Yves Hublet – Um Paladino que Retorna?
por soaressilva
O primeiro conto do Twice-Told Tales de Nathaniel Hawthorne é sobre um misterioso senhor barbudo, cheio de autoridade natural e carregando uma bengala, que aparece sempre que o povo da Nova Inglaterra precisa dele.
“Who is this gray patriarch?” asked the young men of their sires.
…the old man grasped his staff by the middle and held it before him like a leader’s truncheon.
“Stand!” cried he.
The eye, the face and attitude of command, the solemn yet warlike peal of that voice — fit either to rule a host in the battle-field or be raised to God in prayer — were irresistible.
“Are you mad, old man?” demanded Sir Edmund Andros, in loud and harsh tones. “How dare you stay the march of King James’s governor?”
And who was the Gray Champion? (…) I have heard that whenever the descendants of the Puritans are to show the spirit of their sires the old man appears again. (…) And when our fathers were toiling at the breastwork on Bunker’s Hill, all through that night the old warrior walked his rounds.
Há figuras assim em todos os países. Em Portugal foi o Velho do Restelo, que fez várias aparições públicas desde o início da crise em 2008.
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E este é Yves Hublet, escritor, que em 2005 deu bengaladas no cocoruto de José Dirceu:
Duas na cabeça e uma nas costas, segundo a Wikipédia.
Não foi um dos grandes momentos da história do país? Pois foi. (É verdade que o Brasil não tem lá muitos grandes momentos; afinal este é o país em que o equivalente à guilhotina ou ao assassinato de Kennedy foi o Carlos Lacerda tomando um tiro no pé.)
Se dependesse de mim, haveria estátuas desse senhor pelo país todo – dando bengaladas, claro, mas também lendo quadrinhos da Disney (além dos seus próprios livros, Hublet foi autor de duas histórias da Disney brasileira, “A Torta Certa” e “O Materializador de Desejos”). E pelo menos a sua bengala devia estar numa redoma em algum museu – nossa Durendal, nossa Joyeuse, nossa Excalibur.
Muito bem, senhores. Diz a História que o sr Hublet morreu em 2010. Nunca acreditei nisso; tive sempre uma teoria, que não queria expor ao mundo antes de ter suficientes provas iconográficas.
Pois agora tenho essas provas, e a teoria é esta: o sr Hublet é um herói mítico que, desde o Descobrimento, sempre aparece em momentos de crise da História Nacional.
Riem? Me acham maluco? Com gargalhadas afetadas e sem tirar as piteiras das bocas, me pedem provas? Pois tomem provas.
Este é um quadro de Pedro Américo representando a Batalha do Avaí, na qual, com muita dificuldade, vencemos os paraguaios em 1868. (Volto depois da imagem, comendo bis.)
É impossível negar que esse seja Yves Hublet, liderando a carga num dos nossos momentos de maior dificuldade!
Aqui, também de Pedro Américo, a Batalha de Campo Grande (1869):
Esperem que já amplio, e verão Yves Hublet surgindo de uma neblina mística:
Aqui a Passagem do Chaco, de 1871:
Hublet de novo, apontando o caminho – com a bengala quiçá escondida no poncho!
Em 1888, quem é que Victor Meirelles registrou num canto do seu “A Abolição da Escravatura”?
Em 1879, Pedro Américo pintou Hublet num momento de merecido descanso:
E, finalmente, esta imagem estarrecedora, tirada quando José Dirceu e José Genoíno ouviam as suas sentenças:
Eu mesmo não quis acreditar quando vi essa foto num jornal online, mas levei o laptop à ponta do meu nariz romano para enxergar direito e, meus caros, dei um berro!
Não pode haver dúvidas depois disso. Que Yves Hublet voltará sempre que precisarmos, é um fato. Resta só nos perguntarmos se, quando o momento pedir, nos juntaremos a ele numa guerra santa de bengaladas – ou se, como sempre, continuaremos sentados de cueca sendo maldosinhos no twitter.
É “cocuruto”. Uma vez escrevi “cocoruto” numa carta a um jornal, eles corrigiram ao publicar e nunca mais esqueci.
Verdadeiro defensor perpétuo do Brasil! =)
Será que ele esteve presente quando o Rio de Janeiro foi fundado? Eram tempos difíceis também : http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/34/Funda%C3%A7%C3%A3o_do_Rio_de_Janeiro.JPG
Você deveria postar mais, Alexandre. A vida de um punhado de boa gente fica um pouco melhor com seus postes. A minha também.
Seu último livro saiu em ebook?
Você é ele (se quiser).
Que bom se tudo fosse verdade e se Yves Hublet ainda estivesse entre nós.
“afinal este é o país em que o equivalente à guilhotina ou ao assassinato de Kennedy foi o Carlos Lacerda tomando um tiro no pé”
O senhor é injusto e cruel com nossa Pátria. Manso de Paiva assassinou o Senador Pinheiro Machado tal como Brutus matou César. Porém, se Manso de Paiva foi Brutus, Pinheiro Machado não foi César, foi maior do que César (onde o Plutarco, o Shakespeare para cantar suas glória, não me dirá o senhor?): em um de seus discursos, o próprio Pinheiro Machado previnira- antes de ser assassinado, é de se supor- que não esconderia o rosto na toga como César, mas fitaria firmemente, altivamente o infame que vibrasse o golpe traiçoeiro que acabasse com sua vida). Como o Cristo dos Evangelhos (onde o Mateus, o João para registrar sua vida santa, onde?), previra seu próprio fim glorioso e sabia que para onde ele ia seus discípulos não o poderiam seguir ainda.
http://patriaharagana.blogspot.com.br/2010/02/herois-brasileiros-que-honraram-esta_23.html
“Senhor Deus dos desgraçados / Dizei-me vós, Senhor Deus / Se é loucura… se é verdade / Tanto horror perante os céus”, etc …
Nossa, Thiago. Você curte mesmo o Pinheiro Machado. Sabia que há um projeto de lei para incluí-lo na lista dos heróis da pátria?
Legal rever suas fotolegendas, Lord Arse. Gostaria de ver mais.
Sensacional! E suspeito que este senhor é o mesmo que dormiu por algumas noites sob os pilotis do meu prédio. Alega-se que justiça na pele de um indigente, antes de sumir misteriosamente…
Algumas noitadas com o Yves..boas e intrigantes conversas. Uma vez levei-p à casa com a namorada e minha filha. Deixei-as no caeeo e subi com ele até o apartamento (eram ja umas 02h30 da madruga). Não posso negar que uma sensação boa e intrigante pairou sobre esta sala neste dia-noite! Também não posso negar que o homem inspira reflexão! Esta, para mimn , mais para o espirito que para o esporadico !
A parte pictórica é divertida, mas a parte política fica entre a ingenuidade e a tolice conservadora.
Não sei por que estou lendo isso ,acho que vi algo oculto nas imagens da independência do México,e fui olhando e cai aqui,com certeza concordo com vc, existe seres de outras dimensões nos ajudando nos momentos mais difíceis.