Durante a mudança para São Paulo, há pouco menos de um ano, Manuela Xavier trouxe na bagagem “um sonho, as cachorras, obras de arte e um amigo”. Natural de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro – onde morou com os pais até os 18 anos, quando saiu de casa para cursar psicologia –, a psicanalista e comunicadora habitou outros endereços em solo fluminense, como Niterói, Joá e Copacabana, até escolher a capital paulista para viver com o produtor Dinho Netto, seu amigo de longa data e parceiro de trabalho, e as mascotes Leona e Kira.
As simbologias que permeiam a fala, a carreira e a pele de Manu – como é conhecida por seu quase meio milhão de seguidores no Instagram, com os quais compartilha suas interpretações sobre gênero, arte, beleza e comportamento a partir da psicanálise – percorrem, ainda, as paredes de seu apartamento. “Minha casa é a extensão do meu corpo. Entre minhas tatuagens há um vaso de antúrio, meus bichos e desenhos de olhos. Por estes espaços também.”
Foram os olhos arregalados espalhados pelos ambientes – peças que integram a série Olhudas, de autoria da artista plástica Isabella Manhães – que a salvaram da cegueira para si e para o outro. “Estou olhando para onde?”, questionou pela primeira vez, quando findou uma relação abusiva, e por infinitas outras que a levaram a compreender padrões que já não faziam sentido. “Abri os olhos e não dava para ‘desver’. Percebi como era fácil não enxergar. Tatuei os braços e pendurei as obras para nunca esquecer.”
Essas inquietações perpassam o campo do morar, como na quebra do paradigma de que a completude de uma mulher só é alcançada ao tornar-se mãe e esposa. “‘Mas… você vai morar sozinha?’, perguntaram enquanto eu buscava meu novo lar. Qual a estranheza?” Entre os companheiros de casa já passaram amigos, namorado e marido, até chegar à atual configuração. “O que colocamos entre quatro paredes configura uma família. Não é um local de transitoriedade, é um lugar de permanência.”
Como um reflexo do movimento constante de sua moradora, a casa de Manu se transformou em cenário para o novo projeto de trabalho: o programa E Você?, no YouTube, com entrevistas de mulheres influentes como Gabriela Prioli, Manu Gavassi e Bruna Tavares. “São conversas terapêuticas, que costumamos ter em off, com temas e estética íntimos, e para isso precisava ser na minha casa.”
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Quase sempre preenchido por pessoas, e com destaque para o estimado acervo de arte, o apartamento narra as relações da moradora com os outros e consigo. Um dia perfeito, para ela, é aquele com passos vagarosos, café da manhã demorado e solitude no próprio quarto – seu espaço preferido na casa. “Acordo com calma, escolho uma música, não tiro o pijama e sinto o tempo. São Paulo ativou em mim essa necessidade de recolhimento. Deixo-me olhar para mim. Se eu não olhar para mim, eu vou me perder.” Nesse pano de fundo de histórias, trocas e criações, embalada pelos versos de Tiê e inspirada por incontáveis olhares, Manu tem tudo e todos de que precisa para se encontrar cada vez mais.
*Matéria originalmente publicada na Casa Vogue Brasil de fevereiro. Adquira a sua aqui!