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Pesquisador organiza exposição e lança livro sobre quadrinhos baianos

Evento organizado por Gutemberg Cruz acontece nesta terça-feira, 24, no CEPAIA da Uneb

Publicado segunda-feira, 23 de outubro de 2023 às 02:00 h | Autor: Tiago Freire*
Página de ‘Os Afrofuturistas’, de Marcelo Lima e Renato Barreto
Página de ‘Os Afrofuturistas’, de Marcelo Lima e Renato Barreto -

Buscando trazer visibilidade para os artistas gráficos da Bahia, a exposição Humor Gráfico na Bahia entra em cartaz amanhã, no Centro de Estudos dos Povos Afro Indígenas Americanos (CEPAIA) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), localizado no Largo do Carmo. A ideia do expositor, jornalista Gutemberg Cruz, é mostrar ao grande público os grandes nomes das artes gráficas de nossa terra, por meio de mais de 40 painéis com publicações antigas da Bahia. 

Humor Gráfico na Bahia foi idealizada e organizado em 2013 para comemorar os 150 anos da primeira história em quadrinhos no Brasil: Nhô Quim, do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini. No entanto, Gutemberg aponta dificuldades que teve em mover o projeto para frente. Foi com o convite para escrever livros sobre quadrinhos pela editora paulistana Noir que resolveu pegar o material e organizar junto com o lançamento do livro.

Por conta do espaço limitado do Centro de Estudos, a mostra será dividida em duas partes. A primeira, com inauguração amanhã, a partir das 15h30, e lançamento do livro Repare só! uma história dos quadrinhos na Bahia, do próprio Gutemberg Cruz.

No livro, artistas como  Tischenko, Paraguassu, Theo, K-Lunga, Luís Augusto, Flavio Luiz, Bruno Aziz, Tulio Carapiá, Cedraz, Wilton Bernardo, Caó, Ângelo Roberto e outros terão seus trabalhos expostos na obra. O livro é resultado de uma série de publicações que o pesquisador faz desde 1993 e detalha desde os primeiros quadrinistas baianos até nomes mais atuais. 

“Em 1993 lancei, via independente, o livro Humor Gráfico na Bahia: O Traço dos Mestres, focalizando os primeiros artistas gráficos da Bahia. Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinezio Alves, Fernando Diniz e o convidado Gonzalo Cárcamo que estava morando em Salvador. Em 1997 publiquei, também independente, Feras do Humor Baiano destacando Lage, Nildão e Setúbal, que se revelaram com força dos anos 1970 para cá. A partir daí tive que incluir nomes como Flávio Luiz, Cedraz, Ângelo Roberto e Paulo Serra, entre muitos outros, além dos atuais afro futuristas e os pioneiros fanzines”, detalha Cruz.

A segunda parte vai de 14 de novembro a 06 de dezembro com trabalhos de Fernando Diniz, Helson Ramos, Sinezio Alves, Ruy Carvalho, Sidnei Falcão, Danilo Dias, Eduardo Santans, Valmor Oliveira, Zé Vieira, Paulo Serra, Helcio Rogerio, Roberio Cordeiro, Naara, Andre Leal e Chico Liberato. 

“Há, nos desenhos dos humoristas baianos, uma preocupação em retratar o ser humano no seu cotidiano, sua vida social, informal, o que nos diz, ainda sobre os trabalhos expostos, que esses implacáveis juízes de sua época, retratavam, com agudo senso crítico, as características marcantes de nossa sociedade”, ressalta Gutemberg. 

50 anos estudando HQ

Nascido e criado em Salvador, Gutemberg Cruz trabalha com quadrinhos desde pequeno, com estudos, exposições e publicações voltadas para o assunto. Na década de 1970 publicou o fanzine baiano “Na Era dos Quadrinhos”, que teve um grande sucesso junto ao público da época. 

“Foi com o ‘Na Era’ que surgiram as primeiras manifestações conscientes no sentido de se construir HQ autenticamente nacional – e popular. O quadrinho baiano tomou fôlego com o surgimento do tabloide ‘A Coisa’, um seguimento natural do ‘Na Era”, pontua.

“Em pouco tempo, o suplemento semanal revelou novos cartunistas e desenhistas de quadrinhos. Durou oito meses no total, tempo suficiente para a reunião dos cartunistas e discussão de novas ideias e projetos”, relata Cruz.

Além do fanzine, organizou exposições sobre a arte em diversos pontos da Bahia, como no salão nobre do ICEIA, o Instituto Central de Educação Isaías Alves, no antigo ICBA (Instituto Cultural Brasil Alemanha), atualmente conhecido como Goethe Institut. 

“Em 1970 montamos a I Exposição de HQ do Norte e Nordeste, no salão nobre do ICEIA. O tema abordado: A importância dos quadrinhos. No debate, o professor Adroaldo Ribeiro Costa foi agraciado com o título de presidente de honra da associação”, conta. 

A Associação de Quadrinhos da Bahia realizou ainda centenas de palestras, aulas e cursos nas escolas, bibliotecas e espaço cultural em Salvador e em diversas cidades do interior da Bahia, além de levar as exposições para outros municípios e divulgar melhor o fanzine”, lembra o pesquisador. 

Por fim, Gutemberg também busca incentivar que entusiastas de quadrinhos se interessem por ler mais e estudar mais sobre a mídia.  O pesquisador dá algumas dicas de por onde começar a levar seu hobby para outro nível.

“Primeiro escolha revistas que você se identifique com o tema abordado, assim sua visão crítica fica bem melhor. Olhe bem o roteiro, para mim é essencial, pois na minha época todo mundo queria ser desenhista, esquecendo que o roteiro e a temática são o que dão vida. Para quem deseja fazer quadrinhos, o melhor é ler muita HQ de diversos estilos depois treinar desenho e roteiro. Procurar fazer um arquivo particular de seus trabalhos como rostos, corpo, caras e bocas até chegar a uma identidade do personagem a ser criado. É preciso muito estudo. Fazer quadrinhos tem que ter domínio da linguagem (balão, onomatopeia, quadros etc)”, ensina Gutemberg.

“Nas artes gráficas é possível sonhar. Assim como sonhamos na poesia, na música, no teatro e na literatura. A arte gráfica no Brasil renova os caminhos do olhar, reinventa a leitura, modifica a linguagem. É no lugar do desejo social que abarca a arte e o imaginário em seu torno. Em suas formulações conteudísticas, há sempre uma porta aberta para o social, para o poético, o político, filosófico, religioso, para o demasiadamente humano, enfim” finaliza.

Humor Gráfico na Bahia / Exposição em cartaz a partir de amanhã (24) até 06 de dezembro / Centro de Estudos dos Povos Afro Indígenas Americanos (CEPAIA) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) (Largo do Carmo, 4, Centro Histórico) / Entrada gratuita

Lançamento: livro Repare só! Uma história dos quadrinhos na Bahia, de Gutemberg Cruz / Amanhã, 15h30 / Centro de Estudos dos Povos Afro Indígenas Americanos (CEPAIA) da UNEB

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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