SANCCOB: a luta para salvar o pinguim-africano da extinção

Pinguim-africano/ African penguin (Spheniscus demersus). Devido ao rápido declínio da população, a ave entrou para a Lista Vermelha da IUCN na categoria em perigo em 2010 – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 3 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Com sua plumagem preta e branca e seu jeito desengonçado de andar em terra firme, não há como não se apaixonar pelos pinguins. Mas não se engane. Assim que entram no mar eles se transformam completamente. Parecem voar embaixo d’água, perseguindo peixes com uma velocidade impressionante.

[Veja a introdução da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza]

[Veja o capítulo 2 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza]

Os pinguis-africanos não são diferentes. Pescam quase que exclusivamente nas águas frias da Corrente de Benguela, podem se juntar em grupos de até 150 indivíduos e cooperam na pescaria. É a única espécie de pinguim que se reproduz no litoral da África, onde são encontrados da Namíbia até a África do Sul, em 28 colônias. Os adultos são residentes, mas alguns movimentos podem ocorrer em resposta a concentração de presas.

O pinguim-africano é a única espécie de pinguim que se reproduz na África. Esses daqui estão na colônia de Boulders Beach, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

No início do século 20 existiam mais de 1 milhão de casais reprodutores na África e a espécie ia bem. Como o número de aves defecando era gigantesco, havia uma grande quantidade de guano (nome dado às fezes das aves que começam a acumular) nas ilhas e no litoral e os pinguins-africanos construiam seus ninhos escavando seus próprios excrementos.

O guano contém altas concentrações de nitrogênio e é um excelente fertilizante. Por isso, começou a ser coletado e usado como adubo em plantações. Com a remoção desse substrato tão importante, os pinguins-africanos passaram a colocar seus ovos em áreas abertas onde eles são mais vulneráveis ​​ao estresse térmico, chuvas e predação. Nessa época a coleta de ovos também não era controlada e a população começou a cair rapidamente.

Sem o guano, muitos pinguins passaram a se reproduzir em local aberto – Foto: Fábio Paschoal

Em 1969 a coleta de ovos foi banida e a raspagem do guano parou em 1991 na África do Sul. Porém, os pinguins-africanos já enfrentavam (e enfrentam até hoje) outros problemas: competição por alimento com as indústria de pesca e derramamento de óleo continuam a causar o declínio da espécie.

Em 2010 a ave entrou para a categoria “Em Perigo” da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês). Hoje restam menos de 23.000 casais reprodutores e a população continua a diminuir.

Rocky, um rockhopper penguin que foi resgatado pela SANCCOB e não pôde ser reintroduzido em seu habitat natural. Hoje ele é uma das aves embaixadoras da Ong e ajuda no projeto de educação ambiental – Foto: Fábio Paschoal

SANCCOB

Nossos amigos que moram na Cidade do Cabo (Cape Town), Renata e Ralph, são muito ligados em conservação, especialmente de aves marinhas. Atualmente, Renata trabalha na Fundação Sul Africana para a Conservação de Aves Costeiras (Southern African Foundation for the Conservation of Coastal Birds – SANCCOB) e ela me convidou para conhecer o trabalho da Ong.

A SANCCOB foi criada em 1968 com o objetivo de reverter o declínio das populações de aves marinhas através do resgate, reabilitação e reintrodução de indivíduos doentes, feridos, abandonados e com complicações causadas por derramamento de óleo. O foco principal são espécies ameaçadas de extinção, como o pinguim-africano.

Algumas aves resgatas pelo SANCCOB não podem ser reintroduzidas na natureza. Esse pinguim-africano perdeu um pé e vive em um ninho artificial na Ong. Ninhos como esse foram instalados em algumas colônias para tentar suprir a falta do guano – Foto: Fábio Paschoal

O trabalho da Ong está fundamentado em seis pilares:

  • Resgate: o serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Aves marinhas doentes e feridas, e filhotes abandonados são o principal foco. O SANCCOB também responde prontamente a derramamentos de óleo ao longo do litoral sul-africano.
  • Reabilitação e reintrodução: mais de 2400 aves marinhas feridas, doentes e com problemas relacionados a derramamento de óleo são tratadas por ano. Quando estão saldáveis, se tiverem condições, voltam para a natureza.
  • Criação de filhotes abandonados: existe uma unidade especializada que cuida do resgate e criação de ovos e filhotes de pinguins-africanos que foram abandonados pelos pais. Quando as aves estão saudáveis e prontas, são devolvidas para as colônias. Os estudos mostram que a sobrevivência dos filhotes criados pelo SANCCOB após a reintrodução é similar a dos filhotes criados em natureza.
  • Educação ambiental: aulas para crianças e adultos, incluindo visitas às instalações, apresentações e encontros com as aves embaixadoras da Ong podem ser agendados pelo site da SANCCOB
  • Treinamento: a Ong oferece estágios de 3 a 6 meses para adultos. Também há um programa de intercâmbio de tratadores de zoológicos e aquários e cursos de veterinária.
  • Pesquisa: Estudos em andamento aumentam a compreensão dos pesquisadores sobre o comportamento, doenças e outros fatores que afetam a sobrevivência das espécies de aves marinhas a longo prazo.

A organização trabalha em estreita colaboração com os administradores das colônias. Quando uma ave precisa de cuidados, é levada para um dos três centros do SANCCOB na África do Sul: Cape Town, Cape St. Francis ou Port Elizabeth.

Num ano normal em que não ocorrem derrames de petróleo, a SANCCOB trata até 2 500 aves marinhas, das quais aproximadamente 1 500 são pinguins-africanos. O restante são diferentes espécies de biguás (incluindo os ameaçados bank cormorant e cape cormorant); várias espécies de trinta-réis; aves pelágicas, como albatrozes, atobás e petréis; piru-pirus, gaivotas, pelicanos e outras aves costeiras encontradas na região. Em média, 24 espécies diferentes de aves marinhas são reabilitadas todos os anos.

Desde sua criação, o SANCCOB já recebeu 95 000 aves marinhas de 54 espécies diferentes. Fica a torcida para que eles continuem com o excelente trabalho para melhorar a situação do simpático pinguim-africano.

Veja o capítulo 4 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

DICAS

  • Quer ajudar um pinguim-africano? Entre no site da SANCCOB
  • Quer ajudar um pinguim-de-magalhães (muito parecido com o pinguim-africano) no Brasil? veja o vídeo abaixo e entre no site do IPRAM (Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos)

Cabo da Boa Esperança, Cape Point e o encontro dos oceanos

Cabo da Boa Esperança, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Capítúlo 2 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Localizada na ponta da Península do Cabo, a 60 quilômetros da Cidade do Cabo (Cape Town), a Reserva Natural Cabo da Boa Esperança (Cape of Good Hope Nature Reserve) é uma área de 7 750 hectares que faz parte da seção Sul do Parque Nacional Table Montain e, além do cabo de mesmo nome, também abriga Cape Point. É parte da Região Floral do Cabo, considerada Patrimônio da Humanidade em 2004 pela UNESCO, graças a extraordinária diversidade de fauna e flora endêmica da região.

[Veja a introdução da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza]

[Veja o capítulo 1 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza]

Vista de um dos mirantes da Chapman’s Peak Drive, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Nossos amigos Renata e Ralph fizeram questão de nos levar pela Chapman’s Peak Drive (Chappies para os íntimos). Ela começa em Hout Bay e segue por 9 quilômetros com as paisagens mais lindas de Cape Town. Existe um único pedágio no caminho (Veja as tarifas no site da Chappies).

De um lado o paredão rochoso, do outro o litoral. No caminho há mirantes onde você pode parar, fazer piquenique, tirar uma foto ou simplesmente admirar a paisagem. É uma estrada imperdível para quem visita Cape Town (Veja o vídeo do canal Bastante Sotaque).

Cape Point

Cape Point, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Chegamos na entrada da Reserva, pagamos a taxa de conservação (veja os valores no site do SanParks), deixamos o carro no estacionamento e seguimos para o ponto mais alto do parque. Há duas opções para chegar lá. Você pode subir com o Flying Dutchman Funicular, uma espécie de bonde, ou você pode fazer a trilha (não é longa, mas é um pouco íngreme).

Decidimos andar. No caminho passamos por biguás, que estavam com filhotes nos ninhos construídos no paredão rochoso (fomos em dezembro). Os adultos voltavam com os papos cheios de comida para alimentarem os pequenos. Também vimos um elande-comum, o segundo maior antílope do mundo.

Cape cormorant (Phalacrocorax capensis), espécie ameaçada de extinção devido à escassez de alimentos de boa qualidade perto dos locais de reprodução, causada pela sobrepesca comercial e pelas mudanças climáticas – Foto: Fábio Paschoal

No ponto mais alto da trilha, 238 metros em relação ao nível do mar, fica o primeiro farol de Cape Point. Construído em 1859, se encontra desativado porque fica constantemente coberto por nuvens e os navios não conseguem se orientar em dias nublados, o que causava muitos acidentes na região. Hoje é usado para monitorar outros faróis da costa da África do Sul e funciona como um mirante, que tem a vista mais bonita de Cape Point e do Cabo da Boa Esperança.

Um segundo farol foi construído em uma altura mais baixa (87 metros) para escapar das nuvens. Ele continua funcional e é o farol mais forte encontrado na África do Sul. É possível chegar até ele por uma trilha, mas não tínhamos tempo para isso.

Cabo da Boa Esperança e Dias Beach, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Cabo da Boa Esperança

Situado na junção da corrente fria de Benguela, na costa oeste, com a corrente quente das Agulhas, na costa leste, o Cabo da Boa Esperança não é o ponto mais ao Sul da África, como muita gente pensa. Esse título pertence ao Cabo das Agulhas, que também marca a divisão geográfica oficial entre o Atlântico e Índico.

Porém, a fronteira entre esses oceanos migra sazonalmente entre o Cabo das Agulhas, Cabo da Boa Esperança e Cape Point. Assim, como não há uma divisão perceptível ao olhar, podemos acreditar no fundo de nossos corações que estamos olhando para o encontro das águas quando estamos por aqui.

O simpático dassie (Procavia capensis) no Cabo da Boa Esperança, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Próximo ao estacionamento tem o começo da trilha que passa por Dias Beach e leva para a ponta do Cabo da Boa Esperança (você pode pegar a estrada e chegar lá de carro). Durante o caminho passamos por mais cormorões, gaivotas, lagartos se esquentando nas pedras e achamos um mamífero pequenino e muito simpático: o dassie! Eles são encontrados na África e no Oriente Médio e seus parentes mais próximos são elefantes, dugongos e peixes-bois. Também encontramos um casal de avestruzes.

É possível descer em Dias Beach, mas estávamos sem tempo e seguimos para o final da trilha onde havia uma fila de turistas que queriam tirar foto em frente a placa do Cabo da Boa Esperança. Claro que nós entramos na onda.

Paisagem no final da trilha do Cabo da Boa Esperança, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Nós (Eu, Vanessa, Ralph e Renata) no Cabo da Boa Esperança. Note que a placa diz que é o ponto mais a Sudoeste da África. O ponto mais ao Sul é Cabo das Agulhas – Foto: Fábio Paschoal

Como estava ficando tarde, tivemos que deixar a visita à Boulders, uma colônia de pinguins-africanos para outro dia. Era hora de voltar pra casa e fazer mais um braai (churrasco em africâner).

Veja o capítulo 3 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

HISTÓRIA

No final do século 15, o navegador português Bartolomeu Dias zarpou do rio Tejo, em Lisboa, com dois pequenos navios e um cargueiro. Como a passagem pelo Mar Mediterrâneo estava sob comando dos turcos, a missão da frota era contornar a África, encontrar um novo caminho marítimo para a Índia e estabelecer uma nova rota comercial que ligasse Portugal com o Oriente.

Mas quando chegaram na região do Cabo da Boa Esperança, uma tempestade forçou os navios a sair do curso. A frota ficou perdida por mais de uma semana sem encontrar a costa, e só conseguiu desembarcar em Mossel Bay. Foi quando o navegador percebeu que já haviam passado da ponta da África e descoberto a rota marítima para o leste (ele não conseguiu chegar muito mais longe porque a tripulação o forçou a voltar).

Graças a esse evento, Dias batizou o local de Cabo das Tormentas, que mais tarde foi renomeado Cabo da Boa Esperança, graças ao otimismo gerado pela abertura de uma possível rota para a Índia e o Oriente.

Na volta, sempre com o litoral visível, Dias passou pelo Cabo das Agulhas e descobriu o ponto mais ao Sul do continente africano. Também conseguiu contornar o Cabo da Boa Esperança, onde havia se perdido na viagem de ida.

DICAS

  • Alugue um carro enquanto estiver na Cidade do Cabo. Algumas atrações, como a Reserva Natural Cabo da Boa Esperança, ficam longe da cidade.
  • Vá até Cape Point passando pela Chapman’s Peak Drive. A estrada é linda e é um dos atrativos para quem visita a Cidade do Cabo.
  • Se você quiser fazer as trilhas é bom chegar cedo e planejar o percurso. Não chegamos ao segundo farol nem descemos até Dias Beach porque não tínhamos tempo.
  • Existe um áudio tour da Reserva Natural Cabo da Boa esperança no aplicativo gratuito VoiceMap. Ele faz um passeio que leva por Cape Point e Cabo da Boa Esperança. A gente não queria ficar preso a um roteiro e não usamos, mas tem bastante informação legal lá. Veja os passos para chegar no áudio tour no site de Cape Point.
  • Cuidado com os babuínos, os macacos podem atacar em busca de comida, mas não vimos nenhum durante nossa visita.
  • Boulders fica no meio do caminho entre Cape Town e Cape Point e pode fazer parte do roteiro. Mas nós achamos que fazer isso no mesmo dia é muito corrido e você acaba não aproveitando tudo que os dois locais têm a oferecer.
  • Entre junho e novembro Cape Point é um excelente local para observação de baleias. Os cetáceos gostam das águas mais calmas de False Bay, especialmente as francas. Jubartes, golfinhos e focas também podem ser achadas no local. Durante esses meses fique de olho no mar na Chapman’s Peak Drive, as gigantes também podem ser vistas na estrada.

Chegada na Cidade do Cabo (Cape Town)

Table Montain, na Cidade do Cabo (Cape Town), África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Capítúlo 1 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Vanessa e eu decidimos ir para África do Sul em nossa primeira viagem internacional para visitar o Ralph e a Renata, um casal de amigos que mora na Cidade do Cabo (Cape Town). Tivemos sorte de pegar uma promoção de passagens da TAAG e pagamos a metade do preço cobrado pela South African Airways.

[Veja a introdução da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza]

[Veja a série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

Pegamos o voo em São Paulo e tivemos que fazer escala em Luanda, Angola. O problema do aeroporto é que só tem um detector de metais, e todos precisam passar por ele. Então, tente sair o mais rápido possível do avião para não pegar tanta fila.

Após passar pelo detector seguimos direto para o avião. Quatro horas depois a Table Montain surgiu pela janela! Vanessa e eu estávamos chegando na Cidade do Cabo empolgadíssimos para conhecer a África do Sul.

Cidade do Cabo (Cape Town), África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Ralph estava lá para nos receber e nos levou ao shopping para trocarmos dinheiro (saiba mais na seção CÂMBIO, no final do post) e comprarmos chips de celular na Vodacon (boa cobertura na África do Sul. Funcionou até em alguns lugares do Kruger).

Durante o caminho passamos por lagos repletos de aves aquáticas: gaivotas, patos, gansos, maçaricos e até flamingos. Também vimos grupos de pelicanos-brancos, aves que chegam a três metros de envergadura, voando por cima do carro.

Cape sparrow (Passer melanurus) a primeira ave que consegui fotografar na África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Aproveitamos para passar no supermercado e comprar carne, cogumelos, queijo, cerveja e vinho sul-africanos para fazer um braai (palavra africâner para churrasco). Encontramos com a Renata e fomos para casa acender a churrasqueira.

Dormimos felizes e contentes por estarmos em Cape Town. O plano para o dia seguinte era ir para o Cabo da Boa Esperança e visitar uma colônia de pinguins.

Veja o capítulo 2 da série Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

DICAS

  • Deserto da Namíbia – Foto: Fábio Paschoal

    Se fizer o trecho Luanda – Cidade do Cabo de dia, deixe a janela aberta. Você irá sobrevoar a Namíbia e a paisagem é muito diferente.

  • A temporada de chuvas em Cape Town é no inverno. O verão é bastante seco, mas como venta muito é bom sair de casa com um casaco ou corta vento.
  • Agora (2018) a cidade vive uma crise hídrica forte. O governo decretou racionamento. Alguns estabelecimentos cortaram a água das pias e oferecem gel higienizador para limpar as mãos. Todos economizam água em casa (reservando a água do banho para dar descarga, por exemplo). É o que vivemos em São Paulo durante o Governo Alckmin, mas em um nível mais preocupante.
  • Para saber sobre operações de câmbio veja as dicas abaixo

CÂMBIO

Operações de câmbio são complicadas porque alguém sempre lucra a cada troca de moeda que você faz. É necessário avaliar as opções e escolher a forma em que você irá perder menos dinheiro.

Troca de Dólar por Rand: Como sou guia de ecoturismo no Pantanal e na Amazônia, recebo muita gorjeta em Dólar dos turistas. Por isso sabia que iria trocar Dólar por Rand quando chegasse na África do Sul. Porém faz diferença o lugar onde você troca. O aeroporto costuma ter a pior taxa. Em nossas pesquisas na internet a menor taxa que achamos foi a da Travelex. Mas recomendamos fazer a pesquisa em outras casas de câmbio na época da sua viagem.

Troca de Real por Dólar ou Rand:  Como o Rand é difícil de achar no Brasil, a troca de Reais pela moeda sul-africana não costuma ser muito favorável e, na maioria dos casos, você acaba pagando mais do que se comprar Dólar por aqui e trocar por Rand na África do Sul. usamos o site da Melhor Câmbio para encontrar a melhor cotação para nossa viagem

Cartões: A vantagem dos cartões é que você não precisa ficar carregando grandes quantidades de dinheiro. Você pode fazer cartões de viagem pré-pagos da Visa ou Mastercard, que são aceitos no mundo inteiro ou pedir pro banco autorizar o cartão de crédito internacional. Cheque as taxas para ver qual a opção mais vantajosa e  lembre-se que você precisa pagar o IOF.

Saque em moeda local: Normalmente é cobrada uma taxa para cada saque além do IOF. Cheque com o seu banco para ver se vale a pena.

Cidade do Cabo: passeios para contemplar a natureza

Table Montain, em Cape Town, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

A Cidade do Cabo (Cape Town) é uma das cidades mais bonitas do mundo. Localizada no litoral Sudoeste da África do Sul, lembra muito o nosso Rio de Janeiro. A Table Montain, ícone local, é presença constante e decora as praias com paisagens que ficarão marcadas na sua memória para sempre.

[Veja a série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

[Veja a série Rota Jardim / Garden Route: 5 dias pelo litoral da África do Sul]

[Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro]

[Veja a série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração]

Tenho amigos que moram na Cidade do Cabo e, assim que surgiu uma passagem barata, não tive dúvida: resolvi fazer uma visita e conhecer a capital legislativa da África do Sul. Aprovei para esticar a viagem para fazer a Garden Route e depois segui para um safári fotográfico de sete dias no Kruger National Park.

Nosso interesse era natureza, então demos prioridade para parques nacionais, jardins botânicos e trilhas. Fomos a praias repletas de pinguins-africanos, fizemos trilhas para observação de aves, conhecemos o Reino Floral do Cabo (o menor e mais diverso Reino Floral do mundo) e muitas outras coisas legais.

Não tivemos tempo para visitar vinícolas e, infelizmente, não conseguimos ir à Robben Island (onde Nelson Mandela ficou preso durante 27 anos) porque não compramos o ingresso com antecedência.

Decidimos compartilhar nosso roteiro e dividir todos os perrengues dessa viagem por aqui. Qualquer dúvida é só perguntar nos comentários.

Eu, Ralph, Vanessa e Renata no topo da Table Mountain, Cape Town, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 1 – Chegada na Cidade do Cabo (Cape Town)

Capítulo 2 – Cabo da Boa Esperança, Cape Point e o encontro dos oceanos

Capítulo 3 – SANCCOB: a luta para salvar o pinguim-africano da extinção

Capítulo 4 – Stony Point a maior colônia de pinguins-africanos de Western Cape

Capítulo 5 –  Harold Porter: jardim botânico em Betty’s Bay

Capítulo 6 – Table Mountain: uma das sete maravilhas naturais do mundo. Será?

Capítulo 7 – Boulders: a colônia de pinguins mais próxima de Cape Town

Capítulo 8 – Kirstenbosch: o 1° jardim botânico considerado Patrimônio da Humanidade

Capítulo 9 – Mergulho com lobos-marinhos: atividade obrigatória em Cape Town

Carta de amor ao Pantanal

Nascer do sol no Pantanal – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 15 da série Pantanal: Terra das Águas

Essa parte da minha vida se chama Pantanal, e envolve abrir mão de coisas importantes como família e amigos. Mas também inclui sair da minha zona de conforto e experimentar o desconhecido, estar em contato com a natureza e aprender coisas novas a todo o momento, acordar sem saber como vai ser o dia, mas saber que o dia será fantástico e, de quebra, conhecer um dos lugares mais extraordinários do planeta.

[Veja a introdução e o sumário da série Pantanal: Terra das Águas]

[Veja o capítulo 14 da série Pantanal: Terra das Águas]

Temporada de cheia no Pantanal – Fábio Paschoal

A grama alta dificulta a observação de animais na temporada de cheia. Alguns mamíferos procuram terras mais elevadas e deixam o Pantanal – Foto: Fábio Paschoal

Viver no Pantanal é uma experiência única. É enfrentar o Sol forte da temporada de seca e os campos alagados da temporada de cheia. É andar a cavalo nos finais de tarde e ver o pôr do sol mais incrível da sua vida. É conviver com os pantaneiros, esse povo maravilhoso, e participar de muitas rodas de tereré. É comer chipa, sopa paraguaia, arroz carreteiro, macarrão tropeiro e churrasco feito com angico-vermelho.

É admirar a floração das piúvas e sentir-se em um conto de fadas. É olhar o reflexo das nuvens nas baías e pensar que existe céu aqui na Terra. É nadar no rio e, de vez em quando, fugir das ariranhas. É encontrar uma infinidade de olhos de jacarés brilhando em uma focagem noturna e comparar com as estrelas. É contemplar a Via Láctea e enxergar claramente as constelações.

A floração das piúvas é um dos eventos mais bonitos da temporada de seca – Foto: Fábio Paschoal

Passeio a cavalo com a equipe de guias da Caiman em 2009. Foi uma honra fazer parte desse time – Foto: Fábio Paschoal

É ouvir o grito dos bugios de manhã e dar risada com o canto do sapinho-fórmula-um à noite. É avistar um tuiuiú voando e se espantar com seu tamanho. É observar a arara-azul e se encantar com suas cores. É ficar contra o vento e chegar pertinho do tamanduá-bandeira. É olhar no olho da onça-pintada e ter a certeza de que algo mágico está acontecendo.

Mas acima de tudo, viver no Pantanal é perceber que nós, seres humanos, podemos conviver em harmonia com a natureza.

A maior arara do mundo (Anodorhynchus hyacinthinus) era extremamente rara. Em 1990 a população era de 1500 indivíduos, mas o Projeto Arara Azul mudou esse cenário. Hoje existem mais de 5000 araras colorindo o céu do Pantanal – Foto: Fábio Paschoal

Onça-pintada, o terciro maior felino do mundo, avistada em um safári no Pantanal - Foto: Fábio Paschoal

Infelizmente, fazendeiros abatem a onça-pintada para proteger seus rebanhos. No Pantanal, o Projeto Onçafari tenta salvar a espécie através do ecoturismo, mostrando que o felino tem mais valor se permanecer vivo – Foto: Fábio Paschoal

Foi aqui que descobri meu amor pela vida selvagem e minha paixão pelo trabalho de guia. Também conheci pessoas incríveis, dispostas a sacrificar a vida pela conservação. Gente que me faz acreditar que ainda há esperança para a Terra. Mas sinto que está na hora de procurar novos caminhos.

Saio daqui com as esperanças renovadas e com a certeza de que voltarei. O Pantanal vai deixar saudades, mas estará sempre vivo na minha memória e no meu coração.

Pantanal, eu temo! Até a próxima.

Equipe de guias da Caiman em 2013. Foi uma honra fazer parte desse time – Foto: Fábio Paschoal

Onçafari: no rastro da onça-pintada

Fantasma é o macho dominante no Refúgio Ecológico Caiman, pousada no Pantanal onde o Projeto Onçafari está realizando o processo de habituação das onças-pintadas (Panthera onca) aos carros de passeio - Foto: Lawrence Weitz

Onça-pintada no Refúgio Ecológico Caiman, Pantanal, onde o Projeto Onçafari faz a habituação dos felinos aos carros de passeio – Foto: Lawrence Weitz

Capítulo 14 da série Pantanal: Terra das Águas

O carro segue em alta velocidade. Nosso guia, Nego, vai no capô, olhando os rastros do animal enquanto indica o caminho que o motorista deve seguir. Os galhos passam rapidamente, próximos à nossas cabeças, e é preciso ser rápido para desviar de todos eles. O objetivo do safári é encontrar o maior felino das Américas. O veículo para em frente a uma lagoa. Nego faz sinal para todos permanecerem em silêncio. “Ela está aqui”. Uma movimentação nos arbustos anuncia a entrada de uma onça-pintada na clareira. Ela para em frente ao nosso carro, olha no olho de cada um e entra na água para matar a sede. Fica conosco por alguns minutos antes de desaparecer entre as árvores novamente.

Essa é uma das experiências mais marcantes da minha carreira de guia no Pantanal. É um desses momentos mágicos, que ficam guardados na memória e voltam à nossa mente de tempos em tempos para nos fazer sorrir. No entanto, fazendeiros abatem os felinos para proteger seus rebanhos e, após décadas de perseguição e caça, a onça se tornou um dos animais mais difíceis de avistar na natureza.

Esperança, uma das onças-pintadas selecionadas pelo Projeto Onçafari para o processo de habituação – Foto: Diogo Lucatelli

Esperança, uma das onças-pintadas selecionadas pelo Projeto Onçafari para o processo de habituação – Foto: Diogo Lucatelli

Para mudar essa história Mario Haberfeld fundou o Projeto Onçafari em 2011. A ideia é fazer a habituação das onças aos carros de passeio para que elas se comportem da mesma maneira que os felinos da África. O objetivo é atrair mais turistas, aumentar o interesse dos fazendeiros no turismo de observação de animais, gerar novas oportunidades de emprego para as pessoas da região, ajudar na conservação do felino, consequentemente, de seu habitat. “É necessário agregar valor à onça para que ela valha mais viva do que morta.” Afirma.

Uma técnica utilizada com leopardos e leões na África do Sul há 30 anos está sendo adaptada para a onça-pintada no Pantanal. Um animal selecionado é seguido por um rastreador, dia após dia, até que ele pare de considerar o carro como uma ameaça. O ideal é escolher uma fêmea. Quando ela tiver filhotes vai ensinar tudo para os pequenos. Assim, a habituação aos veículos será passada para a próxima geração. O processo não envolve métodos de domesticação (como o oferecimento de comida) e os felinos selecionados permanecem selvagens.

Carro do Projeto Onçafari usado para o processo de habituação das onças-pintadas – Foto: Adam Bannister

Haberfeld trouxe rastreadores da Tracker Academy da África do Sul com a missão de treinar a equipe do projeto na arte de rastrear animais selvagens para facilitar o encontro com o felino. Para Diogo Lucatelli, biólogo e rastreador do Projeto Onçafari, “Conhecer e perceber o ambiente – e o comportamento e as características dos vestígios do animal que será seu alvo – é fundamental”. As onças se movimentam em campos de gramíneas e matas densas com solo coberto por folhas secas, terrenos que dificultam a formação de pegadas. O rastreador pode perder o rastro. Para reencontrá-lo é preciso analisar o local, interpretar os sinais e se colocar na posição do animal que se está rastreando.

Disney Sousa (mais conhecido como Nego), rastreador do Projeto Onçafari (centro) em treinamento com os rastreadores da Tracker Academy da África do Sul – Foto: Projeto Onçafari

Diogo Lucatelli (direita) ensinando a rastrear onças - Foto: Disney Souza

Diogo Lucatelli (direita) ensinando a rastrear onças – Foto: Disney Souza

Todo o processo está sendo realizado no Refúgio Ecológico Caiman (REC), do empresário Roberto Klabin (fundador e presidente da SOS Mata Atlântica e da SOS Pantanal). Câmeras foram instaladas nas árvores para identificar as onças que habitam a fazenda e algumas fêmeas foram capturadas para a instalação de um colar com GPS, para a determinação do território de cada indivíduo. Os animais selecionados para a habituação têm o território dentro do REC. Essa é uma condição essencial, já que a caça – apesar de ilegal – ainda acontece no Pantanal. Fazer a habituação de um felino que pode entrar em outras fazendas seria um risco para o animal. Ele poderia se aproximar dos caçadores e seria um alvo fácil. Tudo está sendo acompanhado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e pelo Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros).

Mario Haberfeld colocando o colar com GPS em uma das onças do Projeto Onçafari- Foto: Divulgação

O objetivo do Projeto Onçafari é fazer com que as onças-pintadas fiquem tranquilas ao encontrar com um carro cheio de turistas – Foto: Projeto Onçafari

Segundo Lucatelli o número de encontros com a onça-pintada aumentou após o começo do projeto. Isso pode alavancar o ecoturismo no Pantanal, gerar novos empregos para os moradores locais, criar mais áreas de proteção para os animais e tornar a observação de fauna em uma atividade rentável que pode ser conciliada com a pecuária extensiva. “Quando se tem uma equipe em campo, que estuda continuamente a vida das onças, particularmente dos indivíduos que residem aqui [no REC], e constrói um relacionamento com elas – dando-lhes nomes e especializando-se cada vez mais em encontrá-las – as possibilidades são enormes”.

Para mim, que comecei a guiar na Caiman antes da existência do Onçafari, a diferença do antes e depois é gritante (no vídeo abaixo falo mais sobre isso). Não só o número de avistamento aumentou, mas a qualidade também cresceu muito. Antes nós comemorávamos quando uma onça passava na frente do caminhão. Hoje nós estamos descobrindo novos comportamentos, conhecendo a personalidade de cada felino e escolhendo nossas onças preferidas. É fantástico!

O documentário Onça-pintada: mais perto do que se pode imaginar (veja o trailer abaixo) registrou todo o processo de habituação e foi lançado em 2014. A ideia é replicar o processo em outras partes do país. “Quanto mais pessoas usarem a ideia mais áreas estarão sendo preservadas” diz Haberfeld.

Veja o capítulo 15 da série Pantanal: Terra das Águas

O Onçafari é um projeto sem fins lucrativos. Para fazer uma doação e ajudar a preservar o Pantanal e a onça-pintada acesse http://projetooncafari.com.br/pt-BR/envolva-se/ajude

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Onça-pintada: a mordida mais forte entre os felinos

A onça-pintada possui a mordida mais poderosa entre os felinos. Nem o tigre ou o leão superam a força da Panthera onca - Foto: João Sergio Barros Freitas De Souza/Sua Foto

A onça-pintada possui a mordida mais poderosa entre os felinos. Nem o tigre ou o leão superam a força da Panthera onca – Foto: João Sergio Barros Freitas De Souza/Sua Foto

Capítulo 13 da série Pantanal: Terra das Águas

Ver uma onça-pintada (Panthera onca) na natureza é algo difícil de explicar. Ela encara, olho no olho, até ter a certeza de que você a viu. Seu tamanho é impressionante, ela domina o local e parece que tudo gira em torno dela. É como se a floresta parasse, naquele momento, só para vê-la passar. Antes de sair, uma pausa, a onça olha para trás, e verifica se você ainda está ali. Seus músculos estão tensos, sua respiração está presa e seu coração acelerado. É nesse momento que vem a certeza de que algo mágico está acontecendo. É uma energia muito intensa, que ficará impressa na sua memória para sempre.

Segundo a Ong Pró-Carnívoros, a onça-pintada, também conhecida como jaguar, possui a mordida mais poderosa entre os felinos e uma maneira única de caçar. Enquanto leões, tigres e outros gatos usam uma técnica de caça com mordida no pescoço seguida de sufocamento, a onça-pintada crava os caninos na cabeça da presa e quebra a espinha dorsal ou perfura o crânio da vítima até chegar ao cérebro. A força exercida é tão grande que chega a quebrar cascos de jabutis.

Seu padrão amarelo com rosetas pretas é a perfeita camuflagem para andar na floresta, onde os fachos de luz em meio à sombra das árvores tornam o felino praticamente invisível. Ela utiliza áreas de vegetação densa para se esconder e se aproxima da presa silenciosamente. Almofadas na sola das patas ajudam a abafar o som e permitem que o predador ande sem fazer muito barulho. Quando está perto de seu alvo parte para o ataque.

É um animal oportunista e se alimenta de qualquer presa que esteja disponível. No Pantanal prefere jacarés, queixadas e capivaras, que são maiores e mais abundantes. Na Amazônia come principalmente animais pequenos, como cotias, pacas e tatus. Ela seleciona indivíduos inexperientes, machucados, doentes ou mais velhos o que resulta em benefício para a própria população de presas e mantém o equilíbrio do ecossistema.

Segundo o Projeto Onçafari, estudos mostram que a predação de gado é menor em áreas com grande quantidade de presas naturais e maior onde há caça de animais selvagens. Infelizmente, a destruição do habitat, e a consequente redução no número de presas naturais, faz com que as onças-pintadas comecem a caçar animais domésticos e acabam sendo mortas por fazendeiros que querem proteger seus rebanhos. Após décadas de perseguição, o felino se tornou um dos animais mais difíceis de avistar na natureza e está na categoria vulnerável da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

Veja o capítulo 14 da série Pantanal: Terra das Águas

Pantanal: temporada de seca

Para-tudos floridos na temporada de seca no Pantanal- Foto: Fábio Paschoal

 Capítulo 12 da série Pantanal: Terra das Águas

Com o final das chuvas, em abril/ maio, começa a estação da seca no Pantanal. A água que inundava a planície passa a ser cada vez mais escassa e se concentra em pequenas poças onde os animais se amontoam para matar a sede.

Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) com filhote no capim seco – Foto: Fábio Paschoal

Tucano-toco bebendo água (Ramphastos toco) – Foto: Fábio Paschoal

Quati bebendo água (Nasua nasua) – Foto: Fábio Paschoal

Jabuti (Chelonoidis carbonaria) – Foto: Fábio Paschoal

As árvores perdem as folhas para economizar água e o que antes era uma paisagem verde e exuberante se torna marrom e árida.

Aves começam a se concentrar nas poças, onde peixes aprisionados são presas extremamente fáceis. Periquitos chegam aos bandos para recolherem as sementes deixadas pelas plantas aquáticas e os mamíferos voltam a povoar os campos. Alguns se arriscam fora das matas de cordilheira tentando matar a sede, enquanto outros espreitam as poças esperando por uma possível presa. 

Socó-dorminhoco (Nycticorax nycticorax) com peixe  – Foto: Fábio Paschoal

Príncipe-negro (Nandayus nenday) procurando por sementes – Foto: Fábio Paschoal

Lobinho (Cerdocyon thous) – Foto: Fábio Paschoal

No final de agosto/ começo de setembro, um dos eventos mais marcantes do ano se inicia: a floração das piúvas (ipês). O Pantanal fica cor de rosa por uma semana. Depois é a vez do para-tudo colorir a planície de amarelo por sete dias. Em seguida, as flores roxas do tarumã fecham o espetáculo.

Após uma semana as árvores perdem as flores e a paisagem volta a ser monocromática. 

Garça Maguari (Ardea cocoi) e flores da piúva, também conhecida como ipê-rosa- Foto: Fábio Paschoal

Piúva florida – Foto: Fábio Paschoal

João-pinto (Icterus croconotus) e flores do para-tudo – Foto: Fábio Paschoal

No auge da seca (final de setembro/outubro) os jacarés passam a vagar pela planície procurando por uma poça maior, que ainda tenha alimento disponível. Em casos extremos, podem se enterrar na lama e passar até dois meses esperando pelas próximas chuvas. Mas a situação pode ficar tão dramática que as mães chegam a comer seus próprios filhotes. É uma época de fartura para os urubus, carcarás e outros animais que se alimentam das carcaças daqueles que não conseguiram suportar as condições severas trazidas pela seca.
O vento e a poeira se tornam companheiros constantes, o capim fica extremamente seco e um raio pode começar um incêndio a qualquer momento, espalhando o fogo rapidamente. Mas, quando parece que tudo está perdido, as chuvas começam, trazendo a água que renova a vida e inicia um novo ciclo no Pantanal.
 
 

Pôr do Sol no Pantanal – Foto: Fábio Paschoal

 

Kruger: o Parque Nacional mais famoso da África do Sul merece ser visitado

Mapa do sul do Kruger National Park, África do Sul. Nossa rota durante os sete dias que ficamos no Parque está em azul

Capítulo 20 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul

Era nosso último dia no Kruger National Park, na África do Sul. Saímos de Berg-en-Dal camp para o safári matinal com um sentimento meio estranho. Uma mistura de felicidade por ter vivido experiências tão incríveis e uma certa tristeza por ser o último dia.

[Veja a introdução e o sumário da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

[Veja o capítulo 19 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

Logo na primeira curva encontramos os cachorros-selvagens, que haviam acabado de comer um impala. Os jovens fizeram de tudo: brincavam com a comida, se abraçavam, corriam um atrás do outro, perseguiram e foram enxotados por zebras. Já os adultos permaneciam deitados, com as barrigas cheias de comida. Era um grupo gigante de mais de 20 cães. Ficamos com eles por mais de uma hora, até que eles saíram para beber água em uma poça distante. Nos despedimos dos mabecos e seguimos em frente.

Check out de Berg-en-Dal, Kruger National Park, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Logo que saímos,  um carro que vinha no sentido contrário parou do nosso lado e disse que haviam acabado de ver leões em um waterhole logo à frente. Avisamos dos cachorros-selvagens, agradecemos e seguimos rumo aos felinos.

Chegamos para encontrar 4 machos. Quando leões chegam a maturidade são expulsos do bando pelo pai. Eles se juntam a outros machos para formar coalizões. Assim fica mais fácil caçar e, no futuro, conquistar um bando. Paramos o carro e vimos uma leoa se aproximar. Os machos entram atrás dos arbustos. Ouvimos alguns rugidos e depois a leoa saiu correndo, seguida pelos leões. Era hora de voltar, tomar um banho, arrumar as malas, abastecer o carro e seguir para Malelane Gate, o portão de saída.

Posto de gasolina de Berg-en-Dal, no Kruger National Park, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

O ranger abriu a cancela para liberar nossa saída, quando olhou para o carro e fez sinal pra pararmos. “Pode sair, por favor? Isso é sangue no seu carro?” Saí assustado! O homem estendeu a mão, abriu um sorriso e disse: “Não se preocupe. É só lama. Seu carro precisa de uma lavagem”. Ele checou o porta-malas, desejou boa viagem e nós, aliviados, saímos do parque.

O Kruger deixou uma impressão muito boa. Nunca havia conhecido um parque nacional com uma estrutura tão incrível. Todos os rest camps que visitamos tinham mercados e lojas com grande variedade de itens, restaurantes bons, bangalôs aconchegantes equipados com tudo o que você precisa (incluindo a churrasqueira para o braai de todo o dia), área de camping para quem deseja um preço mais barato. E a vida selvagem é fantástica!

Deixamos o Kruger com muitas saudades, mas com a certeza de que voltaremos um dia.

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

Nosso carro após o banho de lama, em Lower Sabi, Kruger, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

CUSTOS

Kruger National Park (7 dias e 6 noites em bangalôs mais taxa ambiental): US$ 1.104,00

Aluguel do carro: US$ 279,28

Pedágios ida e volta Johannesburgo até Kruger: US$ 50,74

Diária no Protea Hotel em Johannesburgo: US$ 121,58

Total da parte terrestre para duas pessoas: US$ 1555,60

Total da parte terrestre por pessoa: US$ 777,80

Passagem aérea por pessoa com a TAAG: US$ 480,00 (aproveitamos que estávamos na África do Sul para visitar Cape Town e fazer a Garden Route mas isso é assunto para o próximo post)

Lower Sabie – Berg-en-Dal: rota cansativa, mas com muitos animais

Com sua plumagem preta, branca, cinza e castanha, face e pernas vermelhas,o bateleur (Terathopius ecaudatus) é uma ave de rapina linda e inconfundível. Ainda é comum por todo seu território. Porém, em áreas de fazenda de criação de gado, onde o uso de veneno em carcaças para exterminar chacais e outros predadores é prática comum, a ave desapareceu – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 19 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul

Comecei o dia sozinho porque Vanessa queria descansar um pouco mais, depois do passeio incrível que tivemos no dia anterior. Peguei a estrada para checar se o guepardo machucado que vimos na focagem ainda estava por ali. Passei novamente pelo grupo gigante de impalas, búfalos e duas aves que já tinha visto na Tanzânia: secretário e abetarda-gigante. Não encontrei nenhum felino.

[Veja a introdução e o sumário da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

[Veja o capítulo 18 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

O ground hornbill (Bucorvus leadbeateri) é considerado vulnerável pela IUCN. Porém, devido à perda do habitat natural para a agricultura, ele está na categoria ameaçada na África do Sul. no Kruger, um projeto de conservação tenta salvar a espécie – Foto: Fábio Paschoal

Voltei para Lower Sabie para pegar a Vanessa. Colocamos as malas no carro e seguimos pela H4-2. No caminho passamos por elefantes cruzando o rio Sabi, kudus, punja, varano, calaus-gigantes, grey go awey bird, burchell’s coucal, swainson’s francolin (os francolins são conhecidos como aves suicidas porque correm no meio da estrada, na frente dos carros).

Chegamos em Crocodile Bridge, o mais quente e mais úmido acampamento do Kruger. Mesmo assim, está se tornando cada vez mais popular porque, segundo o Kruger Park – Map & Guide, a concentração de animais selvagens nos arredores é muito grande. Nós comprovamos essa afirmação.

Águia-belicosa/ martial eagle (Polemaetus bellicosus). A maior águia da África voa bem alto e, quando avista uma ave, mamífero ou réptil, mergulha e, no último momento desfere um golpe fatal com as garras. O filhotão tem a cabeça branca, o adulto possui a cabeça preta – Foto: Fábio Paschoal

Monitor-de-garganta-negra/ Rock monitor (Varanus albigularis) – Foto: Fábio Paschoal

Bem próximo de Crocodile Brige camp vimos duas aves de rapina que eu queria muito ver: águia-belicosa e bateleur (foto de abertura do post). Abelharucos-de-testa-branca, pin-tailed whydah (que apelidamos carinhosamente de rabito) e pica-peixe-de-barrete-castanho também estavam por ali.

Os três rinocerontes que tretaram na manhã anterior continuavam no mesmo lugar. Javalis, impalas e mangusto-anão, foram outros mamíferos que vimos nas proximidades do camp.

O javali-africano (Phacochoerus africanus) possui calos faciais para proteger os olhos e o focinho. Os machos têm um par extra para proteger a mandíbula. Esses calos também podem ser chamados de verrugas e são a razão para o nome comum da espécie em inglês: warthog (porco com verrugas) – Foto: Fábio Paschoal

Pin-tailed whydah (Vidua macroura), que apelidamos carinhosamente de rabito – Foto: Fábio Paschoal

African hoopoe (Upupa africana), uma ave bem diferente – Foto: Fábio Paschoal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como não há restaurante em Crocodile Brige, comemos um lanche e seguimos para Beg-en-Dal pela rota S25, S114 e S110. Teoricamente janeiro é temporada de chuvas, mas o Kruger estava sofrendo com a escassez. Passamos por muitos leitos de rios que estavam secos. Em uma de nossas buscas com os binóculos, achamos uma leoa muito magra que parecia não ter energia para se mover. Para nossa surpresa ela levantou da areia e foi para sombra.

Apesar de ter saímos tarde e do sol forte, vimos muitos bichos pelo caminho: elefantes, búfalos, zebras, impalas, girafas, abelharucos, roleiros. Mas acho que teria sido melhor sair cedo, por volta das 5h, ir devagar até umas 10h e depois acelerar. Andamos quase 100 quilômetros e chegamos a Berg-en-Dal por volta das 14h, muito cansados.

Roleiro-europeu/ European roller (Coracias garrulus) com escorpião – Foto: Fábio Paschoal

Decidimos fazer um braai, tomar uma cerveja, fazer as últimas compras na lojinha, arrumar as malas e descansar. O dia seguinte era o dia da despedida do Kruger.

Veja capítulo 20 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

Rota entre Lower Sabie – Crocodile Brige – Berg-en-Dal em azul (clique no mapa para ampliar)

DICAS

  • Faça rotas longas no período da manhã: É melhor percorrer grandes distâncias no período da manhã, se ocorrer algum imprevisto você tem tempo de sobra para chegar no rest camp antes do fechamento dos portões.
  • Faça rotas curtas no período da tarde: É muito chato estar observando algo incrível e ter que sair para voltar para o camp antes do fechamento dos portões para não levar multa. Se você estiver próximo do acampamento, vai poder ficar mais tempo com os animais e menos tempo na estrada.