Por Gabriela Vidori

No Brasil, de 2002 a 2013, a população de brasileiros em situação de subalimentação diminuiu em 82%, saindo do mapa da fome em 2014, segundo dados do relatório global da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2014). Além disso, o Brasil se tornou destaque por ter construído uma estratégia de combate à fome e ter reduzido de forma muito expressiva a desnutrição e subalimentação nos últimos anos (Relatório de Insegurança Alimentar no Mundo, 2014).

O desenvolvimento de políticas públicas, o aumento da renda da população mais pobre e a geração de empregos foram alguns dos fatores que contribuíram para uma maior igualdade social, assegurando assim o direito primordial à alimentação. “Sair do Mapa da Fome é um fato histórico para o país”, comemorava a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, assegurando que 98,3% da população brasileira tinha acesso a alimentos e segurança alimentar (FAO, 2014).

Infelizmente, o percentual de brasileiros passando fome no país voltou a crescer a partir de 2016. O levantamento mais recente do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 19 milhões de pessoas, correspondendo a 8,9% da população, estão em situação de insegurança alimentar grave (Penssan, 2021). Comparando com dados de 2018, houve um aumento de 9 milhões de pessoas nessas condições.

É importante ressaltar que essas estatísticas se aplicam apenas aos moradores em domicílios permanentes, sendo excluídas pessoas em situações de rua, o que torna esse número ainda maior; com a pandemia, esse panorama se agravou ainda mais.

“A insegurança alimentar é um retrato das desigualdades múltiplas interseccionais. Ela tem cor, tem gênero e ilustra um retrato do Brasil”, diz Renata Motta, professora de sociologia da Universidade Livre de Berlim que liderou a pesquisa sobre os efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil (2021). Portanto, medidas se fazem necessárias para reverter a situação atual. As políticas públicas que visam diminuir as desigualdades sociais precisam receber a devida atenção governamental para que possamos crescer de forma igual e justa.

REFERÊNCIAS

  • FAO. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo. Roma: FAO, 2014.
  • PENSSAN.  Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Brasil: PENSSAN, 2021.
  • GALINDO, E. et al. Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil. Working Paper Series Food for Justice, 2021.