Cristiano Mascaro: “Casa ideal é aquela construída aos poucos”

Nascido em Catanduva, no interior paulista, Cristiano Alckmin Mascaro vive e trabalha em São Paulo há mais de 60 anos. É formado em arquitetura pela Universidade de São Paulo, onde se tornou mestre, com a dissertação O Uso da Fotografia na Interpretação do Espaço Urbano, e doutor, com a tese Fotografia e Arquitetura. Ganhou uma bolsa Vitae de Artes e três prêmios Abril de Fotojornalismo. Em 2006, participou da 6ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design, como arquiteto homenageado, apresentando a exposição O Brasil em X, em Y, em Z e, em 2007, recebeu o Prêmio Especial Porto Seguro de Fotografia pelo conjunto de sua obra. Começou como repórter fotográfico da revista Veja nos anos 1960. Foi professor de fotojornalismo e comunicação visual. Em 1974, abriu sua primeira exposição individual, Paisagem Urbana, na galeria paulistana Enfoco. Dois anos depois, realizou um ensaio especialmente para a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, retratando esses dois bairros próximos ao museu. Além dessas individuais, vale destacar: Ninguém Ensina O Que Não Sabe (1981), As Cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro (1991), Brasil: Arquitetura Recente (1994), Luzes da Cidade (1996), Registros Urbanos (1997), São Paulo Contemporânea (2004), Todos os Olhares (2008), Turista Hotel (2013) e Traces of People (2015).

Além das exposições, sua obra já está documentada em inúmeros livros: A Cidade (1979), Luzes da Cidade (1996), São Paulo (2001), O Patrimônio Construído (2002), Cidades Reveladas (2006), Fazendas do Império (2010), Arquitetura Moderna Carioca (2013) e Viagem a Tóquio (2014). Para ele, o universo da fotografia revelou-se com a descoberta do livro Images à la Sauvette, do francês Henri Cartier-Bresson, que foi uma das fontes de inspiração no início da sua carreira, assim como André Kertés, Robert Frank e Sergio Larraín. Atualmente, parte da sua obra pertence a coleções públicas, como o International Museum of Photography at George Eastman House, a Bibliothèque Nationale de Paris, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Instituto Moreira Salles. Sua trajetória é marcada pela fotografia de arquitetura e paisagens urbanas. Recentemente, Cristiano abriu a exposição A Estratégia do Olhar na Pequena Galeria 18, em São Paulo, com 22 fotos de detalhes gráficos e plásticos da arquitetura de várias cidades, realizadas entre 1996 e 2015. Em paralelo, ele lançou o livro Rio Revelado, com cerca de cem imagens. Entre elas, ele desvendou alguns lugares pouco explorados da Cidade Maravilhosa, como a Santa Casa de Misericórdia, a Fortaleza de São José, o Edifício Petrônio, os Arcos da Carioca, a Cidade das Artes e o Hangar do Zeppelin. Mascaro é colaborador do primeiro time da Casa Vogue e sua bucólica e aconchegante residência paulista, rodeada de verde, saiu nas páginas da revista em março de 2014.

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Você acredita em casa ideal?
A casa ideal é aquela construída aos poucos, ao longo dos anos onde você guarda seus objetos queridos e os afetos da família e dos amigos. Acho que a minha é assim.

Em qual ambiente da sua casa você gosta mais de ficar?
Difícil dizer, são tantos os cantos aconchegantes. Talvez, daquele sofá com o abajur ao lado, onde posso ficar folheando meus livros.

O que não pode faltar num projeto residencial?
Uma sala de jantar acolhedora para, durante as refeições, conversar com a família e os amigos.

Qual foi seu último achado para casa?
São as fotos que tenho trocado com meus amigos fotógrafos. Começam a ocupar todas as paredes.

Se você pudesse ser um objeto para a casa, qual seria?
Talvez um autorretrato pendurado na parede. Pelo menos, teria a minha cara.

Em que cenário você viveria?
Diante de um mar de prédios, no alto do edifício Itália [em São Paulo], por exemplo.

Ícone da arquitetura.
O Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro. Um ícone da arquitetura do período modernista.

Você gosta de cozinhar?
Frustração total. No máximo, sei fritar um ovo, mas tremo na hora de quebrá-lo. Porém sou elogiado pelas pastinhas de ricota temperadas com manjericão e alecrim que dispensam acender o fogão.

 
Confira mais fotos da casa de Cristiano Mascaro

Qual seu prato preferido?
Bife na chapa com batata frita bem fininha e salada de tomate cortado em quatro.

Onde se come bem?
Na sala de jantar e no terraço de minha casa, conforme a ocasião.

Viagem ou lugar inesquecível.
São inúmeras, fotógrafo não para de se extasiar com os mais diversos lugares. Mas a viagem ao Japão no fim de 2014 é a mais inesquecível. Porque fomos todos, eu, Satiko [sua esposa] e os três filhos [Pedro, Teresa e Isabel] em uma rara oportunidade de, já todos adultos, nos deslumbrarmos com o povo, a arquitetura e as paisagens do país. Sem falar dos sushis!

Que obra de arte gostaria de ganhar ou comprar?
Talvez um quadro de Guignard, Pancetti ou José Antonio da Silva, ou uma fotografia de Ansel Adams, Robert Frank ou Cartier-Bresson.

Acontecimento mais marcante na sua vida.
Quando descobri que queria mesmo ser fotógrafo.

O que não pode faltar na sua agenda cultural?
Ver filmes.

Leitura obrigatória.
Toda e qualquer leitura. A literatura é obrigatória em qualquer momento da vida. Nada como ficar aflito para voltar para casa e dar continuidade à leitura de uma história fascinante.

Filmes para assistir inúmeras vezes.
Os filmes que mais vi e revi: Lola, de Jacques Demy (a Anouk Aimée está belíssima!), Rastros de Ódio, de John Ford, Amor, de Michael Haneke e Ida, de Pawel Pawlikovski. Há outros!

Quais músicas não saem da sua playlist?
Já ouvi um tanto de música clássica e, sobretudo, muita música popular brasileira. Hoje em dia, estou bastante desligado.

Um presente do qual vai se lembrar sempre.
Um relógio que ganhei de meu pai quando me formei no ginásio e um jarro com bacia de louça art nouveau que ganhei de minha mãe.

Se pudesse voltar à vida como outra pessoa, quem seria?
Gostaria de voltar como eu mesmo, mas já adulto. E depois de ter passado no vestibular.

Um objeto de desejo.
Minha primeira câmera fotográfica Hasselblad. Me acompanhou durante quase 40 anos.

Fontes de inspiração.
As cidades onde chego para fotografar.

Eterna paixão.
Minha família e minhas câmeras fotográficas. Nesta ordem.

O que é luxo nos dias de hoje? 
Não ser assaltado.

Uma imagem gravada na memória.
Uma fotografia de Henri Cartier-Bresson que me despertou o desejo de ser fotógrafo.

Projeto que revolucionou sua carreira.
Um projeto de documentação fotográfica do bairro do Brás [em São Paulo]. Foi quando deixei de ser repórter fotográfico e passei a me dedicar à documentação urbana.

Você curte redes sociais? O que lhe interessa compartilhar?
Estou por fora [Em 2012, ele lançou seu site www.cristianomascaro.com.br].

O Brasil e o mundo em uma foto.
Brasil: uma foto de uma quadrilha de deputados e senadores reunida no Congresso Nacional. Mundo: uma foto de imigrantes vagando pelas estradas da Europa em busca de um refúgio. Infelizmente.