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Cultura popular nordestina é temática da nova exposição de Adriano Dias

publicado: 04/09/2016 00h05, última modificação: 03/09/2016 10h35
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Trecho de obra do artista que trata do folguedo Boi de Reis, e traz o colorido das fantasias, a dança e a musicalidade - Foto: Divulgação

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Lucas Silva - Especial para A União

"A poética do meu trabalho passa pelo resgate das reminiscências da cultura popular, com cenas da religiosidade do nosso povo e das festas populares como o reisado, lapinha, babau, caboclinho, etc”, descreveu o artista plástico guarabirense, Adriano Dias, que permanece com a exposição “Universo Naif” em cartaz na Usina Cultural Energisa. Conhecido por ter a rara habilidade de se enquadrar na categoria dos naif clássicos, sem que com isso se perca entre às cores primárias e chapadas, o artista expõe em sua mostra 34 telas que fazem uma verdadeira mistura de cores que pintam literalmente a cena cotidiana paraibana. A mostra é aberta ao público até o dia 24 de setembro, de terça a domingo, das 14h às 20h e a entrada é franca.

“A exposição surpreendeu não só pela qualidade, mas também por uma peculiaridade que só agora comecei a notar: em boa parte de suas telas o artista insere personagens negros, até como forma de mostrar a todos que nosso País é um caldeirão multi-racial e como tal tem pessoas de todas as raças além das evidentes miscigenações. E aproveita para ilustrar com cenas típicas do Nordeste como rodas de Capoeira, danças do nosso folclore e as manifestações religiosas do nosso povo, renovando e reafirmando a nossa brasilidade”, contou o professor de artes plásticas e crítico em entrevista ao jornal A União, Eudes S. Rocha.

Por sua vez, Adriano Dias faz a ressalva de que explora situações diárias da nossa vida, como as brincadeiras de criança de sua época, a farinhada, o carro de boi e as lembranças armazenadas em seu imaginário popular. Em cima disso, sua construção ideológica parte de esboços feitos em papel que posteriormente são transferidos às telas.

No primeiro momento, quem contempla suas obras diz que os quadros caminham por uma linha de pensamento clichê, entretanto, quem abre seu imaginário  proposta criada pelo artista encara suas obras como um universo multicolorido que surge da vivência natural, sem muitas dificuldades.

Indo mais além, o universo naif permite trabalhar a espontaneidade, a criatividade autêntica, e o fazer artístico sem escola nem orientação, portanto, é instintiva e onde o artista expande seu universo particular. Assim, o artista naif, é marcadamente individualista em suas manifestações mais puras, muito embora, mesmo nesses casos, seja quase sempre possível descobri-lhes a fonte de inspiração na iconografia popular das ilustrações dos velhos livros, das folhinhas suburbanas ou das imagens de santos.

Adriano conhece bem o desafio de viver de arte fora do eixo Rio-São Paulo. Ele ainda demonstra a consciência da importância da construção de políticas públicas que incentivem e suportem a cultura e a arte.

“Fazer opção de trabalhar com arte longe de um grande centro, é antes de tudo um desafio, que precisamos superá-lo no cotidiano, na luta pela afirmação de nossa identidade cultural, que conseguimos construí-la ao longo desses mais de 20 anos de militância cultural. Quanto a nossa contribuição, acreditamos num fazer artístico que esteja em sintonia com a discussão em torno das políticas públicas de cultura, dai militarmos no Fórum de Cultura do Brejo”, completou.

Adriano Dias e seu depoimento artístico sobre vivências e inspirações:

Desde muito cedo, Dias convivia com sua mãe e desenvolvia diversas atividades manuais como bordado, aplicação em colchas de retalho, trabalho com pintura em tecido, entre outras, que na verdade sempre o chamou atenção, sobretudo a pintura em tecido e que, sem dúvida alguma, foi o seu maior incentivador na busca pela afirmação de uma carreira como artista, que numa realidade de cidade do interior é muito mais difícil.

Em 1987, junto com outro companheiro apresentou pela primeira vez os seus trabalhos ao público, tendo após esse período, procurado participar o máximo possível, dos salões e exposições coletivas que acontecia no nosso Estado e mesmo fora dele. Já em 1988 participou da I Mostra Arte Atual Paraibana, ocasião em que foram catalogados os artistas em atuação em nosso Estado.

“Tenho muita satisfação de poder dizer que tive referências importantes na construção do meu trabalho, uma vez que tive o privilégio de poder conhecer e conviver com artistas como Alexandre Filho e Clóvis Júnior, conterrâneos, referências na pintura naïf do nosso País. Conseguir se inserir no universo artístico a partir do interior é muito difícil, às vezes sequer tomamos conhecimento dos eventos que acontecem, de forma que nos excluímos, mesmo sem querer do direito de apresentar nossos trabalhos, e pô-los ao julgamento do público”, disse em detalhes o artista.

Além de artista plástico, Adriano Dias é vice-presidente da Fundação Centro Unificado de Capacitação e Arte, que trabalha no atendimento e proteção de crianças e adolescentes no município de Guarabira.

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