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30 anos sem Henfil

Eu matei Henfil, há 30 anos

Henfil

Neste País sem memória, passa sem homenagens os 30 anos de morte de #Henfil, riscado no dia de hoje no calendário da história: 04 de janeiro, um dia comum. Então vai a minha, solitária: VIVA HENFIL! Cara, o Brasil te deve tanto, mas tanto, que não dá para compensar em uma vida.

Henfil,  o Brasil tem a dívida de não ter te proporcionado o cuidado necessário no tratamento da hemofilia; depois, por tê-lo contaminado, durante uma transfusão de sangue em um hospital público, com o vírus da AIDS; na sequência, some na tábula do dever a irresponsabilidade da ausência de cuidado adequado durante a doença, que o vitimou em 1988. O Brasil deve também o bônus da perseguição política a que foi submetido durante toda a ditadura. Não há pagamento para isso. Você morreu antes de viver o momento seguinte que seria, naturalmente, de glórias e homenagens.

E Belo Horizonte deve ainda mais. Nascido em Ribeirão das Neves, Henfil cresceu em BH, em uma funerária que ainda existe, na região dos Hospitais. Formou-se na capital de Minas, onde começou sua carreira, antes de participar da natural diáspora a que todos os artistas mineiros são obrigados a viver.

Em contrapartida, você nos deu muito mais do que um cartum, um desenho. Você nos deu um estilo de interpretação do cotidiano, estruturado no humor ácido e inteligente. Nos deu arte, da melhor qualidade, baseada no conceito pleno de humanidade que os seus personagens - todos brasileiros - nos emprestaram. Você faz uma falta tremenda, Henfil. Mas não sei se você seria feliz com tanta beligerância. Com tanta desumanidade. Com tanta ignorância.

Sendo assim, Henfil, como eu não posso pagar a dívida pelo Brasil, assumo: eu sou o culpado por sua morte. O culpado sou eu. Eu matei Henfil. E fim.

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