O amigo do Esposo – São João Batista

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O Esposo já estava ali, no meio de Israel. Era preciso deixar claro que Jesus não era um profeta mas também não vinha só para substituir o Batista. O próprio João insistiu em que ele era simplesmente alguém que chegava na frente, que preparava caminhos, que aplainava veredas… para que o verdadeiro Messias pudesse inaugurar a sua hora.

O comportamento do Batista em relação a Jesus explica-se através de uma figura que revela uma sensibilidade semítica e se inspira em costumes matrimoniais judeus: trata-se da figura do amigo do esposo o do amigo do noivo [ó fílos tou nynfiou  ]. Nas festas de casamento de Israel escolhia-se um grupo de jovens de sua idade, chamados “amigos do esposo” ou também “filhos do tálamo”, cujo número podia ser bastante elevado, e cuja missão era acompanhar o esposo, servindo de guarda de honra, como se fossem “pajens”, e contribuir para o esplendor da festa. Dentro desse grupo, havia um que era chamado por excelência o amigo do esposo, que era como seu lugar-tenente e que devia cuidar dos preliminares do matrimônio: preparava as festas e mantinha tudo sob controle.

Esse amigo do esposo “é o amigo por excelência, que se alegra com tudo que diz respeito a seu amigo; que por ofício visa apenas que a festa saia bem; é esse precisamente o seu triunfo: João Batista é o amigo do esposo. Sua missão é preparar tudo, destacá-lo e honra-lo […] Cristo Filho de Deus vem celebrar o casamento de Israel. As evocações proféticas messiânico-nupciais têm agora sua mais ampla realização. Cristo é o Esposo. Mas João Batista é o “amigo do Esposo”. Sua missão era preparar convenientemente Israel para receber o Messias, isto é, preparar dignamente essas núpcias de evocação profética do Messias Deus com o Israel de Deus.

A figura de João Batista, precursor do Messias, põe em evidência paradigmaticamente a atitude do amigo do esposo, qual a atitude do discípulo cristão diante do Senhor. São Paulo também afirmou que era o amigo de Jesus Esposo, com toda a carga de intimidade e proximidade que implica essa figura, quando disse aos coríntios: “tenho ciúmes de vós, ciúmes de Deus: pois vos prometi a um só marido para vos apresentar a Cristo como virgem intacta”. Como amigo do esposo, João Batista nunca poderia casar-se com a noiva; seu dever consistia em prepará-la para Jesus. E foi essa a vocação lucidamente vivida pelo Batista, em total fidelidade: aplainar as veredas, endireitar os caminhos tortuosos, preparar o casamento do Esposo e ter toda a sua alegria em escutar sua voz e em se fazer pequeno para que ele sobressaísse, se abaixar para que fosse o Esposo que crescesse.

No contexto nupcial criado pela simbologia do esposo, o verbo “crescer” alude à bênção dada por Deus ao homem em Gn 1,28: “Crescei e multiplicai-vos”, indicando a fecundidade da aliança definitiva inaugurada pelo Messias. Por isso, consciente de como era provisória sua missão, João Batista manifesta que seu destino é ir desaparecendo, em contraposição ao de Jesus, que é precisamente ir crescendo. Durante algum tempo coexistiram João, o último da série dos profetas, e Jesus, em quem haveriam de se cumprir as profecias. A missão de João acabou, e com ela a das antigas Escrituras, que davam testemunho de Jesus, da mesma forma que vão desaparecer a antiga aliança, o antigo templo   e a Lei. Tudo isso se torna evidente pelo simples fato de Jesus enviar seus discípulos para continuar sua missão e produzir fruto abundante, enquanto a missão de João terminaria com ele, sem continuadores, ou melhor, a continuação já pertence ao tempo de Cristo, plenitude acabada de tudo que João e todos os anteriores profetas tinham simplesmente anunciado.

Com a chegada de Jesus-Esposo, de quem o Precursor-amigo tinha dado testemunho, começou o tempo messiânico em que são celebradas as Bodas escatológicas entre Deus e seu povo.

24 de Junho, celebramos a solenidade do Nascimento de São João Baptista. Com a exceção da Virgem Maria, o Baptista é o único santo do qual a liturgia festeja o nascimento, e isto porque ele está estreitamente relacionado com o mistério da Encarnação do Filho de Deus.

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