Os personagens principais também foram mantidos, Riobaldo e Diadorim, além de temas como: bem e mal, pacto com diabo, travessias e amores. Mesmo tendo que cortar bastante conteúdo do livro original, ainda assim, os autores conseguiram resgatar a essência da história, sobretudo, no conflito entre os personagens.
A linguagem da adaptação feita por Eloar Guazzelli é mais acessível do que a original, e devido a grande contribuição das imagens gráficas, poderá, com isso, atingir a um maior número de pessoas, principalmente, jovens fãs de quadrinhos, mangás, animes e séries de TV.
Esse processo de transposição para HQ (História em Quadrinhos) levou quase três anos para definir a aparência dos personagens, trechos e enquadramentos.
Ficha técnica:
Título: Grande Sertão: Veredas – Graphic Novel
Autor: João Guimarães Rosa
Roteiro: Eloar Guazzelli
Arte: Rodrigo Rosa
Páginas: 180
Formato: 21 x 28 cm
Preço: R$ 199,90
ISBN: 978‐85‐250‐5775
Editora: Biblioteca Azul
Li o “Grande Sertão: veredas” há muitos anos e de vez em quando me pego relendo algumas páginas. Fui instigado por uma professora que garantiu que eu gostaria. Emprestei-o então no Gabinete de Leitura de Rio Claro/SP, sem fazer ideia do que me esperava e logo nas primeiras linhas percebi que havia algo estranho, inusitado. A leitura linear habitualmente aplicada a outros livros, ali, não emprestava sentido às palavras, e o texto parecia que não se completava, pois era permeado de palavras em um dialeto que eu não conhecia. No entanto, a força do personagem se impôs antes que eu percebesse, e comecei a ler como Riobaldo falava. As frases passaram a fazer mais do que sentido, transformaram-se em um caminho que me conduziu por lugares e acontecimentos narrados, proporcionando-me uma fascinante viagem. “Grande Sertão: Veredas” possui uma narrativa incrível, onde a experiência de vida e a experiência de texto se fundem. Estas características muitas vezes fazem com que a leitura e a interpretação se tornem um desafio inesquecível. Abaixo, algumas frases do livro.
“O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia…”
“O senhor ache e não ache. Tudo é e não é …”
“Passarinho que debruça – o voo já está pronto.”
“Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração.”
“Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
“Deus é paciência. O contrário é o diabo.”
“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”
“A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?”
“Quem-sabe, a gente criatura ainda tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?”
“O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo.”
“Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito.”
“Quem desconfia fica sábio.”
“Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão.”
“Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência.”
“O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada.”
“Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem.”
“Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.”
“O jagunço Riobaldo. Fui eu? Fui e não fui. Não fui! – porque não sou, não quero ser.”
“Eu careço de que o bom seja bom e o rúim ruím, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! (…) Este mundo é muito misturado …”
“A morte é para os que morrem.”
“A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.”
“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.”
“Preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade.”
“No centro do sertão, o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo!”
“O bom da vida é para cavalo, que vê capim e come.”
“E sei que em cada virada de campo, e debaixo de sombra de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta.”
“Tudo que é bonito é absurdo – Deus estável.”
“Liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões.”
“Sertão é o sozinho.”
“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
“Sertão: é dentro da gente.”
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”
“Tudo que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito.”
“Um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor.”
“Para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece.”
“Obedecer é mais fácil do que entender.”
‘Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo”…
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas.”
“Somente com a alegria é que a gente realiza bem – mesmo até as tristes ações.”
“O senhor sabe o que é silêncio é? É a gente mesmo, demais.”
” Se eu fosse filho de mais ação e menos ideia, isso sim, tinha escapulido, calado “
“Onde é que está a verdadeira lâmpada de Deus, a lisa e real verdade?”
“Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem.”
“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos. Amém!”
“Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É oaberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. (…) Deus existe mesmo quando não há. (…) Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo.”
“O sertão é sem lugar.”
“Rir, antes da hora, engasga.”
“A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros… Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”
“[U]m rio é sempre sem antiguidade.”
“[U]m amigo… é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.”
“[E]u careço de que o bom seja bom e o rúim ruím, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados… Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado…”
“Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade… Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor. O que eu quero, é na palma da minha mão.”
“Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores das beiradas mal nem vejo… Quem me entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual – e é o que é.”
“O senhor não pode estabelecer em sua ideia a minha tristeza quinhoã. Até os pássaros, consoante os lugares, vão sendo muito diferentes. Ou são os tempos, travessia da gente?”
“Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza.”
Obrigado por assinar o meu blog! Espero que goste!