, publicações, bibliotecas e diversos arquivos queer, seu trabalho possibilita que contranarrativas e vozes pessoais, anteriormente negligenciadas, se manifestem. Através de desenhos a grafite e lápis coloridos, bordados, tapeçaria e cerâmica, Lee constroi uma reimaginação de diversos eventos históricos, como a epidemia de aids. 

Lazarus (2023) presta homenagem a Goh Choo San (1948-87), um coreógrafo pioneiro nascido em Cingapura, e a José Leonilson (1957-93). Ambos os artistas faleceram devido a doenças relacionadas à aids. Ao se inspirar no balé original de Goh, Unknown Territory (1986), a coreógrafa Daeun Jung cria um dueto de movimentos mínimos e intencionais, evocando a intimidade queer, o legado e os estados de sofrimento e pertencimento. Em Lazarus, dois dançarinos interagem com uma fantasia reproduzida a partir da última obra de Leonilson, Lazaro (1993), uma instalação escultural feita com duas camisas masculinas costuradas juntas. Ao replicar a obra de Leonilson em Sambe, um tecido de cânhamo tradicionalmente usado na Coreia para mortalhas funerárias, Lazarus presta homenagem às vidas e memórias perdidas durante a epidemia de aids, ao mesmo tempo em que comenta sobre o apagamento histórico de seu legado.

Sala de vídeo: Manauara Clandestina
13 dez. a 9 fev. 2025
2o subsolo
Curadoria: Leandro Muniz, curador assistente, MASP

Manauara Clandestina (Belém, Pará, 1992). Building, 2023. Frame do vídeo. Crédito: Mateus Silva
Manauara Clandestina (Belém, Pará, 1992). Building, 2023. Frame do vídeo. Crédito: Mateus Silva

Manauara Clandestina é artista visual e estudante de cinema. Filha de pastores, foi criada em missões no interior do Amazonas. Seu contato inicial com a arte se deu com o teatro e a música na igreja, já sua produção surge como uma interpretação da vida noturna na cidade. Seu trabalho com a performance aborda novas perspectivas sobre a existência travesti, questionando as condições que a permeiam a partir de processos de transição de fronteiras e de mergulhos sensíveis que constroem registros íntimos de uma artista nortista. Sua prática edifica construções imaginárias dentro da moda, evocando diálogos que dão luz às subjetividades das corporeidades dissidentes brasileiras. 

Serigrafistas Queer: liberdade para as sensibilidades
13 dez. a 6 abr. 2025
1° subsolo
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente (Masp)

O coletivo Serigrafistas Queer surgiu durante uma oficina de serigrafia que tinha o objetivo de ensinar ativistas a estampar camisetas para a manifestação do Orgulho LGBTQIA+, em Buenos Aires. Composto por artistas, ativistas e participantes espontâneos, o coletivo combina técnicas de artes gráficas com slogans e frases de protesto que são impressos em faixas, camisetas e peças de tecido. A partir de encontros periódicos, os Serigrafistas Queer promovem discussões sobre o potencial das palavras de ordem provenientes de práticas e discursos dissidentes, estratégias para ampliar a disseminação das inúmeras possibilidades de manifestação dos desejos, além da produção de dispositivos móveis que facilitam as impressões serigráficas e com estêncil. Suas ações ocorrem frequentemente em contextos artísticos, mas é na construção de uma consciência política elaborada nas ruas, durante manifestações e eventos afirmativos das causas defendidas pelas dissidências sexuais e de gênero, que o trabalho atinge a dimensão do ativismo e dissemina vozes em luta. 

Histórias da diversidade LGBTQIA+
13 dez. a 13 abr. 2025
1° andar e 2° subsolo
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico (Masp); Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea (Masp), com assistência de Leandro Muniz, curador assistente (Masp), e Teo Teotonio, assistente curatorial (Masp)

A exposição coletiva de grande escala encerra a programação do ano de 2024 do Masp. Com cerca de 200 obras de acervos públicos e privados do Brasil e do exterior, a mostra será organizada em diversos núcleos, ocupando os dois principais espaços da galeria do Masp dedicados a exposições temporárias: no segundo subsolo e primeiro andar do museu, totalizando aproximadamente 1.000 m². 

Serviço

MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Endereço:
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h(entrada até 17h); fechado às segundas
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)
Agendamento on-line obrigatório pelo link: masp.org.br/ingressos

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