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Projeto Papagaio-Verdadeiro, na luta contra o tráfico de animais silvestres

O tráfico de animais silvestres é a terceira atividade ilícita mais lucrativa no Brasil, atrás apenas do tráfico de drogas e de armas. Segundo a Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), esse comércio movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. O Brasil participa com cerca de 5% a 15% deste valor.

Geralmente, os animais são retirados da natureza ainda filhotes. Durante o transporte, podem ser anestesiados (com sedativos ou bebidas alcoólicas) e ter as penas, presas e garras cortadas. Além disso, algumas aves recebem um soco no externo ou têm os olhos queimados (para que não vejam mais a luz do sol) com o objetivo de impedi-las de cantar. Em muitos casos, os animais ficam estocados em depósitos clandestinos, até serem vendidos. As condições são tão precárias que a cada dez animais retirados da natureza, 9 morrem antes de chegarem à residência dos consumidores finais.


No Mato Grosso do Sul , desde 1988, cerca de 9.000 filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)
foram apreendidos pela fiscalização ambiental – Foto: Gláucia Seixas

No Brasil, as aves correspondem a cerca de 80% das espécies contrabandeadas, sendo que os psitacídeos (família das araras, papagaios e periquitos) é o grupo que mais sofre. Para mudar essa história, a ecóloga Gláucia Helena Fernandes Seixas fundou o Projeto Papagaio-Verdadeiro, executado pela Fundação Neotrópica do Brasil, com o objetivo de manter populações viáveis da espécie em vida livre no seu habitat natural, promover a conservação da natureza e combater o tráfico de animais silvestres.

O papagaio-verdadeiro é a espécie de psitacídeo com a maior distribuição no Brasil e a mais pressionada pelo comércio ilegal. Todos os anos, a ave é capturada ilegalmente em grande número, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Geralmente, os animais são encaminhados para a região Sudeste, onde são comercializados no eixo Rio/São Paulo. Os biomas Caatinga, Cerrado, Pantanal e Chaco fazem parte da rota do tráfico. “Seu pequeno tamanho, coloração vistosa e, principalmente, sua habilidade para imitar a fala humana tornam essa espécie de papagaio um alvo constante dos traficantes”, diz Gláucia.

Gláucia Seixas, coordenadora do Projeto Papagaio-Verdadeiro, segura filhote durante trabalho de campo – Foto: Victor Moriyama/Xibé

Para a ecóloga, a criação de papagaios como animais de estimação no Brasil é profundamente enraizado na cultura popular[1]. O problema é que a retirada desses animais da natureza, sem nenhum critério, associada à alteração e perda do ambiente onde vivem, pode contribuir para a extinção da espécie. Por isso, além da pesquisa científica, o Projeto realiza atividades de educação ambiental nas comunidades que visam gerar uma nova postura da sociedade em relação à importância da conservação de nossas espécies e dos recursos naturais do país.

Apesar de todos os problemas, Gláucia segue com esperança: “Utilizar o papagaio-verdadeiro como espécie bandeira contra o tráfico de aves, em todo o Brasil, pode ajudar na sensibilização e na conscientização da sociedade e mostrar a importância das espécies e seu ambiente natural.” E completa: “Se não houver compradores das aves, o tráfico certamente será reduzido e, consequentemente, as populações nativas serão um pouco mais preservadas”.
O Projeto Papagaio-Verdadeiro realiza atividades de educação ambiental em escolas – Foto Victor Moriyama/Xibé

A manutenção das ações do projeto se dá a partir de editais para execução de projetos, bem como doações voluntárias (pessoas físicas e jurídicas) ou por produtos “papagaio-verdadeiro”. Cada ano a fonte de patrocínio é variada, com destaque para duas empresas que apoiam o projeto desde o seu início: Refúgio Ecológico Caiman e Parque das Aves, além do apoio operacional do CRAS/Fauna/IMASUL, PEVRI/IMASUL e das fazendas onde é realizado.

Quer ajudar o Projeto Papagaio Verdadeiro? Para doações de recursos financeiros, materiais, equipamentos e/ou serviços é só enviar e-mail para Gláucia Seixas: glaucia@papagaioverdadeiro.org.br. Para denunciar coletores e comerciantes de animais silvestres ligue para a Linha Verde do IBAMA – 0800-618080. A ligação é gratuita de qualquer lugar do Brasil.

E lembre-se: papagaio feliz não fala, voa!

Leia também:
Como São Paulo se tornou a cidade dos mil papagaios
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Foto de abertura: Fábio Paschoal / O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) ocorre em todo o Brasil e é uma das espécies mais impactadas pelo tráfico de animais

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[1] É importante ressaltar que a legislação brasileira não proíbe a criação de papagaios em cativeiro, como animais de estimação, se forem oriundos de criadouros devidamente legalizados e monitorados pelos órgãos ambientais. O que é ilegal em nosso país é a manutenção de papagaios coletados na natureza, ou seja, animais que nasceram em vida livre.

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