• Miriam Grobman*
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Mulher, heroína, trabalho (Foto:  )

(Foto: Canvas )

No meu trabalho com as mulheres profissionais, encontro várias com sintomas de que eu chamaria de “complexo de mulher maravilha”: um alto nível de convicção de que elas têm de trabalhar muito duro para demonstrar que conseguem superar qualquer barreira.

Muitas mulheres topam lidar com qualquer desafio impossível, em qualquer ambiente de trabalho.

O preço que elas pagam por isso, muitas vezes, é alto demais. Não estou falando aqui sobre demandas razoáveis de um cargo de alta responsabilidade, mas em sacrifício completo da vida pessoal e racionalização de ambiente de trabalho tóxico. Os casos graves que estou vendo envolvem assédio moral pelo chefe ou colegas, trabalhar meses sem tirar férias, assumir sozinha tarefas de toda uma equipe sem recursos adicionais ou aumento de salário, aceitar fazer qualquer tarefa e receber ligações em qualquer horário, etc.

Isso é especialmente prevalente nas áreas majoritariamente masculinas, onde elas sentem ainda mais pressão psicológica para provar que são tão capazes como os homens e merecem estar ali também.

O resultado?

Elas estão estressadas, sobrecarregadas e se sentem presas em situações frustrantes com metas e prazos impossíveis. Elas não conseguem sair do tático para o estratégico e culpam a carga de trabalho por isso. Sei que, em uma situação de crise econômica, às vezes parece que isso é o que tem de ser feito. Mas, observo os mesmos comportamentos nas mulheres de alto potencial fora do Brasil. Elas têm muitas outras opções mas sentem dificuldade em enxergar isso. Um alto nível de auto cobrança, junto com o desejo de se provar a qualquer custo e agradar os outros, cria esse ponto cego.

A saída:

Uma parte importante do desenvolvimento profissional e sucesso como executiva requer estabelecimento de limites mais rígidos com o trabalho.

Vou lhe contar um pequeno segredo: muitas vezes os chefes criam trabalho desnecessário para justificar seu cargo e quase sempre eles não sabem quanto esforço requer uma determinada tarefa ou que algo similar já foi feito. Se você está em um cargo intelectual, seu trabalho não pode ser aceitar tudo, mas sim filtrar essas demandas e ajudá-los a terem resultados melhores.

Aprenda a fazer menos focando no mais estratégico, dizer não e negociar as prioridades (ex: “isso é urgente? Importante? Se for, qual projeto devo despriorizar para focar nesse novo?”). Nunca vai surgir um tempo livre para pensar. Por isso é importante intencionalmente bloquear tempo semanal na agenda para focar em planejamento e pensar em novas ideias.

Às vezes não parece intuitivo, mas isso vai te proporcionar mais tempo para entregar com qualidade e comandar mais respeito dos pares e superiores.

Se seu ambiente de trabalho for realmente tóxico, não há vergonha nenhuma em desistir e procurar outras opções, especialmente se a única razão de ficar é provar que você consegue sobreviver em qualquer situação. Não há um arco-íris no final dessa jornada. O seu próximo emprego agradece.

*Miriam Grobman ajuda líderes de empresas de grande porte e startups criar culturas mais eficazes e fortalecer suas lideranças femininas. Ela também desenvolve programas de liderança para mulheres de alto potencial. Antes de abrir sua consultoria, Miriam trabalhou em finanças e estratégia nos EUA, Brasil e Europa, atuando em setores diversos como mineração, tecnologia, cosméticos, e bancário.