Caso Bernadete: "Ela era um empecilho dos interesses", diz advogado | A TARDE
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Caso Bernadete: "Ela era um empecilho dos interesses", diz advogado

Advogado destacou que a possibilidade do novo governo liberar a titulação do Quilombo se tornou uma ameaça

Publicado sexta-feira, 18 de agosto de 2023 às 19:06 h | Atualizado em 19/08/2023, 17:15 | Autor: Isabela Cardoso, Gabriela Araújo e Leo Moreira
O enterro da líder quilombola aconteceu no fim da tarde desta sexta-feira, 18.
O enterro da líder quilombola aconteceu no fim da tarde desta sexta-feira, 18. -

O advogado da família de Mãe Bernadete, David Mendez, afirmou, em entrevista ao Portal A TARDE, que a morte da Ialorixá foi um conjunto de ameaças por aqueles que tinham interesse nas terras do Quilombo Pitanga dos Palmares. O enterro da líder quilombola aconteceu no fim da tarde desta sexta-feira, 18.

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"Ela [Mãe Bernadete] não aceitava que ninguém da comunidade nem caçasse nas terras, fazia um trabalho de educação ambiental. Ela era um empecilho dos interesses que queriam passar por cima dela [...] É um conjunto de problemas que envolve as terras, os madeireiros, até as grandes incorporações com interesses na região", explica o profissional.

David disse também sobre a falta de titulação do Quilombo, na qual a Justiça Federal já havia sentenciado à União, mas não ocorreu. Ele afirmou que a possibilidade do novo governo liberar o registro das terras se tornou uma ameaça para os interesses.

"Essa questão do valor da terra, é uma terra muito fértil, um local que chove muito, que tem todas as condições para cultivo para quem quer fazer tudo relacionado a plantio. Então, a titulação estava em eminência com o novo governo, o novo cenário, que, aparentemente, sinalizava uma vitória [...] Em uma mudança de cenário de governo, correlação de forças, sinalização de órgãos, da possibilidade dessa titulação, a morte de Bernadete acontece", diz o advogado.

De acordo com David Mendez, a Ialorixá estava sob proteção da Polícia Militar, por meio Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH), há cerca de dois anos. No entanto, ele destacou a falta de eficácia do programa. 

"O programa se mostrou completamente ineficiente, tanto que o fato fala por si só. A comunidade está inserida em um contexto de violação de direitos humanos [...] Bernadete, apesar de ser liderança popular, conhecia o direito e o potencial da comunidade, fazia uma batalha legítima e ativa em relação a esses interesses. Ela era uma mulher que estava defendendo a titularidade a ordem da comunidade, como se fosse uma prefeita local", comenta.

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