Fios do Tempo. Narrativas bíblicas em quadrinhos: as representações da sexualidade e da guerra – por Nelson Lellis

A análise de história em quadrinhos parece ser mera diversão, bem distante de trabalho feito com seriedade. Mas começamos a olhar diferente quando percebemos que muitas Igrejas cristãs possuem um mercado editorial voltado para o público infanto-juvenil, seguindo o velho preceito de que a catequização deve começar desde criança; e, também, que as narrativas imaginárias criadas em torno da Bíblia em HQ possuem efeitos reais sobre a forma como os jovens acessam as religiões no ambiente familiar, constituindo sua vivência de mundo e seus valores. Criam-se evidências e exploram-se (ou apagam-se) reflexões espirituais, éticas e/ou políticas.

No texto de hoje, Nelson Lellis faz uma primeira aproximação da análise das Bíblias em HQ, apoiando-se, para tanto, na ideia de mímesis de Auerbach e em uma distinção entre realidade e verdade. Como se dão as narrativas bíblicas de sexualidade e de guerra nas HQs? Como elas metaforizam os discursos e as representações de lideranças religiosas e de seus meios sociais?

Desejo, como sempre, uma ótima leitura.

A.M.
Fios do Tempo, 08 de junho de 2022



As narrativas bíblicas em quadrinhos:
representações da sexualidade e da guerra

Introdução: um quadro teórico

O esforço deste ensaio deve-se à participação em evento ocorrido entre os dias 2 e 6 de agosto de 2021, cujo tema era “Quadrinhos, linguagem e religião: diálogos (im)possíveis”. A discussão ainda é recente no campo de minhas pesquisas. Na verdade, efêmera. Apenas o objeto religioso em questão perpassa meu labor acadêmico, e isso, desde a graduação em teologia. Portanto, há que se relevar quaisquer lacunas que possam surgir pelo caminho. Interesso-me pelas narrativas bíblicas de sexo e de guerra que o Ocidente interpretou metaforizando-as nos discursos da grande maioria de líderes religiosos.

A academia já havia discutido a maneira de ler as Escrituras com métodos distintos, mas que desvendava a realidade por trás daqueles textos encharcados ora de prazer e dor ora de sangue e glória. Norman Gottwald, Robert Alter, Mario Liverani, Thomas Römer, dentre outros, deixaram obras importantes para interpretação do mundo antigo com suas pistas nas páginas sagradas. Aqui no Brasil, Milton Schwantes, Alex Villas Boas, Haroldo e Ivone Reimer, Júlio Zabatiero, Osvaldo Luiz Ribeiro, contribuíram e/ou contribuem de formas distintas. Há também as leituras conhecidas como decoloniais que contemplam hermenêutica queer, teologia negra, teologia feminista, dentre outras. Contudo, é Erich Auerbach (2004) que tomo como referência neste ensaio – assim como alguns dos autores citados acima o fizeram em suas obras. No primeiro capítulo de Mimesis, “A cicatriz de Ulisses”, Auerbach apresenta a interpretação simbólica, os significados morais, as funções dos textos gregos, as camadas dentro de cada personagem e, ulteriormente, realiza esse exercício no texto hebraico sobre a narrativa do sacrifício de Isaque pelo seu pai Abraão.

Ao contrário de Homero em A Odisseia, os relatos bíblicos são cridos como verdade. E o que é verdade? Auerbach diferencia verdade de realidade. Os autor dos textos sagrados são uma espécie de mentirosos políticos conscientes de suas metas.  Verdade é um relato apaixonado, carregado de segundos planos, cujo conteúdo é uma adaptação do mundo heurístico e adaptado pedagogicamente para determinado fim. Em outras palavras, verdade é um ensinamento imperioso adaptado para determinada sociedade e contexto. Portanto, a comunidade baseará seu ethos naquela composição que só a partir do avançar do tempo que vai se tornando histórica. É aqui que entra a diferença entre ambos os conceitos. Realidade encontra-se no plano histórico, do mundo, como a própria raiz da palavra define, real. A realidade é onde é. Por mais que hermeneutas busquem ampliar os efeitos da realidade (utilizando, por exemplo, a teoria da recepção – que para mim não passa de uma pragmática estética), seu caráter é pedagógico por si, não há camadas, não há metáforas. É.

Importante que se registre: os códigos, signos, léxicos de verdade são retirados do mundo que compõe a realidade de determinada comunidade. Não se pode retirar lições acerca do pastor de ovelhas para um grupo que não convive com essa prática ou desconhece totalmente o ofício. Sem realidade não existiria a verdade. Essa verdade é um mito. Nas palavras Edgar Morin, uma noosfera. Ambientes criados com uma finalidade: produzir efeito pedagógico para criar um comportamento.

Ainda que a materialidade movimente o mundo (e não as ideias), as consciências são direcionadas a crerem no invisível, em algo que lhes possa servir de modelo, de impulso, de motivação para as agruras da vida. Até porque os conceitos políticos também orbitam nessa região. No que se refere ao aspecto mágico, as camadas servem para ajudar o crente a não olhar diretamente para a realidade, mas aprender e apreender a verdade para lidar com os mais variados desafios. Na maioria dos casos, há uma fuga da realidade por meio de filtros. São arquétipos que ajudariam a fomentar ilusão (imaginação) e utopia (buscar a ser). Todavia, no tema do sexo, é prejudicial porque não revela nem mesmo a verdade do texto, porque é tratado como realidade. Já em relação às narrativas de guerra, os leitores infanto-juvenis têm diante de si uma releitura metaforizada em que o herói de guerra é assumido na figura do leitor e o inimigo torna-se o desafio a ser vencido pela força utilizando a fé como principal instrumento.

É sobre essa plataforma teórica que me atrevo a pensar nas narrativas de sexo e de guerra que surgem em forma de quadrinhos para o público infanto-juvenil. Já se tornou um grande desafio elencar quantas editoras publicaram para esse público e a diversidade desse material. Vejamos alguns modelos para bíblias:

Como já anunciado, não será meu objetivo discorrer sobre o intento comercial desse tipo de material que, certamente, faz parte de um degrau a mais que os cristãos, sobretudo do segmento evangélico, têm conquistado no mundo dos negócios. Minha intenção é refletir em como determinados quadros de verdade sobre as narrativas de sexualidade e de batalhas são modificadas ou metaforizadas seja na própria narração ou no diálogo entre personagens, seja nas imagens, traduzindo para as crianças não apenas as legendas carregadas de eufemismo, mas também negando a violência de como o sexo se apresenta em sua forma cultural ou deixando escapar as ferramentas bélicas, os cenários de catástrofes e tantas outras informações que conflituam muito menos com a intenção do texto. Além disso, de que maneira a produção das imagens permite com que o leitor infanto-juvenil se identifique com os personagens heróis. Por fim, considerar, não o que isso tem produzido diretamente na sociedade brasileira, pois este ensaio não se aprofunda tanto empiricamente, mas como os temas e a maneira como são trabalhados nas HQ’s (Histórias em Quadrinhos) são meros desdobramentos do campo conservador, que ainda enxerga o sexo como tabu e as guerras como cenários inspiradores.

Neste aspecto, Foucault torna-se imprescindível para pensar essa relação entre produção e estabelecimento do poder na sociedade que aqui delimito como sociedade religiosa evangélica. Para Foucault, o poder não é uma coisa em si. Ele apenas pode ser visto nas relações. E não é possível ocultar a força dos diferentes discursos de verdade, como anunciado em Auerbach, quando são produzidos para catequizar crianças e adolescentes utilizando legendas e imagens que comprometem não apenas o texto bíblico, mas que, certamente, surge como uma ferramenta que auxilia na reprodução de um comportamento (em termos conceituais, um habitus, tal como Bourdieu sistematizara).

Daqui por diante tomo como exemplo icônicas narrativas bíblicas. Primeiramente sobre sexo: busco observar de que maneira a nudez, a dominação masculina na relação sexual e os outros elementos de violência nessa esfera são apresentados em algumas HQ’s. Em segundo: os conflitos no contexto de guerra/batalha onde personagens são acolhidos como heróis na tradição judaico-cristã.

Sexo: eufemismo e ocultação

Após a narrativa da criação do mundo, que não se trata do cosmos, sabemos, os personagens Adão e Eva, na Bíblia em HQ, são apresentados desde o início, cobertos pelas plantas do Éden, ou seja, mesmo antes de comerem da árvore do conhecimento que fez com que ambos enxergassem a nudez como algo negativo. Ou seja, a nudez já é algo a ser escondido, o que destaca a problematização do tema, uma vez que revela o tabu nas discussões na grande maioria das famílias cristãs.

Avançando nas páginas da Bíblia em HQ, temos a relação sexual entre Isaque e Rebeca que ocorre em uma tenda. Na maioria das narrativas sobre esse primeiro encontro físico, é destacado como “casamento” na HQ. Isso também retira a possibilidade de refletir culturalmente o sexo, a saída da mulher de sua casa e como é “possuída como posse” do homem.

No mesmo livro de Gênesis, a chamada tentação em relação ao personagem José e a esposa de seu senhor no Egito é descrito. Nesta versão, qualquer expressão relativa a sexo foi trocada por “isso”. Apenas no final, uma palavra mais próxima: “assédio”, mas não “assédio sexual”.

Na Bíblia em Ação, “assédio” foi trocado por “beijo”, o que ajuda na composição do eufemismo tão utilizado sobre o tema em questão.

No período dos Juízes, há um cuidado em dizer que a razão do esquecimento “de todas as bênçãos de Deus” se deu por causa do “casamento” com pessoas que não acreditavam no mesmo Deus. O resultado disso seria uma total desarmonia e filhos desobedientes. Essa concepção de pedigree, à semelhança de uma casta, é reproduzida em meios mais conservadores cristãos em que importa que o crente se case com outro crente a fim de que Deus não seja esquecido, ou rejeitado. Justifica-se essa interpretação pelo termo “jugo desigual”. Ou seja, o “casamento” errado, a relação errada, leva a desajustes familiares e sociais exponenciais.

Bíblia em HQ tem interesse em registrar os acontecimentos mais populares para o mundo cristão. É por isso, mas não só, que não aparecem registradas as narrativas sobre as filhas de Ló que embebedam o pai e por duas noites têm relação sexual com o mesmo; o estupro de Diná, filha de Jacó, em Siquém; a difícil imagem na sociedade de uma mulher sem filhos, como no caso de Ana, esposa de Elcana; Amnon que estuprou sua irmã Tamar, ambos filhos do rei Davi; e casos aparentemente românticos, como de Rute que se deita com Boaz para garantir a vida; o livro de Cântico dos Cânticos sequer é mencionado. E daí por diante… Por outro lado, estão presentes as narrativas que registram os eventos de batalhas/guerras/conflitos violentos, com imagens de mortes, registro da cor rubro em vários cenários (sangue), ataques a cidades e pessoas.

Guerra: metáfora e justaposição

A começar pela estória acerca da morte de soldados egípcios no Mar de Juncos (Mar Vermelho) após perseguição do povo escolhido por Yahweh que havia sido escravizado por mais de quatro séculos no Egito. Na imagem abaixo, o povo liberto segue seu caminho pelo deserto enquanto o mar se fecha violentamente sobre soldados e animais que se afogam em meio aos destroços de carruagens.

Em outra passagem, Josué lidera a entrada na cidade de Jericó. Inicialmente, a vitória se dá por meio dos sacerdotes que tocam a trombeta ao redor das muralhas da cidade. Posteriormente, a HQ registra que apenas Raabe e sua família são “poupadas” do ataque onde toda a cidade perece. Um detalhe: a legenda não informa que Raabe é uma prostituta – como explicar a um público infanto-juvenil que uma prostituta poderia ser uma heroína? Na imagem a seguir, temos Josué liderando ataques a outras cidades. No interior das muralhas, fumaça e fogo. Em outro momento, espada em riste, lutas e corpos em conflito. Josué torna-se um modelo de herói no que se refere à conquista. Quem louvaria Raabe como prostituta? Quem gostaria de ser Josué, um conquistador de terras?

Já no período dos Juízes, Débora não é lembrada na HQ. O principal nome que surge como modelo de fidelidade a Deus e enfrentamento com o inimigo é Sansão, que na ilustração assemelha-se a personagens míticos como Hércules. Sansão é conhecido por sua força. Em diversos desenhos, sua cabeleira simbolizaria a fonte dessa virtude. Todavia, seus cabelos apontam para o voto de nazireu, que além da proibição de cortá-los, também não podia tocar em mortos e tomar bebida alcoólica. O personagem Sansão aparece nos capítulos 13-16 do livro de Juízes que possui uma estrutura narrativa com um enfoque repetitivo. Os autores deuteronomistas, segundo Liverani (2008, p. 362-365), indicam que o contexto se dá numa sucessão de opressões que Yahweh imprime em seu próprio povo por causa da fidelidade oscilante. Daí, os quadros funcionam da seguinte maneira:

  • O povo de Israel demonstra infidelidade
  • Yahweh utiliza outros povos para “oprimi-lo”
  • Yahweh se arrepende e envia um juiz para libertar o seu povo
  • O povo se arrepende

O processo do quadro acima é cíclico, como demonstra o texto de Jz 2,18-19:

Quando o Senhor lhes suscitava juízes, o Senhor estava com o juiz e os livrava de seus inimigos durante toda a vida do juiz, porque o Senhor se deixava comover por seu pranto diante daqueles que os oprimiam e maltratavam. Mas, quando o juiz morria, eles recomeçavam a se perverter, ainda mais que seus pais, seguindo outros deuses, servindo-os e prosternando-se diante deles; eles não renunciavam a nada de suas práticas e de sua conduta obstinada.

O livro aponta que somente a monarquia teria as chaves para os problemas estruturais: “Naquele tempo não havia rei em Israel; cada um fazia o que era certo a seus olhos” (Jz 17,6; 21,25). A ideia do redator é centralizar a atitude filomonárquica em sua comunidade. Os reis que estão presentes no livro são de outros povos (filisteus, cananeus, amonitas, moabitas). Israel é interpretado como inferior pelo autor por não haver um rei que pudesse governá-lo.

Destaco um cenário: o (auto)sacrifício de Sansão. Após ser preso, vilipendiado e ter seus olhos furados, Sansão, ainda acorrentado, pede a Deus que lhe dê forças para uma última ação: em um ato interpretado como heroico – para outros, suicida – ele empurra as colunas onde encontra-se preso e derruba toda a estrutura, matando a si e a seus “inimigos”. Na imagem, as colunas do templo são derrubadas com esforço de seus braços. Fumaça e fogo aparecem oferecendo o tom da destruição. Ao chão, uma espécie de sombreamento rubro. Aparentemente, pedras ou parte da composição do templo, mas não. A mancha rubro encontra-se somente ao redor das colunas. É sangue de pessoas esmagadas. Além das vestes rasgadas simbolizando o caos e a morte como resultado da “ira de Deus”, a legenda ajuda a manter essa interpretação: “Sansão empurrou as colunas de sustentação do templo matando todos os filisteus quando o prédio veio abaixo. E assim, Sansão matou mais filisteus naquele dia do que em toda a sua vida”.

Por fim, a famosa narrativa de Davi e Golias. Na imagem, Davi surge com feição de menino, enquanto Golias, de um adulto pavoroso. Durante a unção realizada por Samuel, a imagem de Davi é bem infantilizada:

Isso também ocorre em outros materiais. A caracterização de Davi é infantilizada, enquanto que Golias surge com aspectos mais adultos, como algumas rugas e barba, conforme é possível atestar abaixo:

Na bíblia em HQ, a batalha individual, que ocorre quando dois soldados de exércitos inimigos são escolhidos para decidirem até a morte o final da batalha, apresenta Davi e sua funda diante do gigante Golias, com suas expressões medonhas e armadura de guerreiro. A segunda imagem do quadrinho, mostra o herói Davi com o pé esquerdo sobre o cadáver após ter atirado uma pedra em sua testa:

O modelo cronista, em que Davi perde as características de guerreiro e torna-se um poeta/salmista, parece não ser o ideal para a HQ. A releitura de Davi nos livros das Crônicas, que trouxeram a esse personagem poesia e leveza, talvez não fosse capaz de construir um modelo de herói para o público em questão. O desdobramento da narrativa demonstra Davi com outros traços: mais forte, com armadura de guerreiro e com barba, lidera um grande exército que avança com expressões furiosas, lanças, espadas e escudos a fim de batalhar e conquistar muitas terras expandindo, assim, o seu reino.

Conclusão

Tomando Auerbach como trajeto teórico para esse ensaio, o “sexo”, associado não apenas às relações entre pares, mas também à nudez e a tudo o que corresponde ao seu tema, não tem suas narrativas nem mesmo relatadas como verdade, ou seja, como forma de produzir alguma reflexão na(s) HQ(s) ou proposta pedagógica para se discutir o sexo em si, o corpo humano nu, a violência sexual, a mulher como objetificação na cultura patriarcal. E por que isso?

Algumas razões hipotéticas (?) surgem nesta conclusão. A primeira delas: as HQs são apenas a reprodução de uma cultura religiosa que tem seu desdobramento no mercado editorial. Ora, que tipo de família cristã adquiriria uma bíblia em HQ para seu filho que tivesse de discutir tais questões? A segunda: a leitura das narrativas que tratam desse tema se dá a partir de uma hermenêutica da realidade. Por mais que no cenário da época estivessem presentes todas as associações que acima destacamos, as narrativas também se utilizam de construções teológicas acerca de sua realidade. Todavia, o que ocorre é: quando o assunto é registrado na HQ, desaparece a possibilidade de tratar as questões a partir da verdade e troca-se todas as expressões por eufemismos; por outro lado, há uma ocultação dessa temática por se entender que determinadas narrativas são periféricas ou podem trazer algum constrangimento ou teor inapropriado para a idade. Daí, seguimos para o outro tema: as guerras.

Diante de um país onde mulheres são frequentemente vítimas de abusos sexuais, inclusive em famílias cristãs, parece que é mais comum tornar modelo os heróis de guerra com seus cenários de morte e sangue, do que discutir pedagogicamente outros aspectos da bíblia. Aqui, as narrativas são trabalhadas como verdade, ou seja, possuem certa pedagogia para seu público. Davi, por exemplo, é ilustrado para ser associado com o leitor infanto-juvenil. Ou seja, a criança, o adolescente, o jovem, enquanto lê a HQ, enxerga a si mesmo no personagem guerreiro. Nas pregações de líderes religiosos, Davi é o seu auditório; Golias é a personificação de algum obstáculo a ser vencido. Portanto, tudo aquilo que oferece perigo ou um desafio poderá ser derrotado na “força do Senhor”. Grande parte da sociedade religiosa cristã brasileira, que é inclinada a um modelo de conquista de território cometendo diversos tipos de violência (simbólica ou não), explica a forma que as narrativas são reproduzidas em determinadas publicações de bíblias em HQs.

O espaço é curto para problematizar tais questões. Algumas considerações devem continuar sobre a mesa: a relação dessa sociedade religiosa com a produção de bíblias em HQ tendo não apenas o elemento econômico como pano de fundo, mas igualmente a reprodução de um habitus em que se prioriza determinados assuntos em detrimento de outros. Além disso, a própria discussão sobre gênero, que perpassa subtemas como submissão feminina, corpo humano, violência simbólica, física e emocional. Certamente que, embora a HQ venha para ajudar na linguagem e compreensão das narrativas bíblicas, há muito trabalho pela frente, uma vez que, tudo indica, as editoras ainda estão a serviço de um quadro político-religioso muito sem (a) graça e sem cor.

Referências:

ALTER, Robert. A arte da narrativa bíblica. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

AUERBACH, Erich. “A cicatriz de Ulisses”. In: __________ Mimesis. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2004, p. 1-20.

FOUCALT, Michel. Microfísica do poder. 6ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra, 2017.

VILLAS BOAS, Alex. Teologia em diálogo com a literatura: origem e tarefa poética da teologia. São Paulo: Paulus, 2016.

Nelson Lellis

Doutor em Sociologia Política (UENF). Bolsista pós-doc pelo PPGSP-UENF. Membro do Núcleo de Estudos em Representação e Democracia (NERD). Tem experiência nas áreas de Ciência e Sociedade, Análise do Discurso, Sociologia da Religião, Filosofia da Religião, Primeiro Testamento (Bíblia Hebraica), Metodologia da Pesquisa. Desenvolve pesquisas sobre a interface Política e Religião no Brasil. Organizador das coletâneas: “Política e Religião à brasileira” (editoras Terceira Via / Recriar); “Religião e Violência” (ed. Recriar); “Israel no período Persa” (Editoras Loyola / Recriar). Colaborador no Fios do Tempo do Ateliê de Humanidades (Instituição de livre estudo, pesquisa, escrita e formação). Colunista e membro do Comitê Editorial da Revista Senso. Membro do Grupo de Pesquisa Dinâmicas Territoriais, Cultura e Religião (CRELIG).


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