Esta semana, o mundo da arte foi supreendido pela demanda do artista Maxwell Alexandre para retirada de sua obra de uma exposição recém inaugurada em Inhotim. A mostra, inaugurada em 18 de novembro e intitulada “Quilombo; vida, problemas e aspirações do negro“, foi organizada pela direção artística e a equipe curatorial de Inhotim, dando continuidade à pesquisa iniciada pelo museu em 2021, em parceria com o Ipeafro, sobre a obra do artista, poeta, dramaturgo e ativista Abdias Nascimento.
Em uma postagem nas redes sociais, Maxwell Alexandre se disse constrangido com a comunicação da exposição. “Meu trabalho e meu conceito foram usados sem meu consentimento como parte central da exposição”, explicou o artista. “Só descobri que isso estava acontecendo assim na última hora e mesmo expressando meu constrangimento e insatisfação e dizendo que não queria fazer parte dessa mostra, eles não me respeitaram, me atropelaram ! Retire meu trabalho Inhotim”.
A obra de Alexandre é um conjunto de pinturas suspensas em grande escala da série “Novo Poder”, de 2021, adquiridas para o acervo do instituto. A obra foi exposta ao lado de trabalhos de outros 32 artistas e coletivos, algo que também chamou atenção do artista, uma vez que outra exposição foi inaugurada simultaneamente, com trabalhos de apenas três artistas brancos, praticamente exposições individuais, segundo Maxwell. Esta diferença no tratamento levou o artista a afirmar que só terá uma obra no complexo cultural quando tiver seu próprio pavilhão individual.
Como Inhotim dedica pavilhões individuais apenas a artistas de renome internacional, a imposição foi mal recebida e seu tom vaidoso foi muito criticado. Posteriormente, o artista deletou algumas destas postagens, mas volta a publicar nas redes sociais reforçando sua posição: “sou o artista que sou não por capricho ou vontade, mas por propósito. não vi ninguém chegar a uma posição parecida e colocar a carreira em risco a esta altura. com grana e prestígio dos brancos eu não deveria virar as costas para a casa branca e botar tudo a perder.(…) então meu recado final aos brancos colecionadores, mecenas, galeristas, todos que fingem estar do meu lado por hoje eu ter o capital que tenho, seja simbólico ou intelectual, meu cinismo com vocês é espelho. e saibam, ao comprar minha obra não pensem que tão comprando minha cumplicidade e silêncio. minha autonomia crítica não está a venda. (…) ainda sobre o papo de vaidade e egocentrismo, tudo o que fiz estes dias tá mais pra ser taxado de autopromoção do que admitir que eu tenho uma capacidade critica fudida.” (sic).
Suas colocações deflagraram uma série de discussões nas redes sociais, principalmente sobre a presença de artistas negros na instituição e no circuito artístico como um todo e sobre o tom colonialista de certas ações de inclusão.
Uma semana após o pedido de retirada da obra, Inhotim acatou a solicitação do artista e lançou um comunicado oficial em seu site: “o Inhotim se posiciona oficialmente por meio desta nota em relação aos recentes acontecimentos envolvendo a exposição Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, e manifesta, num espírito de conciliação, sua intenção de, a pedido do artista, retirar da exposição a obra sem título, da série “Novo Poder” (2021), de Maxwell Alexandre”. No mesmo comunicado, a instituição ainda convida todos os artistas da mostra para um encontro “para escutar as críticas, os desejos e as ideias no intuito de formular um conjunto de recomendações para melhorias nas práticas institucionais”. (LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA AQUI)
O artista postou nas redes sociais que recebeu o convite para o encontro e quer participar, mas precisa de tempo para decidir se estará presente ou não.
Conheça mais sobre a obra de Maxwell Alexandre em matéria sobre o artista na Dasartes.