Carros

Por André Schaun, de Brasília (DF)

A umidade relativa do ar estava em 11% na primeira semana de setembro, em Brasília (DF). Esse índice é suficiente para afirmar que o clima estava tão seco quanto o do Deserto do Saara, na África. Garganta seca, céu sem nuvens e um sol escaldante. Esse era o cenário quando entrei na plantação de milho de uma fazenda nas redondezas da capital. A única sombra que encontrei na imensidão da área rural foi dentro da cabine da colheitadeira Massey Ferguson 9895.

Essa máquina agrícola tem um aspecto intimidador quando as ponteiras da plataforma estão elevadas. Parecem mísseis enfileirados. Esse visual é exclusivo da colheita de milho porque esse componente foi projetado para essa cultura. Os “mísseis”, na verdade, são as 21 linhas de corte da plataforma.

A cabine conta com vários itens de conforto para o operador —  que passa oito horas por dia colhendo grãos — Foto: Divulgação
A cabine conta com vários itens de conforto para o operador — que passa oito horas por dia colhendo grãos — Foto: Divulgação

Chamar a Massey Ferguson 9895 de gigantesca não é modo de dizer. Afinal, ela tem 13,2 metros de comprimento, já com a plataforma acoplada, 5,10 m de altura e pesa mais de 24 toneladas com a ferramenta de corte somada. Para mover tudo isso é preciso contar com um motorzão de 9,8 litros e sete cilindros movido a diesel. Tem 500 cv e 188 kgfm de torque.

O câmbio é manual de quatro marchas. Essa colheitadeira pode ser configurada com quatro ou com seis rodas, dependendo do modo de operação. As rodas traseiras são sempre de 28 polegadas com pneus 600/65R28. Quando a dianteira está em sua configuração simples, ou seja, duas rodas de 32 polegadas, usa pneus 900/60R32. No modo de duas rodas de 42" em cada lado, os pneus são 620/70R42. E foi justamente no modo com seis rodas que fizemos nossa colheita de milho.

Sob o sol ardente do Cerrado, ouvi as explicações sobre a máquina e parti para a produção com Anderson Schöfer, especialista em colheitadeiras da Massey Ferguson.

A plataforma de corte do milho é específica para essa cultura  — Foto: Divulgação
A plataforma de corte do milho é específica para essa cultura — Foto: Divulgação

A cabine envidraçada dá uma visão de 180 graus para o operador, que tem requintes de conforto à sua disposição: ar-condicionado, rádio, ajustes de posição do volante e assento totalmente configurável, com até mais recursos que muito carro chique. Tem ajustes de altura, profundidade e inclinação, bem como uma suspensão pneumática para aliviar a tremedeira provocada pelo piso.

Antes de sair é preciso configurar a “apanha” no campo. O acelerador eletrônico, um botão redondo giratório posicionado no console do lado direito, delimita a velocidade máxima naquela operação. Na colheita de milho, o ideal são 5 km/h. Isso aumenta a qualidade de colheita e gera menos perda.

Quando o tanque graneleiro está cheio, um tubo descarregador despeja os grãos na bazuca, veículo que recebe a carga da colheita — Foto: Divulgação
Quando o tanque graneleiro está cheio, um tubo descarregador despeja os grãos na bazuca, veículo que recebe a carga da colheita — Foto: Divulgação

O deslocamento da colheitadeira é feito por meio do manche, que fica na ponta do console. Quando esse controle está no meio do curso, em posição neutra, é feita a seleção da marcha. A alavanca do câmbio, que fica ao lado esquerdo do operador, também deve permanecer no neutro quando a máquina está parada.

Só assim é possível selecionar a marcha desejada — nesse caso, a segunda. Com tudo configurado, o operador abaixa a plataforma, também pelo manche, e a posiciona a mais ou menos 20 cm do solo para o corte perfeito do milho. O piloto automático ajuda a traçar a linha certa na lavoura para não desperdiçar colheita em nenhuma área.

Com a marcha engatada, para sair da inércia é preciso tirar o manche do neutro e incliná-lo para a frente, iniciando a aceleração. Ao alcançar a rotação máxima do motor, 2.150 rpm, finalmente a máquina começa a colheita — e um barulho alto toma conta da cabine. Isso porque, além do ruído da máquina, ouve-se o tanque graneleiro, atrás da cabine, sendo preenchido. É possível perceber o barulho dos grãos caindo nesse reservatório. As seis etapas que a máquina realiza, desde o corte da planta até a chegada do grão ao tanque, são realizadas em cerca de 16 segundos.

O piloto automático traça as linhas da lavoura com perfeição — Foto: Divulgação
O piloto automático traça as linhas da lavoura com perfeição — Foto: Divulgação

A primeira fase é o “corte e alimentação”, quando a plataforma corta a planta e a transporta para o interior do trator. A segunda etapa (“trilha e separação”) é realizada dentro de um compartimento fechado.

E a terceira é a “separação complementar”, na qual os grãos são separados da espiga do milho. Essa separação acontece por gravidade. Enquanto os grãos escoam entre os espaçamentos das grelhas, a palha fica na parte de cima. A quarta etapa é a limpeza, feita pelo ventilador e pelas peneiras.

Com consumo médio de 40 litros por hora, é possível trabalhar cerca de 20 horas sem precisar encher o tanque — Foto: Divulgação
Com consumo médio de 40 litros por hora, é possível trabalhar cerca de 20 horas sem precisar encher o tanque — Foto: Divulgação

Com o material já trilhado e separado nos processos anteriores, o ventilador expulsa os resíduos das palhas que passam junto com os grãos por entre as grelhas, enquanto os grãos se deslocam por gravidade até as peneiras. As peneiras superiores e inferiores têm a finalidade de separar o grão dos talos que não foram expulsos por serem mais pesados. A quinta etapa é “armazenamento e descarga”. Após os grãos passarem pelos processos de limpeza, são transportados por eixos helicoidais e correntes elevadoras até o tanque graneleiro.

A sexta e última etapa é o “gerenciamento de resíduos”, que é feito pelo picador de palhas. Esse conjunto é responsável pelo trituramento final da palhada e também por sua expulsão: tritura totalmente esse material separado e espalha-o no chão. Ele forma uma cobertura que irá proteger o solo para o próximo plantio e também gerar nutrientes para o novo ciclo de cultivo.

A explicação é demorada, mas tudo isso é feito automaticamente em 16 segundos. O tanque graneleiro comporta até 12.334 litros de grãos. Quando 70% dessa capacidade é atingida, uma sirene do lado de fora da colheitadeira é acionada para avisar a “bazuca” — veículo que recebe os grãos descarregados.

O preço da colheitadeira varia de estado para estado em razão dos impostos; em média, fica em R$ 3,5 milhões já com a plataforma  — Foto: Divulgação
O preço da colheitadeira varia de estado para estado em razão dos impostos; em média, fica em R$ 3,5 milhões já com a plataforma — Foto: Divulgação

Quando os grãos completam a capacidade máxima, o operador abre o tubo descarregador pelo console e descarrega esses grãos com a colheitadeira em movimento, para não perder tempo de colheita. O tubo descarrega 150 litros por segundo, portanto leva cerca de dois minutos para esvaziar por completo.

Operar a colheitadeira é algo surpreendente. A direção hidráulica é responsiva, o banco é confortável e o ar-condicionado alivia o “calor do Saara”. A máquina já com a plataforma custa R$ 3,5 milhões, em média.

Afinal, é preciso investir milhões para colher milhões de toneladas de milho e ter milhões de reais de retorno.

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital

Mais recente Próxima Ford GT LM Edition comemora vitória sobre a Ferrari e marca o fim do esportivo
Mais da Autoesporte