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ASPECTOS DA CULTURA DO NORDESTE

Famosa pelo seu litoral com belíssimas praias, a Região Nordeste é representada por nove Estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. É uma Região cheia de contrastes, em relação ao quadro físico, à vida humana e às atividades econômicas. Veremos então uma região plural na cultura e na própria geologia regional, com largas extensões de terras baixas junto ao litoral e às terras altas no interior.



A bacia do famoso Rio São Francisco exerce, principalmente no Nordeste, uma grande influência cultural e socioeconômica. Outras bacias hidrográficas do Nordeste são, também, importantes e apresentam variações no que se refere aos seus regimes de chuva, com cheias no verão e vazantes no inverno. A seca é marcante na Região Nordeste. Muitos rios perdem completamente suas águas ou transformam-se em pequenas lagoas. É muito curiosa a mitologia do Nordeste. Lá existe o caipora, às vezes chamado de caapora, que é um personagem que pode ser visto de várias maneiras. Pode ser macho ou fêmea; em alguns lugares é índio; em outros é um caboclo baixo, sempre montado num porco-do-mato.


Você já ouviu falar no labatut? Este nasceu de um fato histórico. Contam que um general francês chamado Pedro Labatut agia com tamanha brutalidade que, na Bahia e no Ceará, o povo o transformou num ser monstruoso e aterrorizante. Só para você ter idéia, este personagem é visto permanentemente faminto, pés redondos, cabelos compridos e sem pentear, corpo coberto de pêlos, como o do porco-espinho, dentes saindo pela boca e o mais estranho: um único olho no meio da testa.


Mito universal muito antigo, o lobisomem está muito presente no imaginário popular nordestino. É um ser humano que vira lobo nas noites de quinta para sexta-feira, principalmente se for noite de lua-cheia. Mas fique bem prevenido: se ele aparecer, é só fazer o sinal-da-cruz ou então rezar três ave-marias que ele desaparece. Já o pé-de-garrafa vive nas matas e nas capoeiras. Tem esse nome porque ele deixa pegadas semelhantes ao fundo de garrafa. De origem africana, temos o quibungo, um meio-homem, meio-animal.


O papa-figo é outro tipo de lobisomem que aparece como um negro velho e sujo. Dizem que no arquipélago de Fernando de Noronha, nas noites às vésperas de tempestade, aparece um vulto branco de uma linda mulher: é a alamã. No Rio Parnaíba, outro mito muito conhecido é o cabeça-de-cuia: alto, magro, cabelos caindo pela testa, ele gosta mais de andar pelo rio durante as enchentes e devora as crianças que nadam no rio.  Histórias como a do homem pequeno, a do engenho mal-assombrado, a da moura torta, a da madrasta que enterrou a enteada nas raízes de uma figueira, a do corpo santo, a de João Grumete e a dos sinos que tocam sozinhos são algumas das mais contadas naquela região.


Mas também muitas lendas indígenas conhecidas na Amazônia são repetidas no Nordeste, como as da origem da mandioca, as do curupira e a do algodão. Personagem marcante no Nordeste é o beato que nasceu com a seca, a miséria e a forte espiritualidade. De cidade em cidade, experimentando o pó das estradas, o beato surge com roupas, às vezes, compridas e alvas, outras vezes coloridas e esfarrapadas. Ele carrega sempre uma cruz e longos rosários de contas de Nossa Senhora. Na boca, palavras que lembram profecias bíblicas. São famosos os beatos Manoel Antônio, José do Padre, o beato Francelino, Zé da Cruz, Zé Leôncio, o monge João Maria, o beato Lourenço. O mais conhecido é Antônio Conselheiro.


Aliás, inspirado na história de Canudos, cidade fundada por Antônio Conselheiro, Euclides da Cunha escreveu o romance Os sertões, e o cineasta Glauber Rocha produziu o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Ainda inspirado em Canudos e na saga de Antônio Conselheiro, o escritor peruano Vargas Lhosa escreveu o romance A guerra do fim do mundo. Outro personagem mítico típico do agreste é o penitente. Ele tem a característica de ir aos cruzeiros ou às portas das igrejas para fazer penitências, que vão desde a autoflagelação ou flagelação mútua, que consiste em usar cordas ou pedaços de ferro com lâminas afiadas nas pontas, com as quais se fere, causando dor e sangue.


Em Juazeiro, chegou a existir a Ordem dos Penitentes e, ainda nos tempos atuais, durante a Quaresma, no Vale do São Francisco, acontece a autoflagelação dos penitentes que costumam, de joelhos, fazer a penitência de Monte Santo e outras elevações. Com certeza você já ouviu falar de Lampião e Maria Bonita. Lampião ou Virgulino Ferreira da Silva foi um cangaceiro que criou uma lenda em torno de si. Era um líder nato, guerreiro, cantador de emboladas, exímio dançarino de xaxado, vingativo e incendiário. Mas o cangaceiro não é somente a imagem de Lampião. Temos outros nomes de cangaceiros menos rudes, como Antônio Silvino, Francisco Xavier de Araújo Chaves, Corisco e Sinhô Pereira. O cangaceiro ocupou todo um ciclo sociocultural no Nordeste.


Foi e ainda é personagem de livros, poesias, artes plásticas, literatura de cordel e até do cancioneiro popular. A jangada e o jangadeiro também são elementos típicos do litoral nordestino. Feita, geralmente, com seis paus de peiuba, madeira forte e leve ao mesmo tempo, a jangada tem vários acessórios: o banco de vela; a carlinga, tabuleta em que prende o pé do mastro; a bolina, tábua que serve para cortar as águas; a vela; a ligeira, uma corda presa ao mastro; a quimanga, cabaço que guarda a comida; a cuia de vela, concha usada para molhar a vela; a tupinamba, linhas com anzóis; o samburá, cesto para guardar o peixe; o banco de governo, onde se assenta o mestre; entre outros instrumentos. Mas o jangadeiro conta mesmo é com a proteção de São Pedro, sempre homenageado nas bonitas festas de praia que eles promovem.


Poéticos e lendários trabalhadores do mar, os jangadeiros gostam de fazer quadras, versos e canções sobre a vida que levam ao sabor dos ventos e das tempestades. Outro personagem nordestino é o vaqueiro, que surgiu da civilização do couro, época em que a expansão do gado pelo sertão ocupou um papel fundamental na colonização. Essa civilização teve no vaqueiro seu elemento mais visível. Imagine só o sertanejo que, acostumado com o calor e com as plantas espinhosas, teve de criar um estilo de vida diferente. Começando pela roupa, ou como se diz, a vestia – normalmente feita de couro para não rasgar com os espinhos –, perneiras sobre as calças, alpercatas ou botinas, além de uma proteção para o peito, como se fosse um escudo amarrado ao corpo; luvas nas mãos e um gibão por cima de tudo.


Na cabeça, o chapéu de abas largas, comum na Bahia; o redondo, mais usado no Ceará, no Piauí e no Rio Grande do Norte; e o chapéu de bico , tradicional em Pernambuco. É claro que daí tinha de surgir uma festa: a vaquejada. Nesta festa, o vaqueiro tem de mostrar sua destreza em derrubar o boi em dois ou mais movimentos; montar cavalo xucro; apresentar-se como bom laçador; participar dos jogos de lança e argolinha; entrar em corridas de várias modalidades. Enquanto os vaqueiros lutam na arena, o forró esquenta as ruas e as praças. No litoral do Nordeste, concentra-se a maior parte dos folguedos. Cada um tem sua história, sua época, sua característica.


São reisados e pastoris, os guerreiros alagoanos, o quilombo, o maracatu de Pernambuco, os caboclinhos, o afoxé, na Bahia, além da marujada, o bumba-meu-boi e outros folguedos e tradições. Algumas festas populares, nem sempre folclóricas em sua essência, vão incorporando certos elementos da cultura popular, especialmente o carnaval em Salvador, Recife e Olinda. No interior, muitas festas são ligadas à religiosidade popular. São exemplos as festas em homenagem ao Senhor do Bom Jesus da Lapa, na Bahia.


É notável a variedade de danças e ritmos nordestinos. Para começar, vamos falar da capoeira, que é uma mistura de dança e luta, de utilidade para o lazer e para a defesa pessoal. A Bahia parece ter sido seu berço e foi introduzida pelos escravos. Exige muita agilidade de seus praticantes, pois ela se desenvolve em torno de passos como as rasteiras. A marcação rítmica é essencial, feita pelo berimbau, pelo ganzá e pelo pandeiro e, em alguns lugares, por caixas de percussão.


Tem também o coco, dança com várias modalidades: o coco de-ganzá ou coco-de-zambê, se o acompanhamento for feito com esses instrumentos; o coco-da-praia e o coco-de-usina, conforme o local em que cada música nasceu; os cocos-de décima ou coco-de-oitava, dependendo do formato poético empregado na feitura da letra; e o coco-de-embolada, de acordo com o processo poético-musical. Embora executado em todo o Nordeste, é em Alagoas que o sapateado é mais vivo, com uma grande roda de homens e mulheres, tendo ao centro o solista, que cria vários passos e puxa o refrão, repetido pelos participantes.


O coco é uma das mais perfeitas uniões musicais com influências do branco, do índio e do negro. Os frevos são famosos em Pernambuco, especialmente no Recife. Derivado da capoeira, o frevo arrasta multidões no carnaval. Na diversidade da cultura popular nordestina, muitos outros ritmos acompanham o povo: o baião, o xaxado, o xote, o babaçuê, o cabina, o quilombo, o rojão, o bambelô, o bate-coxa, sendo os instrumentos mais comuns para estes ritmos o agogô, o triângulo, a zabumba e a sanfona. Quem, neste imenso Brasil, não ouviu falar de Luiz Gonzaga, grande músico nordestino, que se destacou com o baião e o xote nordestino?


Como era de se esperar, no Nordeste plural há uma rica e va- há uma rica e va- uma rica e variada culinária. No litoral, deliciamo-nos com os mais variados pratos que têm como principais ingredientes o coco e os frutos-do-mar. No sertão, pratos que utilizam a farinha-de-pau (mandioca), a carne-de-sol, bodes e cabritos. E, com forte influência negra, os pratos dedicados aos orixás, o dendê, a pimenta e a refinada arte de preparar os alimentos que, afinal, são comidas-de-santos. Por estado, temos os seguintes destaques:


  • Maranhão: o arroz de cuxá, o sorvete de bacuri, os refrescos e mousses de cupuaçu, os vinhos de buriti e juçara, o licor de jenipapo, o doce de murici e a famosa torta de camarão maranhense.

  • Rio Grande do Norte: o peixe da comadre, a cabeça de galo, a buchada e a mão-de-vaca.

  • Alagoas: o feijão de coco, a papa de feijão, o sururu de capote, o bolo de papa de puba, a tapioca e a má-casada.

  • Bahia: o xinxim de galinha, a maxixada com leite, a maniçoba, a viuvinha-de-carneiro, a baba-de-moça, o sarapatel, o vatapá e o arroz de haussá.

  • Piauí: o escaldado de tapioca, o chá-de-burro, a caranguejada, o quibebe-mole, a abobrada, o pintado e o mungunzá.

  • Ceará: a carne-seca assada com pirão de leite; a paçoca; o refresco de aluá; o pé-de-moleque; o grude e o bolo de carimã.

  • Pernambuco: a sopa de peixe, a sopa de arroz com farinha, o caldo de cabecinha, o arroz de coco, a sopa de macaxeira, o arroz de caldo, a omelete de arroz, o peixe escabeche, o camarão de coco, o guaiamum frito, a casquinha de lagosta e a farofa do sertão.

  • Paraíba: o bolo de peixe, o tomate recheado com arroz, o angu de arroz, o camarão de coco, a lagosta cozida, o sururu de capote, a lagosta no espeto e a fritada de caranguejo.

  • Sergipe: o beiju-de-coco, a paçoca de carne-de-sol, o aferventado de carne, a compota de carambola, o tijolinho de banana, o feijão guisado e o abará.


Religião


Em todas as partes do Nordeste, encontramos os santuários oficiais que atraem romarias e caravanas que visitam seus padroeiros. Vamos citar alguns rituais que misturam crença e festa. Em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, cidade que é um dos maiores exemplos de fé cristã no Brasil, reúnem-se milhares de pessoas na Festa do Senhor Bom Jesus. Em Pedra Bonita, Pernambuco, existe a crença em torno da possível reencarnação do rei português dom Sebastião. A cidade de Canindé, no Ceará, presta veneração a São Francisco das Chagas e atrai cerca de 100 mil romeiros.


Em Olinda, Pernambuco, muito popular é a Procissão dos Lírios, em homenagem a Santo Antônio. No Sítio das Lajes, em Serrita, alto sertão de Pernambuco, vaqueiros, a cavalo – vestidos de couro da cabeça aos pés –, participam da Missa dos Vaqueiros, que tem uma história bem interessante. Naquela missa, em lugar da hóstia feita de farinha de trigo, os fiéis recebem farinha de mandioca, queijo ou rapadura. Em Nova Jerusalém, município de Brejo da Madre de Deus ergue-se o maior anfiteatro ao ar livre do mundo, onde artistas do cinema e da televisão encenam a Paixão de Cristo, ao lado de milhares de figurantes, turistas e devotos do Brasil e do exterior.


Em Salvador, são famosas a Festa do Senhor dos Navegantes e a Lavagem do Senhor do Bonfim. A pregação das Santas Missões é uma prática muito comum no Nordeste, quando se celebram batizados, confissões e muitos casamentos são regularizados. Frei Damião, um frade franciscano, foi o missionário mais famoso do Nordeste. Você já ouviu falar da história do padre Cícero Romão Batista? É claro que sim! Ele é o Padim Ciço, uma figura muito popular em todo o Nordeste. Para o povo ele é um santo, e sua estátua no Juazeiro do Norte é um dos grandes monumentos do Brasil. Em terras do Nordeste, muitas são as manifestações populares de origem africana.


Uma das mais conhecidas é o candomblé, que tem sua base teológica na existência de um deus chamado Orumilá, Olorum ou Zambiapongo. Para comunicar-se com esse deus, acredita-se na existência do Exu e dos orixás. Há centenas de orixás, mas no Brasil destacam-se: Oxalá, Iemanjá, Oxun, Ogun, Omulu-Obaluaiê, Nanã Buruque, Xangô, Oxumarê, Ifá e Iansã. Cada orixá tem um toque especial de atabaque, um ritmo, uma coreografia, roupas próprias e até saudações e comidas próprias.


A religiosidade também tem grande influência na medicina popular nordestina. Há uma mistura de plantas e crenças herdadas dos índios, “mezinhas”, rezas fortes, feitiços dos brancos, orações, axés e receitas negras. Até nas crendices a religiosidade tem sua manifestação. Quando, por exemplo, uma criança é bonita sempre tem alguém para dizer: “benza-deus”. E nem pense em ir para o mar sem levar a imagem do Senhor dos Navegantes. Mas outras crendices também são populares como o canto do acauã, espécie de gavião, que, se estiver em pau verde, é sinal de chuva, mas se for em pau seco, vai ser tempo com sol.


Para curar gagueira de menino é só bater em sua cabeça com uma colher de pau por três sextas-feiras seguidas. Nada de apontar o dedo para estrela cadente no céu, porque pode aparecer verruga no dedo. A linguagem também configura como um patrimônio imaterial do Nordeste. Quando uma pessoa é valente, ela é curada, ou então, “desacismada”. Se o homem é solteirão e só gosta de farra, ele é um “damo”. Mas se for atrevido e impertinente, é um “lutrido”. Enfim, no Nordeste não falta vocabulário para diferentes situações. Quem precisa ter na cabeça uma infinidade de palavras são os emboladores e os cantadores de cordel que, num desafio, em questão de segundos, precisam responder ao parceiro adversário.


E aí vêm os versos sobre os mais diferentes assuntos, desde a beleza da mulher, a coragem dos heróis, o destemor de um boi bravo na caatinga, a honra da família, o temor a Deus, as pendengas dos cachaceiros, as histórias dos fantasmas e mulas-sem-cabeça e até atualidades noticiadas nos meios de comunicação. A literatura de cordel é formada de livretos que, usando tipografia e xilogravuras, tomou conta do Nordeste a partir do final do século XIX. A feira típica nordestina foi o ponto de partida para a expansão do cordel. Quando o movimento toma conta da feira, vem o poeta e esparrama seus livros numa esteira, ou colcha, ou ainda os coloca em mesas e caixotes. O que é muito admirado no cordel é a rapidez em que os versos são feitos.


O artesanato é marcado pelas rendas que se transformaram em produto de exportação, tal sua riqueza e sua tradição uma herança de arte e trabalho preservados há duzentos anos. Também é no barro que o Nordeste se destaca. Temos, por exemplo, a cerâmica utilitária baiana, à base de moringas e panelas, além dos pequenos trabalhos em barro: vaqueiro a cavalo, jegues, burrinhos, crianças, cantores e cachaceiros, cangaceiros, santos – e tudo aquilo que faz representar a vida diária nordestina. Ainda podemos ver as cesteiras de palha de carnaúba do Aracati; as tecelãs de Jaguarana; os escultores de madeira; os ceramistas de Juazeiro do Norte; as louceiras de Viçosa; os escultores de casca de tartaruga, em Canoa Quebrada; os fabricantes de garrafa de areia colorida das praias pernambucanas e cearenses.



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