Manifesto de criação da rede universitária de solidariedade ao povo palestino

Imagem: Khaled Hourani
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por VÁRIOS AUTORES*

Professoras e professores de universidades brasileiras – associando-se às iniciativas que, em todo o mundo, denunciam a tragédia humanitária na Faixa de Gaza e na Cisjordânia – decidem criar uma “Rede Universitária de Solidariedade ao Povo Palestino”.

Diante do regime de apartheid e da atual política de terror praticada pelo Estado de Israel, justificada de forma incondicional e avassaladora pela mídia empresarial brasileira e mundial, entendemos que a comunidade acadêmica brasileira é desafiada a se posicionar publicamente em defesa da justiça e do rigor histórico. A solidariedade ao povo palestino é uma imprescritível responsabilidade moral e intelectual que se impõe às docentes e aos docentes universitários que têm convicções democráticas, humanistas, críticas e defendem a autodeterminação dos povos.

De imediato, este Manifesto convoca o/as docentes a organizar comitês, em seus diferentes campi universitários, a fim de que promovam ações diversas: debates políticos (presenciais e virtuais) com pesquisadores e ativistas , atividades artísticas (musicais, teatrais, exibição de filmes) que contribuam para que a comunidade acadêmica – docentes, estudantes e funcionários – seja devidamente esclarecida e sensibilizada pela histórica opressão enfrentada pelo povo palestino e pelo brutal massacre a que está sendo submetido. Para a realização destas iniciativas, certamente, devemos buscar o apoio das entidades docentes que nos representam política e sindicalmente.

Neste texto em que anunciamos a criação da Rede Universitária, julgamos que alguns posicionamentos deste coletivo deveriam ser explicitados. De forma breve e sintética, citamos alguns:

  • Reiteramos que esta Rede Universitária buscará se associar a todas as entidades democráticas e progressistas da sociedade civil que têm organizado manifestações (atos e debates públicos) em todo o país, defendendo o imediato Cessar-Fogo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, condição decisiva para estancar o processo de genocídio na região, promovido pelas forças armadas do Estado de Israel;
  • Neste sentido, não podemos senão reconhecer as iniciativas da atual política externa brasileira em relação ao conflito em curso. Entre elas: a) a atuação de nossa diplomacia, que no exercício da presidência do Conselho de Segurança da ONU, se empenhou para promover uma solução para a guerra contra o povo palestino; b) a decisão do governo brasileiro – juntamente com outros países – de se solidarizar com a petição da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça,  em Haia,  para que determine que Israel cesse imediatamente todos os atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados nos termos da Convenção de Genocídio; c) saudamos a decisão do governo brasileiro de suspender os acordos militares firmados com Israel durante o governo Bolsonaro, e instamos a que todos os contratos militares e de segurança vigentes com Israel sejam revogados dada a continuidade dos atrozes crimes de guerra contra o povo palestino e os prováveis crimes contra a humanidade ora praticados;
  • Em defesa da liberdade de expressão e exercício do pensamento crítico, não podemos senão repudiar todas as ostensivas iniciativas de agências sionistas no Brasil que, na mídia e nas redes sociais, visam censurar o debate público e criminalizar docentes, estudantes, intelectuais, políticos, jornalistas, artistas e escritores brasileiros. Em franca oposição à política de terror do Estado de Israel, tais críticos, reiteradamente, têm sido acusados de antissemitas. Política e intelectualmente desonesta e fraudulenta, a acusação se fundamenta na lógica tortuosa e na má fé com que identificam judaísmo e sionismo. Aos acadêmicos e intelectuais críticos cabe a permanente tarefa de repudiar esta falsificação histórica e teocrática do sionismo em todo o mundo, que consiste em identificar o antissionismo a uma ação antissemita: falsificação esta que vem, desde pelo menos 2016, quando a IHRA (International Holocaust Remembrance Alliance) lançou a sua “nova definição do antissemitismo”. Não aceitamos que se confundam as políticas de um governo ou as práticas de um regime, com qualquer etnia ou religião. O antissemitismo assim como a islamofobia e o racismo devem ser combatidos incansavelmente.
  • Embora suscite bastante polêmica dentro das universidades e centros de pesquisas do país, entendemos que as propostas do movimento mundial de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) – defendendo o boicote a bens produzidos em Israel e às suas instituições culturais e acadêmicas –devem integrar nossa específica pauta de lutas na universidade. Reconhecido como um valioso instrumento na luta não-violenta contra o apartheid – na medida em que busca fragilizar o governo de Israel e constranger internacionalmente seus aliados e financiadores –, julgamos que devemos questionar a existência de convênios culturais e acadêmicos que algumas universidades brasileiras mantêm com entidades privadas e oficiais de Israel. O boicote às academias não se estende aos docentes e pesquisadores, que não devem ser punidos pelas ações do Estado e de suas instituições, e que, muitas vezes, são solidários à luta de libertação nacional do povo palestino.

Como professores e professoras que têm convicções críticas, democráticas e humanistas defendemos a necessidade de garantir ao povo palestino e suas lideranças o exercício do seu direito à libertação nacional e plena soberania. 

Em defesa de uma sociedade livre de todas as formas de opressão e discriminação, somos pelo fim da ocupação dos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza e contra o regime de apartheid em toda a região,

Os docentes universitários de todo o país que desejam subscrever este Manifesto podem fazê-lo aqui: Manifesto Universitário em solidariedade ao povo palestino.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Bento Prado Jr. Alysson Leandro Mascaro Vanderlei Tenório Leda Maria Paulani Ricardo Abramovay Daniel Costa João Lanari Bo Lucas Fiaschetti Estevez Igor Felippe Santos Jorge Luiz Souto Maior Daniel Brazil Lincoln Secco Sandra Bitencourt Eugênio Trivinho José Machado Moita Neto Rodrigo de Faria Slavoj Žižek Ronald Rocha Luiz Carlos Bresser-Pereira Denilson Cordeiro Leonardo Avritzer Luiz Roberto Alves Thomas Piketty Marcos Aurélio da Silva João Carlos Loebens Michael Löwy Paulo Sérgio Pinheiro Everaldo de Oliveira Andrade Manchetômetro José Dirceu Atilio A. Boron Claudio Katz Antônio Sales Rios Neto Marcelo Guimarães Lima Ronald León Núñez Flávio Aguiar Celso Frederico Caio Bugiato Armando Boito Berenice Bento Milton Pinheiro Henry Burnett Dennis Oliveira Eliziário Andrade Eleonora Albano Ladislau Dowbor João Sette Whitaker Ferreira Leonardo Boff Bruno Machado Luiz Werneck Vianna Paulo Martins Matheus Silveira de Souza Jean Pierre Chauvin Gabriel Cohn Julian Rodrigues Tales Ab'Sáber Yuri Martins-Fontes Heraldo Campos Francisco Fernandes Ladeira Leonardo Sacramento Gilberto Maringoni Juarez Guimarães André Márcio Neves Soares João Paulo Ayub Fonseca Maria Rita Kehl Francisco de Oliveira Barros Júnior Marcus Ianoni Fernão Pessoa Ramos João Carlos Salles Alexandre de Lima Castro Tranjan Renato Dagnino José Micaelson Lacerda Morais Gerson Almeida Osvaldo Coggiola Luiz Eduardo Soares Flávio R. Kothe Jean Marc Von Der Weid Paulo Fernandes Silveira João Adolfo Hansen Alexandre de Freitas Barbosa Bruno Fabricio Alcebino da Silva Michael Roberts Érico Andrade Fábio Konder Comparato André Singer José Luís Fiori Mariarosaria Fabris Marilena Chauí Luiz Bernardo Pericás Antonino Infranca Antonio Martins Priscila Figueiredo Ricardo Fabbrini Valerio Arcary Alexandre Aragão de Albuquerque Daniel Afonso da Silva Luiz Renato Martins Samuel Kilsztajn Salem Nasser Andrés del Río Andrew Korybko Mário Maestri Vinício Carrilho Martinez Boaventura de Sousa Santos Carlos Tautz Luiz Marques José Geraldo Couto Tadeu Valadares Vladimir Safatle Paulo Capel Narvai Jorge Branco Airton Paschoa Chico Whitaker Eugênio Bucci Fernando Nogueira da Costa Gilberto Lopes Otaviano Helene Luis Felipe Miguel Ricardo Antunes Michel Goulart da Silva Bernardo Ricupero Sergio Amadeu da Silveira Marcelo Módolo Annateresa Fabris Plínio de Arruda Sampaio Jr. Ricardo Musse Eduardo Borges Remy José Fontana Luís Fernando Vitagliano Ronaldo Tadeu de Souza Celso Favaretto Manuel Domingos Neto Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Francisco Pereira de Farias Carla Teixeira José Raimundo Trindade Tarso Genro Marjorie C. Marona Marcos Silva Anderson Alves Esteves Paulo Nogueira Batista Jr Ari Marcelo Solon Rafael R. Ioris João Feres Júnior Rubens Pinto Lyra Elias Jabbour Chico Alencar Benicio Viero Schmidt Afrânio Catani Anselm Jappe José Costa Júnior Dênis de Moraes Henri Acselrad Marilia Pacheco Fiorillo Eleutério F. S. Prado Walnice Nogueira Galvão Liszt Vieira Lorenzo Vitral Luciano Nascimento Kátia Gerab Baggio

NOVAS PUBLICAÇÕES