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Terceiro álbum da premiada cantora e compositora carioca sucede discos de 2011 e 2014, agora em parcerias e participações de um respeitável time de cantoras, mais Cristóvão Bastos
A cantora e compositora carioca Gabi Buarque recentemente enviou, graciosamente, um exemplar do seu disco Mar de gente à redação do Barulho d’água Música, aqui em São Roque, estância turística do interior de São Paulo a 60 quilômetros da Capital. Lançado em 2020, é o terceiro da premiada e aclamada carreira dentro e fora do Brasil, com 13 faixas, várias das quais divididas com Socorro Lira e participações das mais especias de Áurea Martins, Cristóvão Bastos, Mariana Baltar, Nina Wirtti, Sylvia Duffayer e Thaís Macedo. Com arranjos assinados pelo bandolinista Luis Barcelos, Mar de gente atingiu a areia depois de Deixo-me acontecer (2011) e Fiandeira (2014), todos álbuns obrigatórios em uma coleção de respeito.
Gerado em plena fase aguda da pandemia de Covid-19, de acordo com a opinião do crítico Beto Feitosa em texto para o portal Ziriguidum (publicado em 9/9) do ano de lançamento, Mar de gente “afaga, dá força para lutar e aglomera sentimentos”. A música título fecha o projeto com um coro de Áurea, Nina, Mariana, Siyvia e Thais. “E quem não viu há de ver/O outro lado da história vencer/A verdade não tarda a nascer/Nossa luta vai prevalecer”, profetizou Gabi Buarque, já esperançosa da mudança que, enfim, em parte se consumou no começo de 2023. O recado, no entanto, foi além, e ela o deixou bem arrematado. “Este samba também procura dar voz a todas e todos que foram silenciados pelo Estado“, observou. “Essa luta é nossa. Somos um mar de gente.”
De volta às palavras de Feitosa, Gabi Buarque evoca um Brasil poético e musical, delicado e amoroso, que resiste mesmo com todas (recorrentes) matrizes de truculência da cotidiana realidade; à da época do lançamento, hoje, ao menos em parte superada, no entanto, a brutalidade segue resiliente, posto que travestida por outras agruras para as quais haja sambas e rezas. O repertório ameniza as pancadas com passeios pelo xote, por cantiga, ao flertar com o fox e até balada com sabor pop. E acentua para fazer frente às pelejas a alma plural e feminina em parcerias com Socorro Lira, Marina Sereno, Angélica Duarte e Sylvia Druffrayer. Áurea Martins aparece em Concha, acompanhando o piano de Cristóvão Bastos para reforçar as influências da autora devota de Pixinguinha, Chico Buarque e amigos da Escola Portátil de Música, temperadas também com choro, além do samba. “Vem de um Rio de Janeiro que lembra sua gloriosa tradição musical, seu sotaque cultural, sua riqueza maior”, opinou Feitosa. “É uma viagem no tempo – que prova que a tradição segue viva e ativa – sem esquecer a atual crônica de um país.”
Gabi Buarque herdou da mãe o dom de desenhar e de improvisar soluções com pouco material. Ganhou aos 11 anos uma poesia do pai, engenheiro e professor, que lhe ensinou a batalhar pelos seus sonhos com perseverança e cautela. A arte sempre esteve presente na sua vida. E os passeios culturais em família, as sessões de teatro, de dança, o folclore, suas pinturas e as férias no sítio dos avós nutrem suas canções. Se no coral do colégio Gabi entoou as primeiras notas, desde então a músicacaminha a seu lado, indissociável do seu perfil.
Aos 17 anos Gabi Buarque, já cantora profissional, Gabi tornou-se aluna de faculdade de Desenho Industrial e frquentou aulas do Curso Técnico de Canto Popular. Fez os cursos até o final, mas como a música já a puxava com força à estrada, passou a se dedicar plenamente às gravações, concertos, eventos e aulas de canto, com direito a uma marcante passagem pelo palco do Sr.Brasil, em 31 de maio de 2015, diante do hoje saudoso Rolando Boldrin visivelmente encantado.
“A minha música é um espelho do que ouço, vejo, sinto, penso e vivo“, afirmou. E o processo de composição tem muito, ainda, da convivência com a turma da Escola Portátil de Música, ambiente com profusão de encontros musicais. Ali também aprimorou-se ao violão e ao cavaquinho. Já na leitura das páginas de obras como Água Viva, de Clarice Lispector, encontrou a veia de escrever poesia em prosa que fazo jorrar o fluxo de ideias que já se revelou em Deixo-me acontecer, produzido em parceria com Mig Martins em 2011. A diversidade de ritmos do álbum de estreia agradou críticos do jornal O Globo e da Tribuna de Minas, convenceram Hermínio Bello de Carvalho, Marcos Sacramento, Alfredo Del Penho e Pedro Miranda a abrilhantarem com ela nos palcos as sessões de lançamento.
Cantora com boa milhagem fora do país, Gabi Buarque protagonizou 42 concertos por Portugal, Galiza e França entre junho e dezembro de 2017; antes, visitara Tóquio, Saitama, Shin-Yurigaoka e Yokohama, no Japão, em 2016. Mencionada na relação dos melhores discos de 2015 pelas revistas japonesas Latina e Fígaro, Fiandeira, o álbum número 2, fora lançado nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Manaus (AM) e Belém(PA), com participações de Jaques Morelenbaum, Marcos Sacramento e Socorro Lira. Concedido pela parceira paraibana e idealizadora do tributo, Gabi Buarque levou, também em 2014, a estatueta do Prêmio Grão de Música pela canção Roda de Coco, somando à medalha de prata do Festival Samba e Petiscos, promovido em Miraí (MG), berço natal de Ataulfo Alves, pelas canções Alguidar (2013) e Gafieiríssima (2014), mais o troféu de Melhor Intérprete durante o Festival das Rádios Públicas do Brasil por Sofro, Sim (2010). A canção Lea consta na trilha sonora do filme Ibiti, o que?, que chegou à telas de cinema em 2015 pelas lentes de Fabiano Cafure.
Além do trabalho autoral, Gabi Buarque integra projetos que mesclam música e poesia; um deles é Terra Estrangeira, que idealizou e roteirizou acrescentando às duas manifestações artísticas a fotografia, baseado em exposição da portuguesa Elisabete Maisão, Na Rota dos Refugiados. Ainda em 2015, Gabi Buarque foi convidada a prestar homenagem aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia, junto com o pianista Tomás Improta. Caprichou no repertório costurando canções consagradas na voz da intérprete com poemas de Hilda Hilst, Florbela Espanca, Maria Rezende e Alice Ruiz.
A carioca é criadora, também, do espetáculo Gabi Buarque canta Chico, idealizadora e roteirista, juntamente com Carla Vergara, do projeto baseado na obra de Manoel de Barros, Música para Manoel, carregado de poesia, música, dança e teatro em manoelês. Como integrante do Bloco Mulheres de Chico por três anos, estrelou apresentações para mais de 100 mil pessoas em desfiles de carnaval por praias cariocas. Apesar do sobrenome nobre e a admiração pelo compositor que melhor sabe cantar as mulheres, Gabi não é parente de Chico. E quem disse que não seria, ao menos, em alma?
Leia a entrevista de Gabi Buarque sobre (e ouça o álbum na íntegra) Mar de gente que ela concedeu em 8 de setembro de 2021 a Matheus Luzi, do portal Revista Arte Brasileira em https://revistaartebrasileira.com.br/geral/gabi-buarque-mar-de-gente/
Assista a participação de Gabi Buarque no Sr.Brasil pelo link https://www.youtube.com/watch?v=_JY0k8anre4
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