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Tinham passado já dois anos e três meses da última aparição pública de Alice in Chains ao vivo. Esta última aparição teve lugar no Hollywood Palladium, o dia 7 de janeiro de 1994 num show de benefício para Norwood Fisher, baixo de Fishbone, banda com a que Alice in Chains tinha estabelecido uma ótima relação de amizade no tour Lollapalooza II de 1993. Coincidentemente, essa última aparição foi realizada em formato unplugged onde apresentaram 4 músicas, incluindo a única vez que apresentaram Am I Inside ao vivo, na voz de Layne. Após disso veio o débâcle.

 

Alice in Chains teria sido considerada para Woodstock e para fazer parte do tour de verão de Metallica em 1994 chamado “Shit Hits The Sheds” ou simplesmente “Summer Shit 94”, o que considerava também bandas como Danzing, Suicidal Tendencies e Fight nos atos de abertura. Este tour assumia um pulo superlativo na carreira da banda, devido a Metallica ser o maior show de heavy metal do planeta, desde o lançamento do seu álbum, Negro. O tour começaria o dia 30 de maio de 1994 e as cidades onde Alice in Chains tocaria seriam Vancouver (Canadá), Seattle, Portland e São Diego, entre outras. 

Alice in Chains

MTV Unplugged

Em termos técnicos, o álbum Unplugged pode até não ser 100% representativo da banda. Esquecimentos, desorganização e Layne Staley envolvido em um halo de fragilidade e vulnerabilidade evidente. Contudo, este álbum não deve ser ouvido com os ouvidos. Ele se ouve e se sente com o coração. Dentro da alma de cada um dos verdadeiros fãs de Alice in Chains, este álbum representa sentimento, amor e fraternidade. É o encerramento. É a despedida.... e toca cada fibra de quem o experimente….

Durante o período prévio ao tour, a banda ensaiou no teatro Moore em Seattle, excetuando a Layne que encontrava-se num centro de tratamento para superar sua doença, a que teria aumentado alarmantemente durante as apresentações da banda ao redor do mundo no ano 1993. Quando Layne chegou finalmente aos ensaios, não foi da forma que os outros integrantes esperavam. Com relação a isso, Sean Kinney disse: “a gente estava ensaiando no teatro Moore, preparando as apresentações para Metallica. Layne estava em um centro de recuperação, e nós estávamos ensaiando por nossa conta. Ninguém tinha falado com ele nesse tempo todo. Então apareceu, porém em péssimas condições. Simplesmente não estava acontecendo. Perdi muita confiança nele. Perdemos muita confiança um no outro.” Depois de alguns ensaios e vendo como estava a situação, a banda teve uma reunião onde acordaram cancelar o tour com Metallica, a pesar da grande oportunidade que ele representava e da amizade que tinham com eles.

 

O cancelamento do tour significou uma bomba nos médios especializados e todos e cada um deles dedicaram artigos e reportagens completos referentes ao estado da banda, e no particular, ao de Layne. Isto fez que Layne ficasse recluso no seu novo apartamento no U-District. Foi ali onde ele dedicou-se a passar seus dias dando-lhe maior importância a outros interesses particulares como a poesia, a escultura em argila e o desenho em tinta. 

Durante este extenso período de separação, cada integrante de Alice in Chains perambularia por diversas atividades que os manteriam ocupados sem saber bem se seguiriam juntos após destes acontecimentos. Layne se juntou a Mad Season em 1994 e gravou o algum “Above”. Mike Inez se juntou a Slash’s Snakepit em 1994 e também gravou um álbum intitulado “It’s Five o’clock somewhere”. Jerry se manteve estruturando músicas para o seu disco debut solo, o que logo iria a se transformar no terceiro disco de longa duração da banda: “Tripod”.

 

Jerry tentou reconstituir a banda em 1995 para este novo álbum e surpreendentemente, após esse longo período de estarem separados, Layne aceitaria voltar e gravar novamente com eles um novo álbum de estúdio, do qual gerenciou grande parte das letras. Porém, embora esta situação parecesse muito auspiciosa, não todo era cor de rosas. Layne só gravou este álbum, mas negou-se fortemente a fazer um tour ou a participar da promoção do mesmo (ver artigo de Charles R. Cross: “a enlouquecedora temporada de Alice”). Com relação a isso, Jerry Cantrell disse: “essa foi mais uma gravação que chegou a ser N°1. Esse álbum levou muito tempo fazê-lo porque todos estávamos passando por um mau momento. As coisas tinham realmente mudado para todos nós. Eu não estava passando por um bom momento e Layne também não. Ainda assim, acho que é um dos melhores discos que a gente fez. Eu não recomendo pra ninguém repetir essa jogada – ter duas gravações no n°1 e não fazer nenhum tour.”

 

As correntes se corroem novamente. E a pesar da ótima crítica e aceitação que teve o álbum, mais uma vez Alice in Chains cai num período de hibernação. A prensa especializada iria dar-se um festim especulando e Sean, Mike e Jerry já começavam a sentir falta da vida on tour. Contudo, eles queriam fazer o tour com Layne, pelo que decidiram, mais uma vez, esperar por sua recuperação. Jerry e Sean participariam nos finais de 1995 do álbum tributo a Willie Nelson chamado “Twisted Willie”. Jerry fez a versão de “I’ve seen all this world I care to see” e Sean gravou “Time of the Preacher” em conjunto com Johnny Cash, Kim Thayil e Krist Novoselic. 

Já tinham passado 2 anos, 2 álbuns posicionados no n°1 dos charts, milhares de reportagens e absolutamente nenhuma atuação ao vivo de Alice in Chains. Até que mais uma vez nos surpreenderam a todos. Anunciam a apresentação em uma edição do programa com formato acústico de alcance mundial, “MTV Unplugged”, para o dia 10 de abril de 1996.

 

Durante o tempo de hibernação da banda, receberam várias ofertas que tiveram que declinar devido à negativa de Layne de qualquer tipo de apresentação ao vivo, inclusive um par de ofertas para gravar um show para o programa MTV Unplugged de videomusica. Com relação a isso, Sean Kinney disse: “a gente não conseguia passar nem sequer uma maldita semana sem dramas e sem que acontecesse alguma merda que nos apavorara. Foi bem nesse momento quando comecei a me preparar mentalmente, já tínhamos feito tudo. Com MTV Unplugged era a mesma coisa. As pessoas ficavam nos perguntando se faríamos o show ou não. Nesse momento já a situação era de nervos. Apenas ensaiando. Os meninos nem chegavam aos ensaios - a mesma merda. A gente começava a produzir e todo ia bem, e nesses momentos eu pensava: “ok, estou bem embora não estamos fazendo nada novo”. Jerry Cantrell com relação ao assunto: “certamente tínhamos suficiente material, tanto acústico quanto técnico, mas fico feliz de termos esperado. Esta banda está muito mais compenetrada do que o era antes. “O fato de a oportunidade estar aí, não sempre significa que seja o momento adequado para fazer algo”.

Para Alice in Chains, o formato acústico não era algo desconhecido e o seu catálogo de fato estava dividido, até essa data, em 60% álbuns elétricos como Facelift,Dirt, e Tripod e no outro 40% os EP’s Sap e Jar of Flies, ambos mais suaves e orientados maiormente às guitarras acústicas que lhe davam ao som Alice in Chains, toda uma nova gama de texturas ainda mais lúgubres do que o formato elétrico.

 

Foi assim que a banda se estabeleceu em Seattle um par de semanas antes da gravação do show, para dar início aos ensaios, os quais definitivamente não foram dos mais produtivos. Sempre tinha alguém dos integrantes da banda que não chegava aos ensaios marcados ou que se dedicava a fazer outras coisas em vez de se concentrar nas músicas que seriam apresentadas no show. Jerry Cantrell disse: “Ensaios e Alice in Chains são duas palavras que verdadeiramente não podem ir juntas. A gente brincou um par de semanas, mas não significa que não tenhamos ensaiado nada. [Risos] Todo o mundo sempre aparecia nos momentos diferentes e geralmente acabávamos falando besteiras. Mas a gente teve alguns bons ensaios. Com certeza.”

 

A MTV estava preocupada com a banda, e particularmente com Layne de quem não se tinha muitas notícias há várias semanas. Os rumores eram fortes pelo que Alex Coletti, produtor geral das sérias “Unplugged” foi um dia pessoalmente em um dos ensaios para checar o estado de Layne e o da banda. Alex Coletti disse: “antes do show, fui ao lugar dos ensaios de Alice in Chains em Seattle. Quando entrei, fiquei feliz de ver a Layne comendo frango de uma caixinha. Levava luvas sem dedos e tinha os dedos todos gordurosos pelo que não podia me dar a mão para me cumprimentar, mas me deu uma sacudida com o cotovelo. Ele foi muito amável. Quando vi ele comer frango, simplesmente minhas preocupações sobre o estado de Layne, foram embora. Ele estava realmente no lugar adequado. Acho que quando chegou em Nova Iorque, ele ainda se encontrava com boa saúde.” 

Além da transmissão televisiva, o show seria lançado com um novo álbum da banda, pelo que contrataram a Toby Wright, produtor de Jar of Flies e Tripod, para que fizesse a gravação e a mistura.

 

Foi assim como passaram os dias até chegar o Grande Dia. O muito esperado 10 de abril de 1996.

 

A expectativa por ver à banda reunida apoderava-se de cada um dos 400 privilegiados em assistir essa noite ao Brooklynr Academy of Music’s Majestic Theatre. Houve grande expectação por duas grandes razões: por ver novamente à banda reunida e celebrar o grandíssimo setlist que poderiam chegar a tocar; e particularmente, por ver a Layne Staley mais uma vez frente ao microfone.

Jerry sentou-se no canto direito do palco. Ainda não se ouvia absolutamente nada de música, mas os assistentes já batiam palmas com a única presencia de Cantrell no palco. Um palco vazio, a expectação do guitarrista.

 

Cantrell começa a dedilhar sua guitarra e começam a ouvir-se os primeiros acordes de “Nutshell”. Conforme se desenvolve o acorde inicial vá entrando o resto da banda: Mike Inez, Scotty Olson e Sean Kinney. Todos com sendas ovações enquanto pegam seus instrumentos e começam a dar vida a, talvez, a música mais representativa da história da banda. A expectação ainda é grande.

 

Tão grande que a mais estrondosa e emotiva das ovações da noite arrebenta quando a multidão divisa um corpo magro vestido de preto e cabelo rosa, ocultando os cabelos dourados que conhecemos anteriormente. Sim, era Layne Staley que, com luvas nas mãos, toma posição frente ao microfone para começar a cantar..... “We chase misprinted lies....”  

 

 

 

Ao finalizar Brother, Layne dirige-se ao público de forma bastante tímida... “Obrigado. Temos esperado longo tempo para tocar neste show. Queria agradecer a todos vocês por terem vindo. Significa muito para todos nós. Vamos curtir um bom momento, tocaremos boas músicas para todos vocês...”. Pura humildade.

 

A música seguinte é “No Excuses”. Em termos vocais mostra-se muito bem. A dupla Staley / Cantrell sem maiores contratempos, o baixo de Mike excelente ao igual que em “JOF”, porém a caixa de Sean Kinney tem um som desconfortável que faz que esta grande música decaia com relação às outras duas. Ao término desta música se produz um dos momentos mais hilariantes da atuação, quando Layne diz: “e agora vamos a um corte com alguns vídeos de LL cool J”, enquanto Mike Inez começa com seu baixo e faz a intro de Enter Sandman. Resulta engraçado sabendo que os integrantes de Metallica encontravam-se assistindo a atuação. 

Em palavras de Toby Wright: “com Unplugged, você pode repetir uma música quantas vezes quiser até capturar a pegada que você quiser deixar, mas não dá pra fazer overdubs. Porém Layne continuava esquecendo a letra de “Sludge Factory”. Foi muito engraçado. Acho que ele estava nervoso porque Donnie e Michele estavam sentados junto em frente dele. (Donnie Lenner e Michele Anthony, executivos da Sony, famosos pela pressão que exerceram para a banda lançar Tripod, e aos quais Layne dedicou-lhe algumas linhas em Sludge Factory).

 

Chega um momento realmente emotivo. Layne quase sussurrando diz: “esta chama-se Down in a Hole”. É um momento único no tempo porque é a primeira vez que tocam esta música ao vivo em toda a sua história, e os assistentes a recebem com ovação estrondosa. A guitarra de Cantrell no início é realmente maravilhosa.  Contudo, a entrada do baixo de Inez e a bateria de Sean resultam como mínimo, estranhas. Talvez a entrada destes instrumentos devesse ter sido um pouco mais pulcra, porque resta-lhe emotividade e distrai a atenção numa música que é um hino dentro do catálogo. A interpretação de Layne é esmagadora, talvez pela fragilidade da sua voz nesta música em particular. Mike Inez disse com relação a isto: “Layne essa noite estava tão inquietante. Sua voz, especialmente sua interpretação em “Down in a Hole”, ainda traz lágrimas aos meus olhos. Teve um par de vezes que tive que tirar meus olhos de Layne e lembrar-me de mim mesmo. Hey, estou no trabalho!. Em lugar de ser um fã aqui, melhor me concentro nas cordas do meu baixo. Ele era tão fascinante”. A voz de Layne está diferente. Muito mais nasal que na versão de Dirt. Nota-se um esforço evidente em atingir o tom. Layne divaga na beira do precipício. Vá um pouco atrasado com a música quase ao ponto de desafinar... embora não. Não desafina. O fato de cantar totalmente cabisbaixo lhe resta poderio à sua interpretação, devido à capacidade pulmonar se ver limitada. Contudo, se manteria nesta postura durante todo o show, talvez para mostrar o menos possível o estado da sua dentadura deteriorada pelos efeitos da sua doença. A música, a pesar da debilidade da voz de Layne, é um ponto alto per se, só pelo fato dele ter decidido interpretá-la. 

Alex Coletti, produtor  “MTV Unplugged”

Toby Wright , produtor 

A banda mostra-se unida. O baixo de Inez destaca com acordes graves e sustenidos enquanto a dupla de guitarras de Olson e Cantrell mostra uma perfeita coesão emotiva. Sean, por sua vez, como sempre, refinado e totalmente adaptado ao tipo de golpe que deve dar na bateria. Todo para a primeira música de Alice in Chains ao vivo depois de 2 anos! No vocal, Layne mostra algum grau de cansaço com relação à versão de “Jar of Flies”, porém é tal o grau de emotividade que produz ouvi-lo, que estes pensamentos rapidamente diluem-se na mente, inclusive hoje, depois de 18 anos de ouvi-lo continuamente. Um grande começo. Uma música realmente bem escolhida para o começo, devido ao estrondo emotivo que provoca ao ouvinte, mas ainda assim, não é a melhor música do show.

 

“Brother” do EP Sap, é a escolhida para continuar com o mar de emoções contidas. É uma grande oportunidade para deleitarmos com a dupla Staley / Cantrell nas vozes. O arranjo para esta ocasião funciona perfeitamente. Um pouco mais devagar e arrastada que a versão de Sap, realmente provoca o efeito do som Alice in Chains em toda sua magnitude. A dualidade de vozes nesta versão pode ser resumida em uma palavra só: PERFEIÇÃO. Uma perfeição que chega a arrepiar quando a banda pára de tocar seus instrumentos e deixa aos irmãos cantando “Pictures in a Box at home/ Yellowing and Green with mold / So I can barely see your face/ Wonder how that color taste”. Se não é a melhor do show, provavelmente esteja no ranking dentre as três primeiras. Maravilhosa.

 

 

Durante os ensaios, determinou-se qual seria o setlist que iria dar melhor resultado no show de Unplugged. Cantrell disse: “as músicas que adicionamos (nos ensaios) foram eliminando-se praticamente por si mesmas. Alguma merda deu certa e outra não – as que sim deram foram as que tocamos”. Uma destas “merdas”, segundo Cantrell, que funcionou perfeitamente foi “Sludge Factory”, a que ao ser convertida desde o formato elétrico ao acústico, adquire toda uma nova dimensão ainda mais inquietante que a versão de “Tripod”. O início da dupla de guitarras é IMENSO. É incrível que algumas músicas possam ter um som mais poderoso com uma guitarra acústica que com uma elétrica. É a beleza da música em suas distintas arestas. A voz de Layne é muito mais profunda, o que faz com que se ouça mais tormentosa (especialmente nas partes, “Oh Yeah” e “By the way…by the way). A parte final da guitarra e da bateria dissociadas que aparece na versão de Tripod, junto com a frase “Your weapon is guilt” eliminada, dão a sensação de uma música mais compacta e solida. Um dos pontos altos do unplugged, a pesar das equivocações de Layne que fizeram com que a música saia em “3 a 4 pegadas” segundo Cantrell. 

 

Agora toca a clássica bateria que nos indica a próxima música. “Angry Chair” um clássico de clássicos. Ao igual que Sludge Factory, a transição para formato acústico parece resultar favorável. Mais uma vez a dupla Staley / Cantrell faz das suas em perfeita simbiose. Talvez se houvesse algo para criticar desta versão, seria a falta de “ Heyyyyy” e “Ohhhhhh” clássicos no final dos estrofes, ou a debilidade destes, quando Layne decide fazê-los. Contudo, uma versão bastante boa.

 

Jerry Cantrell destacou-se durante a noite toda na guitarra acústica, fazendo vários solos na altura das versões de estúdio. Vê-se tranqüilo e contente, porém ele contaria mais tarde que tocou o show todo muito doente: “estive doente a semana toda. Intoxiquei-me comendo um churrasco quente que comprei na rua – mau jogo. Vomitei até justo antes do show e imediatamente depois, mas enquanto tocava me senti bem”. Contudo, continuava presenteando-nos com uma atuação memorável.

Sem prévio aviso ou apresentação, começamos a ouvir em forma furtiva e distante a guitarra de Cantrell. “Rooster” é uma das grandes músicas de Alice in Chains de todos os tempos. A banda está fantástica na execução musical, destacando o baixo de Inez que é um pilar dentro do som e o desenvolvimento da música. A voz de Layne está bastante bem até o grito de “yeahhhhh, you know, he ain´t gonna die” que ao igual que a interpretação de Down in a Hole, parece que em qualquer momento, desafina. Mas mais uma vez, não desafina. Que grande que era Layne Staley. Nem nos seus momentos de maior fragilidade falhou!.

 

 “Got Me Wrong” sem sombra de dúvidas é uma das jóias deste MTV  Unplugged. A guitarra de Cantrell toca igual à gravação de 1992 e Olson realiza um solo maravilho enquanto Sean está notável na bateria. A ovação do público obviamente não se faz esperar. Layne na voz é realmente maravilhoso. O grito que dá nos coros é provavelmente o mais próximo ao Layne da época 1991-1993. E o mais impressionante é que parece não fazer nenhum esforço. Esta entra nos top 3, sem sombra de dúvidas. 

“Obrigado. Temos um amigo nosso hoje, o senhor Scotty Olson na guitarra”. Cantrell apresenta ao guitarrista que tem estado durante todo o espetáculo a cargo da segunda guitarra e está realmente bem. É um velho amigo da banda que tocou na banda ícone de Seattle “Heart”, também amigos de Alice in Chains.

 

É o turno de outra de Tripod, é a vez de “Heaven Beside You”, e a verdade é que resulta ser uma surpresa. Muito bem desenvolvida de principio até o fim, com tom nostálgico e escuro por momentos, Cantrell passeia sua guitarra acústica com maestria enquanto faz a voz principal também. Layne sem nenhum problema faz a intervenção que lhe corresponde nesta música. Uma música totalmente fresca para o catálogo de Alice in Chains que cresce com relação à sua versão de estúdio. 

Mais uma vez Layne faz uma intervenção que provoca risadas entre os assistentes: “teria que dizer que este é o melhor show que temos feito nos últimos 3 anos”, onde Sean responde: “hey Leany, é o único” e Layne com uma risada quase infantil e enternecedora remata: “ha! Ainda assim, é o melhor!”. Episódios que refletem a essência da banda. Doses de humor e sarcasmo como nos seus melhores momentos.

 

As linhas de baixo daquele hino da Geração X são acionadas por Inez e nos indicam que “Would?” é a seguinte música. O baixo resulta demolidor e sustenta ritmicamente toda a música. Os outros instrumentos só se incorporam para fazer ainda mais majestosas as linhas escritas pelo grande Mike Starr. Quando a dupla Staley / Cantell começa a fazer o trabalho de vozes sentem-se um pouco fracos, porém a letra é o suficientemente poderosa para que a combinação provoque um arrepio nas costas. A atmosfera desta música não é obscura. É mais bem misteriosa, como algo que ainda vai acontecer, e que finalmente sai à luz. Essa é a pergunta final que nos faz Layne: “If I would, could you?” fica o mistério, porque não tem resposta. A musica não tem toda a potencia de outras vezes, mas hino é hino e isto é comprovado com a ovação entregada pela audiência. 

Toda a escuridão de “Frogs” se faz presente no show por médio das cordas de Cantrell. O baixo de Inez adquire um rol protagonista. “What does a friend mean to you, a Word so wrongfully abused...” canta Layne, de forma mais apressada que na versão de estúdio, o que não significa que seja menos arrepiante. Conforme a música avança, a banda começa a executar um in crescendo progressivo que termina na rebentação da voz de Layne “Why is it have to be this way? Be this waaaaaaay” arrepiando a quem está ouvindo esta peça. Layne finaliza à perfeição com um mini megafone recitando as letras finais. Sem palavras! Uma obra maestra de Alice in Chains!

 

A penúltima música, “Over Now”, uma das favoritas de Cantrell, que a pesar de contar com uma letra bastante potente, acho não encaixa bem neste show. Pode ser pela melodia mais “alegre” ou simplesmente porque a gente imagina que outras músicas com maior peso, poderiam ter tomado o seu lugar: Rotten Apple, Don´t Follow, I can´t remember ou Love, Hate Love e inclussive Man in the Box poderiam perfeitamente ter tomado o seu lugar.  

Cantrell entrega algumas dicas sobre as razões para escolher umas músicas e não outras: “a gente fez o material de cada álbum, exceto do primeiro, Facelift. Quase fizemos “We Die Young” e “Love, Hate, Love” desse álbum, mas decidimos que não no último minuto. Isto devido principalmente a que o show unplugged dura só 45 minutos no ar, pelo que não se tem o tempo para tirar tudo”.

 

“Suponho que isto é tudo” diz Layne. A multidão começa a gritar Nããããoooo, nããããooo. Um dos assistentes mais extático grita a Layne “vai se fuder, cara!” provocando risadas nos outros assistentes. Layne segue o jogo e diz: “OK, mais uma!”. O público está feliz.... 

Que momento é o que estamos prestes a experimentar. Uma nova música de Alice in Chains se estreando. Quando ninguém o esperava. Uma que viu a luz no soundcheck essa mesma tarde. Mike Inez e Scotty Olson trocam baixo e guitarra respectivamente para dar início ao começo do final. “Chama-se The Killer is Mediz a voz de Cantrell. As guitarras fusionam-se com o baixo para situarmo-nos frente a uma paisagem melancólica e demente. Uma melancolia repetitiva e arrastada com Cantrell mais uma vez no comando das vozes ao igual que em Heaven Beside You. Layne intervém para dar o tom pessimista e sombrio que estamos acostumados a ouvir no som de Alice in Chains. Um encerramento brilhante para talvez, um dos álbuns de Alice in Chains mais conhecidos e ouvidos na história da banda.

 

A banda se abraça. Está feliz. Jerry agradece “Obrigado!. Foi realmente muito divertido” Layne do seu jeito, também se mostra contente “desejaria poder abraçá-los a todos... mas não vou fazer...” Layne recebe um tapa de aprovação e assim a banda desaparece mais uma vez enquanto nós acabamos de assistir e ouvir este momento maravilhoso e único no tempo.... 

Alice in Chains MTV Unplugged, pode ser provavelmente para muitos, o melhor álbum da banda pelo caráter emotivo que tem. É um álbum com o que muitos cresceram e ao que se tem um carinho especial. Todo o entorno resulta ser melancólico, mas também tem um feeling de triunfo. Ainda quando este triunfo seja passageiro, é um grande triunfo no final das contas.

 

Logo desta atuação viram só algumas outras, porém nenhuma delas pôde destronar o sentimento provocado nesta grande atuação. A atmosfera reinante, a falta de luz, aquelas velas que pareciam não se extinguir dando-nos, talvez, aquela luz de esperança que os fãs necessitávamos para acreditar que a banda que amávamos com toda nossa alma, continuaria a escrever histórias memoráveis tanto para nós quanto para os que virão. Não foi assim, mas, e daí? Neste álbum se imprimem com letras douradas a perfeita despedida. O adeus num entorno de intimidade, respeito e rodeados de amigos. Se alguém disser pra você que este álbum mudou sua vida, que não te surpreenda. É mais um dos que sentem com a alma a música, assim como Layne e os outros naquela noite perfeita de abril de 1996.

 

artigo: Schulz

Colaboração especial: Carolina Chainer

tradução: Carol

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