Análise – Cantando Na Chuva

por Marina Marques

A Era de Ouro do cinema americano, foi um período entre as décadas de 1920 e 1960, período em que foram produzidas algumas das mais memoráveis obras cinematográficas. Entretanto nos anos 50, foi uma época de brilho e escuridão para essa indústria. A televisão tirou milhões de espectadores das salas de cinema, e o decreto de 1948 que tornou o Studio system ilegítimo, obrigando assim, os estúdios a se desfazerem de suas salas de cinema.

Um dos gêneros mais admirados e glamourizados, era o musical, porém hoje em dia é relativamente difícil encontrar quem realmente aprecie um bom musical, e para alguns talvez pareça até mesmo ridículo, ver pessoas subitamente começarem a cantar e dançar alegremente no meio de interações sociais, sem motivos aparente. Mas naquele tempo havia todo o glamour do star system e para o público, lá no fundo, havia o desejo de que toda aquela alegria visto na tela pudesse também transparecer na vida real. Após a vitória na 2ª Guerra Mundial, os EUA vivia seu “American Dream”.
Apesar de algumas obras que poderiam ser consideradas “embaraçosas” os musicais da Metro, fizeram enorme sucesso durante a década de1950, e alguns deles, ao decorrer anos, adquiriram o status de clássico, como “Cantando na Chuva” que mesmo não tendo trago grandes inovações na indústria cinematográfica, é considerado um dos maiores de todos os musicais.

O filme foi dirigido por Gene Kelly e Stanley Donen, que até então era um diretor com pouca experiência, só havia dirigido três filmes, dentre eles “Núpcias Reais(1951) e Um Dia em Nova York (1949). Apesar disso Donen, era formado em dança, e devido à sua passagem pela Broadway tinha muita experiência no meio da dança, que o qualificou para participar do projeto. Sua primeira parceria com Kelly, foi como coreógrafo assistente em Modelos (1944). Ao longo dos anos, Stanley Donen tornou-se um dos cineastas de musical mais respeitados, após dirigir diversos outros filmes do gênero.

Gene Kelly, também teve muita experiência adquirida na Broadway, era dançarino e coreógrafo, e após partir para Hollywood, emendou um sucesso atrás do outro com suas participações em musicais. Ele foi o responsável por criar as coreografias e números musicais do filme.

Cantando na Chuva - Filme 1952 - AdoroCinema

Ambientado na Hollywood de 1927, ano em que ocorreu transição do cinema mudo para o falado, este foi um período muito importante da trajetória do cinema, e o filme aborda as dificuldades que decorreram desse processo. “Trata-se de uma obra metalinguística, colocando a trama do filme em outro patamar, se comparada à história contada em outros musicais.” (Setcenas).” Cantando na Chuva, não é apenas mais um musical, com uma bela história de amor, é também um registro histórico, de um período que marcou o cinema.

O filme, recheado de clichês, faz uma sátira, a vários elementos presentes no cinema clássico Americano como Star System, que transformava os atores em astros glamorosos, muito amados e idolatrados pelo grande público, as grandes Majors de Hollywood, e a figura do diretor, que na época quase não participava do processo de criação dos filmes. Outros elementos que também são satirizado, são as tramas de “capa e espadas”, onde os protagonistas varonis, eram homens sedutores e bravios, personagens bastante comuns nos anos 20; e as expressões caricatas que, por não terem grandes falas, os atores faziam nessas produções. A resistência a nova tecnologia, ao novo método de ser fazer cinema, o fato de não acreditarem no cinema falado, também é algo abordado, no enredo.

Cantando Na Chuva', um magnífico filme musical, atemporal e artístico.

O filme é muito bem montando, conta com um belíssimo aspecto visual, construído através de um design de produção vigoroso, e a paleta com cores diversas, que vão de tons pasteis aos mais vibrantes, em harmonia com as cenas dão um aspecto alegre que combinam com a atmosfera proposta.

As cenas de com danças de sapateado impressionam, pela autenticidade e honestidade com que foram gravadas, onde quase se pode acreditar que foram improvisadas, tamanha é a espontaneidade transmitida. E uma curiosidade acerca do filme é que o roteiro só escrito após a escolha de todas as músicas que iriam fazer parte do projeto. “Ironicamente, o maior musical da história do cinema tem apenas uma canção original, “Moses Suposes”, com letra de Comden e Green. Nem mesmo sua canção-título era novidade, já tendo sido usada em diversas produções, sendo a primeira vez em The Hollywood Revue of 1929, um dos primeiros filmes falados da MGM (e que mais tarde apareceria como parte importante de outras produções, como Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick). Outra canção, “Make ‘em Laugh”, mesmo que tecnicamente original, não passa de um plágio de “Be a Clown” de Cole Porter, usada em outro musical produzido por Freed e estrelado por Kelly, O Pirata (1948)” (omelete).
Assim sendo, mesmo sem trazer nenhuma inovação para a linguagem cinematográfica, “Cantando na Chuva” pode ser (e é por muitos) considerado uma obra prima do cinema clássico americano, um dos melhores musicais da história do cinema.

Cantando na Chuva (Sing’ In The Rain) – EUA /1952
Direção: Gene Kelly, Stanley Donen
Roteiro: Adolph Green, Betty Comden
Elenco: Debbie Reynolds, Donald O’Connor, Gene Kelly, Jean Hagen, Millard Mitchell
Duração: 92 min

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