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Com vilão que chora e batmóvel 'cego', Batman do brasileiro Rafael Grampá sofre com chuva de clichês

História em quadrinhos é muito bem desenhada, mas diálogos e trama sofrem com pobreza de ideias

Odair Braz Jr|Do R7

Batman na arte do brasileiro Rafael Grampá
Batman na arte do brasileiro Rafael Grampá Batman na arte do brasileiro Rafael Grampá

Rafael Grampá é um grande desenhista. Ponto. Dito isso, a DC Comics deveria tê-lo colocado apenas para desenhar o Homem-Morcego, mas infelizmente ele também faz o roteiro de Batman: Gárgula de Gotham, uma das HQs mais aguardadas do ano e que acabou de ser lançada no Brasil.

Esta minissérie de Grampá está fora da cronologia normal do herói, ou seja, não se conecta com toda sua história passada. Assim, o desenhista pode criar algo do zero, sem amarras. E aí ele faz o quê? Inventa um novo vilão, chamado Crytoon, que chora. Sim, este novo inimigo do Batman solta lágrimas quando ataca alguém. Por quê? Porque é aficionado em um antigo desenho animado em que o protagonista faz diversas maldades enquanto também chora. Tudo bem, a gente sabe que vilões têm muitas vezes motivações bizarras, mas vamos combinar que rolou um exagero aqui. Um vilão que chora?? Qual o sentido disso?

Por outro lado, o gancho da história é até interessante. Bruce Wayne quer dar um fim em sua persona pública para ser Batman 24 horas por dia, sete dias por semana, tudo porque Gotham precisa muito de ajuda e Wayne seria um empecilho para que isso aconteça. O mordomo Alfred tenta impedir que seu patrão siga com esta ideia.

Uma outra bizarria de Grampá é o batmóvel, chamado aqui de Máquina Cega. O brasileiro criou uma versão do carro que simplesmente não tem janelas. A cabine é fechada com metal — aço, talvez — e o Homem-Morcego dirige guiado por GPS. Entendi. É para dar mais proteção ao herói e também para emular um morcego (que é cego), mas não deixa de ser uma coisa bem estranha. Se rola um probleminha com o GPS, Batman fica bem encrencado dentro do veículo. Enfim...

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Como Grampá é um ótimo desenhista, o visual de Crytoon e do Batmóvel são bem legais, não dá para negar. Mais do que isso, toda a arte desta primeira edição é muito bem-feita, com bastante detalhes de Gotham, da batcaverna, das construções, boas cenas de ação etc. A paleta de cores é bem bonita. O brasileiro também desenvolve um novo uniforme para o Cavaleiro das Trevas, todo meio realista, mas não tenho certeza se gosto. A capa e a máscara têm design bem diferentes do tradicional e os dois adereços já tiveram dias melhores nas mãos de outros artistas.

O problema principal de Gárgula de Gotham, pelo menos nesta primeira edição, está no texto. Grampá trabalhou anteriormente com Frank Miller numa série de O Cavaleiro das Trevas e parece ter sido muitíssimo influenciado pelo roteirista norte-americano. Assim, Rafael parte para o clichê e para uma cópia malfeita do que Miller fez no passado. Veja, Frank também deu muitas derrapadas em seus trabalhos mais recentes — inclusive com diálogos pavorosos — e o brasileiro parece ter se inspirado nesses momentos ruins de Miller. Assim a gente vê surgir frases e pensamentos toscos na linha “nenhuma criança deveria chamar o túmulo de seus pais assassinados de lar. Porque Gotham City e aquele túmulo são a mesma coisa”. Há montes de outros trechos clichezentos como este, porque Grampá realmente não soube economizar. Tacou lá dezenas de diálogos fracos e pensamentos sem imaginação... um pastiche de tudo o que já foi feito de ruim com Batman ao longo das décadas.

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Batman encara Crytoon, o vilão que chora
Batman encara Crytoon, o vilão que chora Batman encara Crytoon, o vilão que chora

O brasileiro, em seu trabalho autoral mais famoso, a HQ Mesmo Delivery, já dava dicas de que gosta de um bom clichê. Nesta sua história em quadrinhos — que também é muito bem desenhada, diga-se — o artista peca na criação de diálogos e apela para chavões diversos. Uma pena. E uma pena maior ainda ter mantido este seu estilo no Batman.

Esta HQ, Gárgula de Gotham, é um projeto grande. Grampá tem aqui a oportunidade de criar personagens do entorno do Batman, como o vilão Crytoon e outros que aparecerão na trama. Seu acordo com a DC Comics permite que receba royalties por estes novos personagens, o que quer dizer que pode ganhar um bom dinheiro caso esta história, ou mesmo Crytoon, venha a ser usada nos cinemas ou em games, por exemplo. O mesmo vale para o novo visual do batmóvel. É nítida a intenção de que esta história vá eventualmente para as telas, o que seria ótimo para Rafael. Um bom roteirista poderia dar um jeito na história e nas falas e aí, quem sabe, teríamos um bom filme com um grande visual.

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Em todo o caso, este primeiro número da minissérie não deixa uma boa impressão e dificilmente a coisa vá melhorar muito daqui em diante, embora torça por isso. O gibi vale a pena pela arte de Grampá, que realmente prende a nossa atenção e é estonteante em alguns momentos, mas o resto — até agora — é um tanto quanto decepcionante.

Oportunidade aparentemente perdida.

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