Joaquim Alves

Joaquim Alves (1910? – 1967), ministro do evangelho e missionário da Congregação Cristã no Brasil. Atuou principalmente no Paraná e na Bolívia, com missões adicionais no Paraguai, Província de Misiones (Argentina), Chile, Santa Catarina e no território do atual Mato Grosso do Sul.

Joaquim, Jovelina Alves e seus filhos.

Nascido sob o nome de Alceu Camargo em Pitangui, na bacia do alto Rio São Francisco em Minas Gerais, sua data de nascimento é incerta, seria 1910 ou 1914.

Os motivos que o levaram a sair de sua casa aos quatorze anos com seu irmão Alcino Camargo, um pouco mais velho que ele, são obscuros. Nessa ocasião, seus empregadores em uma fazenda registram-no com o nome Joaquim Alves.

Como muitos jovens mineiros de sua geração, Joaquim saiu de casa na adolescência, oferecendo seus serviços nas fazendas no caminho rumo às áreas cafeeiras de São Paulo e Paraná.

Aprendeu leitura, matemática, a dirigir e a usar equipamentos de topografia. Sua inteligência compensava a limitada educação formal. Sociável e perspicaz, aprendeu a cantar e a tocar piano, violão e corne inglês. Aprenderia ainda a marcenaria e a fotografia – inclusive processo de revelar fotos. Mais tarde, aproveitaria suas viagens a São Paulo para adquirir livros de assuntos variados, de medicina a teologia.

No início dos anos 1930 chegou ao Norte Velho do Paraná separado de seu irmão Alcineu e perdeu contato com ele. Estabeleceu-se em Lajeado, então uma região rural de Santo Antônio da Platina. Nessa localidade, que depois seria o município de Abatiá, havia vários mineiros e paulistas trabalhando na derrubada da mata e no plantio do café.

Casou-se com Ernestina Maria Alves (Pereira era o nome de solteira, nascida em Carlópolis) e tiveram os filhos Josué, Geni, Daniel e Sara. Passou a trabalhar com agrimensura, marcenaria e fotografia.

Certo dia, doente naquele sertão sem recursos, temeu pela vida. Então um homem irreligioso, pediu a visita de um pregador. O pregador apareceu bêbado, para ira e desapontamento de Joaquim, que o enxotou. Tempos depois, apareceu uma vizinha. A dona Maria Teresa Melo era paulista e a pouco se estabelecera com seu esposo em Santo Antônio da Platina. Maria Teresa anunciava uma religião nova a Joaquim. Era sobre um Deus que salvava e até mesmo curava. Como resultado de sua fé, Joaquim foi curado e passou a frequentar as reuniões daquele grupo em Lajeado e na área vizinha em Santo Antônio da Platina.

Em pouco tempo, Joaquim se converteu e experimentou o batismo no Espírito Santo com sinal de falar em novas línguas. Foi batizado nas águas junto com sua esposa pelo ancião de Santo Antônio da Platina, Alfredo de Souza. 

Entusiasmado, Joaquim passou a evangelizar seus conhecidos. Aproveitava sua aptidão musical para tocar e cantar os hinos que aprendera. As reuniões de Lajeado ficaram maiores e colocaram a Joaquim como o encarregado de culto.

Apesar de novo no evangelho, Joaquim Alves sentiu um chamado para uma missão na fronteira agrícola.

Na época, o norte do Paraná era um sertão fechado ao oeste do Rio Tibagi, com alguns povoados de safristas – camponeses que criavam os porcos soltos nas florestas de araucária e roçados de milho para engorda de invernadas e os vendiam nas feiras do caminho do Viamão.  Com dois carroções, as famílias de Joaquim Alves, Maria Teresa Fernandes e outra família de crentes cruzaram o caudaloso Rio Tibagi e foram até Marilândia do Sul. Sem ser o lugar da visão, Joaquim deixou as famílias nesse povoado e foi com um companheiro procurar serviços em um povoado vizinho, São Roque, mais tarde emancipado como Tamarana.

Em São Roque, então uma povoação do município de Tibagi, cerca de 400 pessoas viviam em terras que um médico ou dentista de São Paulo comprara o título e oferecia meação. Nesse sistema, o lavrador trabalhava na terra e dividia os lucros com o proprietário.

Peculiarmente nesse povoado havia uma comunidade evangélica sem denominação. Embora boa parte dos habitantes eram romeiros e devotos de santos populares, no começo da década de 1930, um dos safristas, José Aleixo, teve contato com o evangelho. Aleixo viajou a Itararé com varas de porcos para vender ao frigorífico Matarazzo e se encontrou com uns evangélicos. Eram membros da Igreja Batista do Sétimo Dia de Itararé. Aleixo retornou a São Roque com duas Bíblias e começou a evangelizar. Sua casa tornou-se um ponto de culto. Alguns anos se passaram, um bom número de crentes havia ao seu redor que reunia para ler a Bíblia e orar, mas ficaram sem líder quando ele morreu.

Esses evangelizados ouviram falar que havia mais “crentes na Bíblia” em Mauá da Serra. Uma comissão visitou uma comunidade pentecostal que surgia na região serrana e em resultado, passaram por uma experiência de batismo no Espírito Santo. Com a chegada de Joaquim Alves aceitaram sua orientação.

Em alguns meses, no final de 1938, viajaria a Santo Antônio da Platina para se comunicar com Alfredo de Sousa. Foi feito o primeiro batismo nas águas e cerca de 120 pessoas obedeceram a esse mandamento. Joaquim ficou como o encarregado de culto.

Alguns meses depois, em 1939 ou 1940, Alfredo de Souza viria para outro batismo. Desta vez foram 80 almas que desceram às águas. Por ocasião do final do batismo, dirigiu à congregação: “voltem aqui a dois dias, que temos uma novidade para contar para vocês”. Passados os dois dias, vieram de roçados e sítios distantes aqueles quase 200 crentes. Alfredo de Sousa anunciou: “O Senhor preparou o irmão Joaquim Alves para ser ancião de vocês, estão contentes?” Com a confirmação da igreja, se procedeu à ordenação daquele jovem adulto de 24 anos.

Naquele tempo se usava ungir os anciãos e mal acabara de descer o óleo da cabeça de Joaquim Alves quando se formou um tumulto do lado de fora da igreja.

Os habitantes do povoado, incomodados com a fé alheia, cercaram a casa de oração empunhando armas. Gritavam insultos contra os crentes. Ameaçavam-nos de morte. A noite só não acabou em tragédia porque apareceu Mathuzalém Marcondes, um rapaz de 16 anos, acompanhado de peões e intimidou os desordeiros. Entretanto, o inspetor de quarteirão local decidiu fechar a igreja por “perturbar a ordem pública” e intimou os membros mais proeminentes da igreja, dentre Benedito “Tomé” de Souza Domingues, Sebastião Caetano, João Batista Pinto, Virgílio de Carvalho, Teodomiro Mendes de Carvalho a comparecerem ao posto policial em Londrina.

Dias depois, os convocados selaram seus animais e foram prestar contas ao Capitão Pimpão em Londrina. O chefe da polícia depois de ver as mãos calejadas de trabalhadores liberou-os, mas não permitiu que abrissem a igreja.

Por cerca de dois meses a igreja permaneceu fechada, mas a perseguição só reforçou a fé. Os cultos eram feitos nas casas, se oravam nos matos. Como fogo, aquele fervor se alastrou. Mais conversões houve e muitos sitiantes e trabalhadores rurais começaram a sair de São Roque para pregar as boas–novas a seus familiares nas regiões vizinhas.  Na região serrana, às margens do Tibagi surgiam mais grupos de crentes como em Ortigueira, Serra da Pequira, onde se converteu a família Mendes de Moraes.

Cerca de dois anos depois, Joaquim Alves se mudou para Apucarana. No distrito de Pirapó evangelizou uma colônia, dentre os quais se converteram Fiore Fernandes, Mario Catarin, Antônio e José Valério, dentre outros.

De Pirapó e São Roque (Tamarana) a Congregação Cristã expandiu-se para diversos povoados do Paraná, centro-oeste, Sul e Paraguai. O parâmetro era o seguinte: algum trabalhador rural convertido se mudava para alguma nova localidade e compartilhava sua fé. Meses depois vinha Joaquim Alves para dar instruções na doutrina, organizar a igreja e fazer o batismo. Nesse processo, pelos próximos vinte anos Joaquim Alves e sua família mudaram e se estabeleceram em várias localidades do Paraná e Bolívia. Os outros dois anciãos que existiam no Estado atendiam o Norte Pioneiro enquanto Joaquim Alves ficou responsável pelo resto do estado.

Em 1947 enviuvou-se enquanto estava vivendo em Apucarana. Contraiu segunda núpcias com Jovelina Alves (1928-2019), com quem teve os filhos Izabel, Noemi, Jonas e Izaías.

Nos início dos anos 1950 foi para a província de Santa Cruz, Bolívia, onde alguns crentes tinham escutado o evangelho e se convertido em Cruz Soleto, ao norte Santa Cruz de la Sierra. Depois de fazerem o batismo nessa localidade, mudou-se com os novos crentes para a cidade maior, onde fez ele, sua esposa Jovelina e filhos o prédio para a casa de oração.

Em retorno ao Brasil, foi comissionado para organizar o movimento de descentralização administrativo e de gestão espiritual da Congregação Cristã no Estado do Paraná. Para tal, coordenou a construção de uma grande casa de oração situada na Avenida Munhoz da Rocha em Apucarana, ordenou novos ministros (desses, 44 anciãos) e iniciou nesse estado a assembleia anual (reunião geral de ensinamentos) sob sua presidência. Ao ser ordenado havia cerca de meia-dúzia de congregações no estado do Paraná, ao falecer contava-se com mais de 500 congregações.

Continuou a exercer seu ministério itinerante pelo estado. Em uma dessas ocasionais mudanças, retornou à Apucarana. Enfermo, ainda que relativamente jovem, estava no quarto dia em sua casa nova, quando se sentiu mal. Foi orar e faleceu. Seu funeral reuniu uma grande multidão e causou expressão de comoção por várias pessoas e autoridades.

Em sua homenagem, foi nomeada uma rua na cidade de Apucarana.

Descrito como tendo um caráter afável e humilde, em seu ministério pode testemunhar vários eventos miraculosos. Sua voluntariedade — ainda que onerosa a seus parcos recursos e a sua família — permitiu a fundação e consolidação dessa igreja em várias localidades.

ANCIÃOS ORDENADOS POR JOAQUIM ALVES

  • Aluísio Nunes Costa
  • Amador Luciano da Silva
  • Antonio Ângelo Zani
  • Antonio Campanholi
  • Antonio Garcia Gomes
  • Antonio José Fernandes
  • Antonio Ziroldo
  • Ari Ferreira dos Reis
  • Benedito Paulino
  • Delmiro Rodrigues Lopes
  • Edmundo Ribeiro Sales
  • Eronildes Alves Santos
  • Francisco Nogueira
  • Jair Mendes de Moraes
  • Jayme dos Santos
  • João Paulino de Souza
  • João Ramos
  • João Rodrigues de Almeida
  • Joaquim Lopes de Oliveira
  • Joaquim Pedro Zanotto
  • Joaquim Pinto dos Santos
  • Joaquim Santiago
  • José Furquim
  • José Izidoro de Oliveira
  • José João de Souza
  • José Mazini
  • José Xavier de Freitas Filho
  • Josias Alves Soares
  • Júlio Cirilo de Souza
  • Lázaro Teixeira Bastos
  • Marcílio Brocco
  • Messias Ferreira Coutinho
  • Pedro de Oliveira
  • Pedro Gonçalo dos Santos
  • Petronilo José da Silva
  • Santino Gomes da Rocha
  • Sebastião Mendes de Moraes
  • Sebastião Pinto
  • Sebastião Thomaz Affonso
  • Sebastião Vieira da Silva
  • Vicente Subtil de Oliveira
  • Vítor Martins Bueno
  • Wilson Diogo de Araújo
  • Zirde Giatti

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14 comentários em “Joaquim Alves”

  1. Tivemos o prévio de conhecer e conviver,com o irmão saudoso Joaquim Alves,pois so filho de Matusalém Marcondes, que esteve presente no dia da sua ordenação. Com muito amor e sabedoria doutrinação a nossa irmandade,e a obra de Deus muito prosperou em Tamarana região e fora. Glória a Deus e Jesus Cristo, Amém…

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  2. Tive o prazer de nascer em Tamarana Pr, e o ir Joaquim Alves foi quem batizou meus avós Vicente Subtil de Oliveira e Anna Ferreira Machado de Oliveira em 1951 em TAMARANA Pr, e no ano de 1956 ele fez a ordenação para o ministério de ancião meu avô Materno Joaquim Santiago e em 1957 em Tamarana Pr ele ordenou para o ministério de ancião meu avô Paterno Vicente Subtil de Oliveira, batizei em 1986 no mesmo lugar e cresci ouvindo as obras que Deus operou por intermedio deste caro servo de Deus. Ele foi um grande amigo e companheiro de meu avô Vicente. Glória a Deus por eu ter encontrado a mesma Graça que estes primitivos encontraram , pela grande misericórdia sem merecimento o Senhor também me escolheu. Glória a Jesus.

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  3. DEUS abençoe pela postagens
    Ao ler senti mui grande presença de Deus isso e uma relíquia que devemos guardar com muito carinho a biografia
    Desses heróis da fé. Que são exemplos para nós…🙏🏻🙏🏻🙏🏻

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  4. Glória a Deus nas alturas do céu! Por conhecer toda a história de caro servo de Deus, apesar de já sabia de parte dela, através do seu filho irmão Isaías Alves que tive o prazer e previlegio de conhecer e andar com ele e ficarmos amigos. Tenho em alta conta e dentro do meu coração.

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  5. Irmão Joaquim Alves que Ordenou meu pai a Ancião – 05/05/1957 – em Nova Esperança – na época Capelinha – Wilson Diogo de Araújo – tenho uma carta original que enviou ao meu pai em 1966

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