Semana de Arte Moderna de 1922: “brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil”

Revista Casa D’Italia, Juiz de Fora, Ano 3, n. 20, 2022 – IMO Experiência Turística | Semana de Arte Moderna de 1922: “brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil”


Marcada na história, a Semana de Arte Moderna de 1922 se tornou um marco ao apresentar, entre 11 e 17 de fevereiro daquele ano, uma nova forma de celebrar a cultura, numa emancipação artística irreverente e contestadora, que consolidou o modernismo no país.

A Semana, que celebra seu centenário em 2022, foi marcada por reflexões e críticas à estética de correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. A supervalorização da forma foi relegada e a ruptura com esses modelos consolidou novas tendência nas artes e na cultura, após jovens artistas e intelectuais, que tiveram contato com a vanguarda europeia, começarem a mesclar características presentes em movimentos como o futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo e expressionismo com elementos da brasilidade, a qual celebrava.

O povo marginalizado, os trabalhadores, a cultura, o folclore e a paisagem se tornaram protagonistas e cenário para as diversas formas de expressão artística, seja na pintura, na literatura, na música ou nas esculturas, que tinham sua inspiração situada no dia a dia, muitas vezes carregada de um poderoso protesto contra a burguesia.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia representaram uma força fervorosa de inovação, sendo reconhecidos como os principais representantes do evento e linha de frente contra as inúmeras críticas que o movimento sofria pelos mais conservadores arraigados ao tradicionalismo e contrários a essa nova estética.

No cenário internacional, o mundo assistia ao final da Primeira Grande Guerra e, no contexto nacional, celebrava-se o centenário da Independência, sendo que as modificações políticas e econômicas que se desenrolavam no país favoreceram a realização do evento, considerado como um grito de independência cultural, que celebrava as novas formas de se pensar e produzir arte muito mais brasileira, promovendo uma ruptura com o formalismo.

O evento foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo, que consolidou o estado no coração cultural do país. O espaço foi inaugurado em 1911 e segue um estilo eclético, sendo por si só um dos mais exuberantes e memoráveis espaços do estado, tendo, por sua arquitetura e relevância, se tornado cartão postal e um dos mais importantes teatros do país. Seu anexo, a Praça das Artes, é um complexo educacional e cultural que funciona como uma extensão de suas atividades e se integra aos outros edifícios históricos e à própria cidade, reforçando o seu caráter de público. O visitante pode conferir aqui a beleza e imponência de um dos mais relevantes espaços para a cultura e aspirações artísticas do início do século 20, além também da agenda própria de eventos do espaço que conta com exposições, apresentações e espetáculos. O tour educacional pelo Theatro Municipal pode ser agendado pelo site e possui apresentação em português, inglês e libras.

Para além de eclético e cosmopolita, como se percebe pelo imaginário acerca da cidade, São Paulo é um centro efervescente para a cultura e história nacional, e entre as sugestões de espaços a serem visitados em um tour que celebra a Semana de 22 está a Pinacoteca do estado de São Paulo, que tem em seu acervo obras de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Cândido Portinari, expoentes para o modernismo no país.

Já o Museu de Arte Moderna — MAM possui um acervo com mais de 5 mil obras feitas por nomes representativos da arte moderna e contemporânea. Suas exposições são feitas em duas salas durante quatro temporadas no ano. Além disso, o MAM realiza a cada dois anos o “Panorama da Arte Brasileira”, que mapeia em todo território nacional as produções contemporâneas, sendo que o crescimento do interesse mundial pela arte brasileira consolidou o evento como uma mostra relevante no circuito artístico internacional. O espaço contou, ainda, de setembro a dezembro de 2021, dada a proximidade do centenário, com uma exposição sobre a Semana de Arte Moderna chamada “Moderno onde? Moderno quando? A semana de 22 como motivação”. Além disso, manteve na programação, durante sete meses de 2021, encerrando-se em dezembro, a exposição “Di Cavalcanti no MAM: 50 anos x 2 — na Biblioteca do MAM”, uma homenagem a um dos protagonistas da arte moderna e idealizador da Semana de 22, como descreve o texto de divulgação do evento no site do MAM.

Mas nem só nos museus e galerias podemos conferir as homenagens àqueles que conferiram grandeza à Semana: o Parque Villa-Lobos, uma importante área verde e de lazer do estado, tem seu nome em homenagem a Heitor Villa-Lobos, considerado o principal expoente musical do modernismo. O espaço conta com estrutura de lazer e um bosque com espécies da Mata Atlântica, atraindo cerca de 20 mil pessoas aos finais de semana. No parque também é possível conferir a Biblioteca Parque Villa-Lobos, que possui em sua programação apresentações teatrais e musicais, exposições e saraus.

Para além disso, para celebrar a Semana de Arte Moderna, o governo do estado lançou um projeto chamado Modernismo Hoje, no qual, ao longo de 18 meses (de julho de 2021 a dezembro de 2022), serão apresentadas mais de cem iniciativas, coordenadas pelas Secretarias de Cultura e Economia Criativa e de Turismo. Instituições, espaços e programas culturais participam do projeto que visa celebrar o centenário de um dos mais marcantes eventos do país, de modo a valorizar a importância da Semana de Arte Moderna e os impactos que essa teve na cultura nacional e nas reflexões acerca da arte e do seu modo de fazer. Instituições como o Museu da Imagem e do Som — MIS; a Sala São Paulo; a Pinacoteca; o Memorial da América Latina e o Museu da Língua Portuguesa vão estar na programação.

A programação completa pode ser conferida no site https://www.cultura.sp.gov.br/semana22/ e apresenta-se dividida em categorias, sendo elas: artes visuais; audiovisual; dança; festivais/eventos multilinguagem; literatura; música; seminários/palestras/cursos e oficinas; e teatro.


Referências bibliográficas:

BOAVENTURA, M. E. Semana de arte moderna: o que comemorar? Campina-SP: Remate de Males, (33.1-2), pp. 23-29, Jan./Dez. 2013

COMPLEXO Theatro Municipal. Theatro Municipal. Disponivel em: <https://theatromunicipal.org.br/pt-br/> Acesso em: 7 de dez. de 2021

EXPOSIÇÕES. Museu de Arte Moderna. Disponivel em:  <https://mam.org.br/exposicoes/em-cartaz/> Acesso em: 4 de dez. de 2021

GALERIAS. SP–arte 365. Disponivel em: <https://www.sp-arte.com/galerias/mam-museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo/> Acesso em 6 de dez de 2021

Governo de São Paulo lança projeto com mais de 100 eventos em homenagem à Semana de Arte Moderna de 1922; saiba tudo!: Comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna ocorrerão ao longo de 18 meses. Guia da Semana. Dsponivel em: <https://www.guiadasemana.com.br/na-cidade/noticia/semana-de-arte-moderna-de-1922-eventos-em-sao-paulo-em-2021> Acesso em: 4 de mai. de 2021

MELLO, T. Volumes, rampas e vazios fundem-se às ruas. Galeria da Arquitetura. Disponivel em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/brasil-arquitetura_marcos-cartum-arquitetos-associados_/praca-das-artes/362> Acesso em: 7 de dez. de 2021

MODERNISMO HOJE: São Paulo celebra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. São Paulo. Disponível em: <https://www.cultura.sp.gov.br/semana22/&gt; acesso em: 6 de dez. de 2021

OBRAS. Pinacoteca. Disponivel em: <http://pinacoteca.org.br/acervo/obras/> Acesso em: 4 de dez. de 2021

PARQUE VILLA-LOBOS. São Paulo. Disponivel em: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/parques-e-reservas-naturais/parque-villa-lobos/> Acesso em: 4 de dez. de 2021



Marina Paiva

É paulista de nascimento e juiz-forana de coração. Graduada em Ciências Humanas e turismóloga em formação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, faz parte da Imo Experiência Turística pesquisando e escrevendo sobre destinos incríveis.


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