• Fernanda Moura e Taciana Mello*
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Fernanda Moura e Taciana Mello em Tel Aviv (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Fernanda Moura e Taciana Mello em Tel Aviv (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Após uma semana incrível em Jerusalém partimos em direção a Tel Aviv para seguir nossas entrevistas e conhecer um pouco da cidade que dá fama a Israel como “Startup Nation”.  Há apenas uma hora em ônibus, a gente teve a sensação de ter chegado em outro pais. Enquanto Jerusalém traz o lado mais místico e histórico, Tel Aviv transpira modernidade e secularidade. Uma vibe descontraída e praia  que nos lembrou muito o Rio de Janeiro. E para contribuir para essa vibração, durante nossa semana por lá estava rolando um evento de empreendedorismo e inovação, o DLD, e a cidade estava ainda mais agitada, com eventos por vários cantos e delegações de diversos países.

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E as entrevistas? Começamos nossa jornada com a Dra. Orna Berry. Ela  é referência em empreendedorismo feminino em Israel. A verdade é que a gente só teve a real dimensão dessa importância quando as outras empreendedoras se surpreendiam quando sabiam que a gente já a havia entrevistado. O currículo de Orna traz uma variedade de “primeiras”: primeira mulher a se tornar cientista-chefe de Israel, primeira empreendedora a vender sua empresa para um gigante europeu, primeira mulher a ocupar um dos principais postos de comando na Força Aérea Israelense e por aí vai. Hoje, quase aos 70 anos, é CEO de uma joint venture entre Dell e EMC. “Fui contratada aos 61 anos”, diz ela, “temos que mostrar que mulheres não ficam obsoletas com a idade”, afirma em uma das várias declarações contundentes que deu durante o nosso papo.

Orna Berry é referência em empreendedorismo feminino em Israel. (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Orna Berry é referência em empreendedorismo feminino em Israel. (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Ela diz que, desde que começou, muita coisa mudou, claro, e para melhor, mas também não poupou críticas ao ainda presente sexismo e até às próprias mulheres. “Não adianta apenas reclamar que não há oportunidades. Quando a oportunidade surge, as mulheres precisam aparecer”. Ao deixar a posição de cientista-chefe, a discussão interna que predominava era se outra mulher deveria ser apontada. “O receio era se a posição seria enfraquecida. É absurdo pensar dessa forma”, vaticina Orna.

Como em Israel a experiência militar é obrigatória para homens e mulheres (salvo algumas exceções), grande parte das entrevistadas passaram por essa experiência que, sem dúvida, é um diferencial que a gente queria explorar. Todos tem o mesmo treinamento básico inicial, mas logo após são destinados a diversos postos dentro da estrutura do IDF (Israeli Defense Forces). Muito comentado pelas empreendedoras foi o fato de que, apesar de teoricamente igual para todos, mulheres acabam sendo posicionadas em funções mais administrativas. Várias das “startups” de sucesso saem das divisões de elite, majoritariamente formada por homens. Mas independentemente do seu “posto”, todas as empreendedoras foram unânimes em confirmar a importância dessa experiência no desenvolvimento pessoal e profissional. Comentários como “aos 19 anos ter a possibilidade de comandar um grupo de 100 pessoas me trouxe confiança na minha capacidade de liderança”, “tomar decisão durante missões, sem tempo para consultar ninguém, foi importante para aprender a tomar decisões rápidas” foram freqüentes. O que a gente percebeu foi que a experiência e amadurecimento que o trabalho militar proporciona dificilmente será possível adquirir em um estágio durante a faculdade.

Mas falando em grupo de elite, entrevistamos Mor Assia, fundadora da IAngels, uma plataforma de “matchmaking” de investidores e startups. Ela fez parte do tão falado grupo de elite 8200 na IDF, o famoso grupo de Inteligência. “Sempre tive facilidade com matemática e durante o high school peguei classes avançadas em física porque queria entrar para esse grupo de elite”. Assim como no Brasil a gente se prepara para entrar na tão sonhada faculdade, lá também tem esse desejo de entrar para certas divisões durante o serviço militar, pois o networking e aprendizado serão fundamentais na carreira profissional.

Mor Assia, fundadora da IAngels (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Mor Assia, fundadora da IAngels (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Israel está com freqüência na mídia envolvido em questões conflituosas na região e por isso o grande foco de investimento nas áreas de Defesa e Inteligência. Mas como “vender” o país e tudo o que ele tem a oferecer aos turistas, além do que se lê e ouve? Com constantes notícias sobre tensões na região não é uma tarefa fácil e foi pensando nisso que Joanna Landau criou a Vibe Israel. Após o serviço militar, ela seguiu para Cambridge e cursou Direito. Trabalhou como advogada por alguns anos quando decidiu criar uma empresa para mostrar a riqueza cultural e histórica de seu pais. Sua motivação? Os filhos. “Quero que antes que saiam para faculdade em outro pais tenham enraizado tudo de bom o que aqui pode oferecer.”

Joanna Landau fundou a startup Vibe Israel (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Joanna Landau fundou a startup Vibe Israel (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Ao longo desses meses na estrada, a gente tem encontrado mulheres que se reinventaram, buscaram novos caminhos (muitas vezes absolutamente desconhecidos) e se lançaram de cabeça. Dafna Gabbay é um bom exemplo desse perfil. Depois de anos como oficial da Força Aérea Israelense, fez Direito, mas “não chegou a praticar nem um dia”, segunda ela própria brinca. A essa altura, já casada, Dafna e o marido se lançaram ao sonho de morar nos Estados Unidos, onde trabalhou como gestora de clientes em uma das maiores agências de publicidade do mundo. Aprendeu tudo fazendo. Chegou o primeiro set de gêmeos e, após alguns anos….o segundo set de gêmeos! Estava na hora de voltar para casa, em Tel Aviv.

Curical Technologies, startup fundada por Dafna Gabbay, desenvolve material hospitalar tendo o cobre como matéria prima básica (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Curical Technologies, startup fundada por Dafna Gabbay, desenvolve material hospitalar tendo o cobre como matéria prima básica (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

A experiência na área de comunicação (e, claro, a vontade de fazer algo novo), fez com que Dafna topasse enfrentar a tarefa de se juntar a uma startup de biotecnologia até o dia que resolveu ter a sua própria. A Curical Technologies desenvolve material hospitalar tendo o cobre como matéria prima básica. Hoje, o principal produto é para suturas, que está em processo de aprovação pela agência sanitária americana. O que a Dafna conhecia sobre como desenvolver e produzir tecnologia hospitalar? Nada. ”Eu fui aprender tudo e me cerquei de excelentes especialistas”, diz ela, entre uma olhada e outra no relógio, antes de seguir para mais uma reunião com a agência americana. Praticamente todas as empreendedoras que conhecemos por aqui serviram na famosa IDF (Israeli Defense Forces) e comentaram sobre como a experiência impactou na formação. “O meio militar me trouxe um senso muito mais aguçado de propósito e perspectiva”, diz ela. “Dois ingredientes fundamentais para empreender”, completa.

Cada vez mais vemos mulheres trilhando o caminho da tecnologia, mas a diferença entre homens e mulheres atuando na área ainda é bem grande. “Eu vou estar realizada no dia que a WMN perder o sentido”, diz Merav Oren. Para entender a afirmação curiosa da Merav é preciso saber, claro, que a WMN dá suporte e busca atrair mais empreendedoras para o meio tecnológico. Merav é uma empreendedora em série, que nos últimos anos se focou em criar um ambiente (físico e de apoio) para empresas fundadas por mulheres por meio de networking, desenvolvimentos de habilidades, acesso a investidores, troca de experiências e workshops. “ A ambiente não é exclusivo para empreendedoras. Há times mistos e isso é ótimo”, afirma Merav, “mas o foco é na atração e desenvolvimento de empreendedoras. Ainda há muito o que fazer.”, completa. A gente também acha, Merav, que está na hora desse gap desaparecer, e a gente continua trabalhando para que isso aconteça.

A empreendedora Merav Oren nos últimos anos se focou em criar ambiente para empresas fundadas por mulheres (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

A empreendedora Merav Oren nos últimos anos se focou em criar ambiente para empresas fundadas por mulheres (Foto: THE GIRLS ON THE ROAD)

Apesar na nossa passagem rápida por aqui saímos, sem dúvida, com um gostinho de quero mais. A gente sempre se pergunta qual lugar a gente gostaria de voltar no futuro e Israel já ganhou seu posto na lista!

Na próxima semana tem mais, da Palestina, de Gaza. Se por um lado o acesso é difícil, a tecnologia nos aproxima e em um caráter totalmente de exceção, entrevistamos as empreendedoras por Skype, mas isso fica para a próxima coluna!!

*Fernanda Moura e Taciana Mello são caçadoras de inspiração e idealizadoras do projeto The  Girls on the Road

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