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os CESARES
EDITORA poNm,
- LIMITAD
BELO HORIZONTE
COLEc;:Ao DESCOBERT A DO MUNDO
29
CAPA
CLAUDIO MARTINS
TRADUt:;:AO
OSCAR MENDES
Tomo a liberdade de exprimir aqui
minha gratidiio ao DR. SIEGFRIED
LAUFER, professor de Hist6ria An-
tiga" na Univ ersidade de Munique,
pelas aprecia'goes e sugestoes tiio
pertinentes que me apresentou por
ocasiiio da leitura dos capitulos
que compoem este livro.
A soberba potencia de Roma
MARIO E SILA
Os tiranos invejosos
POMPEU E CRASSO
A espada e 0 dinheiro •...••...•......•••......
CICERO
o mais eloquente dos oradores romanos •.......
POMPEU
Sob 0 signo da balanca
CESAR
o genio universal ................... . ..........
Que e a sorte? ..................... ... .........
VITELlO
o Imperador glutao ... . ........... . ...........
VESPASIANO
Urn Imperador crepitante de espirito ............
TITO
A erup<;ao do Vesuvio •.......................
DOMICIANO
o Imperador pega moscas
TRAJANO
E proibido perseguir
ADRIANO
o genio politico ................................
Urn espirito dos tempos modernos ......... . ....
o divino Antinoo ...............................
ANTONINO PIO
Urn soberano piedoso e distinto .................
MARCO AURELIO
Os tempos terminaram
COMODO
o monstro
10
CARACALA
o manto
HELIOGABALO
Um jovem sacerdote de grande beleza
E morreram sufocados sob as flores
ALEXANDRE SEVERO
o favorito dos romanos ......... . .. . .. . .. . . . . ..
Os altos feitos de Ardaschir ...... .. ..... . .. .....
A barreira do destine . ... . ..... . ... . ... .. . ... ...
GALO E EMILIANO
A hora do perigo
VALERIANO
Um morto vivo
GALIANO
o amigo dos cristaos ....... . ..... . .............
ZENOBIA E AURELIANO
Uma mulher chefe de imperio
DIOCLECIANO
Um genio da organiza\;iio
CONST ANTINO
o primeiro imperador cristao .. . ...... . .. . . .. ..
A vitoria da Fe ........ . .. . ........ . ..........
MARIO ..... ...................... .. 107- 86 ant
SILA ............................... 82- 79 "
POMPEU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67- 61 "
CESAR, Ditador ............. . .. . .... . 46- 44 "
AUGUSTO (OTAVIANO) •.... ......• 30 ant
a
14
de emprestimo a outras, mas a HistOria tal qual viv
na memoria de meus leitores.
HERODIANO, "Hist6
Imperadores", I, 1.
TACITO, "Anais", I,
18
descreveram a hist6ria poHtica. Ora, nao se trata
prindpio, dum ponto de vista exclusivo, transbo
parcialidade, isto e, duma especie de impotencia, co
ditavam os historiadores do seculo XIX. Se Suetoni
trou pequeno numero de fatos, jamais alterou 0
mentalidade e 0 clima pSlquico dos homens. Em N
nheceu Suet6nio 0 poeta.
Quanto a Vespa siano, escreveu esse historiador que
dor lamentava-se, em lagrimas, quando lavrava uma
mesmo justificada e necessaria. Parece-me que tais
carater sao tesouros essenciais e inestimaveis que c
alguns erros cronol6gicos ou algumas datas erradas
Menino, adolescente, sob 0 reinado de Nero, adulto
Domiciano, Tacito, ap6s a mort,e dos tiranos, ocu
func;oes sob os reinados mais liberais de Nerva e d
Era uma criatura £ina e senslvel, que sofria prof
com os excessos de sua epoca. Prematuramente en
retirou-se cedo da vida publica para consagrar-se a
quisas e a seus trabalhos intelectuais.
Quando abordou a hist6ria, andava ja pelos quare
anos. A liberdade de que gozara a Republica, antes
de Augusto, iaspirava-Ihe grande admiraC;ao e profu
E certo que 0 regime imperial, 0 principado, como
romanos, assegurava e mantinha a paz. Ora, tal pote
as maos de urn s6 hornem devia obrigatoriamente
e alterar 0 senso moral dum chefe, Fosse ele 0 mai
e provocar e ativar a cortesanice dos sudit6s. Em Ro
veu Tacito, vivia 0 homem sujeito, dos consules aos
e ate aos cavaleiros. E, precisamente, os hom ens m
derados eram os mais hip6critas.
Tacito, romano de velha cepa, viveu do ana 55 ao
depois de J. C. Acho que e 0 mais nobre historiado
atravessado essa epoca desconcertante e perturbad
chama a Hist6ria. Sua superioridade e tao manifesta
de que embirram com ele porque tratou a Hist
artista. Mas e bern porque a fato nao e senao urn
dum todo e porque as vidas dum individuo e dum p
Ihantes a mosaicos, comp6em-se dum numero infin
mentos infimos, que nao poderiamos privar-nos da co
criadora durn Tacita que, erguendo a Hist6ria a al
arte, como que "autopsiou" sua epoca com uma cl
sem igual. Ora, e preciso comprova-Io e proclama-Io
e possivel reconstituir as acontecimentos duma ma
tiva, par assim dizer "tipoI6gica", que, e e essen
tern de comum com "a inven<;ao pura e Simples".
o estilo de Tacita e muito pessoal, conciso e dinam
urn tra<;o, destaca a carater preciso dum personage
dao dum acontecimento. Numa lingua clara, dire
quadros duma nitidez admiravel e que exercem sa
espiritos verdadeira fascina<;ao. Basta aludir as fig
tadoras de Tiberio, de Sejano, da jovem Agripina
Como e atraente e apaixonante a intui<;ao profe
historiador que nos deu dos anti gas germanicos as
mais empolgantes e mais caracteristicas da Antigui
pura? Par que nao? A arte caracteriza igualmen
hist6ria antiga.
As obras modernas de hist6ria, par mais precisas
guardam imperfei<;6es, porque e impossivel atingir
par meio apenas da ciencia exata, vazia de qua
Devo confessa-lo: Tacita ensinou-me que a verda de
capaz de ser, se possivel, intensificada as custas das
exteriores.
Quanta a Salustio, a homem nao e tampouco urn "
16gico", mas, pelo contrario, urn historiador imparc
vivo. E evidente que esse plebeu, admirador da epo
cionaria, plainava demasiado "acima da refrega"
demasiado a sua conta a doen<;a do povo roman
escrito essencialmente com a finalidade de "recalca
prios vicios"!
'20
tarco e nas obras de Horacio que se descobrem as in
mais matizadas a respeito de Cle6patra. Ora, nao
conhecer a verdadeira Cleopatra, filha duma civili
rupta, mas mulher nobre, corajosa e culta? Vma
nao uma egipcia? E, a este prop6sito, as tres p
Horacio, non humilis mulier (mulher sem baixeza
muitissimo mais exatas e evocadoras do que urn long
de pura imaginac;ao!
Creio que 0 homem moderno tern necessidade doutr
que 0 que en contra nos romances historicos; creio
sede de conhecer os fatos - veridicos e precisos -
as grandes figuras do passado. Ora, e fato prova
homem moderno ignora 0 caminho que pode conduz
fORtes purasl
Os artistas perfeitos do alto latim, Cleero e Horaci
o maravilhoso bi6grafo dos Cesares, Suetonio, 0
habil biografo imperial, Tacito, 0 historiador de
bitlnio Dion Cassio, 0 alexandrino Herodiano, Lacta
escritos pare cern ja libertar as chamas que, no futur
das fogueiras) e Eusebio que, como testemunho de
dade, depositou sua derradeira obra sabre a pedr
do imperador Constantino: todos esses grandes bi
guiaram minha pena. _Nao me apoiando na auto
nenhum intermediario, deles aproximei-me de perto
original.
Neste trabalho, e na nos sa epoca que se deleita ta
em desnaturar e em desfigurar as criaturas, os fatos
tecimentos, tentei fazer reviver os Cesares, os bar
cristaos tais como - creio-o - existiram e viver
de que suas imagens se ergam diante de nossos
urn breve instante que seja, sorridentes, graves ou
tais como seus destinos, seus caracteres e seus temp
os marcaram.
Teremos aqui urn mundo des de muito desaparecid
Nao creio.
mediternmea e Roma. Nossa religiao, nossas conc
Estado, nossa legisla9ao, nossa jurisprud€mcia, a
cavalaria, nossos costumes, nossos us os e habitos d
nossas concep90es de honra, 0 enfeite e 0 traje, dep
a astronomia, a medicina, as bases matematicas e
esporte, nossas ideias eticas e morais, em rela9ao
ao casamento e a familia, a estetica, 0 calendario,
semanal do domingo, e tantas outras conquistas cuja
9ao constituiria imenso tesouro aC1}mulado que
nossos val ores hierarquicos: is to e 0 que se chama
do Ocidente, da qual somos tributarios, quer 0 queir
nao, e a qual estamos ligados.
A historia roman a e a historia de uma cidade e de
cuja origem foi terreal e camp6nia. A· virilidade, a
lei de Roma e dos romanos criaram 0 imperio mun
poderoso da Antiguidade. Sua historia e rica de ens
cheia de recursos e de potencialidade, mais do qu
portam quaisquer outras, porque e possIvel acomp
todos os seus detalhes, sua propria evolu9ao, sua
sua decadencia ate sua decomposi9ao.
:£ porque na epoca dos imperios urn s6 hom em
destinos do Estado em suas maos, porque toda a
da cidade, todo 0 interesse da existencia gravitavam
dum so homem que, em geral, era tambem 0 {mico
no altar dos deuses, e por isso que, at raves da hi
imperadores, podemos acompanhar hoje a decadencia
Nao somente a expansao para 0 Leste impelia R
novos horizontes, para civiliza90es desconhecidas, p
e povoados de "cavaleiros asiaticos", mas os impe
"orientalizavam" sempre mais.
Todo crescimento monstruoso, toda expansao desme
nivelamento da massa resultam inevitavelmente e
posi9ao. Se os valores culturais, tao preciosos, t
perdurar, deverao ser exclusivamente apanagio d
Toda adaptac;ao, toda concessao ao gosto da massa,
').2
suprimi-Ia arbitrariamente. E precisamente nas e
tirania que a forc;a do espirito se intensifica, em segr
mas tanto mais viva! A cultura e urn ser delicado
E preciso velar por ela com ciumento cuidado. E
alguns privilegiados sao dignos em dela se aproxim
Cicero, 0 grande estilista, politico e jurista de Roma
persona gem urn tanto seco e aborrecido, mas que
urn imperio aos pes de Roma; Cesar, 0 genio mais
da Antiguidade; Augusto, grande organizador de E
isolado no fim de sua vida; Caligula que, ao apr
desencadeava estes ironicos murmurios: "Eis a cabra
o imortal fil6sofo que Nero exaltou e depois assass
pasiano e Tito, os bons imperadores; Trajano, 0 mel
romano; Adriano e Galiano, admiradores da Grec
Aurelio que, diante dos fluxos do mundo barbaro, l
tario pela paz de sua alma; 0 perigoso punico Setim
Heliogabalo, 0 fantomatico danc;arino; Zen6bia, a jov
dos altivos cavaleiros e Al'lreliano que a venceu; D
e seu genio organizador; e Constantino, 0 primeiro
cristao do mundo: todos se aproximadio de nosso fer
de que possamos perceber 0 sopro ardente dum gran
desaparecido.
Foi num sonho (ou no curso duma existencia ante
queirai~) que percorrestes uma das provincias do i
mano? Perdido na multidao romana, nao vistes Aug
saudastes urn legionario, coberto de poeira e qu
resignac;ao e a simplicidade caras aos soldados, se
para afrontar a morte? Nao vistes os prisioneiros
a deportac;ao, reduzidos a escravidao, que os soldado
para as arenas onde foram presa dos animais fer
gritastes e nao exultastes entao com a turba? Nao
com 0 remorso 0 peso desses crimes? Nao conh
estreitos becos de Roma? Vistes as liteiras suntuosa
carregadas pelos escravos? Ouvistes 0 martelament
OS CESARES
Epitafio de Lucio C
Sila.
PLUTARCO, "Sila",
28
oficial. Ora, em Roma, tal ambic;ao nao podia realiza
coroada de exito, quando se tratava (como era 0 ca
homem sem fortuna e desprovido de relac;oes po!iticas
na i<"1ade de quarenta anos, veio Mario a conhecer
p,' rlencente anobre casa dos JUlios, uma das fam
distintas de Roma, e tomou-se ela mais tarde a tia
Cesar.
Foi esse brilhante casamento a origem da prestigios
de Mario. No ana de 108, antes de J. C., foi ele
Dois anos mais tarde venceu Jugurta, 0 rei african
correr duma marcha triunfal, tal como nunca Rom
desfilar pelas ruas da cidade e sob as vaias e risada
tidao, 0 numida e seus dois filhos carregad05 de
Mais tarde, lanc;ado no Career mamertinus, prisao
subsolo do Capit6lio, foi 0 rei Jugurta estranglllado
Dois anos depois, encarregado do comando supremo
citos enviados para deter as invasoes dos cimbrO:l e d
infligiu Mario sangrenta derrota aos povos ger nam
libertador de sua patria, fez nova entrada triunfal
Alcanc;ou entao Caio Mario 0 apogeu de sua gl6ria.
vezes, elegeram-no consul.
Havia reorganizado inteiramente 0 exercito romano.
de campones fizera desaparecer do exercito os d
trac;os do antagonismo que subsistia entre os burgu
aristocratas. Outrora, estava 0 exercito dividido e
aristocraticos e corpos burgueses, segundo 0 nascim
fortuna, Mario aboliu essas distinc;oes de classe e tod
romano nativo da Italia pode servir no exercito.
Andava 0 nome de Mario, libertador da patria, em
labios. Primeiro cidadao de Roma, foram os grandes
a reconhecer seu valor. Oriunde do pove, gozava
popularidade entre os humildes. Tanta gl6ria, tant
tantes panegrricos, tanto entusiasmo e exaltac;ao ha
perturbar 0 esprrito daquele plebeu. Chegara entao 0
dis.s.o.-no campo da palavra, oradores de primeira
pessoas de qualidade, de uma civilidade e de uma so
perfeitas, conheciam a arte de viver. Era Roma en
meira cidade do mundo.
De repente, explodiu urn acontecimento inesperado
qual Mario nao havia contado: a paz! Nenhum i
interior do imenso imperio, nenhuma amea<;a no
As tres peninsulas do suI da Europa: a Espanha, a
Grecia, a Africa do Norte e as vastas provincias da A
estavam sujeitas ao dominio romano. Ora, se 0 mu
terraneo gozava dum pedodo de paz, Mario, n
sempre conservara seu espirito viol en to e comba
maneiras e seu comportamento eram rudes, grosseiro
e barulhentos, e seu olhar agressivo, selva gem, parec
assestado sobre as hordas guerreiras dos libios, do
e dos teut6es. 0 soldado, que sempre permanecera, p
anacronismo e destoava no meio dos homens de Est
nos, bern educados, policiados, finos e perfumados
tinha por costume consultar os awvinhos etruscos, e
E se lhes seguia docemente os conselhos absconsos
nao fazia com as regras da etiqueta, de rigor n
dirigentes.
Urn dia, apareceu no Senado, com as vestes que lev
de sua reentrada triunfal em Roma. Houve uma risa
e, com a rapidez do reIampago, a wvertida hist6ria
a cidade. Comparada com a riqueza de que gozava
dores, a fortuna de Mario era infima! Pior ainda, s
eram modestos por demais! Insulto suplementar: ti
as intrigas e a corrup<;ao! E, vicio imperdoavel ao
seu circulo, seu cozinheiro preparava comidas exec
quais crimes 0 acusavam ainda? Como urn simples
Mario s6 sabia 0 latim. Se, em sua presen<;a, entr
em grego, constrangido, calava-se e proibia que
locutores a ele se dirigissem naquela lingua que nao
Como era, de resto, 0 caso para a maio ria dos r
30
GRAV. 2 - Este expresslvo retrato de um romano da ~poca repub
a que ponto Be mostravam preocupados os artlstas romanos co
naturallsta e reallsta. Sua arte dlferla essenclalmente da ldea!lza~
escultura data do 2.° seculo antes de J. C.
Sua falta de seguranc;a, seus complexos impeliam
participar das intrigas intestinas que agitaram os m
ticos de Roma. A 10 de dezembro do ana 100, ante
na grande prac;a do mercado, em Roma, houve urn
foi a primeira guerra civil romana. Mario desempe
um mesquinho papel e 0 malogro que sofreu foi tao
que aquele hom em, seis vezes consul e chefe dos
vitoriosos, ficou, por assim dizer, despojado da gl6
gozava aos olhos de todos. .
Mario partiu entao para uma longa viagem pelo
regresso aRoma, reabriu sua casa na intenc;ao de d
recepc;oes mundanas, festas e banquetes. Ora, nin
satisfazer-lhe 0 apelo e as grandes salas de seu luxuo
permanoceram vazias. Acabrunhado de tedio, aguard
com impaciencia 0 fim daquela paz que parecia
mente instalada!
No ano dE(91, antes de J. C., sublevou-se a Itali
capital. Desde longos anos, as provincias da penin
mavam a cidadania romana. Orgulhosos e ciosos de
Iegios, tinham os romanos sempre oposto categ6r
a essa reivindicac;a.o. Reuniram-se entao as provinc
Roma: foi a guerra dos Confederados. Mario, desta
mostrou-se indeciso, hesitante, embarac;ado. No a
obtiveram os italicos oficialmente a cidadania roma
~sse dia, a hist6ria de Roma deixou de existir:
doravante da hist6ria da Italia.
Em Roma, aparecera urn homem novo: Lucio Cor
Eleito consul em 88, foi Sila encarregado do comand
dos exercitos enviados contra urn inimigo temivel,
rei do Ponto, na Asia Menor. Era Mitidrates, presum
de origem persa. 0 Ponto, seu pais, situ ado na
quia, era limitado pelo Mar Negro, chamado outr
Euxeinos.
Sempre muito ambicioso, ve-se Mario suplantado
Ap6s as numerosas vit6rias que conquistou, deveria
32
Caridoso, 0 consul autoriza Sila a deixar livreme
Ora, na Italia do SuI, levanta Sila imponente exerc
assume 0 comando para marchar sobre Roma. Sem
defesa, a capital se rende. E Mario e proscrito.
Em Ostia, 0 banido sobe a bordo dum barco que vel
a Africa. Mas os ventos contrarios, depois a falta
obrigaram 0 navio a abordar as costas da Italia. C
Lear, 0 proscrito, s'ozinho, faminto, esgotado, vaga
sobre 0 qual reinou. Foi entao preso pelos esbirr
que 0 descobrem um dia nos brejos de Minturno,
lama ate a cintura, com a cabe<;a oculta sob os can
Encarcerado em Roma, aguarda Mario sua execu<;a
escravo cimbro 0 encarregado de mata-Io. Ora, qua
mano en contra 0 olhar dominador de seu antigo
quando ouve a voz poderosa de Mario que 0 ins
que paralisado, 0 cimbro larga 0 cutelo. Compreen
os funcionarios romanos que 0 escravo, diante do
de outrora, fora tom ado dum respeito que os burgu
nos nao mais experimentavam. Embara<;ados, enve
libertam Mario de suas cadeias e enviam-no depo
a llha de lsquia.
Na Asia, Sila eonquista numerosas vit6rias contra Mit
Viveu este rei de 132 a 63, antes de J. C. Era, n
um dos mais temiveis adversarios de Roma. No de
conquistas sucessivas das provincias da Asia Men
por encontrar a resisb~ncia romana. Em 88, antes de
1!:feso, mandara Mitidrates assassinar todos os italia
encontravam na Asia Menor: pereceram de 80.000
homens.
Em todos os lugares em que se encontraram, inf
drates sangrentas derrotas aos romanos. Seus gener
ram por apoderar-se de Atenas. Ora, no ana de 84
afinal Mitidrates com urn adversario a sua altura:
quistou a vit6rial Foi Mitidrates obrigado a pagar
tronomo, importador de cereja na Europa e que
dis so, 0 general mais dotado de sua epoca. Mitid
de refugiar-se na Armenia. Mas, tenaz, 0 oriental re
uma vez suas forcras armadas. Por tres vezes bateu
romano . . 0 grande Pompeu, por fim, esmagou-o
de 66.
Pare cia todavia impossivel veneer definitivamente
porque, de novo, restabeleceu seu poder e prep
campanha contra Roma. Seu filho se rebelou co
Mitidrates abandonou entao suas pretensoes. Qu
nar-se. Mas nao tendo 0 toxico produzido seu ef
fez-se apunhalar por urn escravo.
Mitidrates parece personificar 0 tirano dos contos
das lendas: 0 autocrata, 0 soberano despotico, viole
civel. Adolescente, sua mae surpreendera-Ihe a natu
e ten tara assassini-Io. Mitidrates fugira para as m
onde viveu do produto da cacra. Mais tarde, lancro
na prisao, estrangulou seus irmaos mais mocros, vari
filhos e, finalmente, sua propria mae.
Falava Mitidrates correntemente vinte e duas ling
feriu premios aos maiores poetas de seu imperio
aos cidadaos mais comiloes! Tirano oriental, vivia
constante, bern asiatico, de ser assassinado; toda cr
dele se aproximava era, a seus oThos, urn assassino
cial. Para imunizar-se contra os efeitos mortais do
submeteu-se ao habito sistematico dos venenos e d
mais usuais. Foi por esta razao que sua primeira te
suiddio malogrou-se. Suprimiu igualmente sua
velha, que havia alias desposado, e outra de suas
fim de evitar que seu harem caisse nas maos dos
mandou matar suas numerosas concubinas.
Outrora, para obter as boas gracras de Monima, a b
Mitidrates delegara-Ihe urn emissario munido de
pecras de ouro.
34
GRAV. 3 - Lucio Comello SUa, 138-78 antes
de J. C. Gozador, monstro sangu1nt\rlo, fol
esse dltador, no entanto, urn valoroso
homem de Estado.
36
As "proscric;:oes", com os nomes dos homens abatid
a noite, eram afixadas no · Forum. Aquela especie
Terrivel, antecipado, mandou massacrar os doze m
que the ofereceram resistencia na fortaleza de Pren
de Roma. Sila mandou vender em leilao os bens d
e libertar seus escravos. Favoreceu os comediantes,
e as cortes as que gozavam de suas liberalidades.
Muitas Vezes convidava a cidade inteira a gigantesc
e a comezaina que a populac;:a nao conseguia engo
c;:ada no Tibre. Ora, foi esse mesmo SiIa quem - 0
admirar ~ reviu a Constituic;:ao roman a duma manei
judicio sa e reorganizou a jurisprudencia. £ila erig
tempo indeterminado, ditador. Na verdade, foi
imperador de Roma porque (e preciso admitir) foi
abriu 0 caminho para os futuros Cesares.
A populac;:a romana, sabe-se, tinha gosto pelos esp
efusoes de sangue. Sila deu ordem para que os
de guerra se batessem em publico. No decorrer d
popular desse genero, Valeria, grande dama roman a
a toga do ditador. E enquanto os prisioneiros se ent
na arena, Sila arrulhava galanteios com Valeria, q
ser sua quinta esposa. Atingira entao seus cinqiie
anos.
Mas urn dia, Sila, enfastiado, desgostou-se do mund
e sem protec;:ao, retirou-se para sua propriedade
(hoje Pozzuoli). Sem 0 menor temor de ser a vitima
tual assassinato, comprazia-se na companhia de c
e sobretudo das comediantes. Compos poemas e esc
"Mem6rias".
Pouco durou essa tranqiiila felicidade. Ap6s um ana
doente, nervoso, sempre superexcitado, morreu Sila
dum aneurisma.
Roma celebrou com fausto os seus funerais e ·dum
grandiosa. Incineraram seu corpo perante uma im
tidiio.
MARIO E SILA
40
GRAV. 7 - Els uma reproducao duma anti-
quisslma lampada de mesa, datando do
prlmeiro seeulo antes de J. C. 0 buraeo
a esquerda delxava passar a meeha; pela
abertura iI direita podia-se, com a ajud a
de um ganeho, levanta-la, depois verter
o azeite. A asa permit!a pendurar a lam-
pada duma espeeie de lampadario que,
com varias lampadas, formava uma espeeie
de candela bro.
GRAV. 9 - A Boc
della Verltil), Este
encontra pregado n
de Santa Maria de
Dizem que os roman
juramento, punham
"Boca da Verdade
intacta, era 0 juram
camprar peixe, aves, ca~a, frutas e iguarias refinad
.especie, vindas de todas as paises do munda.
Perto da embocadura do Tibre, a vinte quilometras
encantrava-se 6stia, 0 porto da cidade. Mais tard
de 48, depois de J'. c., 0 imperadar Claudio mando
o celebre farol sobre a ilha situada no meio. da em
Esse edificio gigantesco de quatro andares, das quais
de forma quadrangular e a andar superiar de farm
dada, era a exata repradu~lio do farol erigido na pa
de Faras, perto de Alexandria, cancebida pelo arquit
tas de Cnida, em 280 antes de J. C. e cuja constru~lio
uma fartuna. S6 no seculo XIV, no decarrer dum
e que a farol de Alexandria desabou.
Ora, na Fran~a, em Boulogne-sur-Mer, existia ainda
XVII, urn farol construida par CaHgula, venda-se
du~lio em varias gravuras antigas. 0 farol rama
Coruna, na Espanha, construido no ana de 100
J. c., vern funcionanda sem interrup~lia ate hoje. D
de 100 ate agora, sucederam-se quarenta e cinco. gu
quais cada qual prestou seu servi~o durante quaren
media). Considerando a Rist6ria a luz desses num
parece 0 imperio. romano pertencer a urn pass
remato!
o ano de lOS antes de J. C. marca a nasciment
ham ens celebres: Cicero, oradar e jurista eminente
e Cneus Pampeu, filha duma familia de plebeus
nasceu a 29 de setembro, sab 0 signa da balan~a
vida, a boa sorte e a desgra~a estavam repartidas
iguais.
Quando. se abserva atentamente 0 busta de Pamp
que 0 historiadar alemlio Mommsen tivera razlio qua
veu que "0 homem nlia passava de uma criatura
se igualava ao que chamamas "segunda-sargento
competente". Todavia, foi Pampeu, na realidade, u
42
quando estava convencido da vitoria e do bom e
passava ao ataque.
Esse militar, urn tanto rigido e inabil, era um homem
honesto, fiel as suas afei90es, mas seco, frio e pouco
a paixao. Se, na vida publica e com seus amigos, s
era muitas vezes um pouco canhestra, foi em co
excelente cavaleiro e esgrimista perfeito. Menos "
que 0 rustico Mario, mas como Mario, todavia, um
simo politico. Ora, se Mario foi um apaixonado e u
Pompeu mostrou-se aborrecido, severo e duma dign
malista, virtuosa e puritana.
Querido de seus soldados, gozou de menos populari
os cidadaos romanos. No decorrer de suas campanh
va-se benevolo para com os que dele se aprox
esfor9ava-se por satisfazer as pedidos que the eram
Mas em Rama, nao gostava de conviver com as
comuns; evitava comparecer ao Forum e so a con
ocupava com os negocios alheios; sua energia conc
em seus proprios projetos. Quando a julgava nece
eloquencia era tal que enchia de admira9ao seus ou
permitido crer que bastavam sua presen9a, sua
exterior para inspirar simpatia. Porque, se as retratos
que nos foram legados, nao apresentam a rosto de u
a hist6ria escrita nos faz saber que foi urn homem
Na sua velhice, recordava-se a hetaira Flora ainda c
e deleite das rela90es que tivera com ele.
Plutarco, 0 historiador grego, escreveu a respeito de
de costumes levianos que "todas as vezes que ele a
jamais partira sem deixar na sua pele a marca de se
A bela Flora era tao celebre que se mandou fazer
para expo-lo no templo.
Se · Pompeu foi uma especie de encamagao da Espa
Licinio Crasso parecia 0 simbolo vivo do Dinheiro
significa grosso, e 0 Grosso usava tambem 0 sobr
dives (rico). Seu pai, e tambem seus antepassados,
bela inteligencia, e seus dons litefllrios e mil
existiram.
Em contraposi~ao, trabalhador e tenaz, especulador
possula 0 que se chama urn "faro" particular quanta
cios de dinheiro. A pre~o vil, resgatava as proprie
Sila confiscara. Ocupava-se com empresas de constr
plano financeiro, 0 custo dos ediflcios, executados se
or~entos de arquitetura e que de fiscalizava at
era calculado de maneira exata e prudente. Banqu
e avisado, senadores au magistrados, todos as que
urn emprestimo dirigiam-se a Crasso.
AMm disso, tinha 0 habito de ocupar-se com ques
em que se debatiam seus amigos e seu circulo: su
juizes, e depois, terminado 0 processo para sat
cliente, devia este pagar a Crasso pesada soma com
cimento dos servi~os prestados. Quando 0 nome
figurava num ate testamentario, a pe~a estava, c
falsificada. E no entanto, essa singular criatura le
vida privada simples e burguesa.
Pouco antes de ua marte, estimava-se a fortuna de
enorme soma de 170 milh6es de sestercios. Era n
homem mais rico do Imperio. Excelente pSic610go
todas as ocasi6es que the permitissem alargar suas
cumprimentava · pelo nome todos os patrlcios de Ro
e amavel, despertava a benevolencia, ate mesmo a
Grande trabalhador, nao se poupava esfor~o, quan
tava de arranjar urn neg6cio amigavel e, gracsas a
comercial sempre desperto, 0 problema financeiro m
encontrava uma solu~ao. Em virtude de sua surdez,
cuidadosamente de antemao todas as pendencias
causas que era chamado a tratar. Boa metade da "t
era sua devedora. Emprestava sem juros, e certo, s
de fixar ele pr6prio 0 montante total da soma a ser
bolsada. Por meio dessa pratica, os hom ens de maior
da cidade tornavam-se seus devedores e seus obrig
.44
GRAV. 10 - Caio JUlio Cesar, 100-44 antes de J. C. 0 historiador Te
escreveu a seu respeito: "Todo historiador, por menos dotado
captar, nas suas caracteristicas essenciais, 0 retrato de Cesar. Ora,
guiu pinta-lo, duma maneira totalmente expresslva, sem duvlda por
atlngido a pertelc;ao. T anto no plano humano como no plano da H
Cesar a urn grau em que os eternos antagonism os da exlstencla
busto fol esculpldo apcs a morte de Cesar.
Entretanto, germinava lentamente no espirito de
ambi9ao politica. 0 financista nao obedecia a uma
e determinada, mas, pelo contrario, seguro e fortal
sua fortuna, pelas suas rela90es como pelas sua
seguia, com toda a simplicidade, 0 caminho da m
ten cia bern como do menor esfor90. Jamais Cras
transparecer a inveja que nutria contra Pompeu. Ora
de primeira ordem e verdadeiro banqueiro ambula
nava Pompeu, seu grande contemporfmeo, com t
superioridade social, quando 0 general permanecia
Mas, ao contrario, quando Pompeu percorria 0 va
por ocasiao de uma campanha militar, seus exitos e
Ihe valiam, ao regressar a Roma, a considera9ao e
bern superiores aos que aureolavam Crasso.
No ana de 82, antes de J. c., com a idade de vint
anos, Pompeu, a frente de seu exercito, contemplav
de Cartago. Hindo, observa seus soldados que, co
deiros loucos furiosos, desentulham os escombros
escavam. Procuram 0 DurO e os tesouros enterrados
fenicia. Depois, quando os hom ens compreendera
nada descobrirao que valha a pena tal esfbr90,
o exercito empreendem sua campanha cOlltra Do
Aenobarbo. Em quinze dias, ganha varias vit6rias. A
seu exercito vitorioso, entra Pompeu em Roma, mas
triunfal, precedida de uma junta de elefantes, nao
zar-se: a porta da cidade e demasiado estreita! E 0
salida 0 jovem Pompeu com 0 nome de "Grande".
Atingira Pompeu seu trigesimo ano de idade, quando
decide nomea-Io proconsul na Espanha, com a missa
bater Sert6rio, partidario de Mario. Mas Sert6rio,
sutil e ousado, acostumado a coofigura9ao do solo
contra Pompeu uma guerrilha extremamente habil.
pelos seus partidarios de "Anibal moderno", forma
na Espanha urn governo romano independente. O
antes de J. C., no decurso dum banquete, foi assassin
46
esgrimistas ou gladiadores, sublevam-se sob 0 eo
Espartaeo.
No ano de 73, antes de J. C., Espartaeo quebrara
da escravidao e, tendo reunido seus companheiros
tUnio que povoavam as easemas dos gladiadores,
do Vesuvio. D epois de ter esmagado varias legioes
ate os primeiros maci<;os dos Alpes onde, dur
periodo, contou com a ajuda dos gauleses . . Cada
numerosos, po rem, passaram os escravos para se
revoltosos saquearam e incendiaram cidades e alde
sacraram as popula<;oes. Chefe dum exercito d
hom ens, Espartaco marchou sabre Roma.
Pretor nessa epoca, Crasso foi entao encarregado d
das for<;as de repressao. A revolta dos escravos qu
tres anos, lan<;ara a Italia na angustia e no terror,
Crasso manda erguer seis mil cruzes que formam um
siDistra, porque sels mil escravos nelas serao pr
pretor, notavel eomereiante de escravos, nao ignora
tratamento que convinha. Todavia, a dar-se cred
tarco, nao era um senhor muito mau para os escr
servi<;o.
Com trinta e cinco anos nessa epoca, visa Pompeu
lado, mas 0 Senado mostra-se hesitante. Volta-se Pom
para Crasso: a Espada associa sua sorte ao Dinh
senadores, perplexos, devedores de Crasso, nao pod
a coliga<;ao do exercito e da finan<;a. No ana de 7
e Crasso sao ambos nomeados consules. Mau grado e
permanecera Grasso sempre invejoso da popularid
companheiro, bem mais dotado do que de no pla
Quando Pompeu vem a ser encarregado da missao
o Mediterraneo dos ninhos de piratas que nele pr
missao que cumpriu brilhantemente em quarenta d
eura Crasso minimizar a influencia poHtica de Po
aproxima de Cesar.
POMPEU E CRASSO
50
lhoso dos vinte e sete ferimentos recebidos nos
batalha.
Em compensa9ao, 0 descendente desse valente guer
uma conduta bern diversa: medroso, timido, de aspec
e muitas vezes negligente no trajar, quase sempre e
percorria Catilina furtivamente as ruas de Roma.
dias, parecia arrastar-se com grande dificuldade; e
corria, como urn perseguido, para dirigir-se as suas
combina90es. Quando jovem, participara dos bandos
devotados a Sila e manchara seu nome com crimes
Apaixonado por Aurelia Orestila, "na qual, fora de
ninguem jamais pade descobrir uma qualidade
elogio" (Salustio), Catilina assassinou seu filho, a
mais liberdade para celebrar as bodas mais escan
Roma.
Nenhuma priva9ao, nem a fome, nem 0 frio, nem
eram capazes de abater aquele homem. PerHdo,
arte da dissimula9ao, da hipocrisia e do fingiment
quente mas pouco psicologo. Sem dificuldade,
climplices em todos os jovens depravados e perve
haviam perdido sua fortuna e dilapidado suas he
jogo, no vicio e na cnlpula. Os devassos, os ren
adulteros, os assassinos, os sacrilegos de tbda a la
jUrios notorios, os criminosos fulminados pelos raios
e os que temiam ser encarcerados, esses malfeitores
casta contavam bern reconquistar a fortuna e 0 pod
vulsao projetada.
Quanto aos moveis que motivaram os comporta
Catilina, tem-se de explica-Ios por urna ausencia de
e de medida de ordem estritamente patologica, pela
tambem, que e muitas vezes 0 resultado do mal
miseria, pela inveja e pelo odio e pelo desprezo da
Foi esse homem a vitima de seu sinistro passado,
rompera e como que infectara. Certa forma de co
ciencia e de talento militares caracterizava-o, bern
lhes a mao", is to e, de torna-los cumplices das emp
infamantes.
~r duas vezes, em 65 e 64, visara Catilina ao cons
sem exito. Uma conjura, que tinha por fim 0 assa
consules entao no poder, no ano de 65 (e que d
mesmo tempo, desencadear uma revolt a) fracassar
em 63, foi 0 born exito dos projetos de Catilina c
gra~as a eloqiiencia convincente do grande orador
Marcos Tulio Cfcero. Apos a acerba derrota sofrida p
das elei~6es, arquitetou Catilina a famosa conjura~ao
cado 0 golpe de Estado para a data de 28 de outu
dia do jubileu da vitoria de Sila. .
Visava a revolu~ao a derrubada do governo. Encora
chefes do partido democratico, tomou como pretext
dos oprimidos contra a nobreza e contra os9.erradei
saltos da oligarquia aristocratica. Na realidade,
democratico havia conquistado a vitoria desde mu
Quanto ao poder dos aristocratas, nao havia mais gr
a derrubar!. .. A revolu~ao devia, pois, visar aum
seguir urn designio secreto e inconfessado, infinita
importante para os conjurados, entre os quais, alias,
o jovem Cesar.
Ora, a secreta preocupa~ao referia-se a am ea~a l
constituia para os conjurados, 0 regresso proximo d
Se 0 general voltava do Oriente, dever-se-ia prov
contar com uma ditadura militar e queriam os dem
qualquer pre~o, evita-Ia, esmaga-Ia na origem. Se
vozes, erguiam louvores a Pompeu, chefe e orgul
partido, se, apenas para a fachada, conspiravam os
contra a nobreza, visavam, na realidde, mas ocul
o seu jogo, tomar conta do poder, a fim de instau
verno capaz de contrabalan~ar a influencia de Pomp
em ultimo lugar, provo car sua queda. Ora, para a
objetivo, era necessaria a revolu~ao e, de 66 a 62, p
os conjurados ativamente sua realiza~ao.
52
em 63, a Hm de combater as pretensoes de Catilin
conseguiu abortar a aspirar;:ao de Catilina ao cons
mascarou a conjurar;:ao, obrigou Catilina a deixar
cobriu as manobras e maquina~oes de seus par
gra~as a sua maravilhosa eloqiiencia, logrou a ex
cinco dos conjurados. Quanto a Catilina e a tres m
partidarios, sucumbiram no decorrer da batalha d
ao norte de Florenr;:a.
Roma escapara a um grande perigo. Ora, 0 homem
malograr-se a revolta projetada por Ca,tilina e que
mais eminentes espiritos da hist6ria romana, renovar
melhorara e depurara a lingua latina. Somos-Ihe
duma boa parte das bases s6lidas da cultura europ
Marcos TUlio Cicero nasceu a 3 de janeiro do a
antes de J. c., em Arpinio, situado entre Roma
Sua vinda ao mundo efetuou-se "sem dificuldades e
Atraido pelas disciplinas cientificas, fez seus estudos
eem Rodes, centr~s culturais da epoca. Nao rejeito
mestre ou ensinamento e nutriu em segredo grande
pela poesia. Seu modelo foi 0 grande Dem6stenes.
Perderam-se quarenta e oito dos discursos politicos
mas os cinqiienta e oito que nos foram conservados
tituem um tratado do que poderiamos chamar uma
justir;:a e, no tempo deles, nenhuma possibilidade
deixaram aos adversarios atacados pelo dialeta.
Cicero acumula as acusa~oes, as imputa~oes irrefutav
toa os argumentos em detrimento do adversario;
ironia mais mordente e mais aguda, do aticismo mais
tanto dos bons como dos maus meios, que poe a ser
extraordinaria eloqiiencia, duma dialetica que inf
lingua latina duma maneira que serve de regra e
que se chama a Hngua classica.
Cicero esteve sempre informado dos fatos, das at
das circunstancias que motivaram os gestos de seu
rios. E, pelo fato de um segredo permanecer raram
amoral e vicioso, arruinou-se para cobri-Ia de sunt
sentes. Ora, FUlvia s6 concedia seus favores em
especies sonantes e verdadeiras e de outros presentes
e Curio, transtomado pela ideia de perde-Ia, confio
grandes esperanc:ras que, em futuro pr6ximo, deveri
lhe fortuna e poder. Se, no comec:ro, suas confidenci
a seus fabulosos projetos, foram imprecisas e vaga
amoroso levou-o em breve a revelar os designios ma
Enquanto prometia a bela montoes de ouro, ameac:
sua espada. Em sum a, portava-se com urn bru
criminoso.
Assim, penetrou a habil Fulvia pouco a pouco nos
conjura e como nao soube ela - ou nao quis - calar
rum ores, fazendo alusao a perigosas e subterranea
circularam em Roma.
FUlvia estava sempre necessitada de dinheiro e seu
~egredo" foi uma excelente moeda de dtmbio. Med
recompensa, descobriu aos intermediarios de Cice
quinac:roes de Catilina. Ganhou Curio para sua c
informac:roes filtraram-se entao duma maneira seg
manente.
Ora, 0 homem que se tornava 0 alvo das acusac:roes
tinha bern pouca probabilidade de escapar sem p
requisit6rio. Quousque tandem? Quanto tempo ainda
lavras celebres, que inauguram 0 terceiro discurso c
lin a, conservaram ate nossos dias sua realidade part
"Quanto tempo ainda, Catilina, abusaras de nossa
Quanto tempo ainda tua vergonhosa atividade nos
Quando cessaras de vangloriar-te de tua insol
freio ... ?"
It com a ajuda dos discursos de Cicero, verdadeiro
estilistica latina, que se reconhece 0 genio do gran
e do jurista.
As cartas de Cicero revelam bern seu carater e se
mento: sua vaidade, sua paixao da gl6ria, sua cora gem
54
por Sila, havia-se refugiado. Atico, comerciante ha
va-se igualmente com financ;as e edic;ao. Possula va
no Epiro, protegia as artes; tinha 0 senso das realid
ticas" e, sempre servic;al, era mais positiv~, mais c
e experimentado que seu amigo Cicero, cujas dile
mais romanticas. Atico geria os bens de Cicero, ed
discursos e sua correspondencia e, durante toda a
aconselhou 0 amigo. Foi Atico 0 primeiro a ouvir a
esperanc;as, os apelos nascidos da miseria, as apre
paixoes e as alegrias de seu genial protegido.
Foi a seu secrehhio e amigo Tiron que Cicero di
de suas cartas; fazia-o, andando com uma rapidez tal
homem no entanto bern dotado, teve de inventar um
de metoda de estenografia. Po de assim taquigrafar o
de Cicero. Posteriormente, deu-se a estenografia lati
de "notas tironianas". Na Idade Media os monge
serviam dela. Tiron, escravo liberto por Cicero, po
sua inteligencia, escreveu uma obra sobre 0 uso e
c;ao da lingua latina.
Nao ignorou Cicero que estava destinado a entrar
da humanidade como urn de seus genios mais rar
preciosos. Escreveu a Atico:
"Assim que tiver terminado a exposic;ao hist6rica de
sulado, remeter-ta· ei, e deves tambem aguardar u
~m versos. Uma vez que quero fazer 0 elogio de m
fa-Io-ei em todas as formas posslveis. Se 0 mundo p
de grande, deve elogia-Io e nao critica-Io. Mas, n
nao se trata nos meus escritos de urn paneglrico,
simples verda de hist6rica."
Se estas palavras sao pelo menos audaciosas, tes
tambem urn sentimento autentico que prova com q
nosso genio visionario reconheceu seu pr6prio valor
deza e sua significac;ao.
As cartas de Cicero revelam urn espirito vivo, am
riqueza inesgotavel na faculdade de desenvolver u
GRAV. 12 -Foi urn semelhante denario de prata, ornado com 0 retrat
que mostraram a Jesus Cristo, quando os fariseus Ihe perguntaram
pagar 0 impasto ao imperador. No seu reverso, pode-se ver Livia Au
co-regente do imperador.
GRAV. 11 - Bem no alto, na ponta leste
de Capri, estava sltuado 0 castelo do
Imperador Tiberio. Taclto escreveu: "NIn-
guem podia all desembarcar sem ser vlsto
pelos vlgias." Tiberio all vlveu os onze
derradelros anos de sua exlstencla e fol
daquele castelo que partlram para Roma
e para 0 mundo as ordens secretas das
numerosas execucoes capitals.
58
de estrelas redondas ultrapassava as dimensoes da
pr6pria Terra parecia tao pequena que me invadiu
mento de vergonha a ideia de nossa atividade que,
dizer, s6 toca a uma infima parte dessa Terra minu
Quando 0 Senado romano foi convocado por Cice
dezembro do ana de 63 antes de J. c., a fim de
qual a sorte dos catilinianos detidos, Junio Silano, fut
reclamou a pena de morte. Todos os antigos consule
concordaram. Sbmente Cesar que, nessa epoca ja es
nado como 0 futuro pretor, se opos a senten9a. Pre
trabalhos for9ados perpetuos e, para justificar sua
avan90u razoes duma sabedoria evidente e luminosa.
de pr6prio desempenhado 0 papel de conselheiro
bastidores da conjura9ao? Ja Silano e outros amigos
conquistados pelas razoes de Cesar, se dispunham a
quando Marcos P6rcio Catao exigiu a morte dos acu
tanto ardor e convic9ao que os jUlzes hesitaram de
lusti~, 0 historiador romano, lan90u magistralmente
os discursos antagonicos de Cesar e de Catao.
Catao, bisneto de Catao, 0 Antigo, destruidor de C
urn homem singular. Mommsen chamou-o de "D. Q
aristocracia", "urn utopista apaixonado pela moral
Ora, 0 jul~amento de nosso historiador nao parece
Catao, estoico, foi urn perfeito homem de bern, sev
aos prindpios da Roma antiga, tradicionalista e co
De espirito lento, foi urn cidadao modelo que, lla c
rupta, tinha por costume "ensinar moral" a toda
exemplo de Romulo, fundador lendario de Roma,
Catao jamais camisa e andava sempre ape. Tinha e
virtuoso a nostalgia, confessada em voz alta, do "b
de outrora" e, se bern que jamais passeasse sem so
livro, nao 0 levaram muito a serio. Todavia, a hon
toda a prova que foi a sua, deveria ser da maio
para seu pals. Quando, em 58, foi a llha de Chipre
Catao para la seguiu, a fim de organiza-Ia e adm
verdadeira obra-prima de bravura e de sutileza p
Nesse discurso, assumiu a aparencia duma perfeita
lidade e, grac;as a urna especie de rodeio M.bil,
ouvintes a conclusao de que desejava ele a pena de
Acompanhado por seus amigos e por numerosos
romanos, dirigiu-se Cfcero ao Monte Palatino par
sua prisao 0 primeiro dos conjurados, Lentulo Sura. C
pelas mas de Roma para os carras cos que fizeram 0
rebelde descer para urn porao estreito, (j Tuliano, a
o estranguIarem com urna corda. Desde tempos rem
no reinado do rei Servio TUlio, servia aquela masm
essas execuc;oes. No decorrer da noite desse mesm
dezembro de 62, sofreram os outros condenados
sorte.
Para Cfcero, 0 dia em que salvara a Republica da
foi 0 mais belo de sua existencia. Os romanos 0 rea
ram a sua cas a em triunfo. Estavam ilurninadas
capital e a multidao 0 aclamou. Nas janelas eno
o povo em jubilo p,roclamou Cfcero 0 sustentacula
da patria.
Mas Cicero haveria de pagar amargamente ess
Quando se preparou, no ultimo dia do ano, como er
para encerrar seu consubdo com urn discurso diante
bleia, 0 tribuno Metelo Nepos cortou-Ihe imedia
palavra, significando que urn homem que, sem ouv
dara executar cidadaos romanos, nao tinha 0 direi
de si. Cicero provou entao sua presenc;a de espirito
que havia salvado Roma e a Republica da destru
mina. 0 povo aclamou-o. Mas Cfcero foi banido de
Parece que, por duas ocasioes pelo menos, Ter
esposa, haja-o influenciado duma maneira decis
meio-irma de Terencia, era vestal, isto e, devia vive
dade absoluta. Ora, suspeitaram-na de ter entretid
secretas com Catilina. Para Terencia, 0 afastamento
apareceu· entao como uma oportunidade possivel d
60
a testemunhar contra C16dio que, desde entao, se
inimigo mais encarnic:;ado de Cicero e conseguiu ob
mento do grande orador romano. Foi C16dio quem
e incendiar as propriedade~ de Cicero.
Imensa foi a decepc:;ao de Cicero. Infligiu a si mes
ba«;oes e censuras e enviou a sua querida Terencia ca
vidas, tocantes de amor e de gratidao:
"Mulher cheia de pesar - escrevia ele, - sofredor
quecida de corpo e de espiritol Viver sem til Como
eu? Se estivesses junto de mim, nao me acreditaria
perdido!"
E mais tarde:
"Nao foi sem verter lagrimas amargas que Ii como
saram a fbrc:;a do templo de Vesta para levarem-t
cado ,publico perante os tribunos. 6 minha vida!
amor!
Dezesseis anos mais tarde, Pompeu revocou 0 banido
de Cicero fizeram ouvir entao urn som diferente:
"0 amor que me dedicam meu irnao e minba filha m
de tudo. Quanto aos aborrecimentos que me perse
duma natureza particular."
Os "aborrecimentos" referiam-se a Terencia. Ci
atingido seus cinqiienta e nove anos, quando se
Creu de repente que Terencia nao se mostrava m
pulosa quanta a seus neg6cios de dinheiro. Esque
talvez da importancia do dote dela? Casou-se en
com sua joveqI serva, Publilia. Mas 0 destino fer
mente: sua filha, Tulia, morreu. Cicero expulsou
morte de sua filha, a quem idolatrara, deixou-o des
PubHlia jamais soubera amar a crianc:;a. Cicero ach
urn gbsto de cinzas.
"Uma filba e que filhal Como era pres a a seu pail
gente, tao mansa, tao virtuosa, tao amavel! Meu ro
lingua, meu espiritol"
Eram estas palavras dirigidas a seu irmao Quinto.
encontrar 0 ser amado? Cicero nao pode descobr
para esta ultima questao da existencia, da morte e
dade. Projetou elevar urn templo a memoria de sua
altar para sua alma imortal.
Foi escrevendo seu belo livro Da Consola~ao q
recuperou a calma e a paz do espirito. Dois anos m
tinha entao 64 anos, sucumbiu ao odio de Antonio
Mncia atacara nas suas Fillpicas. Cicero sobreviver
a Pompeu e a Catao. Mas como levara sua vida? A es
respoodeu que jamais £izera outra coisa senao trabal
sofrer.
«Tu me exortas de novo a ambi~ao, ao trabalho -
ele, urn dia, a seu irmao. - Farei 0 que puder de m
quando poderei viver?"
Agora, tudo estava passado. Nunca mais passeara
belos jardins; nunca mais compofll urn poema, um
pura filosofia! Sua vez chegara: devia morrer. Com
veniente a urn filosofo, encarou a morte sem nenhum
com cora gem e serenidade.
Plutarco foi injusto quando escreveu que 0 anciao f
fugir a seus assassinos, que adiantaram de pouco
natureza. Nao, e falso dizer isso, poi-que Cicero nao
De certo teve a inten~ao de fazer-se transportar de
a beira-mar, a fim de escapar a seus inimigos - p
foi urn tolo, mas urn filosofo que tivera conscienci
da vida e de seu espirito genial.
Mas quando viu que seus perseguidores se aproxima
dOll parar a liteira: E a cabe~a que abrigou 0 ce
eminente de Roma caiu sob os golpes dos assassin
dezembro do ano de 43, antes de J. C.
Se, no seu derradeiro suspiro, obteve Cicero a revela
rada, a de reencontrar TuHola, sua filha bem-ama
nao tenha tido 0 menor medo da morte.
62
porque a 80rte me ficou fiel mais tempo do que e c
Mas somos seres humanos e devemos suporta1' n 08s
de infelicidade".
P ompeu, a sua quin
lher. (segundo PLU
64
GRAV. 14 - Esta escultura eglpcla, em basalto, destaca a aspecto co
da personal1dade de JUlio Cesar. A boca amarga revela a so!rime
preocupav6es que mlnaram a homem de rosto cavado, envelhecldo
Os olhos negros, brtlhantes duma vida ardente, observam-se mel
d as medalhas. Mas 0 busto egipcl0 exprime a incrlvel energia
superior de Cesar.
tos. Simples, sem fausto, avan90u Pompeu no meio
gigantesco. Diz-se que, naquele dia, usou ele 0
Alexandre, 0 Grande. Essa reHquia, de duzentos
anos de antiguidade, fora descoberta entre os te
Mitidrates.
o povo to do presente a esse triunfo mostrava-se
de alegria. Ocorreu is so no ano de 593 da funda9ao
isto e, em 61 antes de J. C. Era 0 dia 28 de setemb
do quadragesimo quinto aniversario de Pompeu. Ve
e do is reis. Em sua honra, Roma cunhou moeda.
Existe um homem capaz de resistir avertigem de tal
Veio entao 0 lento desmoronamento, a confusao tr
rante trinta anos, Pompeu, longe da patria, fizera
sem cessar. 0 retorno a Roma, a brusca transi9ao
de vida estritamente militar a um modo de vida
foi-Ihe nefasta. Sofreu insonias prolongadas e seus
tantes de repouso notumo eram perturbados po
pesadelos. Em sonho, reviveu os acontecimentos pa
reis orientais na agonia, as cidades em chamas, 0
cavalarias inimigas, e todos esses pesadelos, com um
brutal, assombraram-Ihe as noites. Por outro lado, a
dade romana, com seu horror ao sublime e 0 espiri
e sarcastico que a caracterizava, nao se privou de
heroi, de estigmatiza-Io e de criva-Io de todas as e
apelidos mais ou menos maldosos e ridiculos.
Ora, Pcimpeu aspirava a calma, a tranqiiilidade.
enfim gozar duma sossegada vida de familia e d
de sua mulher. E essa as?ira9aO bem legitima inspir
ate pesado de conseqiiencias: despediu seus legi
Senado recusou entao homologar as medidas adm
referentes a certas terras asiaticas que, segundo uma
que Pompeu fizera, deviam ser dadas a seus soldad
Nessa epoca, concluiu Pompeu uma alian9a com Ju
Com a idade de quarenta e dois anos, era Cesar u
politico influente. Brilhante orador, advogado e o
:66
jugal durou pouco; a amavel filha de Cesar morreu
e nove anos, em plena mocidade, e seu unico filh
veio a falecer. 0 prato da balan9a, depositaria 'da
xou-se lentamente. No ano de 59 antes de J. C
cesar e Crasso forma ram 0 primeiro triunvirato.
o poHtico e 0 homem de finan9as reuniram 0. poder
maos. Os veteranos de Pompeu receberam enfim as
metidas e sua poHtica asiatica foi sancionada. Pompe
chefe da maior parte do Imperio romano. Cesar fo
governador da Iliria e da Calia, pais que iria constit
polim que permitiria sua ulterior tomada do poder
Enquanto Cesar conquista a Calia (58 a 51 antes
Crasso tenta apoderar-se da Persia, mas cai prisi
morto. Os persas imaginaram uma vingan9a duma
excepcional: na garganta de Crasso, 0 milionario, 0
ficante de escravos do Jmperio, verteram ouro Hqu
Ap6s a morte de Julia, 0 fosso q1,.le separava Pompe
alargou-se cada vez mais. Obedecendo as instancia
peu, ordenou 0 Senado a Cesar que abandonasse as
gaulesas e dissolvesse seu exercito. Mas Cesar
Rubicao, fronteira que separava a Italia da Calia.
- A sorte esta lan9ada! - exclamou ele.
E Cesar tornou-se 0 senhor de Roma e da Italia.
Pompeu fugiu para 0 Oriente e, perseguido por C
sua derrota em Fars:i1ia, na Tersalia, tentou alcan9
Tendo tide notlcia da catastrofe de Farsalia, decid
impedir seu desembarque. Ora, 0 intendente da co
do Egito inventou urn ardil sutil: enviou-se ao navi
peu urn general encarregado de convida-lo a ap
perante 0 rei. Sendo a agua pouco profunda, subi
a embarca9ao do emissario.
Foi ao por pe em terra que Pompeu veio a ser a
pelas costas, sob os olhos de sua quinta mulher e d
que, a bordo de seu navio assistiram irnpotentes ao a
Pompeu cobriu 0 rosto ,com sua toga. Nao pronun
POMPEU
PLUTARCO, "Cesar",
70
GRAV. 16 - Marco Antonio foi urn hom em
dotado. A palxao Iria perde-lo. Relnou nas
provinclas orientals de Roma. Marco An-
tonio deixou-se escravizar pelo amor de
Cle6patra. Vlveu de 83 a 30 antes de J. C.
72
GRAV. 20 - J'!: provavel que Cle6patra tenha conhecldo 0 T emplo
conservado dos templos egipcios. Come9ada em 237 antes de J . C
Ptolomeu III Evergeta, foi a constru.;;ao terminada p~r p tolome
pal da celebre Cle6patra.
sentos vivem sob vigilancia incessante de Aurelia, a
tera e virtuosa de Cesar. 0 alho vigilante de Aurelia
taculos intransponiveis as entrevistas secretas dos am
Os romanos adoravam uma deusa, Bona Dea. Em
as mulheres, todos os anos, celebravam urn cult
nenhum homem devia assistir. Ora,CI6dio, efeminad
belo como uma mulher, disfargado de tocadora de h
duziu-se na cas a de Cesar. Evitando penetrar nas p
nadas, vagava assim pela vasta casa ate 0 momenta e
escrava reconheceu sua voz mascula. Imediatamen
interrompeu a cerimonia, mandou cobrir os idolos
Cl6dio. No dia seguinte, Roma inteira entretinha
escandalo. Cesar se separou entao de Pompeia. Cl6d
em juizo e Cesar adota logo uma conduta estranha
amavel para com Cl6dio e finge ignorar tudo da cu
do acusado.
Quando the perguntaram porque havia repudiado
Cesar respondeu:
- Porque exijo que minha esposa esteja acima d
suspeita.
Cesar foi nomeado governador da Espanha. Por
sua partida, seus credo res deram 0 alarme. Dirigiu-s
a Crasso, 0 hom em mais rico de Roma, que pagou s
mais urgentes. Na Espanha, leu Cesar a biografia de
o Grande. Seus amigos, vendo-o derramar lagrimas,
das causas de tal emogao.
- Nao achais - respondeu Cesar, - que minha tr
bern fundada? Quando tinha a minha idade, Alex
servava sob seu dominio grande numero de povos
executei amda nada de grande e de gloriosol
Cesar desempenhou brilhantemente sua missao na
De volta aRoma, reconciliou Pompeu e Crasso,
hom ens convieram entre si urn acordo secreto segu
seguiriam uma linha politica comum. Foi 0 triunvi
74
gica, a Holanda e a Italia do Norte, acima do P6
quatro legioes, isto e, cerca de 24 mil homens. A d
seu governo foi fixada em cinco anos, que Cesar d
seguiu duplicar.
E certo que 0 estudo das campanhas militares de
o Crande, e de outros grandes estrategistas havia imp
profundamente Cesar. E evidente tambem que nutria
de conquista de que nao revelou ao Senado, sem
prudente, se nao temeroso, 0 menor projeto. Nos se
tarios sobre a Guerra das Galias, justificou sua p
agressao e procurou provar que cada uma de suas
"defensivas", felizmente levadas a cabo, 0 obrigava
nova expedic;ao.
Cesar submeteu primeiro os helvecios, depois bat
Ariovisto, rei dos suevos. Na verdade, e Ariovisto
persona gem germ~LDico que aparece no plano hist6
os suevos os antepassados dos suabios. Devemos as
tao exatas e expressivas de Cesar a quase totalidade
mac;oes a respeito daquele rei.
ApOs interminaveis campanhas militares, Ariovisto te
dir e subjugar a Calia. No ana de 58, foi batido
entre Besan<;on e Schlestadt. Ariovisto fugiu para
Reno, mas sucumbiu aos ferimentos recebidos em co
a
Cesar visou entao conquista da Belgica e consegu
o norte da Calia.
Nao se deteve ali!
Por duas vezes, atravessou a Mancha (em 55 e 54
a Inglaterra, onde se contentou em nomear 0 rei
tributario de Roma, "porque esse povo pobre e ind
possuia nada que valesse a pena levar". (Plutarco).
acrescentar que os "antigos ingleses" jamais pudera
tributo que deviam a Cesar.
Cesar nao tentou conquistar os paises situados a lest
isto e, a Alemanha atual; to davia, a fim de provar
passou 0 rio por duas vezes, em 55 e 53 antes de J. C
dade de saber deter-se no momenta em que 0 alv
atingido, tenham constituido 0 verdadeiro genio de
margens do Tamisa como as margens do Reno, bate
riamente em retirada (Mommsen). Desde que pres
o "destino" estava realizado, sabia obedecer a voz i
o advertia.
:E precisamente nisso que 0 genio de Cesar parece
o de Alexandre ou 0 de Napoleao. Alexandre foi
bater em retirada em Hipanis, rio do Mar Negro, e
deixou Moscou, porque nao tinha outro jeito. Se
e Napoleao desaHavam 0 destino, Cesar sabia faze
as hostilidades, depois que conquistava a vit6ria. Ja
passava os limites atingidos e como que escolhidos
contentando-se com eles!
Urn jovem celta de origem nobre, nascido na regiao
nes, 0 celebre Vercingetorix, reuniu os gauleses num
contra Cesar e contra a dominaglio romana. Com um
excepcional, arrostou em Cerg6via as assaltos de
entao, correu urn grande perigo. Mas depois Ce
Vercingetorix em Alesia e 0 her6i gauIes viu-se
render-se. Conduzido aRoma, acorrentado, nas fi
desfile triunfal, foi mais tarde decapitado no Care
tinus. :E de todos sabido que Vercing6torix Hcou, pa
ceses, como 0 her6i nacionaI, honrado da mesma m
Arminio entre os alemlies.
Durante sete anos, prosseguiu Cesar na conquista
Plutarco, 0 historiador grego, estimava que, como e
ultrapassara Cesar todos os genera is romanos que
ilustrado antes dele: os Fabios, os Cipi6es, os Me
Mario, Luculo e ate mesmo 0 grande Pompeu.
acrescentou que Cesar conquistara paises imens
mais batalhas e vencera 0 maior numero de inimig
de assalto oitocentas cidades, submetera trezentos
tera-se contra tres milh6es de homens, dos quais
£izera prisioneiros mais de um milhaol
76
ra-se geralmente que sofria de ataques epilepticos
as campanhas militares eram uma especie de cura
chas fon;:adas, as refei~6es frugais, 0 exercicio a
deviam, na sua opiniiio, cura-Io daquela doen~a. Do
tualmente numa carro~a ou numa liteira. Durante 0
cionava as cidadelas, os campos e as cidades. Urn
permanecia sempre a seu lado, escrevendo sob s
mesmo no decurso de suas via gens. Por tras de Ce
comumente um soldado armado de espada.
Cesar se locomovia com tal rapidez que 0 percurso e
e 0 R6dano niio excedia de oito dias. Quando estav
juntava as miios atras das costas e punha sua cav
gal ope. Durante suas campanhas, costumava ditar c
ocupando assim dois ou tres escribas. Achava que as
por correspondencia" economizavam tempo e que
conversa~6es" eram mais fatigantes que as curta
Cesar, em plena maturidade, entre quarenta e tres e
an os, foi um homem muito diferente do adolescen
mundano e poeta que tinha side aos vinte anos.
Suas aventuras amorosas, muitas vezes coroadas de
niio haviam diminufdo em numero, mas mulheres e
para ele urn recreio; brincava com elas e nunca lhe
que tomassem qualquer ascendente sobre ele. Dissi
calvfcie sob sua coroa de louros e. revelava sempr
gestos e em seus atos, certa vaidade.
Foi Cesar talvez 0 mais universal dos genios que v
t erra: homem de Estado perfeito, general que sem
su bordinar suas empresas militares as vistas mais
d a poHtica, escritor dotado duma vivacidade e du
cidade de expressiio excepcionais, soberano nato
encantar, do simples burgues ao rude combatente,
damas romanas as princesas do Egito e da Maur
tanto urn corajoso general de caval aria como
banqueiro.
CESAR
PLUTARCO, "Cesar",
80
GRAV. 21 - Nascldo em 63 antes de J. C., morreu 0 lmperador Au
depols de J. C., com a ldade de 77 anos. "Se bem que desdenbasse tod
era duma beleza malestosa e duma graca lnslgne" (SuetOnlo) . 0
tomou 0 seu nome.
real.
o barbeiro de Cesar, urn escravo, 0 hom em mais m
exercito, dissimulado e curio so, surpreendeu a c
tramada contra Cesar por Poteinos e pelo genera
Cesar mandou a guarda subir ao salao das festas e
dominar Poteinos, mas Aquilau logrou escapar. De
vocou ele Cesar. Os egipcios obstruiram as canali
agua e as tropas romanas estiveram a ponto de
sede. Aquilau tentou mesmo apoderar-se da frota
Mas Cesar mandou ati(,(ar urn gigantesco ineendi
arsenal, se propagou a cidade e destruiu entre ou
a celebre biblioteca de Alexandria.
Essa catastrofe, que ocorreu no ana de 47 antes de J
tituiu urn dos acontecimentos mais tragicos da h
pensamento: a biblioteca de Alexandria 'continha qu
mil rolos de papiro, tesouro que nos teria trans
conservado, os conhecimentos de varios sej::ulos,
milenios de cultura e de civiliza(,(ao pre-cristas.
Na confusao e desordem da peleja, encontrou-se
perigo de morte. A batalha encarni(,(ou-se perto d
Faros, celebre por causa de seu farol. A Hm de s
tropas, saltou Cesar do cais para uma embarca(,(ao.
as partes, 6s barcos dos egipcios se aproximaram
para escapar-lhes, lan(,(ou-se ao mar e salvou-se a
uma chuva de projetis. Tinha na mao papeis impor
conseguiu as.sim salvar. Entrementes, 0 jovem rei
ao lado de Aquilau. Cesar atacou entao os egipcios
lou-os. Segundo toda verossimilhan(,(a, 0 rei-mooino
no Nilo.
Cesar despediu-se de Cleopatra, rainha do Egito, e p
a Siria. Cleopatra deu a luz urn filho que os ale
com justa razao, chamaram de Cesarion. No ana de
de Zela, ao suI do Mar Negro, derrotou Cesar, Farn
de Mitidrates. Tendo alcan9ado a vitoria apos um
que durou uma hora e a Hm de anuncia-Ia aRom
82
deu prova para com 0 que se costuma chamar a "
testemunhados perante a Hist6ria por essa cam
invemo africano de 47-46.
Ora, que e exatamente a sorte?
Nlio sera bern simplesmente a inteligencia em saber
mente no momenta mais favonlvel? .
Foi precisamente a campanha da Africa que provou
sabia conquistar a vit6ria total, definitiva, a despeito
di~6es gerais mais desfavoraveis e dos reveses de fo
cessar repetidos.
Na Africa, com efeito, formara-se urn nucleo, urn c
de oposi~lio republicana. Ali se haviam -agrupado
sarios de Cesar e da tirania, os dest;ro~os do exercito
em Farsalia, as tropas de ocupa~ao · de Dirraquio (D
Querquira e do Pelopbneso e 0 que restava da frota
comandante-chefe Metelo Cipilio, sogro de Pomp
general-ad junto Petreu tinham-se ali reunido, bern c
cos Catlio, 0 chefe poHtico da oposi~lio republicana
Cesar e que, segundo Mommsen, "preferia deixar s
Republica na legalidade a salva-Ia de maneira ileg
Cneu e Sexto, os dois filhos de Pompeu, bern como 0
Labieno (que foi 0 melhor oficial de Cesar na Ga
se colocara ao lado de seus inimigos) haviam-se i
juntado a oposi~lio na Africa. Os derradeiros e i
partidarios de Pompeu tinham reunido dez legi6es
rei africano que punia de morte todo simpatizante
juntara-se a temivel coligac;:lio.
Para preparar sua campanha da Africa, reuniu C
tropas na Italia do sui. Mas os legiooarios protesta
interminaveis guerras, cedi am a urn legitimo desenco
Estavam descontentes. Tinham esperado recompensa
gens mais substanciais que as que haviam obtido. Rec
a obedecer. Pior ainda, marchavam sobre Roma. Qu
pr6prios falar com Cesar. Os oficiais que tentavam
bandos indisciplinados eram liquidados pela solda
que deviam ser desmobilizados. Nao ignoravam q
mais do que nunca, tinha necessidade deles, se qu
preender a campanha da Africa. E sabiam tambem
momento, que de nao podia despedi-los. Acredit
Cesar satisfaria completamente aos seus desejos e
e que chegara 0 momenta em que poderiam enfim
frutos de seus deveres e de seus esforc;os.
Mas Cesar nada cedeu.
- Tendes razao, quirites, - respondeu, - estais f
esgotados pelas guerras e pelos vossos ferimento
partir.
Chamava-os quirites (concidadaos) e nao "camarad
se tivessem deixado de ser soldados, como se ja fbs
E acrescentou que, apos a vitoria, no seu proxim
receberiam tambem eles, ao mesmo tempo que os
vitoriosos, presentes e terras. Todavia, nao tomariam
cerimonias, no triunfo. -
- Licencio-vos. Nao tenho mais necessidade de vos.
o que vos e devido e vossa recompensa, e sem desc
Urn instante, os sold ados, confusos, permanecera
Depois, ~olicitaram autorizac;ao para ficar ao lade
Loodo-se essa narrativa, compreende-se dificilmen
legionarios amotinados se tenham acalmado tao dep
foram as palavras de Cesar que provocaram tal r
Foi urn elemento bern diverso que, ap6s do is milenio
flicil de descobrir. Uma vez mais, a personalidade e
de Cesar haviam fascinado seus soldados. Uma vez
yam ali, perturbados, comovidos, envergonhados,
como instrumentos obedientes na mao do grande
Mommsen escreveu:
"A Hist6ria nao conhece maior obra-prima de psico
A campanha da Africa, com uma Unica excec;ao, foi u
deira cadeia de reyeS de fortuna. A excec;ao, a b
Tapso, foi 0 encontro supremo e decisive em que C
sempre, arrebatou a vit6ria. Embarcou para a Afric
84
GRAV. 23 - 0 Palatino era
das sete collnas de Roma. D
foram as primelras constru
erguidas e Ill. se levantaram
de Cicero, de Crasso e d
Depols de Augusto tomo
resldencla imperial. Tiberio
Adriano e Severo ali m
suas morad
cebe e age como se se tivesse lan9ado de proposito no
- Agarro-te, Africa! - exclama.
Urn a urn, os navios, que se haviam perdido na t
e.ncontram sua rota e acostam na terra africana.
Atacado por Labieno, Cesar salva suas legioes por
sofre pesadas perdas. Nesses momentos, testemunh
paciencia e uma resistencia nervosa admiraveis. L
com metodo, poe as vantagens de seu lado, evitando
decisiva. Contra Juba, mobiliza tribos de pastores
alia-se aos reis da Mauritania. Amotina os indigena
africana contra os republican os e consegue ganhar
das cidades.
A fim de garantir seus homens por ocasiiio duma reti
tual, apodera-se dos portos de Ruspina (Monastir
Sousa) e de Leptis, 0 Pequeno. Ali se entrincheira e s
a frente dum exercito inferior em numero, na difi
expectativa. Cesar pensa em tudo: quando as reserv
ragem para os cavalos diminuem, manda colher
Temem seus soldados 0 combate contra os paqui
guerra do inimigo? Manda buscar na Italia elefante
Sistematicamente, adestra seus jovens legionarios n
dades das guerrilhas africanas, pelo exercicio e pelas
cotidianas. Tornou-se mestre na arte de "arrastar" a
os movimentos, na expectativa prudente e na arte d
Durante cerca de quatro meses, soube Cesar espera
em que suas legioes de veteranos, hom ens endurecid
rimentados, desembarcaram por Hm nas costas afri
Depois, perto da fortaleza de Tapso, ocupada pel
com exatidiio e no momenta favoravel, atraiu Cesa
sario a uma armadilha decisiva. A 7 de fevereiro
47 antes de J. C., Cipiiio e seu exercito estiio post
de Tapso, no local mais estreito do istmo, cercado d
pelo mar e dooutro por uma laguna. Os veteranos
trepidam de impaciencia e seu general, a cavalo,
no ataque. .
86
Cesar foi completa.
Quando sua frota em fuga foi alcan~ada, Metelo Cipi
dante-chefe do exercito inimigo, suicidou-se. Quan
Juba, escolhera um fim dramatico e espetacular; na
de Zama, sobre uma imensa fogueira, quis fazer-se
com seus tesouros, sua familia e todos os habitantes
Mas os cidadaos de Zama mostraram pouco entus
participar dessa sangrenta e funebre cerimonia e, q
rei se aproximou da cidade, fecharam-Ihe as portas.
banquete suntuoso, 0 selva gem numida provocou
combate singular, ate a morte. Ora, nao foi ele, m
quem sucumbiu e Juba, ferido, fez-se apunhala
escravo. Labieno e os fiIhos de Pompeu fugiram e
a Espanha.
A morte de CaUio em Utica significava, de fato,
da guerra civil, 0 fim da dissffi~ao entre as fbr~as da
e as de Cesar. Quanto ao irredutlvel Catao, morreu
ideia - martir da Republica. Ainda que fosse somen
a vanta gem de poder exercer sua cIemencia aos
mundo, teria Cesar gostado de perdoa-Io e agraci
Catao, amante apaixonado da liberdade, compree
que a compaixao de Cesar fechar-Ihe-ia para sempr
a imortalidade. Aconselhou seu fiIho a ir ter com
- Por que nao vais tu mesmo? - perguntou-Ihe 0
·E Catao respondeu:
- Nasci numa epoca em que se podia agir e falar l
Estou demasiado velho para me habituar a servidii
tu es fiIho dos tempos modemos e deves reconcil
o espirito de tua epoca!
Catao, 0 mais probo republicano de seu tempo, mer
leitura da obra de Platao, Da Alma, e, a meia-noit
proprio ventre com um punhal. Quando the pensara
mentos, arrancou-se os intestinos. Dessa maneira, ate
genio de Cesar ficou impotente diante da retidao
Cesar em Roma - ap6s tantas guerras - aquele
bern 0 do genio militar que defendera e estendera
romano, e nao 0 do vencedor da guerra civil.
Urn dos regosijos foi consagrado a Galia, outro a
terceiro ao Ponto e 0 ultimo a Africa. Por ocasiao
foram exibidos, com 0 imenso saque, os numeros
Arsinoe, princesa do Egito, 0 jovem principe Juba da
o famoso Vercingetorix, 0 her6i e chefe dos gaule
precedeu as carr09as carregadas de ouro. Recom
legionarios: cinco mil denarios para cada urn e dez
rios para cada centuriiio!
Cesar foi eleito ditador; a principio pelo prazo de
depois vitaHcio: dictator perpetuus.
A batalha mortifera de Munda, na Espanha, que Ce
com os filhos de Pompeu, foi tao terrivel que el
que, se muitas vezes combatera para alcanc;ar a vit6ri
dia havia lutado para preservar sua vida. Foi sua
batalha.
TiDham-se os romarlOs habituado as vit6rias de Cesa
fador reinava como senhor absoluto e Roma, a seus
sob 0 juga de seus caprichos. Desejava-se mesmo "qu
monarquico preservasse 0 pais das guerras civis e g
manuten9ao da paz interior. Foi por causa desse te
essa razao que se nomeou Cesar ditador perpetuo. M
do momenta em que dispos, sem constrangimento, co
absoluto, de urn poder ilimitado, entrou Cesar rea
seu papel de ditador e de tirano autentico.
Foram entao os louvores, os paneguicos, a incensac
pessoa, levados "aos extremos limites do grotesco
mas seguramente, iriam ridicularizar 0 ditador. Sob os
a adulac;ao e as glorifica90es tao singulares e muitas
cantes, apareceu Cesar entao aos olhos mesmos do
mais sensatos e mais corajosos, como um tirano d
e execrado. Foram precisamente os irredutfveis a
88
- Vale mais morrer de uma vez que esperar para
morte!
As distribui90es de cereais, as festas e regosijos,
destinadas aos soldados, todos esses dons, como is
ceu-os Cesar ao povo. Amadurecia gigantescos proj
nados a ultrapassar os exitos militares do pa-ssad
sujeitar os partas, ir ate 0 Caucaso, contornar 0 M
e penetrar na Citia. Descrevendo urn arco colossal,
vessia da Germ~nia e da Galia, pensava alcan9ar
conquistar de passagem os paises onde os oceanos "
os limites do mundo".
Projetou tambem cortar 0 istmo de COl·into. Tan
poder criavam futuras possibilidades tao prove
excepcionaisl Senhor do mundo, que nao valia a pena
der? Era preciso primeiro por diques ao Tibre. Ces
ideia de desviar-lhe 0 curso para faze-lo desemboc
perto de Terracina. Concebeu 0 projeto grandioso d
pantanos pontinos, para 0 bem-estar de milhares
humanos. Quis elevar diques nas praias, libertar 0
6stia dos escolhos e dos bancos de areia que 0
construir portos ' e postos de amarra9ao. Interessou o
e os matematicos pelo estabelecimento dum novo
Criou 0 ana solar, 0 calendario juliano, cujo uso co
mundo e que, mau grado uma modifica9ao ordenada
Greg6rio XIII, em i582, esta ainda em uso.
E Cesar achava que era preciso fazer mais ainda.
Queria ser rei, 0 rei mais poderoso do mundo. Mas
insurgiu. Suas ambi90e-s desmedidas suscitaram 0
dia, no Senado, quando the testemunhavam urn res
rencioso e bern exagerado e que se queria sauda-lo
rei, Cesar nao se levantou e significou secarnente aos
que urn pouco de modera9ao se impunha. Ora, es
desagradou ao Senado tanto quanta ao povo: 0 roman
ofen dido. Cesar voltou para casa, desembara90u-se d
tribunal Tbda em09ao, to do movimento brusco, c
causavam-lhe vertigens: Cesar tentava desculpar suas
mas urn dos aduladores, Cornelio Balbo, exclamou:
- Nao esque9as que es Cesar. Na qualidade de se
tens 0 dever de deixar-te adorar!
Sentado numa cadeira de ouro, estava Cesar parame
as suntuosas vestes de seu triunfo. Ofereceram-lhe
de louros, com urn diadema. A cerimonia foi inte
apIa us os leves e surdos elevando-se duma assisten
Ora, quando Cesar recusou aceitar 0 diadema, s
povo ruidosamente sua aprova9ao. Estenderam ao c
mente 0 diadema. Cesar recusou mais uma vez. A
tomou a aplaudir. Cesar entao se levantou, irado,
que levassem 0 omato ao Capit6lio.
Mas em segredo, seus adversarios omavam sua e
diadem as, que dois tribunos do povo se apressavam
o ditador mandou meter na prisao os homens que 0
com 0 titulo de "rei". Com gritos de alegria, acom
povo os condenados ate sua prisao.
Marcos Bruto era inimigo aberto e declarado da t
FarsaIia, onde Bruto combatera ao lado de Pompe
havia agraciado. Tinha Cesar grande confian9a em
era pretor, e que ele queria nom ear consul. Mas
manhas, quando Bruto se preparava para presidir
descobria no seu lugar breves missivas tais como : "T
:8ruto"! ou "Nao es Bruto"!
Cassio, 0 instigador da conspira9ao contra a vida
compreendeu que era possivel conquistar Bruto para
porque 0 pretor era ambicioso. Urn dia, Cesar excla
- Nao auguro nada de born da palidez de Cassio!
E quando tentaram tomar-lhe suspeito Antonio D
ditador replicou:
- Nao sao os homens obesos que me inquietam, mas
os magros e os secos!
Pensava em Cassio e em Bruto.
9.0
dia, Cesar, que se dirigia ao Senado, encontrou 0
saudou-Q nestes termos:
- Como e? Ia chegou 0 15 de margo!
- Sim, ja chegou - respondeu 0 adivinho, - mas 0
nao acabou!
Na vespera, no decurso do jantar, quando os conviv
ram para saber qual a melhor dentre tbdas as morte
Cesar, com energia, exclamou:
- A que nao se esperal
Depois, foi ter com sua esposa, Calpurnia, e deitou-se
da noite, as portas e janelas do quarto se abriram bru
Calpumia langava longos suspiros e falava em voz a
sono. De manha, ao acordar, suplicou a Cesar que
e mandasse adiar a sessao do Senado. Cesar, inqu
perturbado; ate entao sua esposa jamais dera prova
superstigao.
Decidiu, pois, adiar, a sessao do Senado. Ora, urn do
do ditador, zombando, ridicularizou tanto a profec
medo supersticioso de Calpt'lrnia. Tomando Cesar
levou-o. Um escravo, desconhecido da casa, recla
entrevista secreta e urgente com Cesar e, nao tendo c
aproximar-se dele, dirigiu-se a Calpumia. Tinha de
a Cesar fatos da mais extrema importancia. Urn tal A
conseguiu tambem introduzir na mao de Cesar uma
nunciando a conspiragao. Cesar tomou a carta _e, se
olha-Ia, entregou-a a urn servidor. Artemidoro apr
dele:
- Le esse papel, Cesar, imediatamente, sem p
instante!
Cesar retomou a carta, mas a afluencia da multidao
de tomar conhecimento de seu conteudo.
o Senado estava reunido no suntuoso palacio qu
mandara construir ao lade do teatro onde estava i
levantada sua estatua. Cassio, de olho'S fixos no
Urn tal TUlio Zimbra entregou a Cesar urn pedido
de seu irmao banido e, implorante, acompanhou
cadeira. Cesar sentou-se e recusou categoricament
considera~ao 0 pedido. Com as duas maos, Tulio
toga de Cesar, desnudando-lhe os ombros. Foi 0 trib
quem 1he assestou na nuca 0 primeiro golpe de pu
o ferro penetrou pouco profundamente, porque a ma
tremia. Cesar arrancou-1he a arma da mao e apostro
- Celerado, que fazes?
Cada um dos conjurados brandiu entao uma arma
os lados, estava Cesar cercado. Esquivou-se aos go
ridos contra sua cabe~a e seus 01hos. Como um an
gem apanhado numa armadilha, lutou contra seus
Mas estava convencionado que todos participariam
nato. Bruto assestou-lhe urn golpe violento no ventr
de dor, Cesar voltava-se desesperadamente para
e para a direita. Mas quando reconheceu Bruto,
uma espada, velou seu rosto com a toga e deixou
sem resistencia.
Jazia perto do pedestal da estatua de Pompeu, sa
seu sangue. Foi como se 0 pr6prio Pompeu se ho
gada de seu antigo amigo. 0 general, 0 homem
mais poderoso de Roma, sucumbiu, ferido por v
golpes de punhal e espada.
Ora, 0 genio todo-poderoso que havia protegido Ces
sua vida parecia ainda velar por ele, aMm da m
vingar sua mem6ria! Em todos os paises, soLre todo
nos, esse genio perseguira os matadores. Todos os
sinos perecerao de morte violenta ou se suprimira
por Antooio e Otavio, Bruto refugiar-se-a num cume
e se matara com urn golpe de espada no peito.
- Vale mais morrer que esperar para sempre a m
Tais foram as _derradeiras palavras de Cesar.
o mis6gino mais endurecido.
DION CASSIO, livro
cap. XXXIV.
94
GRAV. 24 - A residencia de Augusto. 0 imperador comprou aos herdelr
uma cr.sa situada no Monte Palatino, instal ada com toda a simpl!cidade
sua esposa. Desde a epoca em que, gra"as a Augusto, 0 "Palatium" se torn
as moradas principescas sao chamadas, ainda em nossos dias, " palacios".
de Roma foram construidas no Palatino.
GRAV. 25 - A Via Apia partia de Roma e travessava a Campania ate capu
de comprimento, foi construlda em 312 antes de J. C. por Apio Claudio C
celeb!"e do Imperio e de cada lado dela construiram os romanos
pols de
envenenado
Dlon Cass
ram 0 com
Claudio qu
domlnado
I1bertos. V
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suflclen tes,
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GRAV. 28 -
J . C. a 37
o costume
Claudio de
nao ac(t>ba
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GRAV. 29 -
15 a 59 d
seu tlo, c
Dlzem qu
Nero Bub
envene
GRAV. 30 -
de Claudio
vida de de
nupclas co
ordem de
ano de
GRAV. 31 -
Ca!igula?
nac;Oes e
dade fol 0
l1m1te". S
dia, encon
o animal
CaJlguIa,
chado e
citara que gozavam de seus favores.
FUlvia, terceira esposa de Marco, tinha a vontade,
e a autoridade necessarias para dominar um ho
caniter e dum temperamento tao complicados e dif
os de Marco Antonio.
Mas se eram raras as estadas do general em Roma,
do Oriente, em companhia de tocadores de £lauta,
rinos, de politiqueiros e de outros libidinosos como
vida airada com tal impudencia, tal audacia que R
disso tema de chacotas.
Se Antonio era descuidado e frivolo, era tambem ext
confiante. Par esta razao, a rale, os corruptos e os v
haviam-se introduzido na corte e abusavam de sua si
bonachona. Se gostava ele de rir e de zombar d
tolerava de boa vontade que zombassem dele, po
ditava que as pilherias de seus pretensos amigos
duvidosas e malevolas. Ora, s6 aduladores esc
habilmente algumas verdades nas suas hip6critas c
Marco AntOnio ficava convencido de que tratava co
4'capazes de dizer a verdade" e que nao tinham ve
"£alar corn franqueza".
Dotado de uma natureza semelhante mais ou meno
urso empanturrado de mel, teria podido Marco A
priori, passar dias felizes, se a fatalidade nao t
imposto 0 infortUnio que foi sua paixao por Cle6p
a jovem rainha soube abafar, extinguir, depois a
jnteligencia e ass6lidas qualidades daquele · ho
destinado. .
Estabelecido em Tarso, na CiHcia, nao longe da c
terranea da Turquia, ativou Marco AntOnio as pr
-da campanha contra os partas (os persas). Mandou b
urgencia Cleopatra, a quem quis confundir, por hav
-de que houvesse dado dinheiro e sold ados a Cassio
de Cesar.
98
representando urn box
que mede mals de um
em nossos dlas, no Mu
Roma. A flm de aurn
seus golpes, usavam
reias de couro refo
estava em plena expansao de sua gra9a e de sua in
E se levou em suas bagagens presentes suntuosos, ou
tinha sobretudo confian9a na sua irresistivel sedu9
Impaciente, Antonio ordenou a Cle6patra que a
preparativos de sua viagem. Mas a finoria zombav
exorta90es. No tombadilho de seu barco, repousava
das velas purpureas do navio. Os remos de prata e
jados cadencialmente pelos remadores ao som das c
flautas e das charamelas.
Cle6patra mostrava-se omada e pintada tal com
epoca as eHgies de Afrodite. Adolescentes aba
leques e belas escravas, vestidas como as nereidas e
trabalhavam no Ierne e no cordame. Milhares de
incenso semeavam efluvios perfumados ate as marg
sobre 0 qual a galera maravilhosa vogava para 0 i
pais. Da embocadura ate 0 desembarcadouro, acom
as multidoes compactas 0 "fenomeno egipcio".
No mercado publico, preparava-se Antonio para
justi9a, mas 0 povo havia deixado a cidade para
chegada da rainha do Egito. Quando Antonio soube
convidou Cle6patra para jantar. Ela, porem, rogo
fosse ve-Ia.
Marco Antonio obedeceu.
Ficou deslurnbrado diante do luxo e do esplendor
Cleopatra mandara acender dezenas de rnilhares
cintilantes, dispostas em cfrculos e losangos de fogo
No dia seguinte, pagou visita a Antonio. 0 fausto q
~le a toda a press a exibir era, certamente, de quali
modesto e ele proprio sorriu, cordialmente, diant
triste grandeza. A astuta Cleopatra compreendeu bern
diante das pilherias de Antonio, que nao tinha de
urn horn ern refinado e culto como 0 fora Cesar. Ad
atitude natural, muito livre, ousada mesmo.
Abeberando-se apenas nas fontes do rnundo antigo,
as lendas criadas pelas inurn eras biografias, roman
100
nas conversa~es que com ela se travava irradiava-
escreveu Plutarco, urn encanto irresistfvel. A arte c
sua palavra, sua atitude, seu comportamento, todo
distin~o, de elegancia e de refinamento, e sua pl
feita exerciam entao verdadeiro faseinio. A voz era e
Cleopatra sabia grande numero de idiomas: 0 etfo
dita, 0 hebraico, 0 arabe, 0 smo, 0 meda, 0 pa
duvida alguma, 0 latim e 0 egfpeio.
Plutarco escreveu que os reis Ptolomeus, que re
Egito antes de Cleopatra, nem mesmo se esfor
aprender 0 egfpcio.
Cleopatra era de origem macedonia e 0 grego foi s
sua lingua materna. 0 fundador da dinastia dos Pto
urn dos sete alabardeiros de Alexandre, 0 Grande.
Uma vez que eram os reis do Egito, em geral, produ
guineos de irmaos e irmas, conservara certamente
dos Ptolomeus 0 puro tipo macedonio. ~ preciso, p
nar-se Cleopatra como urna mulher de' pele branca,
peia, dife.rente de seus suditos de pele morena.
Antonio mandara chamar Cleopatra a Tarso para
censuras veementes . .Mas no fim, acompanhou-a a
Como urn jovem ocioso, entregou-se ao amor e a volu
cendo 0 tempo, isto e, para ele 0 mais preeioso de tod
o casal fundou em Alexandria uma especie de anteei
"existencialista", isto e, "urn circulo unindo os que v
maneira inimitavel". Aqueles depravados abandona
as inclina~oes mais baixas, as mais vergonhosas cupi
apos outro, fazia 0 cozinheiro assar oito javalis, po
prato devia atingir a perfei~ao e 0 mestre-cuea n
em que momento desejavam os amorosos ser servido
impossivel, dizia ele rindo, adivinhar a hora em
traier as comidas.
Nem de dia nem de noite se afastava Cleopatra dos
Antonio. Espirituosa, jovial, nunca lhe faltando
para improvisar as diversoes, sabia mimar com
MARCd · ANTONIO E CLEOPATR
104
GRAV. 35 - De pillo rUlvo, 0 lmperador
Nero relnou quatorze an os : de 54 a 68
depols de J. C. Com a Idade de qUlnze
anos, d esposou a menlna Otavla, de doze
anos de Idade. Aos dezessete anos sublu
ao trono. Nero fol poete. de merito.
imperio, sob pretexto de querer urn general enve
lou co de paixao amorosa consolidar os liames s
que a prendiam a uma mulher! Uma vez mais, as
moviam sem parar.
Quando Antonio reconheceu os gemeos a quem
acabara de dar a luz, quando chamou 0 menino
e a filha Cle6patra (nomes juntos aos sobrenomes
de Lua), recome9aram as mexericos romanos cad
intensos. Lastimava-se a bela e infeliz Otavia. Enq
Antonio tentava justificar-se, .afirmando que a gr
Imperio romano nao se media pelas suas conquistas
pelas suas liberalidade, pois que a poder de Roma
solidado para sempre, gra9as a uma numerosa de
a de seus futuros reis. E acrescentava que .Hercules
nao assegurara a continuidade de sua linhagem
sua esposa.
Otavia fez uma tentativa desesperada para salvar
com Antonio e para evitar a rutura entre seu ma
irmao. Partiu ao encontro de Antonio, mas em Aten
uma carta ordenando-Ihe que ficasse na cidade.
Cleopatra mediu 0 perigo que corria. Compreendeu
nao hesitaria em travar luta contra ela. Temia a d
autoridade de Otavia e, mais do que tudo, 0 esplen
beleza. Fingiu entao ardente amor por Antonio.
deperecer. Contemplava-a Antonio? Ela 0 fitava
extase. Afastava-se dela? Assumia urn ar desolad
Antonio a olhava furtivamente, fingia secar pretensa
a fim de que ele nao se apercebesse de seu pesar
era excelente comediante.
Preparava Antonio uma campanha contra os partas.
patra prendia-o com mil liames, com todos os a
paixao que a civiliza9ao egipcia the havia ensinado
cinco mil anos de velhice, e de seu atavismo
Angustiada, em lagrimas, persuadiu Antonio de que
lhe estava ligada pelas raz6es de Estado e por ca
106
deixasse, ficou Antonio entao incapaz de encarar co
frio 0 mais simples projeto. Esse tormento nao Ih
nenhum repouso durante a guerra que travava contra
Ora, essa campanha, e preciso dize-Io, era uma expe
mais diHcil e perigosa que todas as empreendidas
pelos generais romanos. Marco Antonio dispunha du
imponente e os paises da Asia viviam apavorados.
suas manobras, punha a general tudo em a~ao pa
Cleopatra. A fim de permanecer a seu lado durante
come~ou sua campanha prematuramente. A esta~ar
vora.vel. Constantemente apressado, precipitava sua
e, em lugar de considerar as conseqiiencias de seus
. como que obsecado pela ideia fixa de sua paixao
Era para os tapetes suntuosos, para os coxins macios
deles, para os doces encantos da rainha egipcia,
lagrimas enternecedoras e para sua voz suave e sonh
ia todo 0 seu pensamento.
Em Roma, Otavio mdenou a sua irma que pusess
afronta e a vergonha. Aconselhou-a a abandonar 0
conjugal. Mas Otavia continuava fiel a sua palavra
va-se, nao so com seu proprios filhos , mas tambem
FUlvia. Sustentava os partidarios de Antonio, de qu
necia a esPbsa devotada e que a recompensava tao m
conduta exemplar.
Em Alexandria, sobre urn estrado de prata, fez Ant
dais tronos, urn para ele, outro para Cleopatra, a
clamou rainha do Egito, de Chipre e das regioes d
Africa do Norte. Cesarion, 0 filho de Cleopatra e
foi nomeado co-regente. Alexandros, filho da ra
Antonio, recebeu a Armenia, a Media e os palses
Seu segundo filho foi proclamado rei da Fenicia,
da CiHcia.
Doravante, Cleopatra, todas as vezes que aparecia
povo, tinha a direito de revestir-se com os trajes s
Isis. Chamaram-lla a "nova Isis". Se tais atos de
en tao, os romanos lamentaram nao s6 Otavia, ma
Antonio. Conheciam Cle6patra que, enquanto Cesa
ate a sua morte, morara em Roma. Sabiam que a e
era nem mais bela, nem mais jovem, nem melhor q
Acumulavam as censuras, as queixas e as acusa9
Cle6patra.
Pretendeu-se que Antonio lhe fizera presente da bi
Pergamo, que continha duzentas mil obras-primas.
na presen9a de urn numeroso are6pago, Marco A
joelhos, havia esfregado os pes de sua amante. 0 Se
diu dec1arar guerra a Cle6patra e suspender de
fun90es 0 homem que cedera seu poder a uma mul
afirmou que 0 desvario de Antonio se devia ao abuso
e dos filtros.
Logo que foi a guerra dec1arada, os adivinhos, os
e os aruspices afluiram para predizer as inflllencia
e desastrosas que acabrunhariam Antonio. Pisau
Pesaro), cidade que Antonio fizera construir a m
Adriatico, fora, entrementes, destruida por urn t err
Em Alba, a estatlla de Antonio deixava re9umar alg
de suor que reapareciam assim que eram enxugada
acampava em Patras, a entrada do golfo de Corinto
atingiu 0 templo de Hercules, ficando 0 santuario in
destruido. Em Atenas, a estatua de Dionisio foi
pela tempestade e caiu no teatro. Esse mesmo fura
por terra os colossos de Eumenes e de Atalos, sob
estava gravado 0 nome de Antonio.
A batalha naval entre as frotas de Antonio e Otavi
perto de Actiurn, a 2 de setembro do ano de 31 ant
No decorrer do combate, avistou Antonio 0 barco de
que se dirigia para 0 largo. Como louco, perdeu todo
de si mesmo. Abandonou suas tropas e saiu no
mulher que, naquele in stante, The custou urn impe
Quando Cle6patra avistou no mastro 0 pavilhao d
deixou que 0 navio se ~proximasse. Antonio subi
108
aproou em Tainaron, perto do cabo Matapan, ao su
poneso, as criadas de Cleopatra conseguiram por fim
uma entrevista do casal.
Em Actium, a frota de Antonio travou severa e corajo
com Otavio. Mas os lugares-tenentes decidiram aband
resistencia, doravante inlitil. Antonio rogou a Cleo
seguisse para 0 Egito. Abandonava-se a solidao. A
quieto, minado pelo pesar, era bern 0 contrario de
Vagava em companhia de dois amigos. Tentou sui
seus amigos 0 impediram e 0 acompanharam a Alexa
Compreendeu entao que Cleopatra era de outra
diversa da sua. A cora gem, a decisao, 0 espfrito emp
nao a haviam abandonado. Cleopatra tentou arrasta
atraves das areias das dunas do istmo ate 0 Mar
Dali, acariciava 0 projeto de dirigir-se para urn pais
a fim de por-se ao abrigo de Otavio e da escravi
esperava.
Os arabes inc.endiaram entao os navios que eram
ate a margem com tanto esf6r90 e como illfelizm
Antonio acreditado que 0 exercito terrestre de Acti
sao e salvo, abandonou Cleopatra seu projeto e co
em refor9ar as fortifica90es de fronteiras.
Em Faros, sobre urn dique que avan9ava profund
mar, fez Antonio construir uma casa de campo. Com
tropo Timon de Atenas, cansado das trai90es, da h
da deslealdade dos hom ens, quis Antonio viver uma
solitaria. Mas Cleopatra 0 trouxe de volta para s
de Alexandria.
A famosa ·sociedade dos "que vivem duma maneira
ravel" foi dissolvida, e 0 casal fundou 0 cfrculo "dos
rerao juntos". Grande nlimero de arnigos decididos
com Antonio e Cleopatra se reuniu ao grupo, mas
esperavam sua hora derradeira, passavam dias felizes
e ballquetes.
Ora, Cleopatra havia perfeitamente previsto 0 resu
Comec;:ou sinistros preparativos. Desejando conhece
cujo efeito mortal seria menos doloroso, experimento
toxicos em condenados a morte. Verificou que os ve
ac;:iio era fulminante provocavam dares insuporhlveis
que os venenos lentos causavam menos sofrimento.
criminosos escolhidos como cobaias, experimentou
sabre animais, fazendo-os mol' del' pOI' serpentes vene
Todos os dias, dedicava-se com paixiio a tais experi
Descobriu pOI' fim que somente a picada da aspide
o entorpecimento, 0 sono, ligeira transpirac;:iio da f
derradeiro, a sfncope. Atraves de suas experiencias, n
em tirar suas vftimas da letargia e notou com satis
suas cobaias se mostravam cad a vez mais recalcitrant
cram tiradas daquele estado que precede a morte.
Ao passo que 0 veneno das aspides age sabre os c
vosos, 0 das vfboras penetra na circulac;:ao sangufnea
das primeiras provoca uma especie de paralisia, d
respiratorias e a morte pOI' sufocac;:ao. 0 que age sobr
provoca morte mais dolorosn. POI' esta razao, cremos
patra escolhera, grac;:as as suas experiEmcias, a aspide
cujo veneno age sobre os centros nervosos.
Era a aspide 0 segredo de . Cleopatra? Nos cestos
tadores de serpentes do Cairo, a aspide levan tina e
em nossos dias sua sinistra cabec;:a triangular.
Segura de si, Cleopatra aguardava.
Estava pronta a empreender 0 jogo com a morte, 0
o mais astuto que jamais existiu.
a mim, tao grande general, i S80 Iff que me Iff dolo
intoleravell
PLUTARCO, "Marco
nio", cap. LXXVI.
112
trar uma morte gloriosa, mas de que nao poderia
vit6ria.
No dia seguinte, ao romper da aurora, colocou A
exercito sobre as colin as que se elevavam diante
Trepado num pitao, observava sua frota que deixa
ao encontro da de Otavio. Ficou ali, im6vel, com
fixa na sua derradeira oportunidade. Mas quando s
se aproximaram da frota inimiga, seus partidarios
os remos num gesto de saudaC;ao. Toda a sua frota
ordens de Otavio. Reunidos os navios, singraram
xandria. No mesmo momento, sua cavalaria 0 abando
de si, Antonio precipitou-se para a cidade, gritando
quisesse ouvi-Io que Cle6patra 0 havia traido.
Ora, Cle6patra havia-se refugiado no interior de
mento funerario. Com urn gesto brusco bavia a
alc;apao. Ferrolhos rangeram e, com urn golpe seco
duras se fecbaram. Somente Eiras e Charmion, sua
devotadas, tiveram 0 direito de acompanha-Ia aque
retiro. Antes de desaparecer, enviara a rainba a A
emissario para anunciar-Ibe que pusera fim a seus
Esgotado, acbava-se Antonio nas Ultima~ . Como que
exclamava bern alto:
- Esperar! ... Que esperas ainda? Ate hoje, 0 dest
receu urn pretexto que te permitiu viverl Hoje, nao m
Arrancaram-to!
Entrou no seu quarto e desembarac;ou-se de seus
guerra.
- 0 Cle6patra! Nao cboro porque te perdil Juntar
dentro em breve! Mas saber que uma mulher pod
sar-me pela cora gem, a mim, urn grande general, c
isso doloroso e intoleravel!
Ordenou Antonio a Eros, seu escravo fiel, que 0 ma
puxou a espada, elevou-a acima de sua cabec;a, vol
e matou-se a si mesmo. Caiu aos pes de seu senbor.
a si e suplicou aos que 0 cercavam que the dessem
cendo-se de dor sobre seu leito, gemia e urrava.
amigos 0 abandonaram. Foi entao que Diomedes,
secreto de Cle6patra, entrou. Tinha ordem de leva
ao mausoleu de Cle6patra.
Ant&nio, na agonia, pediu a seus servidores que 0
tassem para lao Mas Cle6patra nao abriu 0 aIc;apao;
numa janela donde mandou descer cordas. Amarrara
torno do corpo de Antonio. Eiras e Charmion ic;ara
o interior. 0 sangue ainda corria do ferimento e A
tando contra a morte, estendeu os brac;os para Cle
forc;as abandonavam as duas criadas, mas Cle6patra D
as cordas e 0 rude esforc;o que teve de fazer lia-s
trac;os.
Estendeu Antonio sobre urn Ieito. No seu desespe
suas vestes e arrancou pedac;os de carne de seu p
seus cabelos, enxugou 0 sangue que corria da feri
bern-amado. Chamava-o seu senhor, seu esposo, seu i
Esquecera-se de seu pr6prio infortUnio.
Antonio quis beber vinho. Quereria abreviar seus so
Teria verdadeiramente sede? Rogou a Cle6patra qu
se Fosse ·possivel, sem iDcorrer em desonra. E profe
paIavras:
- Nao me lastimes pelo infortunio que me feriu.
horas felizes que vivi; pensa na g16ria e no poder de
e sabe que para urn romano nao ha vergonha em s
por urn romano I
Depois, 0 grande Antonio expirou, cego ate 0 derra
tante pela sua paixao.
Apresentaram a Otavio a espada ensanguentada co
Antonio pus era fim a seus dias. 0 orgulhoso general
para sua tenda. Verteu lagrimas pela morte do ho
foi seu cunhado, seu co-regente, seu amigo e seu co
no decorrer de memoraveis combates e de corajosas
Leu a seus amigos cartas de Antonio para demonstra
114
GRAV. 37 - O
nllo acabam m
corredores da
mandou cons
ram um espac
que 0 grande
87.000 espectad
fol constru!do
jardlns de Ner
encheu uma p
Nero sob as
GRAV. 38 -
cupula da O
apartamentos
cePCllo, banho
afrescos art!st
constru!r a a
arinal c
esquecido a tesc-uro e, sem duvida, sonhava tambe
desfil e triunfal que a aguardava em Rama ...
Cleopatra recusau receber Praculeia. Entreabriu um
feita no alc;:apao e pediu que se autorizasse seus filh
terem suas prerrogativas sobre 0 Egito. Proculeio
o fim reanimar-lhe a cora gem.
Otavio enviou-lhe entao Galo, um de seus fieis gener
conversa travou pela abertura do alcsapao. Galo dis
morando-se 0 mais possive!, enquanta que Proculei
numa escada, introduzia-se pela janela colocada por c
das ciiadas exclamou:
- Pobre Cleopatra, esta acabado, seras cativa!
Quando Cleopatra avistou Proculeio, tentou apunhal
Proculeio arrancou-lhe a arma. Suspeitando que tro
veneno consigo, deu busca em suas roupas. Depois
guarda com ordem de trata-la com a maior deferenc
Alguns dias mais tarde, apresentou-se Otavio diante
patra. Achava-se ela num estado deplonivel, cober
mentos, com 0 peito arroxeado de equimoses. Fe
morta que viva, fazia a greve da fome. Vestida com
qUIton, a rainha, de cabelos despenteados, a face
os olhos avermelhados pelas lagrimas e a voz tre
c;:ou-se" aos pes de Otavio. A confiancsa que deposita
beleza ainda nao se esgotara e parecia como que i
sua face devastada. Otavia rogou-lhe que se tomass
Comecsou ela entao a justificar-se. Pretendia que 0
tecera era 0 resultado do medo con stante que sen
de Antonio. Otavio, ponto por ponto, refutou seus ar
Ela suplicou-lhe, procurando despertar-lhe a compa
como se se agarrasse ainda a vida por todas as fib
corpo. Finalmente, entregou a Otavio a lista das
de seu tesouro.
Urn dos intendentes da rainha que assistia a
acusou Cle6patra de ter omitido na lista certos teso
melha de colera, Cleopatra lanc;:ou-se sobre 0 hom
116
Otavio ficou entao convencido de que Cle6patra s
a vida. Garantiu-Ihe que a trataria com magnanimid
poderia ela viver na Italia, tranqilila, cercada das
lhe eram caras. Deixou-a, certo de te-la magistralm
nado porque, na realidade, acariciava 0 projeto d
rainha prisioneira, por ocasiao do desfile triunfal
Ora, Cle6patra sabia, ou tinha adivinhado as verdade
c;6es dele. E foi precisamente 0 medo que sentia dian
ultraje que a incitou a usar -de astUcia com Otavio.
Pediu permissao para oferecer a Antonio urn sacrific
Lanc;ou-se sobre 0 tUmulo de Antonio, exclamando:
- Antonio! e como prisioneira, severamente vigiad
oferec;o 0 derradeiro sacrificio. Nao tenho permissao
com lagrimas e com golpes este corpo cativo que se
servar para provar uma vit6ria conquistada contr
derradeiro sacrificio que Cle6patra te oferece. Se na
pode separar-nos, parece que na morte nao temos 0
repousar lado a ladol
Enfeitou 0 ataude com coroas de flbres e ordenou qu
parassem urn banho. Depois de ter feito suas abluc;
deu-se sobre seu leito e serviu-se de suculenta refei<
Um camp ones do campo vizinho apresentou-se, com
no brac;o. Os guardas perguntaram 0 que trazia ali.
abriu 0 cesto, afastou as largas folhas que cobriam 0
e mostrou figos. Os guardas ficaram maravilhados co
nho insolito e com 0 amadurecimento das frutas.
sorriu e ofereceu-Ihes algumas. E eles Ihe perm
entrasse com sua oferenda.
Terminada sua refeic;ao, enviou Cleopatra a Otavio
nha sabre a qual escrevera uma carta que ela prop
Ordenou que a deixassem sozinha com suas duas
mandou fechar a porta.
Otavio leu a mensagem de Cleopatra que the imp
a enterrasse ao lado de Antonio. Compreendeu 0 qu
passado e despachou urn emissario a rainha. Era tar
MARCO ANT6NIO E CLE6PATR
SUETONIO, "Augusto
LXXVIII.
120
soberano mais sabio, mais justa e mais venerado
hajam beneficiado Roma e 0 Imperio, habituados
de sangue. J amais haviam os romanos gozado de paz
e benMica, dum bem-estar tao maravilhoso e dum
dade tao extensa como na epoca em que Augusto
poder absoluto.
Se se considera 0 tipo ideal da beleza plastica em vig
epoca, pode-se facilmente imaginar a aparencia Hs
gusto, que os romanos consideravam como urn hom
beleza. Seus cabelos eram "quase louros" e, de estat
usava de preferencia cal~ados de saltos altos. Era,
prazer tinico e puro, observa-Io na cidade, no Fo
seus gestos, suas atitudes e seus movimentos tinha
harmonia. Sua voz, de timbre bem distinto, possuia
ridade agradavel e, de seu belo olhar cheio de luz
urn encanto de que nao ignorava de, alias, a for~a.
eram excepcionalmente grandes, 0 que, para 0 povo
da divindade. Quando 0 encaravam, sentia-se penosa
tado e preferia que 0 simples mortal desviasse seu o
do dele.
Coosiderava-se perito no conquistar 0 cora~ao das
Galante, suas estroinices foram tao notorias quanto a
seduzia as esp6sas de seus amigos tanto como as de
sarios politicos! Se the censuravam a conduta, resp
riavelmente que sacrificava tudo a politica de
felicidade, Livia, sua mulher, foi bastante inteli
suportar os la~os do matrimonio com aquele "vag
amor"! Apresentava-Ihe mesmo mCi~as, quando as
verao perturbavam os espiritos dos romanos decade
Livia foi uma das mulheres mais inteligentes de R
curso dos anos seguintes, nomeada co-regente,
"eminencia parda" oficiosa dos negocios de Estado
com vinte anos apenas, desposou Otavio, Roma escan
seu primeiro esposo, Tiberio Claudio Nero, ofere
assim dizer, a Otavio. Livia ja tinha um filho, 0 fu
homem, guloso de aventuras amorosas, viveu por o
como urn simples cidadao. Queria ser sem mais
cidadao e denominava-se de boa vontade princeps,
Quando os romanos, unanimemente, 0 chama ram
p:Hria", chorou. Nao queria que se pronunciasse d
o titulo domine (senhor), mesmo por brincadeira. Q
concederam 0 titulo de ditador, recusou-o horrorizad
tituic;:ao de que dotou 0 Estado nao estava destina
de uma monarquia, mas urn melhoramento do reg
blicano. Se, posteriormente, os "palacios" tiraram
de sua casa do Palatino, era esta de extrema sim
Seu trem de vida era reduzido; cornia de maneir
bebia pouco. As raras vezes em que bebia, preferi
produtos 0 vinho da Retia tirolesa. Existe certa s
entre Augusto e Frederico, 0 Grande; como este, fo
cionador que favoreceu as artes.
Augusto mandou construir uma casa de campo e
encheu-a de animais f6sseis e de ossos de mamute
gostos dum espartano e detestava as paradas militare
e os fogos de artiHcio. Barbeava-se diariamente,
epoca, nao era habitual.
Ora, quando se tratava de construc;:6es publicas, tes
Augusto uma inteligencia, uma generosidade e um
desconhecidas antes dele nesse dominio. As canaliz
aguas do Nilo no Egito, os aquedutos e as pontes
Franc;:a, a normalizac;:ao do curso do Tibie, 0 templo
no monte Palatino em Roma, essas construc;:6es de
marmore brotaram por assim dizer do genio do
Duma cidade de tijolos, passou Roma a ser uma
marmore. Mandou erguer urn Panteon suficientem
para conter todos os deuses antigos de Roma, ber
deuses novos dos povos conquistados.
- Nunca se pode tudo preyer. Mais vale assegurar
garantias para 0 futuro.
122
foi perfeita reprodus:ao da arte grega.
Teve Augusto a sorte (ou 0 merito) de contar entre
temporaneos poetas como VirgHio, Horacio, Propercio
Era com Tito-Livio que gostava de conversar a r
passado do Imperio. £sses grandes hom ens is:aram n
Otavio Augusto ao pedestal da divindade e conf
ainda em vida, a g16ria da imortalidade. E des sa g
fmtuma, devia Augusto reter alguma coisa, porqu
outro imperador romano foi como ele venerado ap6s
tal como urn deus.
No entanto, enquanto vivo, nao foi 0 homem urn h
de certo urn santo, e, na verda de, nem mesmo urn
Nao amava ninguem. No Senado, andava com uma
sob a toga. Pensava sem duvida no fim de Cesar. P
das sess6es importantes, dez col05sos velavam pe
gurans:a.
Se bern que tivesse vivido setenta e sete anos, sua
foi sempre das mais perfeitas. Muitas vezes, fazia-
submetia-se a severas sess6es de sudas:ao perto
ardente. Tomava banhos sulfurosos na Fonte de A
jorrava entre Roma e Tibur. Praticava a pesca a lin
dados e nozes - jogos de que participavam joven
Gostava dos risos, das brincadeiras e das tagarelice
fkios dos adolescentes sadios e ingenuos, que ma
de todos os paises do mundo, de preferencia da
Mauritania. Urn dia, dominado por urn dos grav
a que estava sujeito, tinham perdido toda a esperan
va-la, quando seu medico assistente fe-lo submete
tratamento hidroterapico frio. Ora, quando Marcelo,
sor presuntivo, submeteu-se a mesma cura, morreu,
fulminado .
Ao povo ofere cia Augusto pantomimas, combates d
jogos de gladiadores, uma batalha naval num lag
com tres mil combatentes: Panem et circenses (p
do circo)!
Atlas potente, 0 fragil, porem grande Augusto lut
a decadencia do Ocidente que, desde aquela epoca,
ciada e comentada por uma duzia de Splenger. Co
ca9ao de livros e de estudos de tbdas as disciplinas
da moral, tentava Augusto desesperadamente reanim
ritos. Durante a mesma epoca, na Palestina, 0 povo
o acontecirnento do nascimento do Messias.
Com 0 aumento de seus encargos, de seus deveres
poder, despojou-se Augusto do personagem de jo
depravado que fora no passado. Mas as conseqii
erros e loucuras cometidos durante sua mocidade a
lhe com tremenda realidade. Julia, sua filha, le
existencia vergonhosa com tal insolencia que A
obrigado 'a puni-Ia, como a uma criminosa vulgar
de Roma. Quando adolescente, fora educada com
Proibiu-Ihe 0 minimo gesto fora de lugar suscetfve
dalizar 0 grande publico. Retirada do mundo, dev
Par ocasiao duma estada em Baies, tendo-se urn
nesto e respeitavel permitido visita-Ia, Augusto, n
censurou-lhe severamente sua falta de discre9ao e
cencia.
Ao mesmo tempo que ordenava 0 banimento da f
miu-Ihe Augusto tudo quanta pudesse amenizar-I
Nao estava mais autorizada a beber vinho. Ning
mesmo urn escravo, tinha a direito de penetrar em
sentos sem haver solicitado autoriza9ao de Aug
mesmo depois de haver obtido 0 favor de avistar
reclus a, devia 0 visitante submeter-se as formali
consistiam em consignar sua ida de, sua estatura, a c
olhos, os sinais particulares, as cicatrizes que cara
sua identidade e sua pessoa. Vivia Julia submeti
estreita vigilancia.
Durante sua velhice, viveu Augusto solitario. A m
de seus amigos havia morrido. Foi 0 aspecto tragic
tencia de Augusto que, sem descendente masculino
124
GRAV. 39 - Servlo Sulpiclo Galba fol pro-
clamado lmperador pelas leg16es espanho-
las, em 68 depola de J. C. Com a Idade
de 73 anos, avarento, deform ado pela gata,
calvo, fez Galba na verdade tudo quanto
era preclso para tomar-se Impopular. Tor-
turado pela gota, nAo via nenhum Incon-
venlente em que os outros sofressem
por sua vez.
o AUTOR.
TACITO, "Anais", li
cap. XXXII.
128
GRAV. 42 - 0 Forum de Pompela e 0 Templo de Ju
GRAV. 43 - 0 anflteatro de Pompei a e 0 mals antigo dos' anflteatro
Construido em 80 antes de J. C., cavado na terra, tlnha 35 fIleiras
especta dores. Urn Imenso toldo protegla a arena e 0 p
lla Calia. Com seu irmao Druso, tomou parte nas
contra as germanos. Estavam as legionarios habituad
plina severa que Tiberio Ihes impunha. Obedeciam
em segredo, reunidos sob suas tendas, chamavam-n
"bebado".
Aos vinte e nove anos, caiu Drusa do cavalo e, enfe
reu. Livia ficou so com urn filho, Tiberio, e, no s
sua alma, desejava que Fosse nomeado imperador.
esposa de Augusto, a onipotente? A fim d e garant
e seu filho, a aces so ao poder supremo apos a mo
espdso, soube manobrar para garantir solidamente a
dades de seu filho que, segundo a sangue, nao era u
descendente do imperador, Ora, a astuta Livia soube
a meio que permitiu apertar as la90s entre a imperado
seu esposo, e seu filho Tiberio. Julia, a filha de Au
posara Agripa, a vencedor de Actium. Ficara viuva
cinco filhos. Pressionado par sua mae, foi Tiberio
casar com Julia.
Mas Tiberio ja era casado. Sua mulher chama-se
Tiberio a amava. Alem dis so, Vipsania era a filha du
casamento de Agripa. Tiberio teve entao de casar
drasta de sua esposa! Foi a primeira das duras pro
sorte the reservava. Teve Tiberio de beber a ta9a am
satisfazer "raz6es de Estado". Viu-se for9ado a sep
unica mulher que amou e casar com JUlia, criatura
patica, cuja conduta escandalosa era conhecida.
estigmatizada pela cidade de Roma que a reprova
apego a tudo, dizia-se, menos a fidelidade.
Quando urn dia a imp era dar Tiberio veio a encontra
com as olhos afogados em lagrimas, dela nao desvio
Mais tarde, cuidou-se de fazer que ele nao visse ma
rilUlher a quem tanto amava!
o imperador Augusto adotou Tiberio, seu en tea do e
nome ou-o co-regente e co-detentor do supremo pod
bunos. As suas legi6es, apresentou Tiberio como se
130
vIncia romana situada entre 0 Reno e 0 Elba, desm
e a fronteira do Reno ficou assegurada e consolida
Contudo, nao se sentia Augusto feliz ao pensar que T
sucederia. Nao havia entre eles nenhum lac,:o de co
dade. Nao tinha Augusto confianc,:a no estranho pe
Talvez tambem nao quisesse que 0 esplendor e a
seu reino fossem ultrapassados pelos de urn estran
No seu testamento, conferiu Augusto a Tiberio 0
Tiberio era imperador. Mas, nesse mesmo testament
Augusta LIvia, sua esposa, co-regente.
Se Cesar morreu aos cinqiienta e seis anos, tinha T
tamente essa idade, quando subiu ao poder, no
depois de J. c. Ate en tao, personagem de segun
vivera a sombra majestosa de Augusto. Agora, e
governar sob a direc,:ao (e sob a influencia) de um
LIvia, sua mae. Era de certo uma conseqiiencia
natural da ambic,:ao de sua mae, a" qual devia 0
Tiberio sofria com a con stante opressao que the er
E 0 medo, a desconfianc,:a e 0 odio disputaram ent
o seu esprrito inquieto.
Quando 0 Senado the rogou que assegurasse efetiva
papel, tergiversou, alegando que a tarefa ultrapa
fracas forc,:as e que so uma inteligencia como a d
Augusto estaria na medida de assumir responsabil
esmagadoras. Acrescentou Tiberio que a experienci
nara a que ponto 0 governo absoluto era uma ardu
Nao 0 havia Augusto, quando vivo, feito participar
cupac,:oes dos negocios de Estado? Eram na realidad
os imponderaveis com suas temlveis conseqiiencias q
a lei. Mas em Roma, onde vivia uma pleiade de ho
nentes, seria verdadeiramente necessario sobrecarre
so com responsabilidades tao esmagadoras?
Bastante sutis e bastante bern apresentadas, faltava
as objec,:oes de Tiberio. E se as declarac,:oes do imper
aplaudidas, ninguem lhes deu fe. Instintivamente (ou
levantou-se. Mas a cada instante, vivia sob 0 i
medo. Acreditava-se amear;ado por quem quer qu
aproximasse.
Quanto aos senadores, temiam que Tiberio se desse
que haviam eles penetrado a verdadeira natureza de
senhor. Por esta razao, seus protestos de amizade fo
mais veementes; suplicaram aos deuses e a eHgie d
depois abrar;aram os joelhos de Tiberio. Para com
regente que usava 0 titulo de Augusta, mantinham os
uma atitude de submissao e de respeito. Numa pro
lei, desejaram que ela tomasse 0 titulo de mae da
Tiberio nao estava contente. Podia-se homar uma m
clarava ele, mas nao se devia ultrapassar da medid
aos testemunhos de respeito que the eram devidos
que the fassem tributados com mais moderar;ao.
Tinha medo de sua mae, mulher inteligente, habil e
Temia sua ambir;ao desmedida, bern como 0 tem
daquela mulher admiravel cuja finura e cuja fac
adaptar;ao tinham feito de sua uniao com Augusto
exito fora do comum. Inspirava-lhe ela profund
fianr;a.
Imperador, foi Tiberio antes de tudo urn soberan
ajuizado. Abandonou os germanos as suas disputas
as suas eternas rixas, e vigiou unicamente a fronteir
Salvaguardava a paz das provlncias. Ocupava-se com
cios do Estado, com sagacidade, abstendo-se de tod
de toda violencia. Enquanto sua mae foi viva e
os roman os, em caso de litigio ou de injustir;a, podi
recorrer a Augusta, porque Tiberio mantivera par
mae a mesma atitude de submissao e de temor de
tude. Augusta atingiu a ida de de oitenta e quat
morreu no ano de 29 depois de J. C.
Ap6s sua desaparir;ao, a situar;ao se agravou. 0 imp
de Augusto havia, sob Tiberio, evoluldo para uma
ditadura. 0 Senado perdera sua autoridade. 0 povo n
132
GRAV. 44 - :E mals ou
deve lmaginar 0 "Trinc
l1zou 0 banquete de T
Restlto e Aulo Convlv
esta sala, no relnado de
soterrada por ocas1ao d
em 79 depo1
134
fontes classicas sob sua verdadeira luz.
A desconfianc;:a de Tiberio aumentou com a idade.
as homens, procurava a solidao. Descobria alus6
insinuac;:6es perfidas nas palavras mais inofensivas e
cadeiras sem maHcia. Quando Tiberio entrava num
conversas, como par encanto, cessavam. Perdera a
conviver com seus semelhantes. Um unico ser goza
a sua confianc;:a e esse homem era urn criminoso. Su
humilde, soHcito e sempre sortidente, e a celerado
par Shakespeare, a crapula dificil de desmascarar,
acotovelamos todos as dias na existencia e cujo
tanto forc;:ado encontramos na cena do teatro.
Lucio Elio Sejano, a celerado em questao, era ori
Vulsinies. Oficial como a Iago de Otelo de Shakesp
melhava-se a este persona gem par mais de um tra
reinado de Tiberio, foi nomeado prefeito da guarda
em Roma poderes par assim dizer ilimitados. Nad
fazer sem autorizac;:ao de Sejano e quem quer qu
par seu intermedio, procurasse aproximar-se de Tib
nha-se a vindicta do prefeito. Par meio de manobra
neas e de artiHcios sutis, sabia obter au renovar as b
do imperador. Canhara tambem as soldados para
Anteriormente, as coortes da guard a pretoriana ti
instaladas em divers as lugares, dispersos na cida
reuniu-as numa imensa caserna. Assim facilitava-se a
As coortes capacitaram-se a medir sua importancia e
Estavam destinadas a inspirar temor aos cidadaos. S
tava muitas vezes as oficiais e as soldados e se entr
eles confiantemente. Em lugar do imperador, decid
moc;:6es e os adiantamentos. Tiberio jamais objeta
alguma.
Diante do Senado e diante do povo, proclamara
devotado colaborador e dera autorizac;:ao para que
a estatua do prefeito nos teatros, nas prac;:as publ
numerosa prole da casa imperial, era 0 projeto d
realizavel.
"Era, escreveu Tacito, uma empresa delicada empre
lencia contra tantas pessoas ao mesmo tempo. Para
pouco a pouco pela astUcia, pela traiC;ao e pela pe
cisaria de tempo."
Sejano optou, contudo, por esse meio lento e manhos
comec;ar por Druso, filho de Vipsania, a quem Tib
amara. Sejano odiava Druso, que tinha urn tem
viol en to e arrebatado e que detestava os indiv
nutriam, abertamente ou em segredo, pretensoes
no imperio. No decurso duma disputa, Druso e
Sejano.
~ apaixonante observar de que maneira Sejano p
obra para suprimir Druso. Quando se leem essas lin
deve esquecer que se trata de urri fato his tori co e
intriga imaginada por um poeta.
Sejano nao surpreendeu Druso atacando-o de frent
a sua maneira. Como Iago, permaneceu prudent
sombra. 0 veneno destinado a suprimir Druso eram a
as difamac;oes sorrateiras e odiosas. A principio, ap
de Livia, a esposa de Druso. Quando menina, pas
sendo bastante desgraciosa, feia mesmo, depois t
mara-se e tomara-se uma mulher de grande belez
penhou Sejano junto dela 0 papel dum adorador,
roso timido. Conseguiu seduzir Livia e fez que
acreditasse que ele se casaria com ela mais tarde.
afirmava Sejano que alcanc;aria - urn dia 0 poder
que ela, Livia, seria homada, a seu lado, pelo Imper
inteiro! Quando compreendeu que a imaginaC;ao
mulher se exaltava com essa ideia, sugeriu-Ihe 0
havia concebido: era preciso suprimir Druso. E Livi
segunda de Augusto, nora de Tiberio e esposa de D
cou e perdeu sua posiC;ao e sua homa em favor dum
criminosa bastante incerta.
136
Ora, cada qual por sua vez, Sejano, Livia e Eudem
como que transidos de medo diante da monstruo
crime que iam perpetrar. Pacientemente, aguar
sombra.
Muitas vezes, diante do Senado e diante de seu pai, q
Druso de Sejano. Era admisslvel que urn estrangei
conselheiro, 0 mais seguro sustentaculo do imperado
tinha este junto de si seu verdadeiro filho?
- Falta pouco, na verda de, para que Sejano nao seja c
De certo, os primeiros degraus que levam ao tron
sao duros de galgar! Mas quando se come<;!ou a
amigos e cumplices nao faltam. S6 resta implorar
para que tornem Sejano humilde e modesto!
Tais foram, mais ou menos, as palavras de Druso.
Sejano £icou com medo. Ardia de vontade de ex
plano. Livia, a infiel, comunicava-Ihe as confidencias
"Agora, pensava Sejano, nao devia mais hesitar".
urn veneno de efeitos lentos, a fim de que as indisposi
recess em como as consequencias natura is duma doen
Administrado pelo eunuco Ligido, 0 veneno operav
de cama, sofria perturba<;!6es graves . .
o Imperador Tiberio dirigia-se todas as manhas a
Deixava-o indiferente a doenga de seu filho? Queria
de coragem na adversidade? Druso morreu. Tiber
regularmente as sess6es do Senado e quando os sena
seram exprimir-Ihe sua afligao, exortou-os a nao co
rem a dignidade pr6pria.
- Ter-se-ia 0 direito de censurar-me porque apare<
v6s acabrunhado por urn luto recente - disse ele, -
devotamento aos interesses superiores do Estado deu
e consolagao.
Foi sincero 0 seu pesar? Ignora-se.
Enquanto vivera Druso, a crise mantivera-se laten
conservava-se prudente. Temendo Druso, que nao
de critica-Io severamente diante do imperador, tom
outros pretendentes ao Imperio: os filhos de German
nho de Tiberio. Diante da impossibilidade material d
ao mesmo tempo tres individuos, pos-se Sejano d
obra e, sistematicamente, lan~ou 0 descredito sobr
de GermanicO', bern cO'mo sobre sua mae Agripina
difamO'u vergO'nhosamente. As insinua~6es, as ca
intrigas atingiam, apesar de tudO', lentamente os seu
Mas Livia se impacientava. Queria que ele a despo
diatamente. Sejano dirigiu-se aO' imperador e the pe
za~ao para unir seu destino a LIvia. TiberiO' recu
carta cortes mas cautelosa. -
Concebeu entaO' Sejano a ideia de persuadir 0' im
. deixar Roma. Estava convencido de que, retirado
nO'va residencia, seria Tiberio feliz, em toda a confia
deixaria seu prefeitO' livre de dirigir a sua vontade o
dO' Estado. Persuadiu 0' imperador de que the eram
os beneHcios e vanta gens dO' repouso, da quieta
SO'lidao.
Tiberio O'bedeceu efetivamente. Fixou-se em Capri
ilha de beleza viveu feliz durante onze anos, ate
Por duas vezes, VO'ltou ao continente, aos arredO'res
Mas nao ousava entrar na cidade, tanto temia O'S hom
Uma das doze habita~6es que possufa em Capri esta
no cume duma falesia que dO'minava 0 mar. Foi c
verossimilhan~a essa casa de campo que teve 0 no
a amante de Zeus. :£ permitido crer que 0 lugar d
dO'nde eram O'S condenadO's precipitados nO' mar se e
nas proxirnidades daquela moradia. Sabe-se que n
faiesia, rnarinheiros liquidavam a golpes de cacete o
que ainda respiravarn.
Parece ter 0' imperador ignorado a existencia dO's d
exigencias dO' culto religiO'sO'. Os dramas de consc
deviarn atorrnenta-Io. Tinha uma paixao: a astrolog
homern cO'nhecia 0 segredO' de seu hor6scopo, urn l
hercules talvez, mas pouco cultivado. Tinha por r
138
e profeta, a esperar naquele dia. Lfvido, confessou 0
tremendo, que estava ele amea<;ado dum terrivel pe
mortal. Tiberio abra<;ou 0 homem aterrorizado, con
com ele calorosamente e, desde aquele dia, consider
urn oraculo vivo, uma reencarna<;ao da Pftia de Delfo
a acolher Trasalo da maneira mais cordial.
Quanto as ocupa<;oes cotidianas a que se entrega
em sua ilha, ignora-se a natureza das mesmas. A ess
os rumores mais contraditorios circulavam em Ro
relata que, em Capri, 0 imperador "podia entregar
inclina<;oes crueis e a pior devassidiio, mais comoda
em Roma". Queria dissimular a curiosidade dos rom
gostos, seus instintos e suas predisposi<;oes tao esqui
nao negligenciou os negocios do Estado, que despa
correspond en cia.
Oito anos apos 0 assassinate de Druso, sofreu Sejan
castigo. Estava 0 imperador a tal ponto preocupa
exame dos crimes de seu antigo prefeito que, no seu n
mandou torturar por engano urn amigo que residia
De pe, sabre a falesia mais elevada da ilha, esqua
horizonte para perceber os sinais convencionados q
fazer-Ihe, logo que fosse sufocada a conjura<;ao de S
tao prudente a velha raposa que, mesmo depois d
de Sejano, nao abandonou a casa de campo 10 du
meses. Tiberio mandou, pois, executar 0 celerado. C
ganta amarrada por cordas, a cabe<;a oculta numa
Sejano conduzido ao local do supHcio. Durante sua at
gritou e chamou seus amigos. Mas as ruas e as pr
ziavam-se a sua passagem. Seus filhos foram en
carrasco. A. vista dos inocentes sacrificados, Apicata,
a esposa repudiada de Sejano, mergulhou na loucura
pero. Suicidou-se. Acrescentemos que a tortura sol
°
guas de Eudemo, medico, e de Lfgido, 0 eunuco.
Seis anos mais tarde, morreu 0 imperador em Capr
de setenta e oito anos. Neurastenico, perturbado po
TIBERIO
SUETONIO, "Caligula
LIV.
142
Bichanau-se que CaHgula havia envenenado 0 vel
e retirado do dedo do velho, que ainda respirava, 0
devia herdar. Diz-se tambem que sufocara com sua
maos Tiberio que tardava a morrer.
A procissao que deixou Micenas para Rama avanc
mente pela Via Apia. Era 0 corpo de Tiberio transp
simples legionarios. CaHgula precedia 0 cortejo e a
merac;ao, a cad a aldeia, a cada cidade, os habitant
mavam. Dos dois Iados da estrada, haviam instalado,
em sinal de regosijo, altares onde ardia 0 incenso.
midades de Roma, abandonou CaHgula 0 comboi
para entrar por primeiro na capital. No Sen ado, a
demonstrac;6es de alegria e 0 povo aclamava CaHg
foi muitas vezes 0 caso, os roman os exaltados pela s
exageravam seu entusiasmo. Nao imaginavam os gri
mas que os esperavam!
Solenemente, juraram por todos os deuses que es
postos a morrer por Caio Cesar. Foi este 0 nome q
porque CaHgula era apenas urn sobrenome e 0 imp
tolerava que 0 empregassem, abertamente ou em
Quando menino, sua mae Agripina, fizera-o vestir
soldado e botas que se chamavam caligae e por isso
apelidaram-no de CaHgula.
Ordenou para Tiberio funerais sem pompa excessiva
nunciou urn panegfrico, ou antes uma orac;ao fUneb
sem grande alusao ao defunto, fez 0 elogio de seu
nico e do imperador Augusto. Depois dirigiu-se a
Campania, on de sua mae e seus irmaos tinham enco
tao atroz. Trouxe para Roma os despojos dos seus
feri-Ios, no decurso duma cerimonia solene, ao m
Augusto. Exigiu do Senado que se prestassem as
suas tres irmas. Encarregou-se tambem de Tiberio,
primo e co-herdeiro, de dezessete anos de idade. Ca
tou-o e conferiu-Ihe 0 titulo de "prIncipe da J
144
o imperador julgava-o inromodo. Nomeou-o vice-rei
depois, antes que os desgra9ados subissem a bord
barco, receberam Macro e sua esposa ordem de se
o novo imperador procurou a prindpio ganhar as b
do povo. Mandou distribuir dinheiro e organizou fe
das e cac;adas ao leao, a pantera e ao urso. Nessa ocas
transportados para Roma oitocentos animais selvage
Ordenou a abertura de concursos de ora tori a, em g
latim, e concurso de poetas. 0 poeta mais mediocr
denado a ' apagar com a lingua os versos escritos
tabuinhas, depois a ser fustigado ou imerso.
Mas CaHguIa prometeu ao povo abolir os processo
majestade, repatriar os banidos e publicar regula
medidas concementes a gestao do Estado. Seus co
certo, foram cheios de promessas!
Para apagar da memoria popular as terriveis lemb
triste reinado de Tiberio, quis CaHgula abrir uma
tempos dos esplendores". Para isso, fez transportar
obeliscos, mas nem chegou a perceber que os monum
portados por Augusto estavam cobertos de hier6glifos
que seus obeliscos nao passavam de vulgares imita9
Pouco depois de ter assumido os encargos da su
imperio, caiu Caligula gravemente doente. Noites
povo velava nas ruas, na proximidade do palacio
inquietos os romanos e alguns fizeram 0 voto de sac
vida, se 0 imperador recuperasse a saude.
Restabelecido, descobriu entao Caligula ao povo
realmente. No dia primeiro de janeiro do ana de
de J. c., no Senado, fizera os senadores presta rem
separadamente. Deviam oferecer sua vida pelo im
pelas suas irmas. No dia primeiro de janeiro do a
duas delas achavam-se prisioneiras em ilhas deserta
a terceira, acabava de morrer, e CaHgula estava in
pela sua perda. Depois de have-la dado como espos
meses. As exclama~6es, as risadas dootro de casa, n
a alegria das refei~6es familiares, a das mulheres
eram consideradas como delitos merecedores da
morte.
Mandou a eflgie de Drusila para 0 Panteon, templo
romano, on de somoote Julio Cesar e Augusto, fund
Imperio, eram venerados como deuses. Caligula ord
se erigissem alta res a nova deusa. E no pais inteiro,
entregou a louca adora~ao de Drusila. Urn jovem se
mou, com toda a sinceridade, que vira Drusila sub
Caligula recompensou-o regiamente, em honra de
visao.
Por duas vezes, por ocasiiio de celebra~6es de casa
imperador raptou as noivas de dois patricios, para
alegria de repudia-las depois! Amava, pelo contd.ri
nadamente Cesonia, criatura que nao era nem jovem
mas dissipada e libertina. Procurava sua companhia.
vestia-se ela com urn manto de soldado e usava c
escudo. Por vezes, ele a exibia nua diante de seu
Quando deu ela a luz uma filha, declarou ele que C
sua mulher e reconheceu a crian~a. Estava certo, afi
de que ' a menina era de seu sangue, porque se m
uma insolencia sem par.
E Caligula governava.
Os senadores mais honrados e mais respeitados,
de sua toga, eram obrigados a acompanhar a pe
ou a servi-lo nas refei~6es com urn grosseiro aventa
como escravos. Outros doutos sen adores foram as
em segredo. Deu tambem ordem de fustigar se
depois de ter-The arrancado as vestes que foram
para maior comodidade, sob os pes dos sold ados en
de flagela-lo.
Durante os jogos dos gladiadores, mandou retirar as
protegiam a multidao contra os ardores do sol, a fim
146
GRAV. 49
Vespaslano
barcou ent
~ Wight,
GRAV. 48 -
zou, nas
favoravels,
P'ot lmper
somente, d
o destlno
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grande
In
GRAV. 50 -
J. C., en
Vespaslano
quistar Je
rador Tlto
o Senado
Arco de
mals antig
pe. Sob a
representa
de sete
deviam combater as feras.
Mas 0 imperador visava a mais alto: queria ser ado
urn deus. Depois de ter fechado os armazens onde s
o trigo, declarou a fome no pals. Nas pris6es, era
escolhia os prisioneiros destin ados a serem lan~ados
as feras. Incapaz de fixar sua escolha, ordenava
gassem todos aos anima is, "da primeira a derrade
raspada". Homens honrados foram marcados a ferro
ou condenados a lutar na arena com os animais fero
Encerrava os condenados em gaiolas de ferro estr
nao podiam manter-se de pe. A abominavel cruelda
atos era sublinhada por monstruosas palavras, du
atroz e imunda. Mandou dizer as suas irmas banida
sUIa nao somente ilhas desertas, "mas tambem espa
Ao assinar condena~6es de morte, murmurava:
- Ponho minhas contas em dia.
Quantas vezes nao recomendou ao carrasco:
- Golpeie de maneira que ele se sinta morrer!
- Que me detestem, contanto que me temam! (O
metuant), tal era a sua divisa.
Urn dia, no hip6dromo, tendo 0 publico preferido
rito ao seu, exclamou:
- Quem dera que 0 povo romano tivesse apenas
pesco~o!
Tinha por costume deplorar 0 bem-estar e a opulen
gozava 0 pals; seu reinado, pensava, seria depressa
porque nao fora atingido por nenhuma grande desg
nenhuma derrota. Desejava que surgissem carestias,
a peste, incendios e tremores de terra. Um dia, no de
faustoso banquete, foi CaHgula, de repente, abalad
crise de riso histerico. Dois consules, estendid
lados, perguntaram-lhe respeitosamente a razao d
ridade.
148
- Ate mesmo esta cabe~a adoravel cain! assim
ordenar.
Os funcionarios encarregados de preparar a cerim
do aniversario da batalha de Actium fbram objet
pilheria sinistra. Parente ao mesmo tempo de Aug
Antonio, declarou CaHgula:
- Se a cerimonia se realiza, ofende-se a mem6ria
Antonio, 0 vencido, e e preciso entao que as cabe~s
nizadores caiam; mas se a cerimonia nao osten ta
seus faustos, e a mem6ria de Augusto a achincalhad
caso, arriscam-se os funcionarios a perder a vida!
Mas aos olhos de CaHgula, era tudo isso coisa de
queria desempenhar 0 papel de urn deus. Nao r
somente a eHgie de urn deus - sua estatua de ouro
va-se desde muito tempo no templo - mas ser ele p
deus vivo. Vestia-se com roupas que os escultores gre
escolhido para honrar suas divindades. Entusiasm
intimos e seus cortesaos pela beleza desses traje
CaHgula, bone co vivo, a exibir-se diante do povo
de Hercules, de Baco, de Apolo ou de Jupiter. Era
farce de JUpiter que presidia 0 Senado; e pouco f
que 0 povo romano, cedendo ao terror, nao 0 vener
a urn deus! Decidiu por fim 0 Senado erigir, as
Estado, urn templo a gloria de CaHgulal
Junto ao povo judeu, em contraposi~ao, as pretensoe
rador trope~aram em seria resistencia. Quando fu
romanos quiseram colo car no templo de Jerusalem u
de CaHgula, os judeus - govemados por Roma - rev
Se CaHgula tivesse vivido mais tempo, a guerra com
teria sido inevitavel. No Egito, subleva~oes explodira
se tentou introduzir nas sinagogas 0 culto do imper
gula recusou receber a missao diplomatica que, cond
celebre fil6sofo judeu Filon, foi aRoma apresentar q
Inventou CaHgula banhos dum genero novo, comida
e bebidas extravagantes. Seus navios de prazer, arran
terrenos insalubres e pIanos. Foram esses imenso
realizados em tempo recorde, porque qualquer l
trabalho era punida de morte. Depois de urn ana de
"reinado", dissipara Caligula mais de dois milh6es de
a totalidade do tesouro que Tiberio lhe legara. Op
o pais com impostos insensatos. Foram os ricos o
designar Caligula como seu "herdeiro"! 0 homem
de assinada tal decIaraC;ao, tinha a audacia de contin
recebia invariavelmente, da parte de CaHgula, uma
envenenada. Por outra °parte, encheram-se as arcas
por meio de confiscac;6es arbitrarias.
Na preocupaC;ao de cobrir-se de g16ria, transpos
Reno. Mas reinava a calma naquelas provincias de
e os generais do imperador, com grande trabalho
reduzidos a reunir "prisioneiros voluntarios". Os
corpo germanicos foram soltos no campo, com or
esconder, para serem depois "capturados".
Sonhou entao 0 imperador em conquistar a Inglat
duziu as legi6es ate as margens da Mancha e colo
posic,:6es de combate.
Havendo-begligenciado completamente tomar as ma
tares disposic;6es para 0 embarque de suas tropas, o
°homens que apanhassem conchas! Algumas galeras
haviam chegado a destino e, numa delas, empreend
rador urn cruzeiro de recreio. Assim que regressou
Roma emissarios encarregados de anunciar ao Sen ad
riosas fac,:anhas . 0 tinieo testemunho dessa expediC;a
de sessenta metros de altura que Caligula mandou
em Boulogne-sur-Mer, e que s6 veio a ser des
1544.
A 31 de agosto do ana de 40 depois de J. C. regresso
a Roma para festejar seu vigesimo oitavo aniversario
partir para 0 Egito onde queria reinar, nao como
mas como urn super-deus. Alexandria tomar-se-ia a
150
nas 6rbitas e sua larga testa, de Fontes fundas, tinha u
sinistro. Seu cranio calvo contrastava ridiculament
corpo cabeludo.
- Eis a cabral - murmurava-se a sua passagem.
Inutil acrescentar que eram essas palavras perigosa
que as pronunciavam.
CaHgula, diante de urn espelho, procurava acentuar
patente de seu rosto e exercitava-se em caretas horro
Sofria de insonias e nunca dormia mais de tres
noite.
A tempestade causava-lhe tal pavor que se refugiav
da cama. Muitas vezes, vestia-se de trajes feminino
ao queixo uma barba de ouro. Na sua mao direita
o raio, 0 tridente au 0 caduceu, insignia dos deuses.
exibia-se em dan9as ou executava seus solos.
Durante quanto tempo exerceu 0 poder esse imper
demente? Fica-se tornado de terror, quando se re
reinou ele tres anos, dez meses e oito dias!
Ter-se-ia esse reinado abominavel prolongado se, no
seus oficiais, nao se houvesse erguido uma mao ving
As torturas, os assassinatos, os impostos, os ultrajes r
a lealdade, a retidao dos oficiais. Urn deles, velho d
militar glOriOSO, tribuno duma coorte de pretorian
Quereia, que durante toda a sua existencia nunc
diante de perigo algum, precipitou 0 Hm. Tinha 0
o habito de confiar-lhe as tarefas mais delicadas e de
za-lo diante de seus carnaradas. Saiu-se mal.
Quereia preparou uma con jura a cuja participa9ao
uns poucos comparsas. A 24 de janeiro do ana de 40
J. C., encontrava, de tocaia, num corredor subte
teatro.
Preparava-se 0 imperador para deixar 0 espetacul
Quereia the assestou violento golpe de espada
Outro conjurado traspassou-lhe 0 peito. Dizem qu
exclamou:
CALfGULA
154
GRAV. 51 - Nada e mals magnifico do que GRAV. 52 - Dom
beleza e nada e mals agrade.vel. "Suporto vlveu no temor
meu tedlo com coragem, porque, jovem rial esposo : 0 Im
alnda, taz de mlm urn velho", escreveu prlmelro marldo,
o lmperador Domlclano, a prop6slto de tou-se aos con
sua calvlcle. Imperador de 81-96 depols de a
J. C., persegulu os crlstlios e fez correr
mu1to sangue.
GR
viu
e o
cru
de
o
tem
com
ram
UT
nom
per
na
"Co
tur
se
dad
87.0
e 2
Os
ser
eno
cad
De certo e facil conceber que aquela criatura estran
nao se confiavam nem cargos nem fun~6es, ridi
achincalhada e oprimida, cujo criado era urn p
brutal que se deleitava em tortuni-Io, nao poderia
mais tarde urn imperador ideal.
Atingira Claudio os cinqiienta anos, quando urn aca
o fez imperador. Caligula estava coodenado. E os
para agir com toda a liberdade, afastaram as pessoas s
de contrariar seus projetos, Claudio foi encerrado nu
isolado.
Quando veio a saber do assassinato de Caligula, fu
terra~o e, tremendo de medo, ocultou-se atras
cortina duma porta. Urn soldado, que atravessav
avistou-Ihe os pes por baixo da cortina. Tirou Clau
esconderijo, lan~ou-se a seus pes e saudou-o com
Imperator. Levou-o ao quartel dos legionarios, que 0
sobre uma liteira e 0 acompanharam ao acampamen
Abatido, tremendo de medo, nao compreendeu Claud
tamente 0 que estava acontecendo. Os passantes que
ram a liteira pensaram que 0 levavam para 0 suplici
A multidao romana, aglomerada nas ruas e nas pra
maya barulhentamente urn novo imperador. 0
reuniu e discutiu para saber se nao era mais pruden
o fim do Imperio! Mas era tarde demais. Estavam o
resolvidos a prestar juramento a Claudio, que deu
timento. Prometeu pagar a cada urn dos legionari
de quinze mil sestercios. Essa promessa marcou
historia romana.
No futuro, nenhum imperador pode come~ar a reina
l'ecer a guard a uma soma de dinheiro. Muitas vezes,
dum reinado dependeu do valor do dom.
Claudio inaugurou seu reinado assinando larga anis
sn avo Livia a dignidade de deusa. Nao jurou mais
nome de Augusto, querendo prestar homenagem a m
seus antepassados.
156
tribunal.
Suas rea90es eram sempre imprevisiveis. Por vezes
uma atitude refletida e circunspecta, a maior parte
parecia pueril e comportava-se como urn idiota.
recusando uma re reconhecer seu filbo, obrigou
fessar, ordenando-lhe que casasse com 0 adolescent
uma parte de urn processo nao comparecia, optava
favor da parte presente.
Fica-se estupefacto ao verificar ate que ponto, b
vezes, foi indulgoote 0 juiz imperial. Urn dia, qu
testemunha devidamente citada no correr dum proce
desculpar-se, fez seu defensor notar simplesmente
testemunha se encontrava impossibilitada de comp
depois de urn interrogat6rio cerrado e que 0 defensor
a insoIencia, acrescentou:
- Esse homem esta morto, penso que era livre de
maneira!
Outro advogado, com &:tfase, agradeceu ao imp
obtido autoriza9ao de defender um acusado e,
acrescentou:
- Se bem que a defesa seja urn direito absoluto!
Os advogados, como se po de verificar, abusavam da
de Claudio. Quando suspendia ele a sessao, chama
aten9ao dando gritos e gesticulando e 0 retinham
ou por uma perna. Um grego apostrofou-o nestes t
- Tu tambem nao passas de urn pobre diabo!
Um romano acusado de luxuria criminosa e de pro
contra 0 qual estavam citadas prostitutas como teste
acusa9ao, atirou tabuinhas e furador na cara do
Tratou-o de simpl6rio e de cruel e feriu-o grav
bochecha. Os funcionarios encarregados da instru9a
cessos eram negligentes e pregui90s0S. A venalidade
absoluta.
personagem porque, "sem que 0 imperador tivess
ou "sem que 0 tivesse mandado embora", deix:..ra a I
lei era recente porque, antes, tinham os romanos lib
via jar a sua vontade.
Mas Claudio foi outra coisa aMm de urn juiz ridiculo
ora tolas, ora geniais. Aplicava-se com seriedade
os neg6cios do Estado e, no decorrer de seu reinado
urn trabalho notavel e eficiente. A jurisprudencia d
cias, notadamente, deve-lhe mUltiplos melhoramento
deu 0 direito de cidadania romana a numerosos ga
Liao, cidade natal de Claudio, encontrou-se uma ta
bronze onde se acha inscrita a alocuc;ao por ele diri
respeito no Senado. Teodoro Birt pretende, alias, q
se refere as atividades e aos progress os do dominio
administrativo, ultra pas sou 0 pobre Claudio em ce
urn Tiberio ou urn CaHgula. Devia Claudio esses
tanglveis, em grande parte, ao liberto Narciso, a qu
regara de dirigir a chancelaria da corte. Possula N
intaligencia clarividente e positiva; ocupava-se ativa
os neg6cios administrativos, e sem levar em conta ex
humor ou ideias fantasistas de seu senhor.
Com urn cuidado consciencioso, vigiava Claudio 0
mento de Roma. Por ocasiaodum incendio, que se
a urn quarteirao da cidade, mandou reunir todos o
dominado 0 sinistro, recompensou pessoalmente ca
de acordo com os esforc;os que fizera para extingu
tirando de cestas postas a seu lado moedas de ouro.
de inverno, ficava assegurado 0 abastecimento de t
cedia creditos e compensac;oes pela construc;ao d
mercantes e mandou recolocar em estado de serv
entulhado de areia, de 6stia, trabalho que na epoc
tava problemas de ordem tecnica extremamente
quais Cesar em vaG procurara resolver.
As fontes das montanhas foram captadas e, numa d
sessenta quilometros, levadas a Roma ate 0 Mont
158
GRAV. 54 - Els urn aspecto dos lnterminaveis corredores subterraneos das C
Em 95 depols de J . C., 0 imperador Domiclano acusou Fla.vio Clemente e
de seus filhos adotlvos e sucessores, de serem favoraveis ao cristianlsmo. C
Domitlla e sua sobrinha do mesmo nome, banidas. As duas mulheres,
vitimas das persegul¢es de Domiclano toram enterradas nas catacumbas
Via Ardeatlna, em Roma . Nos muros, a esquerda e a. dlrelta, enco
a representa~ao deslumbrante de uma batalha
hom ens que participavam desse combate gritaram:
- Ave, Imperator, morituri te salutant! (Salve, Ces
vao morrer te saudam!)
E 0 imperador respondeu:
- A menos que nao morram antes!
Compreenderam os homens obrigados ao combate q
agraciava e fingiram travar combate. Claudio enta
saIto, levantou-se e, com seu andar irregular, deu a v
tando os combatentes. Uma esquadra siciliana deveri
com urna esquadra de Rodes. Cad a esquadra compre
navios de tres pontes. Movido por urn mecanismo c
urn tritao de prata se ergueu no centro do lago e sop
concha para anunciar 0 come~o das hostilidades.
o imperador ofereceu ao povo subjugado espectac
diosos, magnlficas ca~adas as feras cuja crueldade er
cida e apreciada. Eram as festas do Circo Maximo a
primeira ordem para 0 povo romano, avido de sensa~
Conheciam-se as corridas de carros, quadrigas ou o
ca~adas aos animais selva gens da Africa. Cavaleiro
perseguiam touros e, quando os animais ficavam esg
cavaleiros saltavam-Ihes na nuca, agarravam-nos pe
para prega-Ios no chao. Era pronunciando as palavras
que 0 imperador anunciava os jogos de gladiadores d
envergadura:
- Convido 0 povo a urn festim preparado as pres
assim dizer, imprevisto!
Afavel, encorajava 0 povo a divertir-se e entregav
mente moedas de ouro aos vencedores.
Empreendeu 0 imperador Claudio uma Unica expedi~
Partindo do porto de 6stia, desembarcou em Marse
vessou a Calia e conduziu suas tropas ate a Mancha
estreito e, em alguns dias, conquistou a parte mer
Inglaterra sem derramar uma s6 gota de sangue!
160
inglesa.
Demonstra90es publicas, com grande barulho, de be
e de generosidade, depois acordos, regulamentos p
mesquinhos, sem ordem, sem 16gica, misturados, su
no seu reinado. Proibi9ao a certos individuos de se a
de Roma a mais de tres leguas. Velhos recebiam con
procuradas pelos jovens, e as valorosas insignias
foram distribuidas aos milhares. Num edito, ao lado d
oficiais importantes, recomendava a popula9ao ur
contra a tosse. Mestres eminentes abandonavam em
pequena ilha situada no Tibre, em Roma, os escravos
ou atac:,.dos de moIestias incuraveis. Claudio decreto
caso de cura, fossem esses escravos libertos.
o imperador mandou expulsar os judeus de Rom
ati9ados por Cresto, fomentavam sem cessar pert
Os Padres da Igreja muitas vezes interpretavam 0
Cresto como sendo 0 de Cristo. A expulsao dos j
tuou-se no ano de 49. Ora, 0 Cristo foi crucificado sob
de Tiberio.
Claudio autorizava no espetaculo os embaixadores g
a tomarem lugar nos camarotes de orquestra, isto
lhores do teatro. A que razao obedecia ele? Urn d
instalado os germanicos nos Iugares do anfiteatro
ao povo e verificara~ eles que os partas e os armen
yam os camarotes senatoriais. Declararam os germa
orgulho que, pela coragem e pela bravura igualavam
e armenios e, sem mais, desceram para os camarotes
tra. E Claudio deu seu assentimento.
Era com muita despreocupa9ao e leviandade que 0
pronunciava e assinava as condena90es a morte. Trin
senadores e mais de trezentos cavaleiros romanos f
cutados num so dia. Era Claudio tao distraido, su
er_a tao fraca que, pouco tempo depois desses massa
esquecera! Convidava as vezes defuntos para uma
espantava muito, quando lhes notava a ausencia ali
CLAUDIO
164
tem-se d
deusa se
de Marc
que, no
houve
166
saber? Messalina e Silio nao impuseram mais freio
sua escandalosa conduta. Silio era de opiniao que
reagir imediatamente contra urn perigo amear;ador, o
urn perigo tao evidente quanto real. Nao queria
morte do velho Claudio e decidiu desposar Mess
tinha entao vinte e quatro anos) e adotar BritaniCo
Em boa e devida forma, celebraram Messalina e
bodas.
Messalina, bfgama, acreditava que 0 imperador
div6rcio. Mas Claudio permanecia mudo, sem r
Roma estava ao corrente da escandalosa afronta, e po
ninguem ousasse anunciar ao imperador 0 monstru
e Tacito talvez tivesse razao quando escrevia que 0
Claudio ignorava tudo do IlOVO casamento de Messa
Ora, Narciso, 0 secretario do gabinete imperial
somente urn intrigante de primeira forr;a, mas tam
lente funcionario. Desde muito tempo, via com ma
ingerencia de Messalina nos neg6cios do Estado. P
duma estada do 'imperador em Ostia, incitou as dua
de Claudio a the anunciarem a notlcia. Calpllmia
aos pes do imperador e the disse:
- Messalina celebrou suas nupcias com Silio!
A outra mulher confirmou a veracidade de sua pal
purnia conjurou 0 irnperador a interrogar Narciso. 0
revelou-Ihe a verdade.
- Ignoras que foste divorciado? 0 povo, 0 Senado,
assistirarn as nupcias de Messalina e de Silio. Se na
e imediatarnente, Rorna sera de Silio.
Aproximava-se 0 outono. Messalina, na festa das
participava de uma bacanal. Mais degradada do q
no rneio das danr;arinas cobertas de peles de animais
com os cabelos desfeitos, ao lado de Silio, coroad
Urn tal Valente, antigo amante de Messalina, trep
arvore, gritou:
contrario, grande medo de morrer. Perguntava a se
se era ainda imperador!
Teve en tao Messalina a ideia de ir-lhe ao encontro. S
te, encontrou-se sozinha; Silio excusara-se, sob urn
texto de negocios no Forum. Empoleirada numa car
de esterco, tomou a estrada para 6stia. Ninguem tin
xao dela; so se lembravam de suas vergonhosas org
Perdido em seus pensamentos, 0 imperador rodava p
Agitava-lhe a cabe9a urn tremor nervoso e, quando
se aproximou, fingiu nao aver.
Acompanhada de sua mae, refugiou-se Messalina
de Luculo. Pela primeira vez na sua existencia
verdadeiramente desamparada. So soube suplicar
aconselhou-a a suicidar-se para nao esperar 0 car
o desregramento e as pervers6es haviam enfraqu
vootade; ignorava 0 mais elementar sentimento de ho
que houvesse ela recuperado 0 dominio de si
esbirros, aos quais tinha Narciso recomendado
chegaram ao local. Tremendo, Messalina, agarrou u
e aplicou-a a garganta, depois apoiou-a sobre 0
faltou-lhe a coragem.
Urn dos esbirros executou a sinistra tarefa.
Claudio estava a mesa, quando soube da noticia
comunicaram nenhum .p ormenor e ele, alias, nao fe
alguma. Urn escravo estendeu-lhe uma ta9a e de b
de costume. De repente, pareceu lembrar-se de alg
mal e perguntou:
- Por que a imperatriz nao vern a mesa?
Diante de seus sold ados, 0 imperador (estava com
e oito anos) declarou:
- Nao tendo tido jamais felicidade em meus casame
nao mais tomar esposa. Se nao mantiver minha pal
o direito de suprimir-me!
Mal pronunciou estas memoraveis palavras, pas-se
duma nova esposa. Retomou certo interesse por P
168
tesco com Claudio para perturbar pOl' meio de carici
o homem que envelhecia! Uma uniao com Agr
podido ser considerada como urn incesto e para ob
culdade cuidou Claudio de que 0 Senado 0 "obriga
posar Agripina, "para bern do Estado". A partir desse
declararam-se legais as uni6es entre ti~ e sobrinha.
"Roma ficou como que transformada. A vida romana
da vontade de Agripina! Nao foi, como para Mes
jogo de simples caprichos: go vema va ela duma man
e resolutamente viril."
Foi esta a descri9ao, que fez Tacito nos Anais, da
de Roma. Sem que Claudio 0 soubesse, foi Agripin
deira senhora de Roma. Enquanto que Messalina n
ressava absolutamente por politica, Agripina a ela se
apaixonadamente.
Relata tambem Tacito que, tendo a imperatriz n
"capital dos ubios", ali fundou uma colonia de
Gra9as a ela, e nao a Claudio, foi que a cidade, no
depois de J. c., recebeu 0 nome de colonia Agrip
cidade de Colonia (Kaln).
Essa nova uniao tomou-se escandalosa. Claudio, co
distraido, continuou a chamar Agripina sua "filh
"filha adotiva". Nao se privava de contar a quem
ouvi-Io que, desd~ 0 nascimento de Agripina, a havia
em seus bra~os e que a havia, a bern dizer, criado. O
apesar de tao degradados e corruptos, nao pudera
aquele incesto legitimado.
Visava Agripina a urn objetivo preciso. Queria a
sucessao do Imperio para Nero, seu filho dum prim
Para lograr os seus fins, todos os meios the parece
Conseguiu fazer admitir 0 noivado de ero, da idad
anos, com Otavia, a filha de Claudio. Nero tomou
ao mesmo tempo, 0 enteado e 0 genro do imperad
maneira, sua pretensao ao h·one.> igualava a de Brita
e sucessor de Claudio. Timido de natureza, Britanico
para as grandes tarefas que os esperavam. Teve Se
preceptor. Claudio adotou Nero e the concedeu 0
prIncipe.
Tendo atingido suas pretens6es, esfor~ou-se Agripin
ter e garantir as vantagens adquiridas. Era precis
pressa, porque nao ignorava que numerosas pessoa
haviam desmascarado 0 seu jogo. Sabia tam bern que
que cometera, se 0 eco viesse a chegar aos ouvidos
dor, poderiam alienar-lhe sua benevolencia. Urn dia
fez servir a seu esposo cogumelos, seu prato prefer
nham um veneno terrivel que provocava a principio
c;6es mentais e em seguida a morte. Assegurara-se A
servic;os da celebre Locusta, envenenadora habi
procurada pela sociedade romana.
Conta-se que ap6s a absorc;ao daquele prato, perde
o uso da palavra. Durante a noite inteira, dares atr
turaram. Ao romper da aurora, morreu. Segundo ou
pade vomitar imediatamente os cogumelos envenen
numa papa, ou com auxuio de urn clister, ter-lhe-iam
trado nova dose do t6xico.
Agripina mandara fechar e vigiar por guardas todas a
do palacio. A Hm de que 0 inocente Britanico nao a
como rna is tarde Hamlet, que haviam assassinad
conservou-o apertado contra 0 seu seio, como se,
de dor, tivesse sede de consolac;ao.
A 13 de outubro do ana de 54, abriram-se as portas
imperial. Nero, com dezessete anos, apareceu. Os
aclamavam. Nas ruas, as comadres espalhavam qu
a derradeira sessao no palacio de justic;a, tinham ouvi
afirmar mais de uma vez que to cava no limite de sua
Tinham avistado tam bern urn cometa. R 0 raio car
mausoleu de seu pail Eram, nao havia duvida, os
da morte,
verilica-se que nao sao nem emprestados de terceiro
esc1'ito8 sob ditado de outrem, ma8 composto8 po
m'iattll"a que 7'efletia com inteligencia e que c1'iava
com seu pr6prio es/Orr;;o.
SUETONIO, "Nero",
172
migos, nao tendo sofrido nenhuma of ens a, subia ao
corar;ao puro e liberto de qualquer ideia de vingan
abolir 0 favoritismo, por fim a corrupgao dos fu
d eter a caga as prebendas e sanear a justiga. Pouco p
em empreender campanhas militares, garantia ao Se
liberdade de agao. Como seus predecessores, invo
modelo Augusto, {mica estrda verdadeiramente cl
constelar;ao dos cesares roman os.
Mas antes de realizar esses belos e louvaveis prop
indispensavel regularizar os negocios de familia! B
proprio filho do imperador Claudio, continuava viv
pudesse vingar 0 assasslnio de seu pai. Britanico e
vivo, e sua presenr;a constitula perpetuo perigo para
Durante as satmnais, em boa e jovial companhia, p
a Britanico que cantasse uma melodia. Estava con
<"[ue 0 adolescente se cobriria de ridiculo. Mas Britan
de si e confiante, cantou uma canr;ao tern a, fazend
sua desgraga, quando 0 haviam suplantado na sucessa
depois excluldo do imperio legado por seu pai.
Foi provavelmente naquele instante que Nero dec
desaparecer seu meio-irmao. Dirigiu-se a Julio Poli
Duma coorte de pretorianos, que havia detido Locusta
envenenadora. Fez pressao sobre de e amear;ou L
manda-Ia executar, se nao the arranjasse urn veneno
que ele, Nero, pudesse ter paz. Preparou ela uma mi
posta de toxicos tao violentos que deviam agir com
do raio.
Imagine-se a cena, tal como ' a historia, em todo
pormenores, no-Ia transmitiu: na mesma sala do im
criangas reais, e entre elas Britanico, tomavam su
Estavam os adultos estendidos em seus leitos e a
permaneciam sentadas.
Urn servidor, permanentemente, provava as comidas
das destinadas a Britanico. Para nao comprometer
pela morte subita do escravo, empregou-se urn s
subitamente interrompida.
As crian9as, sentadas ao lado dele, apavoradas, fu
adultos, que sabiam do segredo, imoveis, fixaram N
dido confortavelmente no seu leito. Seu rosto nao d
minima em09aO, nem pestanejou. Muito calmo, noto
mente que, sem duvida, era urn daqueles ataques d
de que sofria Britaruco desde a infancia.
Quanto a Agripina, 0 medo pregou-a ao local. Tal
compreendido naquele instante que urn dia seu filh
miria, com a mesma calma e 0 mesmo sangue-fr
que, aos doze anos, fora unida a Nero, tres anos
do que ela, aprendera a dominar a menor expressao
de amor. Portanto, apos breve interrup9ao, a refei9
guiu como se nada houvesse acontecido!
Britanico, derradeiro descendente masculino da
Claudio, passara da vida a morte diante de suas irm
meio-irmao e de sua madrasta, quatro meses apos 0
de seu pai e da tom ada do poder por Nero. Reconhe
concedeu a Locusta a imunidade dos .crimes que
cometido. Fez-lhe dom de varias terras e enviou-lhe
que ela deveria formar na arte temlvel da fabrica9ao
das que nao perdoam!
Realizado 0 crime, distribuiu 0 imperador ricos p
seus partidarios e amigos. Depois, "consagrou-se"
Aboliu ou reduziu certos impostos impopulares e do
quantia de dinheiro a cidade de Roma (quatrocentos
por pessoa). Aos nobres e aos senadores sem fortun
uma subvell9aO anual. Durante os primeiros anos d
nado, nao foram infelizes os romanos. Sob a influenci
de Seneca e de Barrus, 0 eminente prefeito da guard
la9aO e a administra9ao melhoraram sensivelmente
velava por seu filho e prodigalizava-Ihe Uteis consel
Em seus passeios, saudava Nero por seus nomes o
a quem encootrava. Reter os nomes das familias
era para de urna especie de brinquedo. Quando 0 S
174
que the apresentaram por ele assinada uma sentell~a
exclamou:
- Gostaria de nao saber escrever!
o imperador Trajano afirmani mais tarde que os
meiros anos do reinado de Nero foram os mais
imperio romano. Se esta asser~ao e veridica, Roma
a Seneca.
o jovem imperador aparecia aos olhos de seus sudito
benevolo, afavel e tambem como urn artista de gran
Revelava vivo interesse pelo teatro e organizava os e
mais variados: jogos em que a for~a juvenil dos atle
de orgulho Roma, representa~6es de circo, pe~as d
com bates de gladiadores. Carros, puxados por quatr
participavam das corridas. Dizem que urn aristocra
trepado num elefante, exibira-se com urn funamb
cordas estendidas na arena. Uma co media intitulada 0
em que, a cada representa~ao, fazia-se incendiar
obtinha 0 mais vivo exito.
Suntuosos presentes foram distrihufdos ao povo: p
todas as ra~as e de todas as especies, finas iguar
suplementares de trigo, prata, ouro, pedras preciosa
roup as, ate mesmo escravos e gado. Distribuiam-s
feras domesticadas. A "bondade" de Nero era inesgo
recia ate navios, terras e casas.
Decretou que os gladiadores nao deviam lutar ate
Medida que nao 0 impediu urn dia de ordenar a qu
senadores e a seiscentos nobres que se enfrentassem
na arena. Era preciso que 0 sangue corresse!
- Capricho bern singular!
Tal foi 0 benevolente comentario do pavo.
Apresentaram-se batalhas navais em que ' lutavam
marinhos, depois pantomimas particularmente suge
ante da aten~ao conquistada dos espectadores, urn ra
cujo nome de familia nao nos foi transmitido, fez um
modestamente, recusou a recompensa pela arte
Durante os debates no tribunal de justi<;a, manda
duas partes expusessem 0 caso em julgamento em sua
depois dava a senten<;a no dia seguinte por escrito. C
estilo de arquitetura. Diante de cada habital(ao,
arquitetos construir arcadas cujos telhados chatos,
faeil, permitiriam apagar rapidamente os incendio
qiientes em Roma. As arcadas foram construfdas as
Nero.
Procurava tambem reduzir 0 luxo gritante e escan
rica soeiedade romana. Os banquetes publicos D
comTJortar senao urn numero limitado de pratos. Nos
e tabernas s6 eram autorizadas as refei<;oes frias.
De 54 a 59 depois de J. C., isto e, durante 0 primeir
seu reinado que durou catorze anos, observou Ne
mente as regras da sabedoria, da prudencia e da me
No relato consagrado ao jovem Nero e ao seu tempo
riador Suetonio, pode-se ler uma frase reveladora. En
as louvaveis medidas tomadas pelo jovem N~ro,
mente a pena de morte com que eram punidos o
Chama os cristaos "christiani, seita dada a uma supers
muito perigosa". Encontra-se, pois, aqui 0 primeiro t
do pagao Suetonio quanto a existencia dos cristaos
Algnmas leis decretadas por Nero atestam sua v
melhorar a legisla<;ao, de atenuar a corrup<;ao gera
ao mesmo tempo que havia ele estudado cuidadosam
problemas. Assinou judieiosos decretos destinados
as falsifical(oes de escrituras, os desvios de heran<;a
munhos falsificados.
Nenhum interesse maior apresentavam a seus olho
quistas militares. Por uma parte, refletia esse estado
a influencia do sabio Seneca, e, por outra parte, co
perfeitamente ao carater do homem que, com seu tem
de artista, nao foi completamente urn loueo e um j
176
GRAV. 57 - 0 lmperador Traj ano (97-117 depols de J. C.) tol apel1da
"Optlmus", 0 melhor.
GRAV. 58 - Plotina, a espbsa de Trajano.
GRAV. 59 - Os balxos-relevos da Coluna Trajana. evocam a guerra
A despeito da ridicula fatui dade, da vaidade grotesc
bic;:ao por assim dizer doentia que levavam 0 imper
considerado como urn artista de genio respeitava
as regras do jbgo durante os concursos e torneios. Q
paceava em seu favor, fazia-o de maneira a salvar as
nao fosse senao, apesar de tudo, para ' consigo mesm
Lembremos que historiadores e romancistas modern
taram que Nero que, em razao de suas disposic;:oes p
nos aparece bern como urn possesso de Sata, tivess
poeta autentico. No entanto, compos belos poem
Suetonio" que, trinta · ou cinqiienta anos ap6s sua mo
.em mao papiros e tabuinhas nos quais estavam e
pr6prio punho de Nero, versos conhecidos e apreciad
centa Suetonio que, pela natureza mesma das corre
a certeza de que esses poemas nao tinham sido nem
nem escritos sob 0 ditado dum terceiro, e que eram f
imagina9ao original. Parece que, no dominio das arte
haja Nero igualmente revelado urn talento incontes
E possivel que se encontre aqui a origem e a
tendencia patol6gica que 0 levava a buscar a tod
aprovac;:ao dos outros, porque se nao tivesse tido ta
teria sua mania po dido virar loucura. Aparentemen
historiadores tomaram 0 Mbito de omitir 0 fato -
sem cessar dominado pela paixao, toda impulsiva,
artistica. Incapaz de distinguir a aprova9ao autentica
jas grosseiras, acabou por nao mais dominar seu
. Nao podia assim realizar as condi90es pSicol6gicas
saveis a toda criac;:ao verdadeira, is to e, a disciplin
da medida, a cOhten9ao e a modestia, 0 respeito, 0 se
e a religiosidade da arte. Todos esses elementos cr
cessarios, pouco a pouco, the foram faltando. Dessa f
passou a nao ser mais que a caricatura, a contra
assim dizer demente, do artista e do ditador.
do Imperio Romano. Tirou 0 nome do mes de abr
chama-lo de "Neroneus". Sua avidez de gloria era
logica. Queria ser imortal.
o AUTOR.
180
GRAV. 60 - A CoJuna Trajana, de 38 metros de aJtura, e urn verdadelro J
composto de 155 fragmentos. As urnas de Trajano e de sua esposa
no seu soco. No Interior da coJuna eleva-se ume. escada em caracol. A
coJuna enclmada por ume. estatua de Trajano
de brilhar, s~ntava -se na orchestra, no meio dos
de modo que 0 auditorio the suplicasse que fizesse
voz divina. Como simples concurrente entre todos os
de cItara, retirava Nero seu bilhete da uma e, cheg
vez, subia ao palco. Oficiais de sua guarda carr
cItara.
Segundo 0 usa, comec;ava ele por urn discurso inaugu
fazia anunciar pelo ex-consul Rufo que ia cantar NI
citava-se durante cerca de quatro longas horas, do
as dezesseis horas. Para lograr ocasioes de renova
de canto, tinha a astUcia de adiar a distribui~ao do
e a continuaC;ao dos jogos para 0 ana seguinte! . . .
Fantasiado e mascarado, representava Nero tambem
Tomava cuidado em que as mascaras dos deuses,
e das herofnas fossem desenhadas a sua semelhanc;
sua amante.
Desempenhava 0 imperador preferentemente 0 pape
tes, assassino de sua mae, 0 de Edipo, 0 cego, e 0 d
desacorrentado. Depois, entregava-se as alegrias da
hlpicas. As ocultas, brincava com cavalinhos alinhado
duma mesa, depois, sempre as ocultas, assistia a
publicas para declarar, afinal, que tinha grande v
nelas tomar parte, a fim de aumentar 0 numero de se
Nos seus jardins, diante de seus escravos, seguia
mento rigoroso. Condutor emerito de carros, fazia-s
no Circus Maximus.
Compreende-se que Nero tenha tido urn fraco pel
pelos louros. De todas as cidades gregas onde se
festas e concursos, enviavam-Ihe os louros dos toc
dtara.
- Os gregos tern 0 ouvido musical. Sao os unicos qu
gozar de minha arte - dizia Nero. E partia para aq
pals.
Se urn festival desdobrava seus faustos sem 0 con
presenc;a de Nero, era isso notado. Quando de ca
182
morte, para que os levassem para fora! No decorrer
nia do ana de 65 depois de J. C. grande numero d
pereceu no aperto das aglomerac;oes, abafadas pelo
cante e pelo ar viciado.
Antes de entrar em cena, 0 artista imperial, qu
conhecido medo dos atores, estava sempre inquieto
Recomendava aos jufzes que se nao deixassem en
acaso e pelas falsas aparencias. Mas ele respeitava e
mente, com angustia mesmo, as regras dos jogos. Qu
cedor, recebia os louros, tinha a alegria de anunciar
sua vit6ria. Para apagar da mem6ria dos as~istent
dos antigos concurrentes vitoriosos, mandou lanc;ar su
e seus retratos nas latrinas.
Durante uma corrida, foi atirado de seu carro e cai
Rapidamente, recolocaram-no no vefculo, mas nao
minar sua corrida. Fora em OHmpia, na Grecia. Re
obstante, urn premio!
Em honra a Nero, retardou-se de dois anos a ab
Jogos OHmpicos que, havia oitocentos anos, se
todos os quatro anos. Antes de sua partida, exonerou
tos a provIncia de Acaia e cumulou de ricos p
populaC;ao. Em Corinto, pronunciou uma alocu'i!a
conservada. Podem-se ler nela as frases seguintes:
"Minha magnanimidade, nobres gregos, e de ante
rantia da maior bon dade mas, a v6s, destino uma
nao tedeis podido esperar. Recebeis de mim a libe
liberdade tal que nao gozastes nas epocas mais feliz
hist6ria, porque jamais cessastes de dilacerar-vos
intestinas. Ha soberanos que concederam a uma cid
dade; mas da-la a urn pals inteiro, somente Nero
capaz!"
Na verdade, reflete esse discurso uma desmedida
si mesmo. A urn ouvido grego, constitula mesmo
humilhante. Nao foram senao palavras, sinceras de
que Nero admirava e venerava em seu foro Intimo t
e a afei~ao dos gregos. 11: preciso dize-Io: apos s
pareceu Nero aos gregos como a encarna~ao dum
dum benfeitor e julgaram-no digno duma venera9
Mais tarde, nas epocas tragicas de sua historia,
ainda seu retorno. Nao podiam acreditar que aqu
amigo da Grecia tivesse morrido. Nero que, durant
tencia, desejava atingir a imortalidade e a gloria,
no povo grego 0 cumprimento postumo de sua
nostalgia.
Foi Nero profundamente penetrado pela sua miss ao
de tragediante, de poeta e de cantor. Os historiadores
(como M. P. Charlesworth) tendem mais do que
acreditar no testemunho de Suetonio quanta a au
dos talent os artisticos de Nero. Suetonio, tanto qua
alias, provaram em seus escritos que nao foram pr
admiradores daquele singular personagem : razao
tar, parece-me, para dar credito as suas observa~o
sensatas.
Revestido duma tunica de purpura e dum manto greg
de estrelas de ouro, com a fronte cingida pela coro
encerrando na mao direita os louros ganhos nos jog
Nero, no carro triunfal de Augusto, fez sua entrada
Os santos trofeus foram reunidos em seu quarto, em
sua cama.
Eis agora que, para nao abusar de sua voz preciosa,
cava por escrito com seus soldados. Fazia-se tam be
nhar por seu professor de canto, encarregado de l
a cad a instante que devia poupar seus pulmoes e su
Trazia urn len90 diante da boca.
Sob disfarce, tinha por habito 0 imperador visitar
lugares escusos, de surrar ou mandar atirar nas
cidadaos que regressavam tranqiiilamente a seus lare
arrombar armazens para pilha-Ios! Vendia em leilao
de seus roubos. Uma noite em que apostrofava dum
grosseira e obscena a esposa dum senador, dera
184
GRAV. 62 - 0 belo Antlnoo afo-
gou -se no Nllo, por ocasliio de
urn passelo pelo rio, em com -
panhla de Adriano. No lugar
on de encontrou ele a morte,
fundou Adriano a cldade grega
de Antln6pol1s, hOje em rutnas.
A palxiio que pelo adolescente
da Bltinla nutria 0 Imper ador
e urn dos grandes enigmas da
hlst6rla. Jamals se soube de
que manelra Antlnoo encontiou
a morte. Depols de ter perdido
seu amigo, mergulhou 0 Impe-
rador Adriano em profunda
mel an colla. Chorou 0 jovem
morto e construlu nurnerosos
templos consagrados a sua
mem6rla.
186
GRAV. 64 - 0 Panteon de Roma, que alnda exlste em nossos dlas, era 0
constnlido no relnado de Adriano, de 115-125 depols de J. C. A lnscrlc;l
que, precedentemente, felra construldo no mesmo lugar, par M. Agrlpa
construido em forma de rotunda representa a "perfelc;a.o", porque, tanto a
medem 43 metros. Il: urna especle de "estera". A luz penetra pela abertu
NERO
190
GRAY. 65 - Este mausollm fol constru1do por Adriano para abrlgar s
sucessores. No. sepultura. nao se encontraram as urnas e os sarc6fagos do
em 130 depols de J. C .• fol 0. construcao termlnada em 139. por Anto
este mausollm 0 Castelo de Santo Angelo.
GRAY. 66 - 0 Baluarte de Adriano. no. Inglaterra (embalxo A esquerda
tern urn compr1mento de 110 qullOmetros. A reproducao mostra urna fort
individuos vivos como alimento a urn egipcio an
celebre pela sua voracidade, que cornia carne crua.
dante de orgulho e de satisfa9ao, declarava Ne
vezes :
Antes de mim, nenhum soberano compreendera qu
tudo pennitir a si mesmo.
Os ediHcios antigos, os becos estreitos e tortuosos
desagracbram a Nero, que mandou deitar-lhes fogo
gente, em Roma, sabia quem era 0 incendiario e
ousava tocar em seus criados, quando os surpreend
grante, de tochas nas maos.
Durante seis dias e sete noites lavrou 0 incendio. D
das casas da cidade ficaram calcinados. 0 povo -
refugio nas criptas, nos monumentos enos templos
tuosos palacios, os templos magnificos e quase todas
vilhas da capital foram reduzidos a cinzas.
Do alto da torre do palacio de Mecenas, no Esquilin
playa Nero 0 formidavel espetaculo. Exaltado diante
grandiosa e devastadora das altas labaredas, cantou u
evocando 0 sitio de Ilion e confessou que podia afin
ideia do que fora 0 incendio de Troia!
Para explorar 0 melhor possivel a catastrofe, para d
o maximo de beneHcios, encarregou-se Nero da rem
escombros e dos cadaveres! Ninguem tinha 0 d
aproximar-se das ruinas fumegantes. Acuou assim o
a miseria, obrigando-os a "contribuir com donativ
tarios".
Ruas espa90sas foram entao abertas segundo urn p
concebido. As casas nao deviam ultrapassar uma altur
Prometeu Nero que mandaria construir colunatas d
ediffcios. Para obviar 0 gasto de agua, foram as ca
postas sob a fiscaliza9ao. 0 deposito de aparelhos d
de incendio era obrigatorio em cada casa. Se a cidad
assim em beleza, nao estavam com isso satisfeitos os
As ruas estreitas do passado, bordadas de altas ca
192
EspaIhando-se como uma onda ('pine-mica, a sinis
do crime do imperador circulava de casa em casa. P
cerce aqueIes perigosos boatos, decretou Nero qu
cristaos os responsaveis pelo incendio.
A este proposito, Tacito, nascido na Halia do Nor
de 55 depois de J. c., transmitiu-nos urn dos prim
munhos pagaos da existencia de Jesus. Posta em d
Hochart e Drews, a autenticidadc de seu texto foi r
peIos fiIoIogos do mundo inteiro.
Precisas, pertinentes, essas linhas sao tanto mais
quanta escritas par urn romano que achava que
eram uma seita criminosa. Nos Anais (livro XV, c
Je-se 0 que se segue:
"Esse nome (cristao) vern de Cristo, condenado a
govemadnr Poncio Pilatos, sob 0 reinado de Tiber
cravel heresia, reprimida proviwriamente, propag
novo, nao somente na Judeia onde nascera, mas ta
Roma, onde cultos religiosos male£icos e abominav
e encontram adeptos."
Quantas vezes nao se afirmou que nao havia testem
mente historico provando a existencia de Jesus Cr
linhas de Tacito sao, no entanto, urn precioso a
historiador romano relata em seguida, de maneir
desenvolta, que haviam detido indivlduos que se tin
rado cristaos. Como nao se podia convence-Ios do
incendiario, acusavam-nos de "nutrir surdo odio
especie humana".
Nero transformou a perseguiC;ao que inaugurava con
taos, num espetaculo destinado a divertir 0 povo.
dos crentes, costurados dentro de peles de animais,
c;ados em pasto a molossos, pregados na cruz ou
para servir de tocheiros!
Faz Tacito alusao a compaixao confessa do povo pel
que, naquela epoca, comec;avam a manifestar-se em
imperiais!
Qual era, porem, a aparencia Hsica do homem qu
da loucura, governava 0 imperio de maneira tao
De porte medio, Nero - Suetonio 0 escreve sem
restric;ao - desprendia urn odor fMido; seu corpo esta
de pustulas e de manchas suspeitas. Dum louro r
cabelos eram penteados em cachos, como os das
julgando os romanos esse penteado escandaloso e r
rosto apresentava alguma beleza. Os olhos dum cin
lado, muito mfopes, tinham uma expressao ansiosa e
espantada diante daquele mundo estranho que s
insultar e achincalhar tao facilmente. A nuca era
o ventre proeminente. Pernas finas suportavam 0 tor
Sua saude mostrava-se robusta e resistente. Mau
vida de orgias, s6 esteve seriamente doente urn as
durante seu reinado.
Durante catorze anos, suportara ' 0 imperio 0 tira
mente oito anos ap6s 0 assassinato de sua mae, s
que os gauleses, sob 0 comando de Julio Vindex,
sublevado. Como se pressentisse sua queda e morte
como se se soubesse incapaz de evitar 0 resultado fa
Nero com toda a passividade. Mas quando soube que
se havia sublevado, teve uma sIncope e £icou como
trado. De volta a si, rasgou cheio de raiva as vestes
na testa, excIamou:
- Estou liquidado!
Sua velha am a, que protestava, observou que semel
ja ameac;ara outros soberanos.
- Nunca - replicou Nero. - Meu infortunio e
perco meu trono enquanto ainda vivo! -
Agarrou duas preciosas garrafas de cristal e queb
solo.
Teve 0 imperador a ideia de envenenar os senadore
dar assassinar os generais, de incendiar de novo a
194
seu genio, para consagrar-se ao canto e a citara. Ma
esse projeto foi rejeitado. Manifestou Nero 0 de
sozinho ao encontro dos rebeldes gauleses. Gra9as
poder de suas Iagrimas dilacerantes, fa-Ios-ia reentrar
Fa-Ios-ia entao ouvirem cantos de vit6ria, cujo texto a
em compor.
o exercito 0 abandonava. Nero rasgava em peda
mensagens que anunciavam derrotas e catastrofes
celebre Locusta urn t6xico de efeito rapido. Mas nao
gem de engoli-Io. Vestido com trajes de luto, qui
diante do povo reunido e implorar seu perdao. De
ap6s sua morte, 0 texto do discurso.
O~rca da meia-noite, de repente, despertou. Seus g
corpo tinham-no tambem abandonado. Mandou
oficiais de sua escolta. Ninguem respondeu. As port
aferrolhadas: 0 palacio estava vazio. Seus servidor
mesmo levado seus cobertores e 0 veneno de Locu
o imperador a procura de Espfculo, 0 celebre glad
devia, como estava combinado, dar-The 0 golpe de m
Ninguem!
- Nao tenho, pois, nem amigo, nem inimigo? -
como lou co, precipitando-se para a rua, a fim de a
Tibre.
De novo hesitou. 0 liberto Faon ofereceu-lhe urn
sua casa de campo. Nero saltou sobre urn cavalo e, c
dissimulado sob uma mascara, galopou atraves
enquanto os relampagos duma tempestade e urn
terra misturavam seus estrondos com os gritos dos
Espantado diante de urn cadaver decomposto na
cavalo empertigou-se. A mascara escorregou e reve
90es do imperador. Urn pretoriano reconhe.ceu-o ma
nada. Chegado a casa de Faon, Nero deixou-se cair
cama, gemendo.
Seus amigos aconselharam-no a por fim a seus dias,
par a uma morte infamante. Nero deu ordem de
deiras homenagens. Mas, caido ao chao, chorou, e
por varias vezes:
- Vede bern 0 grande artista que vai morrer!
Quando the anunciaram que 0 Senado dera ordem d
ate mata-Io, pegou dois punhais para atravessar c
corac;ao. Tateou as pontas, mas depois reembainhou
- Vivo na ignominia e na vergonha! - exclamou.
conveniente para Nero; nao, nao e digno dele!
A aproximac;ao dos cavaleiros que queriam captur
cravou, ajudado por urn tal Epafrodito, urn punhal n
Ora, ao cavaleiro que chegou para liquida-Io, mas
acorrer para salvar seu imperador, disse Nero:
- Que fidelidade!
Foi seu derradeiro e'lgano.
Com a idade de trinta e dois anos, morreu Nero,
exatamente ap6s 0 dia sinistro em que mandara ass
esposa Otavia. Livre dele, 0 imperio romano reg
No entanto, durante longos an os, fieis cobriam d
seu tUmulo. Suetonio escreveu:
"Vinte anos mais tarde, surgiu entre os partas urn
pretendia ser Nero. Eu era bern moc;o na ocasiao
de Nero gozava ainda de tal prestigio que os partas
durante muito tempo 0 jovem desconhecido que
entregaram aos romanos!"
Nero nao chegava a morrer na mem6ria dos hom
criminoso-nato estimulara a imaginac;ao dos povos
sados. Em lugar duma poHtica rude, disciplinada
oferecera-Ihes jogos, gozos, as alegrias puras das art
taculos embriagadores. Conquistara 0 mundo, nao
e pela forc;a da inteligencia 16gica, mas grac;as a
voluptuosas e isto a tal ponto que 0 mundo nao reco
criminosa loucura do temivel cabotino.
fortuna de trinta milhoes de sestercios. Jamais deu
aos fil6solos. Salve, 6 passante, que les estas linhas
assim que Trimalciiio, lib eTto novo-rico, imaginava,
Be sent-ia de humor alegre, 0 epitli,fio de seu tum
PETRONIO, "Satirico
198
GRA
Fau
nino
dep
gaci
c1ar
Dlv
hon
fun
as
Antes das refei90es, escravos de Alexandria d errama
de neve sobre as maos dos convidados. Outros
pedicuros, tratavam-Ihes dos pes. Trabalhando, cant
que naquela casa exigia 0 costume que se acompa
cfmticos, em coro ou em solo, 0 servi90.
Urn banquete romano compunha-se pelo menos de
90S: os hors-d'oeuvre, as entradas, dois assados e as s
Em casa de Trimalciao servia-se urn terceiro assado
Os hors-d'oeuvre eram apresentados presos sobre u
bronze de Corinto que os escravos traziarn numa b
bissacos do asno estavam cheios, de urn lado de
verdes, de outro de azeitonas pretas. 0 )ombo carre
dejas de prata sobre as quais estavam soldados peque
guarnecidos de leiroes assados, aspergidos de mel e
de graos de papoula. Sobre uma grelha de prata,
vam-se aos convivas salsichas fumegantes , ameixas d
e romfis.
Aos sons duma orquestra, Trimalciao, estendido sa
rosos co chins, dispostos em seu leito de repouso car
escravos, surgia entao. D epois servia-se 0 prirneiro p
Sob as asas de uma galinha de madeira, ovos de p
dispostos sobre fina camada de palha. Surpresos, o
descobriam nas cascas toutinegras gordas a vontade
em gema de ovo apimentada. Cantando em coro, l
volta os servidores os pratos vazios. Urn vinho de F
cern anos de iclade e servido em talhas, regava
Aplaudindo com as duU$ maos, declarava Trimalc
vinho chegava a uma idade mais avan9ada que os ho
A segunda entrada era apresentada sobre centro d
grandes dimensoes; urn prato redondo, decOl'ado co
signos do Zodiaco, suportava doze ta9as guarnecida
das correspondentes aos famosos signos. D epois, vi
meiro dos tres assados: urn javali enorme. Quando 0 t
tordos escapavam-se do ventre, voejavam pela sala e e
apanhac10s pelas varinhas com visgo dos passarinh
200
Aos sons duma musica louca, urn demente fazia u
dan«;ar em cima duma escada, depois ohrigava-o
atraves dum drculo de fogo e Ihe estendia uma
devia ele equilibrar sobre seus dentes. 0 anfitria
que os equilibristas e os tocadores de corneta the
navam urn prazer que nada podia ig.ualar. E se tam
contratado atores, preferia muito mais ve-Ios represe
par mlinicas. No in stante em que 0 adolescente, esc
os atores, caia da escada, Trimalciao gemia, como s
gravemente ferido. Declarava entao liberto 0 jove
Nao se podia pretender que 0 grande Trimalciao hou
rimentado em sua vida qualquer emo«;ao por ·um esc
- 11: bern certo - dizia 0 milionario filho da sorte, -
quer urn pode servir a .seus convidados urn gala o
fran go. Mas meus cozinheiros assam b ezerros inteir
Trazia-se, nesse mesmo instante, urn porco inteiro a
o anfitriao reparava que nao fora ele esvaziado! C
cozinheiro confessava que, de fato, esquecera-se de f
- Tira a roupa - ordenava Trimalciao, - vais ser
imediatamente!
Depois, de repente, mudava de icIeia:
- Esvazia-o aqui, diante de nossos olhos! - ordena
o cozinheiro tornava a vestir-se, agarrava sua faca
ventre do porco. Dele salam chouri«;os apetitosos
rechonchudas. Os servidores batiam palmas e elev
brinde ao astucioso cozinheiro que recebia uma coro
o terceiro assado era urn bezerro inteiro!
Para apreciar-se a fortuna de Trimalciao, saiba-se q
ciao mandava urn escriba Ier uma declara«;ao em q
que, em urn dia, em sua propriedade de campo, e
haviam nascido trinta meninos e quarenta menina
side recebido dez milh6es de sestercios, urn escravo
cificado porque zombara de seu senhor, pOis que ur
irrompera nos jardins de Pompeu.
os eonvidados viam-se nele pendurados.
As brineadeiras mais ousadas eram promovidas a
Fortunata, a esposa de Trimalciao, era mulher de
bastante escabrosa. As mulheres embriagavam-se. 0
que servia as bebidas imitava maravilhosamente 0 rou
- Novidade, sempre novidades! - gritava 0 Creso ca
Dentro em pouco, eram os escravos de Trimalciao (e
antigo liberto) convidados a beber com os convivas.
- 0 que nao quiser beber recebeni uma talh? de
cranio - decretava 0 filho da sorte.
Dois adolescentes, providos de altas talhas, fingiam
e comecravam a bater-se. As talhas cafam, mas eram
e ostras que delas se derramavam. Urn deles os ap
numa travessa, apresentava-os em roda. Semelhante
sas" eram bastante apreciadas.
Avinhado, Trimalciao enternecia-se. Dava ordem de
seu testamento e, acompanhado em surdina pelos ge
seus servos, mandava-o ler. Depois era 0 computo da
de seu tllinulo. Os convidados choravam. Os ser
lamentavam.
- Sabemos bern que devemos morrer - dizia Trim
e por isso que precisamos primeiro gozar dos ben
existencia! E uma vez que leva muito em conta 0 v
estar, tomemos urn banho. Esta quente como a cari
forno.
Totalmente ebrio, fazia Trimalciao admirar a toga g
de purpura que vestiria ao morrer.
- Espero que, frio, agradar-me-a ela tanto quanta
dizia. - Imaginai, pois, que assistis aos meus funer
Os tocadores de trompa, que entravam na sala, eram
com as seguintes palavras:
- Fazei como se eu estivesse morto e toclli
cancroes.
Os musicos sopravam com tanta forcra em seus ins
que os vizinhos acordavam. Os vigilantes noturnos
202
GRAV. 69 - 0 Imperador Marco
Aurel10 e seu Irmao Lucio Vero.
Os Irmaos relnaram Juntos, de
161 a 169 depols de J. C. Marco
Aurel10 sobrevlveu a seu Irmao
durante onze anos e compos,
nos campamentos mllltares da
Moravia e da Boemla, seus
famosas "Pensamentos".
SENECA.
206
GRAY. 71 - Fragmento da Coluna de
Marco Aur~lIo. Representa Ulna mulher
germfi.nlca cqm seu fllho que Uln leglo-
narlo romano leva catlvos.
208
mesma serena tranqiiilidade e aureolado da mesm
dade que residiam em Seneca. Nao e por acaso qu
S6crates foi 0 pai espiritual do romano Seneca.
inclinar-nos sobre a obra dum Seneca para comp
que representa uma existencia totalmente cheia e co
sivel deixa-Ia com paz na alma.
Nao se pode duvidar que Seneca, antes de pressenti
fatal de Nero, tivesse sopesado 0 valor fugitiv~ da
humana. Apreciava 0 precro do tempo e sabia a
e perigoso deixar correrem os dias e os anos sem
plenamente e sem faze-los frutificar no homem:
"Considerei cada dia de minha existencia como
derradeiro", escreveu ele a Ludlio.
As exortacroes de Seneca sao, na verdade, bastante
doras e sua coletanea, Da brevidade da existencia,
lida pelos nossos mocros:
"Viveis como se fosseis imortais. Nao pensais nu
ponto 0 tempo vos e parcimoniosamente distribuld
as horas como se dispusesseis delas em abundan
entanto, e justamente esse dia que consagrastes
humano ou a uma justa causa 0 vosso derradeiro
mortais, tendes medo de tudo, mas desejais esse tud
devesseis viver eternamente ... "
"Da mesma maneira que uma con versa interessan
livro apaixonante pode enganar 0 viajor que de re
cebe com surpresa que chegou a seu destino, 0 h
ocupado pelos multiplos interesses que liga a seu es
se apercebera da passagem ininterrupta e rapida da
senao quando atingir-Ihe 0 fim! E no e~tanto, nao
o bern mais precioso, 0 s6 e linico tesouro que possu
"A duracrao de tua existencia - disse Seneca, - nao
rumor. Nao te advertira de sua rapidez. Flui em
Nao existe arte mais diffcil que a arte de viver. Mas
como se deve existir, essa aprende-se unicamente
. ... "
se Vlve
faeil do mundo: viver segundo sua natureza!... A
de tua salvac,;ao e reflete muitas vezes quanto e bo
perfazer a vida antes da morte, para atingir tran
o fim desta existencia, em plena posse duma vid
Quebramos a vida em partes milidas, dividimo-Ia em
Desejo-te a posse de ti mesmo para que teu espfrit
tado por inquietos pensamentos possa afirmar-se e
a estabilidade e 0 repouso, a fim de comprazer-se
e na satisfac,;ao e que depois de ter tido a revelac,;ao
deiros bens que possui, nao tenha mais necessidade
lac,;ao dos anos!"
"Todas as noites - ensina Seneca, - precisamos inte
para saber de que maneira melhoramos e em que
preciso acelerar nossos esforc,;os para urn progresso!
Compreendeu Seneca que 0 homem possui urn valor
isto e, 0 que se e, suas capacidades proprias, sua pro
dade de pensar e seu verdadeiro can'tter. Sao va
intransmissfveis, inerentes a cada indivfduo. Os ben
que possufmos sao de valor bern inferior.
"Guarda-te de crer que urn ser que depende das c
riores seja feliz! Aquele cuja Fonte; de alegria de
exterior constr6i sobre urn terreno fragil. Toda aleg
penetrou, vinda do mundo exterior, a de fatalmente
Mas 0 que teve nascimento em ti mesmo e solido e
centa-se e acompanha 0 hom em ate a fim. Tuda m
produz a admirac,;ao das turbas, so e agradavel e e
sob a condic,;ao de que, quem 0 aceita, seja sen
mesmo. .. A alma e mais poderosa que a destino."
"E urn erro viver segundo a maneira alheia e fazer
unicamente porque outros a fazem. Inestimavel bern
cer a si mesma."
Sabia Seneca que somente 0 homem que pode vive
sua propria natureza e urn ser feliz. Ravia penetrado
mente os segredos da "vida feliz",
2H.l
"Confesso de boa vontade que se tern 0 direito de
fortuna que e de utilidade e que enriquece a ex
muitas vantagens... Pode-se duvidar de que urn
possui 0 conforto material, llaO disponha duma maio
de expandir sua alma do que se estivesse reduzido
de pobreza? Cessai, pois, de proibir a posse m
fil6sofos. A sabedoria jamais condenou alguem a pob
:E certo que nao deve 0 homem ser escravo de seus
contnirio, a fortuna e que deve servir ao homem.
"No sabio, a riqueza e que esta s.ujeita, ao passo q
tolo exerce ela seu domfnio. 0 sabio nao autoriza
mite nada a riqueza. Mas v6s haveis-vos habituad
a ela vos apegais, como se alguem vos houvesse
a posse eternal"
E de notar que todos os pensamentos escritos por
mil e llovecentos anos permane«;:am "modernos" e du
atualidade. Abordou a vida por todos os lados e, d
sua significa~ao, arrancou-lhe seus segredos e s
ultimas questoes do aMmo Era-Ihe indiferente a o
massas.
"Os neg6cios da humanidade nao sao bastante bon
se possa supor que a maioria prefira 0 que e melho
numero fornece invariavelmente a prova do que
aprova«;:ao? Que nao se esque~a que uma s6 e m
e e sera aceita ou censurada. Eis 0 resultado de
mellto em que 0 homem decide, segundo a voz da ma
Os hom ens atingidos pela doen«;:a de nosso seculo, a
a pressa e 0 medo de nao lograr exito, deveriam ler
de Seneca em que ele expoe seu ideal sublime na
da Alma e na Brevidade da Existencia.
"Os ocupados nao tern tempo de voltar-se para 0
se tivessem para isso lazer, a lembran«;:a daquilo
deve ter vergonha ser-Ihe-ia demasiado penosa. Por
s6 a contragdsto pensam llum passado "mal-vivido" e
aproximar os erros que aparecem a luz ... 0 que cob
sua existt~ncia. Mas a alma dos ocupados e incapa
para tnis. Sua vida, por assim dizer, desapareceu
fundezas."
Na Serenidade da Alma, pode-se ler: "Cada qual
mesmo e sem descanso. Mas de que serve, se nao po
a si mesmo? 0 homem se segue como uma somb
tuna. . . POl' isso e que empreendem os hom ens
periplos e sulcam os mares. A inconstancia, que
inimiga do presente, procura sua fortuna, ora sobre
ora sabre terras... Muitas vezes, urn velho nao t
provas para testemunhar sua longa existencia senao
de seus anos! ... Mas nao se deve crer que urn ser
que tern 0 cabelo grisalho e 0 rosto enrugado. Nao v
tempo: existiu apenas! ... Viver feliz, e viver se
natureza, e uma so e mesma coisa."
"Subsistimos segundo as leis do homem, se conside
cuidado e. sobretudo sem temor as disposic;6es fi
necessidades de nossa natureza como urn bern efem
tivo, que nos foi dado somente por certo lapso de
Encontranis a sabedoria no templo, no Forum, na c
os homens de pe diante dos muros e cobertos de
fresca ou de maos calosas. Mas descobriras 0 ga
oculto na clandestinidade e na sombra, perto dos b
estufas, dos lugares onde se teme a policia de cost
gozo sensual efeminado, sem virilidade, gotejand
ungiientos, palido, pintado e de faces cavadas. Mas
nao muda nunca; nao odeia jamais a si mesmo na s
aversao, e como e 0 que existe de maior e de mais
se transform a ele proprio. 0 bern supremo e estar em
consigo mesmo... Existe a introspecC;ao, a pers
saude, a liberdade e a beleza da alma!... Que
prazer? Distingo a felicidade do horn em e nao a
de seu ventre! E esse ventre e mais espac;oso que
mais! .. . Assim, aprende a regosijar-te, mas sabe qu
deira e a pura alegria e urn negocio serio!"
212
existencia, que se en contra para tras de n6s, e a
morte. Guarda a continuidade de tua existencia e d
menos do amanha, se prenderes 0 dia presente. A
vida, foge ela!... Aquele que diz estar em toda
esta em parte alguma. E preciso que te detenha
certos espfritos bem escolhidos e determinados e,
tirar proveito da sabedoria deles, deves nutrir-t
presenr;as."
Um Nero nao tinha 0 poder de amedrontar um h
havia atingido tal conhecimento. E certo que S
rejeitou sua vida sem reflexao. Quando verificou qu
o caluniavam junto ·a Nero, solicitou uma audie
palavras corteses, ~gradeceu ao imperador todos os
que recebera e de que gozara. Declarou que, cum
sorte e pela boa fortuna, tinham sido mal partilhada
dade e a moderar;ao. Solicitou 0 socorro do imperad
- Nao posso mais suportar minhas riquezas. Toma
meus bens!
Desejava depositar sua fortuna aos pes de Nero par
sua vida na tranqiiilidade.
Nero recusou:
- Foste tu que me aconselhaste quando, na ine
da juventude, eu me afastava do caminho reto. E
dirige minha forr;a para 0 bem e quem me tom a so
ter;ao. Se me entregas tua fortuna, rninha cupidez
que sentes diante de minha crueldade serao conh
cidade inteira.
Nero apertou Seneca nos seus brar;os e beijou-o.
agradeceu-Ihe. Tacito escreve a este respeito:
- "E sempre assim que terminam as entrevista
soberanos."
Ap6s essa audiencia, viveu Seneca uma vida retir
mente 0 viam em Roma. Seu destino completou-se
65 depois de J. C. Nero acusou-o de haver participad
pirac;ao de Pisao e encarregou 0 tribuno Silvano de
S:Il:NECA
216
GRAV. 74 - 0 imperador COmodo reinou
de 180-192 depois de J . C. Inaugurou
uma epoca slIngrenta, caracterizada por
crueldades inauditas e assassinatos ma-
cicos. Esse mho desnaturado de Marco
Aurello foi flnalmente assassin ado pelo
gladiador Narciso.
218
GRAV. 77 - 0 Arco de Triunto de Setlmo Severo no Forum de Roma
Senado e pelo povo. em honra do Imperador e de seus tUhos Geta e Ca
a celebra<;fi.o do decenio do reinado de Setlmo Severo. em 205 depols
Arco de Trlunto, veem-se partes cativos.
experimentada.
Pouco faltou para que Calba nao tombasse antes
atingido seu alvo. Dirigindo-se as termas, passav
beco sombrio, quando repercutiram gritos:
- Dever-se-a perder uma ocasiao tao propfcia?
Que significavam essas palavras? Detidos, os dois
assassinos assalariados, confessaram, sob tortura, qu
contra tara para aquela tarefa.
Depois vern a noticia inacreditavel: Nero esta morto
vern a saber pelo mesmo correio que, em Roma, 0
prestou juramento de fidelidade. 0 nome de Cesar
urn titulo: e 0 detentor do poder supremo. No mes
de 68 depois de J. c., tom a Calha 0 tItulo de Cesar
o novo imperador vinha precedido dum renome po
jeiro. Com setenta e tres anos de idade, calvo, 0 co
mado pela gota, de que sofria havia muito tempo,
para tomar-se impopular. Esmagado pelas suas pr6p
era-lhe indiferente 0 sofrimento alheio. Antes qu
ganchoso do senhor se inclinasse sobre a mesa, ou
domo seus suspiros. Estava furioso 0 velho avare
do nfunero de comidas e de pratos e calculava m
o montante da despesa.
Por ocasiao da primeira representa~ao teatral a q
com 0 titulo de imperador, desviou a vista daquele
a que nao estava acostumado.
- Eis 0 avarento que vern de sua provIncia! - en
cora os comediantes. E os espectadores retomaram
estribilho.
Tinha as dobradi~as emperradas, no verdadeiro
expressao. 0 artritismo torturava-o a ponto de
insuportaveis as sandalias mais macias. Suas maos, d
nas articula~6es dolorosas, nao podiam nem ao men
urn ralo de papiro. Ao locomover-se, tres hom ens 0 e
inseparaveis como sua sombra: Tito Vinio, Cornelio
220
avareza e sua dureza se tornavam rfgidas ate a
Nesses momentos, a menor suspeita bastava para m
homem ao carrasco.
o velho sovina reuniu cinqiienta patrfcios que enc
recuperarem as doa<;6es de Nero. Em contraposi<;ao
execu<;ao de alguns criminosos, capangas do tirano, e
o eunuco Haloto, de Tigelino, antigo prefeito dos p
urn dos principais executores da tirania de Nero, c
foi exigido varias vezes pelo povo.
Era sobretudo sua atitude desatenciosa para com
que expunha Calba aos maiores perigos. Jamais cu
promessas. Tratava os oficiais e os soldados com
nao se privava de insulta-Ios, de humilM-Ios. 0
exercito, que recusava obediencia ao imperador,
Cermania do Norte. 0 rabugento velho, que sofria a
dolorosa excresce.ncia no lado direito, pensava que
o desprezavam porque nao tinha ele filhos . Reuniu
e adotou, perante os soldados, 0 jovem aristocrata P
Liciniano. Cinco dias mais tarde, a 15 de janeiro
69 depois de J. C., sucurnbia 0 infeliz adolescente
tempo que Calba.
Durante os derradeiros dias da vida de Calba, suce
acontecimentos com rapidez. A faixa que mantinha
excrescencia do lade direito afrouxara-se. Tinha 0
urn apetite de papao. Nao gemia mais quando the s
vinte pratos. Assim que acordava de manha bern c
<;ava a comer vorazmente. Cercava-se · de homens v
o contempla-los causava-Ihe 0 unico prazer que sen
misera existencia.
Depois dominou 0 velho uma estranha mania. Entre
que havia acurnulado, escolheu urn colar de perolas
e pedras preciosas. Queria oroar com ele a estatueta
de uma deus a que possuia na sua propriedade d
Encontrara esse bronze urn dia na soleira de sua p
lhe apareceu. Insultou-o. No seu sonho, ou atrav
alucina90es, viu que a deusa retomava todos os do
prodigara. Desesperado, 0 velho gemeu e, pe
levantou-se. Foi preciso oferecer imediatamente um
expiat6rio e deu ordem de ativar os preparativos
instante.
Como um obsessionado, perseguido pela loucura que
partiu 0 anciao precipitadamente para Tusculo. Sob
no local onde ardia habitual mente uma labareda r
viu Calba cinzas quentes. No lugar do adolescente
branco, um velho cambaleante, de roupas de luto, m
de pe.
- Teus assassinos se aproximam! - conclulram os aru
Otao, com efeito, estava presente ao sacriHcio e Cal
abra9ado.
Naquele mesmo dia, aconselharam Calba a dirigir-s
pamento dos pretorianos, porque Otao havia tomad
poder. Mas Calba, esgotado, tomlrado por dores
todos os seus membros, decidiu ficar no seu palacio
buscar pretorianos para defende-Io. D epois vestiu
dura de dezoito camisas de pano, endurecidas c
vinagre.
- Ai - suspirou 0 imperador, - algum~s espadas bas
liquidar tudo!
De repente, ouviram-se gritos ao longe: a revolta es
lada. Muitos cidadaos haviam permanecido fieis ao
Calba desejou ir ao encontro dos portadores de boa
D eixou 0 palacio. Urn soldado, apostrofando-o, acu
ter matado Otao.
- Por ordem de quem? - replicou 0 imperador, sim
para nao ter de recompensa-Io.
No caminho para 0 Forum, perto do Lago Curcio,
va-se urn grupo de cavaleiros. 0 povo afastou-se e, n
de olhos, foi 0 velho reumatico abandon ado pela sua
Nao ignorava Calba 0 que 0 esperava. Ofereceu a nu
222
GRAV. 79 - JUlia Domna,
segunda mUlher de Setimo
Severo, era siria. Bela, espi -
rituosa e sabia, teve de
assistlr, Impotente. ao assas-
slnato de seu fllho Geta,
morto sobre seus joelhoo
pelo seu Irmii.o Basslano.
GALBA
226
GRAY. 80
de Cara
seu mar
v
GRAY.
Caracal
sin ado
pou 0
romano
J. C. C
termas
tude d
cular q
Aurello
velo a
GRAY.
fol 0 i
Caraca
perado
seu re
durou
218
rapaz, uma vanta gem segura: gozava das boas grar;a
Foi assim que Marcos Salvio Otao penetrou na rod
cava 0 imperador. Nao houve , nisso nada de muito
dente, porque 0 jovem intrigante e 0 imperial cant
feitos para entenderem-se. E , da mesnaa maneira
cortes a pode lisonjear a vaidade dum tirano um
pode ele tomar com Nero algumas liberdades.
Nao e preciso acrescentaI'que Otao nada ignorava do
intimos do imperador. Foi ele quem preparou seu
de conveniencia com Popeia Sabina, a amante de N
ainda ele quem a impeliu ao adulterio. Todavia,
opiniao, e te-Ia-ia bern substituido - era demasiad
pelo seu chefe impaciente. Viu-se Nero mesmo o
enviar Otao em missao a Lusitania para possuir sozin
Naquela epoca, toda Roma ridicularizava Nero qu
zangava-se contra aquele esposo que cometia adu
sua propria mulher! '
Otao administrou a provincia durante dez anos. F
preendido ao verificar que foi excelente questo
Calba conspirou contra Nero, Otao tornou-se seu alia
aquela epoca, acariciava a secreta esperanr;a de sub
e acreditou que essa esperanr;a estava confirm ada
fecia do famoso astrologo Seleuco, que Tacito
designaram pelo nome de Ptolomeu. Se Seleuco h
muito predito que Otao substituiria Nero, garantia
que "dentro de pouco tempo seria ele imperador"!
Foi conscientemente, deliberadamente e com metodo
preparou sua futura ascensao. Quando 0 imperado
a sua casa, a tomar parte num banquete, 0 jove
comprava a prer;o de ouro, um ap6s outro, os ho
compunham a imperial guarda de corpo.
Crar;as as suas liberalidades, soube conquistar 0
coortes. E os soldados em breve, ficaram seduzidos
de ter como , imperador um senhor cuja generosida
tava tao vantajosamente com a sordida avareza de C
228
tasse dois outros mercenarios assalariados. Cada ho
beria enorme paga.
Otao foi visitar Calba e, depois de ter conversado am
com ele, despedia-se quando urn servidor anunci
"arquitetos" esperavam . .. Era a senha convencio
por em movimento 0 mecanismo da conjurac;ao.
Otao enviou os legionarios que deveriam assassinar
Proclamado imperador, ignorava Otao que seu re
ina aMm de noventa e cinco dias. Pos em cena urn
cuI to do heroi, votado a Nero, a quem mandou ergue
E exigiu que 0 povo 0 chamasse de "Nero". Disp
qiienta milhoes de sestercios para terminar a cons
Palacio de Oura do imperador.
Uma manha, ouviram os servidores gritos que se e
quarto de Otao. Acorreram e encontraram-no est
chao, diante de seu leito. Calba, dizia ele, aparece
sonho e havia-o atirado da cama abaixol
Num outro dia, durante violenta tempestade, Otao
que fulminado. Ouviram-no os servidores pronunc
varias vezes estas palavras em lingua grega:
- Por que, pois,· escolhi a £Iauta mais comprida e m
de tocar?
Bern antes de h:\-las em suas maos, compreendeu que
do poder the escapavam.
Com efeito, as legioes que ocupavam a Cerml1nia tin
tado juramento a Vitelio. Otao deu ordem ao Se
enviar embaixadores a Vitelio, a fim de comunic
era ele, Otao, quem fbra eleito imperador! Mas Vi
c;ava para Roma. Ao pe dos Alpes, alcanc;ou Otao du
sabre seu adversario. Mas foi totalmente derrotado e
entre Cremona e Ml1ntua.
Otao jamais fora 0 que se chama urn heroi. Tinha
guerras civis. Quando urn soldado anunciou que 0 ex
esmagado em Bedriac, ninguem em Roma deu cred
palavras. No acampamento imperial, levava-se a
Otao cumprimentou pela derradeira vez seu irmao e
presentes, queimou sua correspond en cia, distribuiu
e recebeu os que desejavam entreter-se com ele.
ter bebido urn copo de agua fresca, ocultou sua espa
de seu travesseiro e mergulhou em profundo sono.
A fria energia de que Otao deu prova, ao romper
cabe9a repousada, parece surpreendente: com urn t
de espada no cora9ao, pos fim a seus dias. Gem
seus servidores irromperam em seu quarto. Com a m
Otao 0 ferimento, depois mostrou-o mais urna vez
ta-Io de novo. Estava morto.
Somente naquele instante e que se veio a conhecer q
rador era calvo como urn ovo. Uma peruca, per
adaptada a seu cranio havia, durante longos anos,
que 0 cercavam. Tbdas as manhas, mandava fazer
em seu rosto com miolo de pao para ter uma
mada.
A morte corajosa de Otao acusava tal contraste com s
de viver que varios soldados, em lagrimas, beijaram
e os pes do homem que achavam nobre e valent
ram-no· na morte, atravessando-se os cora90es com
de espada. Numerosos cidadaos romanos que havia
zado e amaldi90ado Otao enquanto vivo, louvava
sua morte. Rouve em Roma "duelos por motivo de
ao imperador". Estavam as vltimas desses duelos cert
de juntar-se ao imperador no alem. Foi na verdade
turva e estranha, cheia de confusao, que alterara e
zara a hierarquia das norm as e dos val ores. A hu
tinha necessidade de uma ideia, dum ideal capazes
ta-Ia e de alivia-Ia de sua miseria. Era bern certo qu
gelho do Cristo fora revelado aos homens. Era bern
o cristianismo tinha ja seus martires. Mas no ana de
nao havia conquistado 0 imperio romano.
230
pada re fei liiio, duma pena que the permitia e8vaz
est6mago.
o AUTOR.
232
GRAV. 83 - As Termas de Caracala, come<;adas em 206 p~r Setimo Seve
em 216 por Caracala. Mil e qulnhentas pessoas ao mesmo tempo podlam
o grupo colossal do "Touro de Farneslo", a " Flora", 0 "Hercules de Far
Belvedeze" f1zeram parte da decora<;ii.o das termas. A reprodu<;ii.o no alto
das termas; a de baixo, as ab6badas do "frlgldarlum". As lnstala<;oes d
travam-se provavelmente em pe<;as Bubterrii.neas. Em 847, um tremor de te
levantar-se da cama.
Nao the faltava pSicologia. Osculava os simples
Durante suas locomo~6es, saudava com cortesia os pa
e os viajantes que encontrava na estrada, pedindo-Ih
indqgando da qualidade de suas refei~6es, enquant
com satisfa~ao, tendo ja engolido enorme quan
alimento. .
No acampamento, representava Vitelio 0 perfeit
paternal, generoso e preocupado com 0 bem-est
soldados. As penas infamantes eram supressas, as
refutadas, as licen~as concedidas e, alem disso, h
distribui~6es de presentes.
A admira~ao que os legionarios sentiam por de ma
subitamente, com. entusiasmo, a uma hora tardia
Despertaram Vitelio e, em trajes de dormir, procl
imperador.
Na verdade, a data desse acontecimento nao era du
feliz. Ocorria no dia 2 de janeiro do ano de 69
J. C. Para os romanos, 0 segundo dia de cada mes e
Proclamado imperador em ColOnia, colonia Ag
Vitelio, meio adormecido, com a espada do divino
mao, foi levado em triunfo pelas mas principais
Desde essa epoca, em Colonia, cidade onde a fan
livre curso, era 0 camaval festejado com esplendor
Ao amanhecer, como urn gigantesco fanal no c
decente, brotaram chamas. A sala de jantar do g
tava a arder. Mas Vitelio afugentou do espirito
premlgios:
- Para nos - gritou ele, - 0 ceu brilha com tod
luzes!
o imperador tomou 0 nome de Germanico e marc
Otao. Depois de sua vit6ria em Bedriac, ordeno
execu~6es e comportou-se como urn triunfador. A
os crimes, os incendios de suas coortes provocavam
lhadas. Se os escravos foram libertados, os homens li
234
Ao sentirem a fedentina que se desprendia dos
militares que acompanhavam Vitelio recuaram, m
damou:
- Se os cadaveres de nossos inimigos cheiram se
com nossas vitorias, os dos romanos tern melhor od
Serviu-se vinho e Vitelio bebeu com seus oficia
soldados.
Sob as bandeiras e os estandartes das legioes vitorios
imperador, omado com seu manto de general, fez s
em Roma. As trombetas sliudavam 0 comec;o do re
novo degenerado.
Nao resta duvida que era Nero 0 ideal de Vitelio.
uma festa em honra dele, na qual cantaram-se as m
defunto imperador. Queria ultrapassar-Ihe os faustos
ao Palacio de Ouro, dedarou que nao compreendia
tinha podido habitar numa cas a tao sem conforto. Os
que eram ainda desse mundo, regosijaram-se com
tuna e vantagens que se prenunciavam!
Vitelio consagrava pouco tempo aos negocios do Es
fiava a direc;lio do governo a seu favorito Asiatic
liberto ao qual estava lntimamente ligado. Cansado
chos de seu amo, 0 rapaz fugiu urn dia. Pouco tem
de sua fuga, viu Vitelio 0 adolescente a quem
Puteoli, onde vendia limonada. 0 imperador mando
ta-lo e trouxe-o para 0 palacio. Mas assim que se en
novo em cas a do imperador, 0 jovem favorito se r
novo. Vitelio vendeu-o entao a urn mestre de esgri
lante. Mas rna is tarde, quando avistou Asiatico
combatendo entre os gladiadores; mandou Vitelio
vez liberta-Io.
Os momentos mais sagrados e mais importantes da
do imperador eram os dos repastos e das orgias. Pa
sua bulimia, os historiadores romanos foram una
pensar que usava ele, ap6s cada refeic;lio, duma pen
permitia esvaziar seu estomago. Esses exercfcios r
assiduos haviam-no tornado mestre na arte da eructac
Quando Vib~lio chegou aRoma, seu irmao deu um
sua honra. No banquete, serviram-se dois mil peixes
raras e sete mil aves. Para estrear uma travessa d
grandes dimens6es, as comidas oferecidas na mes
ultrapassaram em originalidade 0 que se tinha con
entao. Figados de dourados, miolos de fais6es e
linguas de flamengos e leite de moreia, regados d
de molhos preciosos, foram saboreados pelos convi
as galeras do Mediterraneo, e ate aMm do B6sf
requisitadas para a pesca.
Mas 0 apetite monstruoso de Vitelio aumentava ao
horas em que, entre as refeic;:6es, nada havia par
pareciam-lhe vazias e insuportaveis; a noite, sobretu
os cozinheiros dormiam, levantava-se Vitelio, casca
cozinhas e nas adegas, onde quebrava os potes e b
descobrir vinhos velhos e bons bocados.
Sofria 0 imperador doutro grave tormento: era 0 o
desprendia no altar da came e das guloseimas dos
As oferendas que consagrava aos deuses nao tinh
e claro, muito fartas! No entanto, nao se podia co
vezes arran cava as labaredas do altar os melhor
para engoli-los ali mesmo. No decorrer de suas viage
avistava a beira da estrada hospedarias fechadas a n
cionava os lugares e deitava mao, para engoli-los
velhos restos de gorduras, de legumes e de carne
cobria.
Sua crueldade corria pa:elhas com seu apetite m
Feria os individuos com penalidades refinadas e in
meios mais horriveis e mais inverossimeis para su
vitimas. A urn homem que delirava com forte febr
administrar urn veneno misturado com agua fresca.
Sua vinganc;:a mais implaclvel exerceu-se contra seu
Assim que avistava algum daqueles que the haviam
dinheiro, condenava-o a pena de morte. .
A Hm de intensificar seu cruel gozo, agraciava algu
236
o dia exato da morte do imperador, foram banidos
Perseguiu-os com seu odio implacavel e mandou ma
numero deles. Diz-se que recusava os cuidados ne
sua mae doente porque uma mesopotamiaria pred
de pennaneceria no poder se sobrevivesse a sua m
Numa "constante embriaguez", como 0 escreveu D
reinou Vitelio dessa maneira durante oito meses.
exercitos, urn apos outro, abandonaram-no. Os sold
taram juramento a Vespasiano. Urn medo intense a
de Vitelio. Na esperan~a de conservar a fidelidade
de seus partidarios, concedeu-lhes somas enormes.
voluntarios fez, no caso de vencerem, promessas que
incapaz de cumprir.
Sob 0 alto comando de seu irmao, enviou uma fr
seus adversarios. Sua infantaria foi desfeita em Crem
legi6es de Vespasiano. Em Roma ninguem tinha
sob pena de morte, de fazer alusao a esse acontecim
Tacito escreveu que Vitelio se comportava como urn
a quem se teria brutalmente despertado. Decidiu
clemen cia do inimigo e entrou em conversa~6es c
irmao de Vespasiano. Decidido a retirar-se da cen
abdicou, mas, encorajado pOl' cortesaos, mudou d
No momenta em que Sabino e os partidarios de
depunham as armas, surpreendeu-os e os afugen
Capitolio, onde mandou por fogo ao templo d e Jupite
De seu palacio, observava 0 incendio, em que enco
morte os hom ens de Sabino.
Mas sua situa~ao permanecia precaria. PropOs a
enviar plenipotenciarios para negociar urn tratado d
Vespa siano marchava sobre Roma. Vitelio fugiu, aco
dum pasteleiro e dum cozinheiro. Mal 0 imperado
cidade, recebeu a noticia : Vespasiano estava pronto
a paz.
Vitelio voltou a Roma, mas encontrou 0 palaci
deserto. Com sua enorme pan~a cercada por urn c
interior, entrincheirou-se com a cama e demais m6
A vanguarda do inimigo veio revistar 0 palacio. O
interrogaram 0 porteiro obeso:
- Onde esta Vitelio?
Tremendo de medo, 0 imperador acorreu e procurou e
Mas urn soldado 0 reconheceu. Vitelio, de joelhos
gra~a. Que 0 prendam, entlio, mas nlio 0 matem! E
rador e detinha segredos importantes, susceptiveis
a vida de Vespasianol Mas os sold ados the amarrara
atras das costas e The passaram urna corda em
pescoc;o.
Com as roupas rasgadas, semi-nu, arrastaram-no pel
Roma. Tratado com rudeza e brutalidade, insultav
soldados agarraram-no pelos cabelos, puxaram-lhe
para tras e, sobre seu peito, fixaram a ponta dum
dirigida para 0 ceu. Assim, fvi obrigado a mostrar
porque na~ podia baixar a cabec;a.
- Assassino! Ignobil glutlio! - urrava a plebe.
Pes ado, canhestro, vacilante, arrastava-se 0 irnper
ruas. Em conseqiiencia duma ferida na perna, no
duma li~ao de quadriga que dera a CaHgula, Viteli
A obesidade e a vermelhidlio congestionada da c
dele urn persona gem grotesco.
Vespasiano na~ concedeu morte rapida ao carrasco
vltimas. Depois de inillneras torturas e de ign6b
mentos de crueldade, teve ele urn firn atroz. Amar
ganc40, arrastaram-no para 0 Tibre e seu corpo f
na agua. Seu filho sofreu a mesma sorte.
"Se a guerra civil estava terminada, a paz na~ es
restabelecida", escreveu Tacito.
Em Roma e nas provlncias, os partidarios de Vit
descobertos e massacrados pelos insurrectos.
Tinha Vitelio ao morrer cinqiienta e cinco anos. Os
babilonios nao se haviam enganado nas suas profec
presentes. Em troca de uma retribui~iio, podiam-s
cargos, governadorias, lugares de comando, dignida
sacerd6cio e ate me8mo re8po8tas lavorav ei8 do i
dorl . .. Tendo 8eu lilho Tito desaprovado 0 impost
a" latrinas, pas-lhe V espasiano sob 0 nariz algumas
de Duro que provinham dessa e8pecie de renda e exc
"Niio, meu l i lho; niio Um cheiro - n on ole
240
GRAV. 85 - JUlia
de Alexlano que,
Hellogabalo, fol
aos treze anos
Alexiano tomou
Severo. Mamela
e, atraves dele,
GRAV. 86 - A b
prlmeira mulher
gabalo. Este retr
talvez de 26 an
grande melanco
preocupada mal
que com os ou
GRAV. 87 - Ale
235 depots de J
bel os, tAo brtlha
dlficU suportar
Amado pelos ro
rano chelo de b
nesto, mas d em
mae com a. q
lugar-tenente. Ocupou Vespasiano a Galileia e Sama
rolaram-se her6iCos . combates perto do lago de Ge
monte Tabor e' a fortaleza de Jotapata foram tornado
o sitio, foi Tito 0 primeiro romano que transpas
que cercavam a cidadela.
o defensor de Jotapata chamava-se Jose ben Matatia
a cidade foi tomada de assalto, conseguiu salvar-se e
ao acampamento dos roman os. Acorrentado, levaram
sen~a de Vespasiano. Pronunciou entao palavras prof
- Hoje, carregas-me de ferros. Mas dentro de um
rador, tu me libertaras de minhas cadeias.
Jose ben Matatias, padre e profeta, entrou na hist
nome de Josefo. Devemos-lhe numerosas informa~6e
a sua epoca. Emigrou para Roma, tornou-se cidad
e escreveu as celebres Antigiiidades Judaicas, a h
povo judeu, desde slias origens ate 0 ana de 66
J. C.
A profecia do grande visionario cumpriu-se no ver
de 69. A primeiro de julho, foi Vespa siano proclam
rador pelas legi6es de Alexandria e a 3 pelo e
Judeia.
Ora, para 0 povo - e observa-se aqui como que um
coocia obscura do ensinamento do Cristo - a
imperial de Vespa siano nao parecia confirmada por
Esperava-se de Vespasiano a realiza9ao de um m
Egito, urn cego e urn paralitico imploravam sua cu
tano a fe que ergue montanhas, aconselhava Vesp
doentes que se dirigissem aos medicos . .Mas, a inst
que 0 cercavam, teve sem duvida de sJIbmeter-
dever sagrado, porque a hist6ria consigna que cur
homens.
"Varios falsos profetas se elevarao e seduzirao fnu
(MATEUS, XXIV, 11), disse 0 Qristo. Mas a noticia
chegou aRoma e a considera<;!ao que se devia ao
tornou-se maior~
242
chegou essa lei ate n6s em seu texto exato. Vespasiano
como uma replica de Augusto, _mais s6lido e ma
Tinha horror ao que era efeminado; detestava a
duvidosa e refinada dos rapazes da epoca. A urn a
muito bern cheiroso, disse:
- Gostaria bern mais que tresandasse a alho!
Ativou Vespa siano os trabalhos de reconstruc;ao de R
numerosos quarteiroes achavam-se em ruinas desde
de Nero. Em pessoa, ajudou os homens a rem
escombros. Proprietarios de bens de raiz que deix
terrenos em alqueive ou abandonados podiam perd
os que, desejosos de construir em lugar deles, ofe
concurso. Perto do Forum mandou Vespasiano ergue
da Paz e, no centro da cidade, nos terrenos do Palac
de Nero, fez edificar 0 anfiteatro flaviano, mais tard
o Coliseu.
A fim de retornar a dignidade e a razao seus sudito
mes corruptos, levou Vespasiano 0 Senado a pu
decreto segundo cujos termos toda mulher que e
relac;oes mtimas com urn escravo estrangeiro,
escrava do senhor a quem pertencia seu amante n
Roma mostrava-se estupefacta diante do espetacu
que oferecia urn imperador sensato e virtuoso. 0 bu
se sentava n0 trono do Imperio gostava da retidao e d
Era uma coisa tao nova, tao excepcional que qua
escandalo! Vespasiano ignorava 0 6dio e 0 rancor
satisfac;ao sentia em verter sangue. Sabia-se em
Diante de seu palacio, nao se viam guardas! Quand
circo com bates de animais ferozes, nao sentia °
prazer algum em ver os gladiadores lutarem. Qua
forc;ado a assinar uma sentenc;a de morte, suspirav
maya lagrimas. De costumes simples, gostos s6bri
benevolo, ficava Vespa siano indiferente aos testemu
rHicos. Para grande assombro da corte, tirava suas
o auxllio de urn escravo!
os cinicos tiravam seu nome do ginasio Cinosarges,
onde ensinavam sua filosofia. Como preconizassem
pela civiliza9aO e pelo progresso, 0 retorno a natu
genes) e a palavra kyon signifique em grego "cachor
siano, na sua replica, significou ao filosofo mais o
seguinte id6ia:
- Tu es e permaneceras um cinico, isto e, um ca
late. Mas os caes que ladram nao mordem e, portant
£Iuo punir-tel
A mesa, mostrava-se sempre Vespasiano de um humo
Gostava de pilheriar e de contar boas anedotas q
vezes bastante leves, nao deixavam de ser excelente
Mestrio Floro fez-Ihe ver que a palavra plostra (carro
era pronunciada de maneira duvidosa e que dever
plaustra. Desde esse dia, pas sou 0 imperador a ch
de "Flauro".
o imperador criticava muitas vezes a si mesmo e,
posito, convem mencionar que 0 soberano levav
longe 0 senso da economia. Talvez a parcimonia se
imposto. Desde 0 come90 d~ seu reinado, teve
necessidade de 40 bilh6es de sestercios para evitar a
do Estado que seus predecessores haviam tao bem
Aumentou os impostos e os tributos das provmcias
com os negocios com uma mestria de que nao se env
urn cavalheiro de industria. . . Por intermedio de
esposa, comprava mercadorias raras, depois, qua
carencia delas no mercado, fazia-as revender com gor
Traficava com cargos e perd6es. Os alexandrinos p
o apelido de "vendedor de atum".
Por ocasiao das Saturnais, 0 mimico Favor fez,
costume, uma parodia dos habitos, dos tiques e fala
rador e 0 histriao aludiu tambem aos seus funerais.
Vespasiano saber em quanta importariam as desp
cerimonia. Quando the responder am que se elevar
milh6es de sestercios, exclamou:
244
GRAV. 88 - Era aqul que se tomavam as declsoes mats Importantes. 0 F
vasto Imperio, ponto de mira da vida de Roma que, pelas 11 horas da
ponto culmlnante. Desde a aurora ate as 4 horas da tarde, era prolblda a
Vespasiano deve ter herdado a bossa de neg6cios
que foi alfandegario I
Na epoca, era a urina uma substancia preciosa util
curtir as peles. 0 imperador lan90u, pOis, um impos
urina, isto e, sobre as latrinas, e quando seu filho T
rou-Q a esse respeito, chegou-Ihe ao nariz algumas
DurO e perguntou-Ihe:-"Tem cheiro?" Decorre disso
expressao non olet: "0 dinheiro nao tem cheiro", ve
vier. Era Vespasiano um hom em de espfrito e mesm
sentiu os primeiros ataques da doen9a que iri
gracejava: _
- Ai! creio que yOU tomar-me um deus!
. De estatura mea, de constitui9aO robusta, tinha V
um rosto cuja expressao habitual era a de um
Levantanda-se cedo, tomava conhecimento da corre
e dos relat6rios administrativos. Recebia seus amigos
enquanto se vestia. Prosseguia seu trabalho, conced
passeio de carro, depois deitava-se para a sesta. Bem
tomava um banho. Sobrestimava 0 imperador 0
banhos frios que, parecem foram a causa de s
intestinal.
Aos sessenta e nove anos, 0 mal derrubou-o. Acama
va-se ainda com os neg6cios do Estado, dava audi
embaixadores e fiscalizava os julgamentos do tr
justi~.
Nao queria morrer e, principal mente, em seu leito.
deiros momentos, reuniu suas pobres for9as -e levant
-'- Um imperador deve abdiear de pe - suspirou
bra 90S dos oficiais da corte que entregou aos deuse
nobre e viril.
Burgues honesto, filho da regiao da Sabina, esse et
cendente dos atlantes, vivera sessenta e nove anos,
e sete dias.
nos acompanhava .. . As trevas cairam sobre nos
elas uma chuva de cinzas tao quentes ~ue tivemos d
tar-nOB Varia8 vezes para sacudir a 6spesBidao de ci
amea~ava au/o car-no s.
PLfNIO, 0 Moc;o a C
Tacito, livro VI, c
248
GRAV. 89 - Ahuramazda e 0 deus da Luz. Foi gra~as a ele que 0 persa
Balxo-relevo esculpido no rochedo. perto de Persepolis. no Ira. Do eo
Ardaschlr a religiiio de Estado.
vontade. Nenhum mais do que ele, no curso dum r
curto, sofreu prova90es mais crU(~is.
Dois meses ap6s sua ascen9ao ao poder, foi a penin
duma das mais terriveis cahlstrofes da hist6ria. A
Vesuvio do ano de 79 depois de J. c., que sepultou
de Herculano, Pompeia e Estabia, ja se havia anunc
o ano de 63 por graves abalos.
o historiador romano Dion Cassio, nascido em 155
J. c., relatou, segundo a tradi9ao oral, como as
gigantescas brotaram do Vesuvio e como "seres, d
sooreumano, apareceram sobre as montanhas e v
ares". Escreveu que, sob um calor sufocante, va
sismicos fizeram tremer a terra; a Campania "apar
que agitada por um movimento ondulante" e os
montanhas "pareciam pular".
"0 dia tomou-se noite e as trevas, literalmente, s
luz."
PHnio, 0 M090, tambemnos transmitiu seu teste
erup9ao do Vesuvio que teve lugar nos dias 23 e 24
de 79.
Nascido em Como, em 62, depois de J. c., orad
fecundo, sabe-se como encorajou as ciencias e as
momento do cataclisma, estava com dezessete ano
Antigo, 0 irmao de sua mae, pereceu sepultado sob
bros. Naturalista celebre, sabio, em~rito, PHnio,
comandava a frota romana. Morreu vitima de seu
sua curiosidade cientifica. Enquanto a maioria d
fugia da zona perigosa, 0 almirante fez-se ao m
dirigir a Estabia, hoje Castellmare, no golfo d
Queria observar, do mais perto possivel, 0 fenome
e nem virara a proa para 0 largo, quando uma' chuva
e de gases ardentes, mortiferos, asfixiou os navegad
Tentaram os sabios modemos compreender de qu
pereceram os habitantes de Pompeia e Herculano.
da lava que sepultaram os morihundos endurec
250
dores puderam obter perfis humanos cujos rostos ti
servado a expressao que tinham em 79, na sua derra
Parece mesrno que os desgra~dos foram surpreen
catllstrofe. Suas atitudes e seus gestos traem nitida
no instante mesmo em que sucumbiram estavam aq
soas preocupadas por urn outro cuidado bern dive
mortell Encontraram-se individuos sentados, ou ad
em seu leito, ou casais enlacrados. Numa loja, encon
fregues pagan do uma compra; as moedas estavam a
lhadas em cima do balcao.
Qual foi a causa do Hm desses infelizes? Foram os
terios? Foi a onda ardente da lava? Puderam su
mortiferas penetrar tao rapidamente em todos os lu
todos os sentidos? Foram os homens sufocados pelo
pelas cinzas ardentes ou pelo calor insuportavel?
Tacito pediu a PUnio, 0 Mocro, que the escrevesse
pormenorizado da morte de seu ti~. Na sua respo
faz a narrativa dos acontecimentos que surpreen
habitantes da planicie nos confins do Vesuvio. Pl
mae encontravam-se entao em Micena.
"As labaredas e 0 cheiro do enxofre que as precedi
.·os habitantes em fuga. Mas de (Plinio, 0 Antigo
bastante vivo, sustentado por do is escravos levanto
repente, tombou no chao. Suponho que 0 acre e
fumacra 0 sufocara, pois havia tambem tapado 0 seu
Quando a luz voltou, encontrou-se seu corpo in
nenhuma. equimose, . estando· ele vestido com as r
trazia no dia anterior. Tinha 0 aspecto de um home
cido e nao 0 de UJIl morto."
Seguiu-se a erupcrao do Vesuvio :uma "epidemia
espantosa, como jamais se vira igual". Pensava-se
houvess~ .side propagada pelas cinzas do vulcao.
Dion 'Cassio escreveu que a chuva de cinzas fora ta
que voara ate a Africa e a Siria.
No ana seguinte, estando Tito ausente de Roma,
incendio lavrou na capital e durou tres dias e tres
Capit6lio e 0 templo de Jupiter, 0 Panteon de Agrip
de Balbo, 0 ediHcio de Otavio e as bibliotecas foram
pelas chamas.
- Estou arruinadol - exclamou Tito, que domino
mente sua tristeza e seu inforrunio para organizar o
Deu ordem de retirar dinheiro das areas do Estado
zar os tesouro'S de seus palacios para a reconstr
edificiose dos templos.
Desde 0 reinado de Nero enos reinados de Galba
e de Vitelio, estavam muito em moda as denuncias.
os denunciadores, os provocadores e os caluniad
publicamente chicoteados no Forum. Tito mandava
arena do anfiteatro, vendia-os em leilao como es
expulsava-os para ilhas insalubres.
Ninguem foi executado por ordem ou com 0 consent
imperador.
- Preferiria morrer a fazer perecer um ser human
ele costume de declarar.
Quando fizeram comparecer a sua presenera dois
que conspiravam contra seu trono, . disse-Ihes T
calmarrtente:
- S6 destino disp5e do poder!
Enlouquecida a ideia da terrivel senten era, a mae d
patricios ja via seu filho pregado a cruz. Tito apres
fazer-Ihe saber que seu filho gozava de boa saud
seguinte, na arena, colocou-se entre os dois homens
lhe trouxeram as armas dos gladiadores para verifica-
deu-as 0 imperador aos dois ambiciosos que, seg
probabilidade, tinham projetado sua morte. A admi
romanos presentes a cena nao conheceu limites.
Possuia Tito Wdas as qualidades requeridas para
para suscitar a admiraerao. Levemente corpulento, er
tura mediana, mas devia ter urn porte nobre e
252
GRAV. 91 - Reconstltuic;a.o
do palacio do rei Ardaschir,
cuJas ruinas existem ainda
perto de Flruzabad.
254
com tantas maravilhas e bondade.
Todos os que se dirigiam ao imperador para pedido
ta~oes eram recebidos e nenhum voltava para cas
encorajamento. Quando se fazia notar ao imperado
poderia ele curnprir suas promessas, respondia:
_ . Aquele que se dirigiu a Tito nao deve regl'ess
desiludido.
Uma noite, durante urn jantar, pensou que nao havi
durante 0 dia urn ato s6 de bon dade.
- Amigos - disse ele, - perdi meu dial
Jamais fraquejou e relaxou seus esfor~os para se torn
e de crer que adivinhava que seu reinado seria de
~ao. Nao se esquecia jamais de conceder aos p
acesso as termas e conhecia de tal modo a psicolog
que deixava entrar os mais necessitados, quando t
banho.
Com a catastrofe da erup9ao do Vesuvio, os tremore
a peste e 0 incendio de Roma, nao foi 0 ceu clem
com esse nobre imperador. Mas tinha Tito outra pr
talvez a mais seria e mais grave: seu irmao Domi
sem cessar intrigas contra ele. Sublevava as legioes
autoridade e procurava por todos os meios prejudi
jamais se decidiu a tocar em seu irmao. Nao 0 b
pelo contrario, nomeou-o co-regente e sucessor d
datar do primeiro dia de seu reinado. Em particu
rou-lhe que the demonstrasse igual afei~ao fraterna
Quando terminaram as grandes festas de inaugura~a
rador, perante 0 povo reunido, chorou amargame
preendera que seu fim estava pr6ximo. Durante 0 v
partiu para a Sablnia e uma noite, a primeira parad
derrubou-o. Tito fez-se transportar em · liteira. S
afastava as cortinas, olhava 0 ceu e suspirava:
- Nao mereci que a vida me seja arrebatada. Exceto
conhe90 a~ao alguma de que tivesse de envergonh
Suetonio e Dion Cassio declararam que se ignorav
que se sentia ele culpado. Alguns supunham que 0
pensava nas rela90es secretas que entretivera com
a esposa de seu irmao. Mas nada de menos certo
declarou, sob juramento, que esse comercio culpo
existira.
Pretendeu Suetonio com sutileza que Domicia nao
gada 0 fato, se tivesse sido exato. Gostava ela de e
pecados. Dion Cassio adiantou outro argumento, tam
sivel. Creu que 0 imperador se julgava covarde e
por nao ter mandado executar seu irmao que tentara
Esta explica9aO seria tanto mais fundada se, como 0
yam na epoca, Domiciano provocou ou acelerou 0
de seu irmao. Existem tamb6m vagos mmores a prop
pseudo-envenenamento. Dion Cassio relata que D
pusera seu irmao moribundo, mas que respirava ain
grande tina cheia de neve, quando ter-se-ia podid
com cuidados apropriados. Domiciano afirmou q
suspender a febre. Na realidade, desejava acelera
que tardava a chegar.
Com a idade de quarenta e dois anos, deu Tito
suspiro na casa de campo de sua familia, na Sab
seu pai morreu. 0 povo inteiro estava enlutado.
prestou ao ilustre defunto homenagens, elogios e
Os judeus declararam que a morte prematura de T
justa puni9ao daquele que destruiu 0 templo de Jerus
Sem esperar 0 derradeiro suspiro de seu irmao, v
miciano a toda a pressa para Roma e fez-se
imperador.
ninguem. E qttando fingia sentir afeil}iio por uma
tura, havia-a, com certeza, esco lhido para viti
DION CASSIO, livro
cap. I.
258
morte. Mais tarde, fe-las tratar segundo "0 costume
nos antepassados", isto e, deviam sofrer a morte
Cornelia que foi enterrada viva, enquanto seus am
a90itados ate morrerem.
Intentou Domiciano numerosos process os contra as
segundo PUnio, 0 M090, em nenhum desses julg
culpabilidade da vitima ficou estabelecida!
Parece que a crueldade de Domiciano se haja lentam
lado, depois progressivamente amplificado porque,
de seu reinado, evitava as efusoes de sangue. Ten
proibir os sacrificios de bois sobre 0 altar.
Ao envelhecer, tornou-se dissimulado e perfido; torn
tre na arte de surpreender, de maneira bern cruel, os
a quem queria punir. Convidava-os, fingindo ext
humor e, depois de haver-Ihes feito 0 elogio, cond
morte.
Sabia-se por experiencia, em Roma, que, quando
come9ava a falar com palavras amaveis, e que 0 pro
urn resultado fatal.
Sem compaixao, Domiciano pilhava e escravizava 0
acusa9ao, uma simples queixa bastavam para que o
fortuna de urn individuo fossem confiscadas. Viu-se
reinado de Tiberio (Domiciano considerava-o, p
nesse plano, como seu modelo), os processos de lesa
voltarem a moda. Os pahicios que 0 imperador man
truir absorviam fortunas enormes: cada telha era
de ouro. Aumentou-se 0 imposto exigido dos judeu
todo judeu adulto tinha de pagar uma taxa em pr
autoridades de Jerusalem. Mas, desde Tito, devia
imperador. 0 imposto sobre os judeus era uma esp
buto para compensar a tolerancia que 0 Estado mo
com a religiao semltica.
Sem duvida os cristaos, que pertenciam tambem a ca
hom ens que "dissimulavam sua origem", pagavam
urn imposto. A historiografia religiosa afirma que
o procurador e importante conselho se pertencia
religiao judaica.
Domiciano era tao vaidoso quanto Nero. Quando
lmir-se a sua mulher, declarou-a de novo digna
lugar no "trono de deus".
- Salve 0 nosso senhor e a nossa senhora! - urra
no anfiteatro.
E todos os edit,s comec;avam com esta f6nnula: "No
e Deus ordena". Foi Domiciano 0 primeiro impe
impos aos romanos que 0 considerassem, mesmo enqu
urn deus. Nao deviam os funcionarios esquecer-se d
as vezes que the dirigiam a palavra.
Cuidava Domiciano que as esculturas que 0 repres
que se colocavam no Capit6lio, fossem de prata o
puro. Seu peso fixava-se rigorosamente de antema
elas se apresentassem mais leves a verifica<;aol Man
truir numerosos arcos de triunfo, ornados de insigni
rias e de imagens de quadrigas. De noite, 0 povo
de dizeres em que se repetia muitas vezes a palav
Basta"l .
Se 0 exito coroou as campanhas e as guerras de
empreendidas por Domiciano para sua pr6pria
arredores das frooteiras gennanicas, perto do Tau
na Inglaterra e no Danubio inferior, deve-se isso u
a estrategia dos generais de valor que lhes ass
comando.
Ora, invejoso e ciumento como 0 fora Nero, Domic
despeitado com as proezas de seus valorosos ofici
tuiu-os no momenta preciso em que preparavam uma
de grande envergadura. Foi assim que agiu com
Agricola, que invadira a Esc6cia. Foi Agricola que
aos romanos que a Inglaterra era verdadeiramen
ilha. Tacito, genro de Agricola, escreveu que, por
sua morte, Roma se convencera de que fora enven
ordem de Domiciano.
260
de costume, comegaram os conjurados suas surdas co
Domicia, a esposa imperial, tomou nelas parte e os
caldeus profetizaram 0 acontecimento com precisao.
de medo, Domiciano fechava-se em seus aposentos.
Plinio assinalou as maravilhosas propriedades da
pedras brancas da Capad6cia, duras como 0 marm
polidas, brilhavam como espelhos. 0 imperador ma
para-las para revestir as paredes das salas e dos qu
se mantinha. Ansioso e tremulo, sempre na espe
punhalada do assassino, nao desviava 0 imperado
olhar, pes ado e fatigado, das belas pedras espelhan
surpreender nelas 0 que se passava as suas costa
maneira, gozava duma relativa tranguilidade. Quan
gava prisioneiros, encerrava-se com eles e suas mao
nao largavam suas correntes.
o astr6logo Ascletariao predissera-Ihe morte por
Domiciano perguntou que genero de morte esp
Ascletariao respondeu a Domiciano que, dentro em
ser dilacerado por molossos. 0 imperador mandou
cuta-Io e fez vigiar a incineragao para que os dies
sem aproximar-se . .. Uma tempestade destruiu a fo
corpo semiconsumido do astr610go foi despedagado
ferozes. Domiciano convenceu-se entao de que seu
pr6ximo. Quando the ofereciam frutas, dizia:
- Guardai-as para amanha. se estiver eu ainda ne
para saborea-Ias! .
Nao conseguia mais dormir. Levantava-se bruscam
dava acender tochas e, como louco, esquadrinhava
com seu olhar desvairado.
A 16 de setembro de 96, estava a lua colocada sob
Aquario e a 18 de setembro dele saia. No mesm
Marte e Satumo entravam no Aquario; sua conjun
seguro pressagio de uma cablstrofe.
Sabia 0 imperador que deveria ·morrer na quinta h~r
ela se aproximou, quis conhecer a hora. Para tran
Estefanio, 0 intendente da crista Domitila.
Em virtude dum ferimento, como a declarou, trazia
no bra era esquerdo urn penso de la. Parecia totalme
siva. Mas entre a pele e a estofo, dissimulava-se u
Estefanio apresentou ao imperador a denuncia d
conjuraerao. 0 imperador leu a missiva e nao pode
espanto . .Nesse instante, Estefanio enfiou-Ihe seu
ventre.
Dizem que Domiciano cham au seus servidores e
Reclamava seu punhal, oculto sob seu travesseiro. M
trou-se apenas a cabo e nao a lamina. Louco de c
pavor, precipitou-se a imperador sobre Estefanio,
no chao e tentou arrancar-Ihe a arma, enquanto
enfiar-Ihe nas 6rbitas seus dedos ensanguentados. M
rosa Estefanio subjugou-o e venceu-o.
Domiciano reinara quinze anos e, como a escreveu D
jamais amara verdadeiramente uma criatura humana.
atirador, colo cava diante de si jovens escravos . q
manter a mao direita aberta par cima de suas cabeer
dedos afastados. Atirava flechas untadas de venen
dedos deles, sem nunca feri-Ios. Diz-se tambem que
Domiciano de algum espirito.
- Costaria de ser tao bonito quanta Marcos a acre
afirmava de com humor.
- Os imperadores encontram-se sempre numa triste
disse ele doutra vez - porque quando descobrem u
rar;aci, as homens sempre acreditam que as impe
enganam, a menos que sejam verdadeiramente aba
Durante as derradeiros meses de sua existencia, fic
ciano sOzinho. No decorrer de seus passeios, mand
e vigiar as lugares aonde se dirigia. Mas entregou
fim, a pior devassidao. Ap6s sua marte, sentiu a
prazer imenso em quebrar seus bustos. Todas as s
foram derrubadas, depois fundidas.
262
Imperador, procuro sempre compo1'tar-me diante d
suditos da mesma maneira que desejava outro1'a
simples pa1't'icular, que 0 imperado1' se comportas
comigo ,
"Senten\;a de Traja
EUTR6pIO , VIII, 5,
266
GRAV.
sltuado
burgo.
1907, et
tltul~ilo
mano,
mostrad
nado d
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nha-se
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GRAV . 9
bronze
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gos esp
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radores
GRAV.
roman
um le
de 200
se pod
era p
do, de
esque
descob
num
e glorioso. Desejava igualar Alexandre. Tinha 0
grandeza; mas nao conseguiu atingir 0 ideal do g
quistador.
Trajano, na verdade, nao media esforc;os. 0 Gra
arruinado, foi reconstruido e aumentado e ele mos
romanos com altivo porte. Edificios publicos, estrad
foram construidos e consertados, bern como a famo
dos pallis pontinos, com suas luxuosas casas e suas
Renarua, construiu castelos; lanc;ou pontes sobre
mandou construir cidades a margem do Neckar, d
uma estrada que ligava Maienc;a a Baden-Baden, at
Heildelberg.
Os testemunhos da vontade de construir e de cria
rador estenderam-se do Danubio ate a Dobrudja
hungara. Na Africa, nos confins do Saara, fundou
de Timgad, a Pomp6ia africana, que escavac;oes rec
xeram a lume.
Se Trajano gostava da cac;a e tinha grande prazer e
tear-se, nao ultrapassava jamais a medida. Suportava
grande 'luantidade de vinho. Implacavelmente, pe
traidores e os delatores, reservando para esses vis
urn castigo exemplar e duma ordem especial, Depo
surra de pau, eram embarcados em bateis que se aba
no mar durante uma tempestade. Mas, comumente,
imperador em infligir punic;oes .. Para com os senad
vava urna atitude reservada e cortes. Passeava sQzi
bulando pelas mas de Roma.
Quando PHnio, 0 Moc;o, governador da Bitinia, no
Trajano, dirigiu-se ao imperador para saber coino
portar-se para com os cristaos de sua provincia (circ
pals os boatos mais contradit6rios), Trajano the resp
- l! proibido perseguir os cristaos! Nao e digno
no nosso seculo 0 homem que da ouvidos as
anOOimas!
268
a historia dos dacios, dao-nos urn r6trato bastante
na verda de, do rei Decebalo, homem de inteligenci
altivo, astuto e que, a prec;:o algum, quis concorda
derrota.
Trajano atacou os dacios e submeteu-os. Deceb
declarar-se vencido, entrou em conversac;:6es e acei
tados que os roman os Ihe impunham. Mas recusou
e retomou a luta. Entrementes, sua irma foi captu
roman os e Decebalo teve ainda de submeter-se.
Trajano, humilhou-se, de joelhos e jogou ao chao s
o imperador concluiu a paz e regressou a Italia.
Foi de curta durac;:ao a tregua. 0 rei Decebalo e
segundo 0 costume dos povosoriginarios das regi6
ao norte do Danubio, nao ligavam aos tratados. Tom
uma vez 0 comando em chefe do exercito roman
reabriu a luta contra os dacios. Varios corpos do exe
formaram dissidencia e foi Decebalo constrangido a
segunda vez a paz. Mas, durante esse tempo, reuniu s
empregou todos os meios de pressao para levar pov
ciparem duma guerra contra Roma e enviou emi
antes assassinos, ao acamr~mento de Trajano. Desm
os homens, sob tortura, confessaram.
Indomito, Decebalo, recorreu a outr~ ardil. Convidou
general romano de grande merito, que muitas ve
seus exercitos em situac;:6es crIticas. Assim que Long
no acampamento dos barbaros, Decebalo fe-Io
Depois ofereceu a Trajano a liberdade de seu genera
da restituic;:ao das regi6es danubianas. A resposta a
Trajano deixou Decebalo perplexo. Mas LongInio,
imperador, cuidoso de impedir toda chantagem poss
Decebalo, absorveu urn veneno mortal.
A fim de fiscalizar mais facilmente os dacios, mand
construir uma ponte de pedra sobre 0 Danubio. 0 b
Cassio, que escreveu cerca de 229 uma historia r
vinte volumes, exprimiu sua grande admirac;:ao. Se
para submeter a Dacia. Os romanos bateram-se val
Depois de ter perdido seu estado-maior, e em segu
inteiro, Decebalo, na iminencia de ser capturado, s
Sua cabe9a foi levada triunfalmente a Roma. A Daci
provincia romana. Na Dobrudja, para comernorar
erigiu-se um monumento grandioso, 0 Tropaeum Tra
vestigios foram descobertos por Moltke em 1837.
Grac;as a trai9ao de urn dacio, os tesouros do rei barb
rados no leito do tstrio, foram descobertos pelos r
margem do rio elevava-se a residencia do rei refr
com surpresa que se pode ler, na obra de Di
que 0 povo nomade tinha urn rei que possuia u
fortificado.
Os colonos romanos emigraram para a Dacia, pais
tern 0 nome de Rumania (Romania), onde se fala u
semi-eslava e semi-rom ana. Imnulsionado pela tare
havia imposto, como que impelido p elo espirito emp
prosseguiu Trajano sua obra. As festas comemorativas
prolongaram-se por coo to e trinta dias. Na arena, m
feras, milhares de prisioneiros dacios enfrentaram-s
zes combates. Pela primeira vez, admitiu-se em Ro
gem e a bravura do povo que Traiano havia vencido
Reconstituiu 0 imperador as bibliotecas e encarrego
teto Anolodoro da construc;ao, entre 0 Capit6lio e
dum novo mercado chamado Forum Trajani. Mando
emhlema mais grandioso da arte plastica romana
de Traiano, verdadeiro livro de imagens de pedra qu
lavam em tomo da coluna, evocando em cento e c
cinco cenas as fa9anhas das legi6es romanas no Drav
e no Danubio.
Podia-se nela admirar a constru9ao da celebre ponte
carregados de mercadorias vogando pelo rio, os
em marcha, de tocaia e atacando; reconhecia-se nel
a pe, no meio de seus soldados, a fuga das crian
mulheres dacias. 0 retrato de Quinto Lusio, 0 an
270
GRAV. 97 - De rara beleza, 0 fnho
de Maxlmlno, proclamado lmpera-
dor romano, ao mesmo tempo que
seu pal, fol assasslnado com seu
pal a 10 de malo de 238.
272
giram e rejeitaram a soberania romana. Com efeito,
partilhava das ambi90es e alvos de Alexandre, nao
dom magico de seu grande modelo, que sabia ga
fidelidade dos soberanos e das cidades. Depois de
quistado os paises, era Trajano incapaz de mante-Ios
Ignorava a suti! tatica dos casamentos "diplomatic
grande Alexandre soube ativar com felicidade, e
tampouco tratar os orientais com a habilidade e
que caracterizavam 0 macedonio. Quando Trajan
resignado, olhava um navio que aparelhava para
suspirava:
- Se fbsse mais mb90, gostaria, tambem eu, de
esse pals.
Enquanto que em Roma 0 Senado, embara9ado com
estrangeiros e as distancias dos paises longinquos e
cidos, encontrava-se na incapacidade de enumerar
conquistas do imperador, penetrava Trajano na
atacava os atrenos que, como muitos outros povo
em dissidencia.
A capital dos atrenos, situ ada no centro duma regiao
era uma cidade pobre e pouco extensa. Nao havia la
nem agua potavel, nem pastos, nem florestas. Estand
colocada "sob a prote9aO do deus do Sol", era perigos
der-Ihe 0 cerco. A cavalaria de Trajano sofreu sev
e 0 imperador quase e ferido, porque a "veneran
grisalha" fora reconhecida. Uma tempestade de ar
invasao de mosquitos obrigaram 0 imperador a lev
diatamente 0 cerco.
Onde se encontrava a cidade de Atra (ou Ratra)?
duna de areia esta sepultada? Ignora-se.
Se Trajano nutria ainda numerosos projetos, a doen
o hom em que envelhecia. Nao querendo morrer
estrangeiro, apressou 0 imperador seu regresso. No
intimo, recusava a ideia mesma da morte. Sob 0 co
general Publio t;;lio Adriano, deixou 0 exercito na
TRAJANO
276
Quando Adriano, governador na Siria, recebeu
tempo a noticia da morte de Trajano e a de sua ado
preendeu imediatamente 0 papel importante que ha
penhado sua nobre amiga. Pediu ao Senado a confi
sua eleic;:ao como imperador e rogou-Ihe que se abst
com ele, no presente e para 0 futuro, dos testem
honras habituais na circunstancia.
A paz no mundo! Foi a ideia mestra que dirigiu a
do novo imperador, a qual, alias, £icou fiel ate a mo
Foi Adriano um dos soberanos mais beneficos e
da antiguidade. Personalidade de excec;:ao, a univers
seus dons e de suas qualidades representava a qu
do espirito antigo: a humanidade e virtude viril, a
fisica, a cortesia perfeita, uma inteligencia superior,
tidao de dons e faculdades dos mais raros.
Desde 0 infcio de seu reinado, abandonou 0 impera
vmcias situadas a leste do Eufrates e do Tigre. Co
que era impossivel mante-las sob 0 dommio roma
as conquistas de Trajano no pais dos partas, na As
terras entre os do is rios .ficaram perdidas para Rom
Era Adriano urn politico genial e esta excelencia
desde 0 momenta em que tomou conta do poder. Ag
a sua consciencia, seu livre arbitrio e seu proprio j
Nao ignorava que as perturba90es que surgiam nas
mais afastadas do imperio, exigiam do Estado es
demais pesados e desproporcionados, em relac;:ao ao
e as suas forc;:as militares. Seu objetivo era aumentar
defensiva do imperio, a fim de assegurar e manter
Tal medida verificou-se, sem duvida, impopular e o
romanos, descontentes, amuaram-se, porque uma p
contrariava as grandes esperan9as de suas carreiras
Mas Adriano soube conciliar-se a opiniao do povo
trac;:o de estilete, suprimiu as dfvidas que os cidada
para com 0 tesouro do Estado. Diante do Foru
fogueira consumiu milhares de documentos de divi
ADRIANO
280
GRAV. 99 - Sarc6fago dum
seculo depols de J. C. 0 balxo
velmente Plotlno, ensinando
282
rat6rios foram, alias, de maior utilidade para 0 futu
Juris do imperador Justiriiano. Foram interditas as
de lesa-majestade e os senhores nao tinham mais
vida e de morte sobre seus escravos. As condenac;;oe
mesmo as dos escravos, deviam ser pronunciadas excl
perante as cortes de justic;;a publicas.
Adriano mandou publicar urn decreto proibindo a
escravos dos do is sexos as duras escolas de gladiad
tratos s6 se podiam efetuar sob a fiscalizaC;;ao do Esta
damente motivados. Severas e rapidas, as punic;;oes
aos prodigos. Os individuos que, obrigados pela l
conservar e fazer frutificar seus bens de familia, mas
estupidamente dilapidado, eram surrados a pau, de p
anfiteatro.
Suprimiu 0 imper~dor as penas de trabalhos forc
penitenciarias, tao temidos pelo povo. Ate entao
costume que, quando urn romano tivesse sido assa
sua casa, fossem os escravos interrogados sob tortu
Adriano esse costume desumano e somente os escr
munhas do assassinio foram no futuro interrogados.
A filosofia human a de Adriano dirigia-se tambem ao
que, para ele, eram antes de tudo homens.
Decretou Adriano que nas termas, deviam os ho
separados das mulheres para 0 usa dos banhos. Por
mandou construir" .novas termas. Na sua propria c
igualmente a separaC;;ao dos sexos para as ablu90es. R
duas salas de banhos a sua disposiC;;ao.
Todavia, mau grade sua rigida severidade, nao era
que se chama urn puritano. Foi urn homem mo
somente em relaC;;ao ao seu tempo, mas tambem e
ao nos so ponto de vista atua!. Democrata avant Ia
acessivel a todos, dirigia a palavra tanto aos pobres
ricos, tanto aos oficiais como aos soldados. Urn di
uma mulher 0 interpelou para apresentar-Ihe uma p
Para os roman os, as Alemanhas eram paises frios, d
longos e rigorosos. Dion Cassio relatou, com tran
admira9ao, que 0 imperador jamais cobria a cabe9a.
"Mesmo sob a neve das Alemanhas ou sob 0 arde
Egito, Adriano jamais usava chapeu."
Elio Espartiano, 0 celebre bi6grafo romano, escrev
Historia de Augusto:
"Raramente, urn imperador realizou com tanta fa
rapidez trajetos entre pontos tao distantes!"
Sabe-se tambem que, na Sicilia, escalou 0 Etna par
plar 0 nascer do sol, capricho que seus contemporan
ram absolutamente incompreensivel. 0 imperador
sol verdadeiro (mito. E possivel que tenha side 0 res
estudos que empreendeu na epoca de Armana como 0
vivencia da Iembran9a sagrada, de mil e quinhento
idade, do fara6 Equenaton.
A segunda via gem que 0 imperador fez em redor
civilizado realizou-se de 128 a 134 depois de J. C. P
Calia, a Espanha, a Inglaterra e a Cermania. Na Gra
mandou coostruir a celebre obra de fortifica9ao, b
mais de cern quilometros de comprimento, come9an
bocadura do Tyne para terminar no estuario do
fortifica9ao germano-retica, 0 Limes, que se estendia
nach ate 0 Danubio e Ratisbona, foi refor9ada. Naqu
urn acontecimento sub ito e bastante singular sum
corte: Adriano despediu Suetoruo Tranquilo, 0 cele
riador e secretario do gabinete imperial. Dizem que
permitira-se com Sabina, a espbsa de Adriano.
incompatfveis com a etiqueta. Ademais, estava Adri
descontente com sua esposa, mulher irritadi9a, semp
humor, da qual se teria certamente separado, se nao
ocupado as altas fUfl90es de imperador.
A cultura de Adriano era vasta e mostrava-se ele
em varias disciplinas. Poeta, escritor excelente, g
trocar suas obras rom os poetas de seu tempo. Cati
284
GRAY. 102 - Ap6s a morte dos imperadores Gordiano I e Gordiano II.
foram proclamados imperadores pelo Sen ado (238 depois d e J. C.). B
cargo a administraQiio. Pupiano 0 comando em chefe d o exer cito. Ma
s6 durou poueos dias. Os imperadores enciumaram-se. Ap6s um reina
foram massacrados.
288
GRAV. 105 - Galo
rador pelo exerclt
AbTlto. Ne!astos !
seu relnado: os pe
potamia, os godos
uma epldemla de p
Em 253, Galo
assB
290
ousadas e sinuosas de concep9ao modema. Fora
mais de quinze anos para se levar a cabo a constru9
briram-se nela, em nossos dias, nada menos de
imagens de Antinoo, estatuas, bustos e baixos-relev
natureza foram pOis, as medita90es do velho imperad
sozinho, perambulava p elas salas, pelas colunatas e p
de Tivoli? Invisivel, Antinoo, 0 desaparecido bern-
tava presente e tao perto de seu pensamento! Or
declinava. As sangrias de nariz, de que sofria de
tempo, multiplicaram-se e agravaram-se.
Mandou construir urn monumento funerario, urn
gigantesco, destinado a acolhe-lo com os seus
Adriano havia admirado muito as piramides do
quis que seu mausoIeu, simbolo da etemidade, fbss
arredondada; 0 circulo the aparecia como 0 simbolo
dade. Diante do campo de Marte, empreenderam-
trabalhos. Como num fOrmigueiro, escravos azafam
tavam pedras e cali9a, a fim de que crescesse
dedicado a g16ria dos imperadores romanos. 0 m
chama-se hoje 0 Castelo de Santo Angelo. A uma
as cinzas de Adriano devia ser depositada nele, s
a morte de seu sucessor, e assim por diante ate
tempos.
Adriano esperara viver muito tempo. Mas compre
seu Hm estava pr6ximo. Escolheu Lucio Ceionio
tisico) para seu sucessor.
Urn dia, mandou Adriano executar urn tal Servtmio
noventa anos, e seu neto. Causou estupefa9aO ess
de c6lera da parte de urn homem ponderado e sen
o imperador.
- Deusesl Sois testemunhas de minha inocencia -
Servamo. - Adriano quer morrer, mas nao 0 poder
Com efeito, 0 estado de Adriano piorava.
- :E: triste - ditava 0 imperador, - querer morrer
capaz dissol
Lucio Ceionio morreu de repente, em conseque
forte hemorragia. Amea9ado pela hidropisia, chamo
a sua cabeceira os mais eminentes senadores. Apre
Antooino, 0 Pio, que escolhera para suceder-lhe. D
tam bern que Antonino devia adotar, como filho
o jovem Marco Aurelio.
Adriano press entia a marte. Dirigiu-se uma derrad
Baia, a beira-mar. Queria rever 0 belo e majestos
d.neo, cujas ondas 0 haviam leva do, embalando-lh
ran9as, ate aque1es paises ex6ticos e looginquos.
espetaculo pare cia reaproxima-lo da alma de An
seus sofrimentos eram intoleraveis; e chamou a mor
for9a que suplicou aos que 0 cercavam que the m
urn veneno. Exigiu que the dessem sua espada e
dinheiro e impunidade aos que 0 ajudassem a m
ninguem atendeu aos apelos de seu desespero. Mand
entao Mastor, 0 barbaro, antigo prisioneiro de gu
amea9as e promessas, quis obriga-Io a liquida-Io. T
cruz sabre seu peito para indicar a Mastor 0 local o
ferir.
Mas 0 barbaro fugiu .
E Adriano chorou as lagrimas mais amargas que um
possa verter.
Chorou porque possuia 0 poder de dispor da vida d
mas nao 0 de por Hm a seus dias. Depois, veio-l
de que urn tratamento apropriado poderia prolon
existencia:
- Tantos medicos sao responsaveis pela morte
ranos!
Tais foram, segundo 0 rumor publico, suas derra
lavras.
mia-se em sua conduta grande dignidade. Orador de
sabio emerito, proprietario rural esclarecido, era
trabalhador, amavel, generoso e respei toso do direito
Tbdas as suas qualidades equilibravam-se perfeitam
jamais fazia exibil(ao delas. Por esta razao gozava
peito e da estima de tddas as pessoas de bem e
dizer que mereceu ser comparado a Numa Pom
JULIO CAPITULINO,
nino Pio", II.
294
GRAV. 108 - Os baluartes de Roma foram apressadamente construidos pe
em 271 depols de J. C., a tim de preservar Roma contra a lnvasao dos b
romanos, dlspersos no vasto lmperl0 ameal;ado por todas as partes, os p
os artesil.os romanos tiveram de construlr 0 reclnto fortlf1cado. 0 balu
qUUometros e atravessou, na epoca, cemlterlos e quartelroes d
l~ais.Antonino suplicou ao Senado que nao recusasse
a entrada do Olimpo.
- Se Adriano foi urn homem mau, portanto vassO in
sou vosso imperador. Ou entao e que para vos, a
de realizou e nula e nao acontecida, ate mes
adoc;aol
Diante da firmeza · de Antonino, 0 Senado cedeu e
ao defunto as honras dos funerais oficiais.
o Senado outorgou a Antonino 0 nome de Pius (
e os historiadores romanos dao ao assunto explica
rentes. E de crer-se que 0 imperador deveu esse
a sua bon dade, a sua benevolencia e a sua circuns
claro que, naquela epoca, nao entendiam os rom
qualificativo de "piedoso" a piedade crista, mas a
moral do ensino dos estoicos. Antonino, alias, nao
os cristaos. Quando 0 Senado the ofereceu 0 titulo
Patria, Antonino, depois de ter recusado essa honra
com agradecimentos comovidos.
Durante 0 terceiro ana de seu reinado, Faustina, s
morreu. 0 Senado declarou-a deusa. Em sua honr
ele cunhar medalhas que traziam a inscric;ao Diva
Faustina tinha uma filha de. nome igual. No ana de
de J. C., quatro anos ap6s a morte de sua mae,
bela Faustina casou-se com Marco Aurelio, filho
Antonino.
o trem de vida do imperador era reduzido e mod
pr6prios escravos, cac;adores de passaros, pescador
dores alimentavam-Ihe a mesa. Ofereceu ao povo
sua propriedade. Viveu no seu palacio, a casa de T
Palatino, ou na sua propriedade de Campania. E
longos percursos, demasiado onerosos, a seu ve
imperador, nao podia via jar sem uma comitiva nume
Em Roma, na sua residencia, era 0 imperador 0
mundo. Gozava duma estima e dum prestfgio inco
e os povos the testemunhavam as mais inalteraveis
296
GRAV. 109 - Arco de Trlunfo e colunatas de Palmira. Nenhuma outra
dade possulu uma via principal, de 1.600 metros como a de Palmira.
este Arco. Era extremamente movimentada.
GRAV. 110 - 0 grande templo do deus Bel. Ate 0 dla em que 0 lmpe
273, destrulu a cldade, foi ela governada pela ralnha Zen6bla . Bel, 0
bab1l6nlos, equivale ao Baal feniclo.
sua esp6sa, fundou uma ordem para as mo~as pob
familia, a Puellae Faustinianae. Mandou construir
numerosos edificios e terminou a constru~ao do ma
Adriano, 0 castelo de Santo Angelo que, na epoc
pura maravilha.
Ao norte da Cra Bretanha, por ordem do impera
truiu-se uma solida fortifica~ao contra os barbaro
foz do Forth e a foz do Clyde, ao suI da Escocia
fez Antonino colocar para leste, mais adiante, 0 fam
baluarte contra os germanicos e mandou substitui
de madeira por torres de pedra. Construiu-se 0 no
em linha reta, de Miltenberg sobre 0 Mein ate
Remstal. Dali, deixava ele a dire~ao norte-suI, p
Reno e ao Neckar, para tomar a dire9ao oeste-Ieste,
o Danubio. No plano militar, e preciso dizer, essa ob
fortificada nao estava de acordo com 0 objetivo pro
No plano da organiza9ao e do trabalho coletivo, e
posi9ao, foi urn exito. Era esse baluarte tambem
visivel da vontade de Antonino de defender 0 Im
todos os meios "padficos". A paz, a tranquilidade e a
eram para de como que palavras de ordem.
- Roma nao necessita mais de muros - dizia 0
nhecido.
Se nao houvesse de protestado, os meses de setem
outubro chamar-se-iam hoje Antonini e Faustitni.
Todavia, durante 0 seu reinado, houve algumas ca
tristes pressagios. Como de costume, os adivinhos ca
fetizaram. Sobreveio uma fome. 0 Circo Maximo v
Urn terremoto abalou a terra, provavelmente no a
depois de J. C. e cidades, em Rodes, em Cos e
foram destruidas. Urn incendio devastou Roma, 0
de seu leito, cometas rasgaram 0 ceu com suas cu
nosas, uma mulher deu a luz a uma crian9a com du
e, na Arabia, uma serpente tentou engolir-se a si
que so logrou exito pela metadel
298
GRAV. 112 0
Imperador Dlocle -
ciano (284-305)
era urn genlo da
organlzaQao. Du -
rante vlnte anos,
relnou sobre 0
m u ndo, depols r e-
tlrou-se para sua
proprledade em
Salona, na I u gos -
la.vla. Possuimos
poucas esculturas
desse homem ex -
cepclonal.
ANTONINO PIO
302
GRAV, 114 - A Porta Negra, em Treves, e a malor porta de cldade const
romanoa, Fez parte da grande fortlf1caoao de Treves, dlsposta no 4 .• se
Unclo Cloro e seu fUho Constantino governaram em Treves. E posslvel
sldo Constantino 0 construtor desta porta.
iguais. De satlde delicada, estava Marco Aurelio pers
que nao podia reinar sozinho. Vero devia encarrega
parte importante dos neg6cios militares. Partilha e
equitavel: tal foi seu projeto. Pela primeira vez n
roman a, dois Augustos com direitos iguais partilhavam
do Estado: urn para as provincias do oeste, 0 outro
leste, prefigurando assim a futura partilha do Imp
~sse bela projeto e'stava destinado a malograr-se
teve Marco Aurelio de enfrentar as inurn eras dificu
surgiram no decurso de seu rei;nado.
Ap6s a solene cerimonia funebre, Marco Aurelio e V
sitaram as cinzas de Antonino Pio, seu pai adotivo, no
de Adriano. Agrupado diante do enorme ediHcio
cortejo, cercado por uma fileira de legionarios, deve
sentado urn espetaculo grandioso. No alto do
monumento fbra plantado urn viridente bosquezinh
pressao de conj~nto evocava antes urn sitio natura
obra criada pela mao do homem.
Imperador, abandonou Marco Aurelio seus estudos
sagrar-se a administrag8.o do pais. Fil6sofo, possuia
est6fo dum hom em de ag8.o. E, como a nuvem de t
anuncia 0 raio, graves perigos ameagavam 0 vasto im
A leste, Vologesio III, rei dos partas, ativava seus pr
de guerra contra Roma . . Seus exercitos ja ocupav
paises da Armenia e da Siria. Marco Aurelio confio
seu co-regente, 0 coman do em chefe das legi6es de
contra os exercitos deVologesio.
Vero, que tinha poucos pontos comuns com seu irma
. gostava do vinho, da boa mesa e de mulheres. A vid
em Anti6quia, a principio, cidade de luxo por
depois em Dafne, paraiso de deHcias e orgias, est
gosto e desejou nao mais rever Roma e nao mais su
a disciplina dos est6icos. Enviou aos partas urn trata
que recusaram.
304
ran9a sofreu decep9ao, nao the retirou por isso sua
e chamou Vero aRoma. 0 Senado conferiu aosdo
o tItulo de "pai da patria".
Obrigado a velar ao mesmo tempo em todas as
nomeou Marco Aurelio seu general Avldio Cassio, g
das provlncias asiaticas. E enquanto Cassio repelia
para alem do Eufrates e do Tigre, era a Italia amea
norte. Da mesrpa maneira que outrora, os cimbros e
fizeram Roma tremer: os germanos amea9avam 0 pal
comanos e os quadas, depois de terem derrubado 0
norte do Danubio, invadiram a Panania, a atual Bai
Sob 0 comando de Balomar, rei marcomano, pene
Estuia e ocuparam as regioes de Laibach, <.Ie bdenb
Buda. S6mente a fronteira dos Alpes foi mantida p
romanas. Perto da Aquileia, na Italia do N or~e, os
amea9avam 0 derradeiro bastiao que defendia a
italiana.
Nesse ana de 168, verdadeiro comec;o da migra9ao
germanicos, 0 perigo que amea9ava Roma atingira u
tude sem precedente.
Acompanhado de Vero, Marco tomou de assalto A
obrigou os germanos a baterem em retirada. Desde os
exitos, Vero aconselhou-o a nao ir mais adiante. M
Aurelio perseguiu os exercitos "barbaros". Queria re
a fronteira do Danubio e transpas os Alpes.
Entretanto, catastrofe espantosa abatia-se sobre R
epidemia desconhecida, provavelmente trazida do or
soldados, devastava 0 pals. Era a peste? Nao se sab
ignora a natureza exata do flagelo que devastou
tempo de Pericles. Dezenas de milhares de pessoas p
Empilhados em carr09as, foram os cadaveres evac
cidades. Foi a epidemia mais desastrosa e mais
que 0 mundo antigo tivera 'de sofrer. Promulgava
imperadores decretos interditando a inuma9ao dos
nas propriedades privadas. Mas a peste intensificou-
ignorados de nos. Os historiadores romanos ml;l
osios, e os bessern, os kostoboks e os jaziges sarm
do leste que haviam invadido as regioes danubianas
Entre os povos germanicos, ah~m dos bastarnes, hou
vos, hoje os sua bios, de que faziam parte os marco
quadas e os hermunduros. Os historiadores roma
tambem os lombatdos de longas barbas, e tribos de
namades, guerreiros ferozes e implacaveis. No meio
batentes tombados no campo de batalha, os legiona
nos, com grande surpresa, encontravam mulheres arm
Decidiram os irmaos imperiais que Vero regress ar
para apresentar seu relatorio ao Senado. Durante
ainda quando estava Marco a sell, lado, sucumbiu
ataque apopIetico (169 depois de J. C.).
Apos numerosos e sangrentos com bates travados em
e sombrias florestas e as margens de rios ate entao
cidos dos romanos, foram batidos os marcomanos e
Espalhou-se que Marco havia conquistado sua vit
os quadas grac;as a urn milagre. Cercados pelos
legioes romanas, sob 0 ardente sol dum dia de ved
estavam dizimadas pela sede. Implorou entao 0 im
socorro dos deuses. Rebentou uma tempestade, seg
chuva torrenciaI. Os crista os afirmaram que 0 m
devido a presenc;a no exercito romano duma legiao
de soldados cristaos. Tendo Marco sabido que o
grac;as as suas orac;oes, tinham 0 poder de obte~ 0 q
impossivel, suplicara-Ihes que implorassem ao seu
qual com efeito atendera-lhes ao apelo. Dali por
essa legiao cham ada a Tonante. Pode-se ler a nar
cenas comovedoras em que os romanos recolheram
Hquido nos seus escudos enos seus capacetes, onde
das feridas estava misturado a chuva, 0 qual os hom
lhavam com suas montarias, exaustas e moribundas.
Entrementes, avanc;avam os barbaros para 0 suI. Os
penetraram na Grecia e pilharam 0 santuario de E
306
de bronze, datando
do prlmelro seculo
depols de J. C. Os
pesos romanos usuals
em Roma eram a
libra ou 0 as, a libra
roman a que corres-
pondla a cerca de
327 gramas, depols a
unica, a onl<a, corres-
pondente a 27,3
gramas.
GRAV. 116
representa
"Hello" o
Desde 0
llano, fUh
tlsa do sol
em Roma
do sol, era
Roma 0
o dla em
conqUlstou
mosalco e
plar da m
o sol pene
liberdade. Povos germanicos passaram-se para 0
romanos e Marco Aurelio incorporou-os ao seu e
margem esquerda do Danubio, vastas provfncias
cuadas pelos povos submetidos e os derradeiros q
raram-se para as regi6es de leste.
Mas a guerra, onerosfssima, esvaziara os cofres
Deu 0 imperador ordem de efetuar vendas publicas
o Forum do divino Trajano. 0 mobiliario dos pala
riais, 0 ouro, os cristais, _0 marfim, as j6ias, os
bordados de ouro da imperatriz, todos esses teso
vendidos no Forum. Mas quando as hostilidades
marcomanos e os germanos cessaram, vitoriosamen
das, anunciou 0 imperador que os cidadaos tinham
de restituir os objetos adquiridos pela mesma soma
por ocasiao da compra.
De seu pai adotivo herdara Marco Aurelio tambem
Antonino. Sobre os cento e dezesseis baixos-relevos
Antonina, em Roma, as vit6rias de Marco Aurelio e
sentadas. Como obras de arte, nao igualam esses bai
os da coluna trajana. As regi6es longfnquas, somb
vagens, totalmente desconhecidas dos mediterran
as legi6es romanas lutaram para barrar 0 carriinh
manos, nao tinham podido inspirar a imagina~ao d
romanos.
Entretanto, quando 0 imperador, na persegui~ao ao
penetrou ate a SiJesia e ate a fronteira galiciana,
legi6es de atravessar espessas florestas de faias, de
e de abetos; e quando 0 imperador sofreu frio, fadi
tamento devidos aos ataques encarni~ados do inimig
durante muito tempo, na impossibilidade de fazer
notfcias suas aRoma: nesse momenta preciso- da
vitoriosa, circulou em Roma 0 boato de que Mar
morrera no campo de batalha.
308
Quando um alto funcioTIlirio adminish'a uma colo
ao mesmo tempo sua terra natal, e sempre dificil
a tentac;ao! Cassio nao fugiu a regra. Desde que te
cimento do boato da morte de Marco Aurelio, fom
sublevaC;ao para assegural'-se 0 poder.
o papel desempenhado nesse caso por Faustina, a
Marco, permaneceu obscuro. A saude precaria de s
os perigos que ele corria nas suas longinquas campan
podido sugerir-Ihe que 0 imperador arriscava por d
vida, a cada instante de sua existencia. Comodo,
Marco Aurelio, era ainda bern jovem e suas disposi
rais tornavam-no pouco apto a subir ao trono. Fau
ter temido pela sua seguranc;a e dizem que aconsel
a tomar, se Marco Aurelio desaparecesse, nao somen
mas tambem sua mao . ..
Ja Anti6quia prestava homenagem ao perfido C
Marco Aurelio acorrera. Diante de seus soldados, p
um grande discurso.
- Se era para bern do pais, cederia de boa vontade o
do Estado a Cassio. Est6u sobrecarregado de do
cessar exposto ao perigo. Vivo desde muito tempo
geiro. Minha saude e tao ma que nao posso abs
sofrimento 0 menor alimento e meu sono e por isso p
S6 receio uma coisa: que Cassio, por vergonha, po
seus dias, ou que um terceiro 0 suprima! Receio ess
lidade, porque ela me despojaria da mais bela r
que minha Iuta contra Cassio possa reservar-me e q
tiria em perdoar ao ofensor, em conservar minha a
que me traiu e permanecer leal ao infiel!
o acontecimento tao temido por Marco veio, com
ocorrer. Cassio, que durante tres meses e seis dias, q
seu sonho tao louco e tao ambicioso, teve a cabe9a co
Um legionario depos aos pes de Marco Aurelio 0 sini
Enojado e frustrado, mandou 0 imperador enterra
sem olha-Ia. Depois, soube ainda duma terrivel
Sucumbira em conseqi.i€mcia duma doen9a natura
cida?
Pus era fim a seus dias, curvada ao peso da vergonh
sida de medo, medindo a responsabilidade que th
conjura9ao de Cassio contra Marco?
o imperador quis ignorar os mexericos e mandou d
Ie-las as cartas encontradas nas bagagens dum t
Marco Aurelio ignorou 0 6dio e 0 sangue derramad
The horror. Os gladiadores na arena nao deviam co
sua presenc;a senao sob condic;ao expressa de que a
fosse salvaguardada. Proibia-se aos lutadores 0 port
brancas e mau grado as injun96es prementes do p
autorizava que urn leao, amestrado em atacar home
ra-los, fosse largado na arena. Mandou mesmo
domador da fera. Quando suplicaram ao impera
pusesse em liberdade, replicou que de nada tinha
merecer tal beneficio.
- Que 0 ceu nos preserve - disse €lIe, - a mim e a
dores, de condenar a morte urn ser humano!
No ana de 176, 0 imperador, acompanhado de seu
a ida de de quinze anos, voltou triunfalmente a Rom
teza era profunda. Com Cassio, perdera urn colab
alter ego de valor, e era por isso responsavel, ate c
porque, de oThos fechados, dera-lhe confian9a abso
Mas em Roma houve 0 regosijo habitual das festas
Colocou-se a primeira pedra da cohma antonina,
a mem6ria da segunda invasao germanica, repelid
mente pelos romanos. Sobre 0 Capit6lio, pode-s
ainda a celebre estatua de Marco Aurelio, recobe
duma fina camada de ouro, admiravel e perfeito m
estatuas equestres. Foi-nos conservada essa escultu
mais tarde, e por engano, acreditou-se que re
Constantino, 0 primeiro imperador cristao! Mas a f
bordante, a potencia expansiva dos germanos na
esgotadas e 0 imperador so se beneficiou em Roma
310
Preocupado em restabelecer uma situa~ao nitida
decidiu Marco Aurelio fixar as fronteiras do Impe
montes Metalicos, os Sudetos e os Carpatos. Perto d
estabeleceu novo acampamento de legionarios cuja
repelir os marcomanos (0 Ca5tra Regina, hoje Ratisb
novas provlncias, a Marcomi1nia e a Samarcia, for
tuidas na Boemia e na Hungria.
Foi em Viena que 0 imperador, ern alguns dias,
vitima duma terrfvel doen~a. Seu organismo, enfraq
uma afec~ao cronica do estomago, nao pode prov
resistir. Morreu a 17 de mar~o de 180 depois de J.
Foi corn efeito nos acampamentos da Moravia e
que 0 imperador, no decorrer de suas longas vigilias
escreveu ern lingua grega seus celebres Pensamentos
dadeiro titulo e A si mesmo. Essa recolta de max
pensamentos que Marco Aurelio compos, e inutil d
cogitar de sua vulgariza~ao, proporcionou a gera<;
tores a tranqiiilidade e a paz da alma. Na Ingl
exemplo, desde 0 seculo XVIII ate nossos dias, m
zentas tradu~oes dos solil6quios de Marco Aure
publicadas.
De certo, nas suas conversa~oes "consigo mesmo"
Marco Aurelio aos deuses, mas, na verdade, recolhia
de uma tinica divindade, diante de urn Deus unive
"Assim os homens procuram enseadas para onde de
rar-se, estadas calmas no campo, a beira-mar e ta
montanhas! . .. Tais desejos sao pueris, pois que e
qualquer hora, concentrarmo-nos em n6s mesmos
lugar existe no mundo em que 0 homem encontre a
dade e a paz, salvo em sua alma... Lembra-te d
angustiados que, inimigos saturados de desconfian~a
lutaram ate a morte e deitaram-se uma derradeira
o solo, para nao ser mais que cinza! ... Pensa no ab
infinito que nos cerca, como no nada da aprova<;ao
da inconstancia e na impotencia do -homem!. .. "
denominador invarhlvel e que, por conseqiiencia,
julgar os hom ens tais como eles sao.
Marco nao ignorava que somente a bondade per
dominayao sobreo homem.
"Alguem me odeia? It assunto dele", escrevia Marc
para acrescentar: "Quanto a mim, sou born e carit
com to.dos, e estou pronto a mostrar a cada urn os
E sem 0 censurar absolutamente, testemunhar-Ihe-ei
afeiyao, sinceras e leais".
Nao ignorava 0 imperador tampouco a natureza e
papel que 0 hom em e chamado a desempenhar na hi
Queixas-te dum acontecimento que 0 destino te re
A cada urn de n6s s6 e contada uma parcela infima d
indefinida e sem limites. Todos n6s desaparecemos
dade . .. Diante da terra inteira, como e minusculo
sabre 0 qual vives a tua existencial Pesa .bem estas
e compreende, homem, que importa antes de tudo ag
tua natureza e suportar 0 que a natureza te traz em p
o globo terrestre e apenas uma parcela infinitesim
verso e 0 lugar onde vwe 0 homem s6 ocupa uma pa
da terra. 0 numero dos humanos e, na verdade, l
Guarda-te de esperar a cidade perfeita e fica fe
minimo progresso realizado."
Assim se exprimia Marco Aurelio. Nao e exagerado
que foi, entre os monarcas da Hist6ria, 0 seu maior fi
"Os tempos terminaram em que teras esguecido tud
todos te terao esquecido. Pensa que, em breve, nao
nada, nem aqui nem em lugar algum."
Como tal homem pade perseguir os cristaos? Urn
mesmo ligeira, escureceu a gl6ria do imperador fil6
Bern de certo, a morte de Sao Justino e de seus s
nheiros: os martirios do marcionista Metrodoro e do
Pianio; .a tortura e a morte na fogueira de Carpos e
em Pergamo; 0 supHcio deliberadamente aceito da cr
nica: todos esses crimes foram praticados no reinado
312
queimados vivos! Que sofrimentos os de Santa Bland
escrava martir, entregue aos animais com Sao Potin
de oitenta anos! Com que rara cora gem os primeiro
pelo triunfo da verda de eterna, conquistaram a vit6
o sofrimento e contra a morte!
Ora, con vern precisar que tais persegui\!6es tiveram
provincias afastadas da resid€mcia de Marco Aurelio
seu edito a provincia da .Asia, proibia qualquer
contra os cristaos. 0 Estado tinha 0 poder de punir u
quanBo os cristaos se tornavam culpados de atos rep
contra a seguran\!a do Imperio. Ora, naquela epoca,
nadores que os perseguiram estavam sediados fora
e 0 imperador achava-se na impossibilidade materia
bir-Ihes as atividades criminosas. E certo que estav
das sevicias conscientemente infligidas aos perseguid
Marco Aurelio foi 0 imperador mais religiosamente h
sentido preciso da palavra, 0 mais caritativo da hist6r
o estoico, justo e respeitoso da velha tradi\!ao romana
e do Dever, 0 fi16sofo mais tolerante daquele mund
hostil. E 0 verdadeiro santo da Antigiiidade.
Segundo Joao Stuart Mill, foi Marco Aurelio, no se
dogmatico do termo, mais cristao que todos os mon
taos que reinaram ap6s ele. Seu humanismo ultrap
todos os soberanos da Hist6ria.
o mundo e a eternidade, 0 ceu imenso constelado do
e ate 0 homem tao fraco, trazendo em si a alegria e
e que, sem verdadeira esperan\!a, . deve aceitar a cru
seu destino sem se queixar: tais foram os problemas
cuparam a inteligencia do pensador solitario.
Longe de sua patria, 0 quinquagenario velava sob a
guida sbbre urn solo estrangeiro onde soprava 0 vento
planicie danubiana, e sua profunda medita\!ao era
pelas rudes palavras de ordem das sentinel as e pe
amorosos das mulheres marcomanas que, ao . longe,
de seus feridos.
MARCO AURELIO
316
GRAV. 117 - Em Roma, a dan<;:a era a arte das mulheres e das
nao dan<;:avam. Clnedo, dan<;:arino, era uma injuria. Pelos fins d
harmoniosas e cheias de gra<;:a, imitadas de dan<;:as gregas, estavam
o imperador Caligula foi dan<;:arino celebre.
320
inspe~ao, empurrou Luliano, prefeito da guarda, p
duma piscina, depois obrigou-o a dancrar nu em p
de seus convidados:
Tinha Comodo 0 habito de tomar suas refei~6es
Penetrava no templo sagrado com as maos ver
. sangue de suas vitimas. Tendo sua amiga Marcia sido
em trajes de amazona, tomou ele 0 nome de Amaz
cretou que os doze meses do ana deveriam dorava
com seu nome, os belos sobrenomes com que 0 hav
fica do! D e saude debil, tinha momentos de eufori
de longos periodos de depressao. Sofria de tumore
que as mais suntuosas vestes de seda nao podia
Quando os romanos comecraram a entrever seu fim pr
pareceu 0 imperador no anfiteatro, fantasia do de m
Preguicroso ao extremo, era Comodo incapaz de conc
pensamento num assunto determinado. Nao se ocu
com os negocios do Estado e as peticr6es e suplic
respondendo fora do assunto. As cartas do impera
vam-se a esta umca palavra: "Salve"!
Era possivel, em troca de gorda soma de dinheiro
uma condenacrao a morte para outra pessoa! Manda
rador publicar em periodicos, as famosas Acta urb
diuma, notlcias obscenas, crueis e ultrajantes.
Para Comodo, a cidade de Roma era urn joguete
servia ao leu de sua fantasia. Urn dia, deu ordem de
a cidade. No derradeiro momento, Letas, 0 prefeito
conseguiu impedir 0 crime. Foi afinal Letas quem em
por termo as crueldades e a miseria que acabru
povo romano. Com a cumplicidade de Marcia, a
Comodo, preparou 0 assassinato do imperador.
primeiro urn veneno. Tardan~o este a produzir efeito
para 0 atleta com quem 0 imperador lutava. Foi ble
gulou Comodo.
o povo, em delirio, reclamou 0 gancho para arrastar
ate 0 Tibre. Mas, por mais estupefaciente que issQ p
COMODO
324
que seu predecessor se apropriara foram devolvid
antigos senhores.
Levava 0 imperador urn trem de vida simples e red
filho morava na sua antiga residencia e freqiientava
publica. Pouco dispendiosos eram os banquetes ofe
palacio imperial. Compreende-se facilmente que a n
os repastos frugais e a economia severa chocassem
oficiais, funcionarios e cortesaos. Nao tinham mais
autorizac;:ao para roubar e pilhar. Os libertos do
nao tinham mais 0 direito de agir a seu bel- pra
guardas, mal-remunerados, era proibido dormir na
servic;:o.
Leto, prefeito dos pretorianos, censurava-se amarg
escolhido Pertinax para imperador, porque Sua Maj
tava de zombar dele, chamando-o de "falador indisc
Urn dia, trezentos soldados marcharam contra 0 pah
rial. Os guardas nem mesmo tentaram deter a tropa. D
seu parcimonioso soberano. Estava Pertinax inspecio
escravos, quando os trezentos soldados, decididos
apareceram diante dele. Teria podido mandar abate
sos pelos guardas notumos e pelos oficiais da carte
Dian Cassio que ele teria podido fechar as portas
para ocultar-se e fugir em seguida. Mas de que natu
ria ser a reac;:ao daquele hom em manso e conciliador
muito simplesmente por urn longo discurso que, evid
nenhum efeito produziu sabre os espfritos limitados
da soldadesca. Urn golpe de lanc;:a atravessou 0 peit
rador. Rezou uma prece a Jupiter, ocultou 0 rosto c
Punhaladas acabaram com 0 doce velho barbudo,
sem genio, apaixonado pelas belas-letras, e que jam
cedera 0 simples prazer de saborear urn faisao assad
Durante dois meses e vinte e cinco dias, reinara Per
o imperio romano. Se 0 Senado exprimiu seu sincero
ter perdido seu imperador, os pretorianos levaram
que 0 Senado pudesse dizer e pensar!
temor era mais intenso ainda, quando the apresent
imperado'r!
E Roma iria conhecer 0 espetaculo mais vergonho
ridiculo de sua historia. Como na feira, como num le
e 0 Imperio foram vendidos ao que mais desse! Os a
foram, e claro, os assassinos do imperador. Sulpician
apresentaram suas candidaturas. Os oficiais deram-
preender sem rebw;:os que 0 hom em que oferecesse
dos a maior quantia de dinheiro seria nomeado im
os langos comegaram. E os leiloeiros gritavam:
- Sulpiciano oferecetanto, quem da mais?
o indiferente Juliano ofere cia mais e anunciava su
soldadesca com gestos que fazia com os dedos. Po
trono do imperador adjudicado a Juliano pela q
6.200 dracmas por soldado. Alguns receberam sua
ali. Outros levaram somente a promessa dum prox
mento.
Cercado da guarda pretoriana, foi Juliano pro clam
rador. Manlia EscantHia, sua espcisa, e Didia Clara
receberam 0 titulo de "Augusta", que conhecemos
medalhas que foram conservadas. As duas mulheres
ao palacio. Nervosas, sem grande confianga no seu
pouco seguras, pressentiam sem duvida a queda p
tantos maravilhosos esplendores que as embriagava
o povo nada quis saber daquele imperador que havia
o seu trono. Sua passagem era acolhida por uma sa
pedras e os guardas que 0 acompanhavam ao palac
de protege-Io com seus escudos. Os romanos e a
amaldigoavam 0 imperador. E quando ele sacrificav
ses, rogavam a Jupiter que nao the desse ouvido as
povo perseguia-o atirando-Ihe pedras e quando Ju
acalmar 0 furor da multidao, erguia a mao direita
solene, as invectivas aumentavaP-l. de intensidade.
sapateando, a multidao invadia 0 circo para injuri
rador. Durante uma noite, 0 povo romano ocupou 0
326
quis precipitar-se a seu encontro com os pretorianos,
nao fara capaz de satisfazer-Ihes as exigencias, com
vesse ainda pago as quantias que lhes devia, mostr
pretorianos pouco entusiasmados. 0 povo romano
ridiculariza-lo.
Em Ravena, apoderou-se Severo da frota. Medindo
tencia, Juliano quis obter pelas suplicas 0 que nao po
pela for9a : of ereceria a Severo vestais e sacerdote
senadores opuseram-se a esse ridiculo projeto e decla
urn homem incapaz de veneer seu adversario pelas
tinha 0 direito de reinar. Todavia, persuadiu Juliano
a decIarar Setimo Severo "inimigo publico". Mas S
avan9ava, despachara para Roma agentes secretos
a paisana. Aterrorizado, tentou Juliano concIuir a paz
a Severo a partilha do trono com, provavelmente,
inten9ao de suprimi-Io mais cedo ou mais tarde. M
proclamou que preferia erigir-se como inimigo a ap
olhos do mundo, como 0 col ega dum covarde.
Assim, nao restava outra saida a Juliano, desesper
cavar fossos, construir muralhas, transformar Roma
pamento militar e preparar a defesa da cidade.
Reinou entao uma desordem indescritivel. As orde
dit6rias confundiam os defensores; e os homens, os
os elefantes acampavam nas ruas e nas pra9as. Os
corpo do imperador, moles e corruptos, cruzavam
e os cidadaos tremiam de medo. Loucos furiosos
no lombo torres de comb ate, os elefantes desmant
carnacas.
"Por vezes - escreveu Dion Cassia, - damos
cos, quando 0 imperador fazia barricadas nas
palacio!. .. "
Para por-se definitivamente em abrigo, mandou
fechaduras!
Mas 0 pabre Juliano, abandonado par tados, nao
achar-se sozinho no imenso palaciO vazio. 0 Senado
PERTINAX E JULIANO
ELIO ESPARTIANO,
ro", XVIII, 11.
&"';"-:;:,"",-::==:::=::::
--- ----,' . --""~
MonIes de pedras
drangular que sa
ra constrcao dos
8stradas.
MUROS
330
faltava-Ihe inteligencia, circunspec9ao e sangue-frio
chamar 0 "segundo Alexandre"! Ravia quinhentos a
celebre, 0 autentico Alexandre batera Dario em Iss
se perguntava a Niger quem the dava 0 direito d
nome do valoroso general, puxava da espada, ex
"Esta aqui"! Na batalha de Isso, perdeu Niger vinte m
Pos-se em fuga, mas perseguido pela tropas de Seve
alem de Anti6quia. Agarraram-no e cortaram-Ihe a ca
Severo ordem de finca-Ia num poste que levantaram
Bizancio. Pensava com isso 0 imperador obter a capi
cidade. Aos habitantes de Antioquia e aos napol
tinham side partidarios de Niger, infligiu penas sev
dou executar os senadores que tin ham tido certa co
por Niger.
Empreendeu entao Severo 0 assedio de Bizancio.
Cassio quem nos transmitiu 0 relato pormenorizad
rac;oes. Cercavam a cidade baluartes espessos e torr
fortifica90es e urn castelo dominavam 0 Bosforo. Os
dos no interior do recinto estavam fechados por p
rentes e os diques que conduziam ao mar eram prot
altas torres. Naquela epoca possuiam os bizantin
maquinas com as quais lan9avam sobre 0 inimigo
pedra e traves. Tinham tamb6m, como meios de d
chos gigantescos que, rapidos como 0 raio, se abaix
levan tar car gas que atingiam 0 peso de urn barco!
bern Dion 0 nome de Prisco, seu compatriota, 0 inve
aparelhos. Condenado a morte, Severo agraciou-o m
porque teve necessidade da ciencia do prodigioso t
Os sitiados realizaram prodigios de coragem e de
enfrentando a fome e a morte. De noite, mergulhad
yam de assalto os bateis inimigos, levantavam as an
. conduziam para perto dos baluartes, donde uma
pedras, de traves e ferragens se abatia sobre os navi
a cidade ficou totalmente cercada, sitiados, os bizan
ram-se como projetis de pedras de talha dos teatros,
fnlgio e numa efusao de sangue. Sem mais for9as
rendeu-se.
Implacaveis, os romanos exterminaram os soldados e
narios bizantinos, mas pouparam os habitantes. Tod
Severo a fortaleza conquistada aos habitantes de Peri
vizinha de Bizancio, que "a tratou como aldeia e tor
mil maneiras". Dion Cassio escreveu:
"Vi Bizancio em minas, mas conhecia-a outrora viv
lhosa. E ouvi sua voz miraculosa. Do lade do mar
as sete torres. Se se lanc;ava urn grito na direc;ao d
ela repetia, 0 eco repercutia na segunda torre, e
diante. As sete Wrres transmitiam a voz. Bizanc
ouvido fino! "
Durante 0 sitio, empreendeu 0 imperador expedic;oe
contra os osroenos, os adiabenos e os arabes. Cons
vencer os partas. Cheia de orgulho e entusiasmo, R
ceu ao imperador uma entrada triunfal e 0 Senado c
os titulos de Arabicus, de Adiabenicus e de Parthic
Severo recusou a honra insigne da entrada triunfal b
titulo de Parthicus, porque nao queria humilhar os
Na Calia, estava Albino em rebeliao franca. 0 imp
clarou-o inimigo publico e pos-se em campanha. Enc
adversario perto de Tinurcio, provavelmerite a atua
em Saone-et-Loire. Atingido por uma bola de chum
Severo caiu do cavalo e rolou no chao.
Em Roma, 0 Senado, persuadido de que 0 impera
condenado, procurava urn sucessor. Mas Setimo Seve
duma resistt~ncia Hsica pouco comum, recuperou s
Desde muito tempo desprezava os senadores da cid
renegavam a ele, 0 Africano. Nao se esqueceu dis
humilha-los, deu aos romanos de origem provincial
no Senado. Quanto a de, pertencia, dizia, a famnia
Aurelio e, em virtude dessa indiscutlvel superiori
cedeu 0 titulo de deus ao imundo Comodo.
332
damas francesas e espanholas.
Lugdunum (Liao), residencia de Albino e capital
desde Augusto, perdeu' seu poder e sua irradia<;ao
de Treves, cujo desenvolvimento aumentou des
epoca. .
Raivoso, transbordante de 6dio, 0 temlvel Setimo S
tou aRoma. Sem demora, mandou executar quar
patricios e senadores. NarciSo, que havia estrangula
rador Comodo, foi lan<;ado como pasto aos le6es.
A gl6ria e a ascensao rapida do imperador estava
cadas de sangue. Desgra<;ado de quem falasse sem
llngua ou quem pilheriasse de maneira amblgua! A
imperador baixava-Ihe sobre a cabe<;a.
- Eis 0 imperador! E digno do seu nome! E verdade,
(Pertinax) e severo (Severo)! .
o homem que, levianamente, pronunciara tais p
estrangulado. .
o historiador Elio Espartiano afirma que Severo e
suas expedi<;6es militares, nao pOl'que fossem nece
epoca, mas porque estava avido de gloria.
o imperador preparou minuciosamente uma ofens
os partas. Conquistou Ctesifon, a capital, que ab
pilhagem e ao lJIassacre por seus legionarios. Trazen
milhares de prisioneiros, atravessou a Mesopotamia,
a ser de novo provincia romana. A cidade de Atra
tulou. A fortaleza defendeu-se encarni<;adamente;
pultas aperfei<;oadas eram de gra;:}de alcance. Dizem
aparelhos lan<;avam dois projetis ao mesmo tempo.
jogaram tambem sabre os assaltantes nafta, a qua
fogo em seguida.
"Foi assim que Deus socorreu sua cidade!", escre
Cassio. E Severo levantou 0 sitio.
Abordou em seguida as costas do norte do Egito
avido de conhecer, quis penetrar os segredos e os
terrenos e ultra-terrenos! Percorreu 0 pals e admirou
o tUmulo achava-se de certo inviolado.
o imperador atravessou em seguida suas provincia
Leptis, sua cidade natal, tomou mais altas suas por
tago, a antiga capital plinica, retomou sua posigao
mundial. Setimo Severo considerava-se, como se
nobre descendente dos cartagineses e, nesta hom
erigir um monumento grandioso em Libissa, na B
exaltar a memoria de Anibal, pOis ali tombara 0 fam
cartagines. Cunharam-se medalhas com a efigie
Caelestis, a antiga deusa protetora da cidade. Em n
podem-se admirar as ruinas dos edificios coost
Setimo Severo, romano. de origem fenicia.
Em CiucuI, na Numidia, descobriu-se urn templo
conservado, consagrado a famHia de Setimo, bern c
de outros lugares sagrados, . arcos de triunfo, insta
tu:hias, antigos mercados e cidades tragadas e des
Setimo Severo mandou construir baluartes nas front
gadas em zonas deserticas e, dessa maneira, a seg
tnifico das caravanas ficou garantida. Sublinhemos q
do Norte gozava, sob 0 reinado de Setimo Severo
sucessores, duma prosperidade sem igual.
Se 0 imperador era urn hom em brutal e temivel,
prefeito da guarda, era, se possivel, mais perigoso ai
de possuir e de acumular, deitou mao a todas as riq
pade desviar para proveito seu. Nem uma cidade,
provincia pade escapar a pilhagem sistematica de
Roubou ate as zebras sagradas das ilhas do Mar Ver
Mais do que 0 imperador - e nao e pouco is so -
tiano sedento de sangue. Na sua residencia, mand
uma centena de aristocratas roman os, porque que
servidores e os preceptores de Plautilia, sua filha,
nucos! Em suma, detinha Plautiano urn poder bern m
que 0 imperador; e efigies suas foram erguidas e
nas provillcias do ImperiO.
334
sarc6fago.
336
ele matasse 0 celerado e foi urn criado quem di
carregou.
Apresentaram a JUlia e a PIau tili a, que trocavam
palavras, pelos da barba do morto. JUlia mostrou-s
de alegria; Plautilia, pelo contrario, pos-se a cho
Cassio escreveu:
"Assim, 0 homem mais poderoso de seu tempo, qu
atingir urn poder sein cessar aumentado, que semear
e 0 terror, esse homem foi abatido como urn dio e
valeta!"
Plautilia e Plautio, os filhos de Plautiano, exilados
Lipari, viveram no temor e nas privacr5es, ate 0 d
Antonino os assassinou. Depois da morte do tod
Plautiano, Antonino e Geta, filhos de Severo, refo
na lama. Impudicos, exibiam, no escandalo, seu triun
Entretinham relacr5es s6rdidas com gladiadores e
de carros. Violavam as mulheres e nao recuavam
crime nenhum. 0 certo e que a luta fratricida comec
suprimir aquele que incomodava 0 outro, provocav
durante as corridas de carros, terriveis colis6es
vefculosl
Dion Cassio relata urn acontecimento que, naquela
a bern dizer, bastante comico. Suspeitava-se de que
nhecido aspirava ao poder. Uma testemunha afir
surpreendido, de orelha colada a uma porta. Era u
calvo: eis tudo quanta se sabia do personagem des
Todos os sel1adores de cranio pelado ou pouco gua
cabelos tremiam de medo. 0 pr6prio Dion Cassio
senador, escreveu :
"Nao posso calar aqui 0 que me aconteceu, por ma
que parecra! Estava nervoso e perturbado, a ponto
maos tatearem involuntariamente meus cabelos! E
meus colegas me imitaraml 0 senador, de cuja traic
peitava, fora visto, envoIto numa toga de cor purp
Compreendeu enfim 0 velho imperador que seus
Roma, em peri.odode paz, estavam expostos a pior d
e que seu exercito,em repouso, abandonara toda disc
Enquanto preparava uma expedi9ao a Gra-Bretanh
pressentimento que nao regressaria vivo aRoma. D
deixou uma narrativa bastante fantasista a respeit
dos aut6ctones.
"Moravam, nao em casas, mas em tendas; nao tin
pas nem cal9ados; tinham em comum suas mulhe
filhos!"
Urn dia em que Julia Domna, apelidada "a mae
pamentos" pelos soldados, e que acompanhava
imp era dar durante suas campanhas, zombava da m
caledonio Argent6coro, cuja deprava9ao de costumes
tava francamente, respondeu-Ihe a caledonia:
- Melhor que as romanas, sabemos ouvir os apelos
natureza. Em plena luz, escolhemos e amamos os
dentre os bravos, enquanto que vas, romanas, em
abismai-vos no adulterio com os piores dentre
homensl
Tais foram as dignas palavras duma escocesa da ep
"melhores" a que fazia ela alusao foram homens du
e corajosos ate a temeridade.
"Suportam filCilmente, e verdade, as mlsenas, a fom
e as dificuldades de toda especie", escreveu Dion C
Setimo Severo invadiu a Caledonia. Pode-se pensar
suas legioes ate a foz do Forth. Deve, em todo 0
penetrado longe bastante na dire9ao do norte, porque
"que a sol permanecia muito tempo im6vel no h
Estava a Escacia destinada a tornar-se uma provi.nci
Grac;:as as inscric;:oes descobertas ha pouco, sabe-se q
instaurara ali urn culto a Tanit, deusa cartaginesa e
do imperador. . .
Sofrendo atrozmente de gota, Setimo Severo, duran
panha da Inglaterra, fez-se transportar em liteira. V
338
nuca. Aterrorizadas, as pessoas presentes, for am
de estupor. e Antonino ·teve medo. Mais tarde, so
seu filho, Severo apostrofou-o:
- Se queres suprimir-me, es livre. Gozas dil plenitu
for<;as e eu sou urn velho.
Confuso, Antonino nao se moveu.
Algum tempo antes desse incidente, os soldados, com
com os sofrimentos de Severo, quiseram proclama
imperador. Severo fez-se transportar ao tribunal, pu
cavelmente os responsaveis por essa iniciativa i
exceto seu filho, e declarou:
- Sabeis agora que se govema com a cabec;a e n
pernasl
No ana de 211, 0 velho imperador quis regressar a R
os caledonios se revoltaram e Severo retomou as arm
tanto, enquanto ativava os preparativos duma nova
morreu em Eboracum (York), a 4 de fevereiro de 21
Dion Cassio escreveu que se esse imperador repr
tipo mesmo do adversario temfvel, podia ser ta
excelente amigo. Perseverava nas suas empresas e
projetos como nas suas miss6es; com tenacidade
levava-os a termo.
o imperador levantava-se cedo. Desde 0 romper
ocupava-se com os neg6cios do Estado. Pela manh
o tribunal de justic;a. Ao meio-dia dava urn passeio
Depois vinham 0 banho e a refeigao em familia. A
seguia-se curta sesta, depois Severo despachava neg
. rentes e seguia urn curso de fonetica para aperf
dicgao. Segundo banho precedia a refeigao da noi
preendente verificar que 0 imperador, mau grado urn
perfeitamente regrada, s6 tenha podido atingir a
sessenta e cinco anos.
Pouco antes de sua morte, mandou que The trouxess
destin ada a conservar suas cinzas.
SETIMO SEVERO
342
GRAV.
mano
o curso normal dos acontecimentos. 0 consul nao en
vitimarios e os vitimarios nao puderam reunir-se
Para os romanos, que acreditavam firmemente nos
essas complical(oes nada auguravam de boml
Bassiano compreendeu que nao poderia ating'ir seu
empregar a asrutia. No mes de fevereiro do ana de
de J. c., dirigiu-se de aos aposentos de sua mae e f
refletido: r ~sejava a concilia9aO; Geta era seu irmao
e cabia a ele, 0 mais velho, estender-lhe a mao. Ro
Domna que 0 mandasse chamar para que pudesse
beijo da paz.
Por uma vez mostrou-se Geta confiante. Sozinho, d
quarto de sua mae. Os centurioes, que Bassiano h
dido nos corredores, penetraram, de espada nua, na
abra90u-se com sua mae.
- Mae! - gritou ele, - Mae! Assassinam-me!
Louca de dor, JUlia Dorrna, apertou seu filho em s
e tentou protege-Io com seu corpo. Mas os centuri
I(aram sobre sua pres a e feriram JUlia na mao. Ge
sobre os joelhos de sua mae, cujo vestido ficou ve
sangue de seu filho. £ desta maneira que se precis a
as palavras que os romanos cochichavam aos ouvido
- Sabias? Geta voItou ao seio de sua mae!
Na idade de vinte e dois anos, Geta lan90u 0 derr
piro. Bassiano, fratricida, orgulhava-se de seu crim
houvesse praticado uma proesa excepcionaI e meri
Domna nao teve 0 direito de verter uma lagri:r;na. D
Bassiano fazia-a vigiar secretamente. Como se lhe t
porcionado uma alegria imensa, obrigava-a a rir e a
Todas as suas paIavras, todos os gestos, espiona
transmitidos a Bassiano.
Depois do assassinato de seu irm.ao, Bassiano, perse
remorso, comportou-se como verdadeiro despota. A
riedade siria transmitida por sua mae marcara-Ihe 0
a conduta. MaIevolo, hip6crita, vivia min ado pela a
344
Clamando sem cessar que sua vida estava ameaCSada
B~~siano a suas tropas mundos e fundos!
- Sou apenas urn soldado, como v6s - afirmava
viver apenas para vos e cumular-vos de presentes!
meus tesouros vos pertencem!
Com seus soldados, queria morrer! 0 imperador au
exilados a regressarem aRoma. Depois, mais cri
possivel) que todos os sadicos Cesares que reinaram
fez correr torrentes de sangue e dizimou a popul
o pretexto falacioso de terem servido, ou estimado G
dores da corte, soldados, amigos de Geta, hom ens e
foram executados. Vinte mil pessoas foram mortas.
mais ser pronunciado 0 nome de Geta. Enos monum
inscricsoes concernentes a famflia de Setimo Severo
na Asia Menor e na Africa, 0 nome de Geta foi ap
o celebre jurisconsulto Papiniano encontrou igu
morte na hecatombe. E verossfmil que Setimo Seve
confiado seus filhos e tenha ele tentado reconcilia-
tenha provocado uma reaCSao de Bassiano. Dizem qu
havia en carr ega do Papiniano de justificar, perante
e per ante 0 povo, 0 assassinato de Geta. Ora, Papin
cara que era mais facil ser urn fratricida qU'e justi
atos! Citam-se ainda suas palavras:
- Acusar urn inocente a quem se assassinou e comet
crime.
Quando subiu ao supHcio, Papiniano, entao prefeito
rio, declarou que 0 homem que, sem vinga-Io, the
nao passaria de urn tolo! Devem os deuses ter ou
palavras proh~ticas, porque Macrino, que se tornou
sucessor de Papiniano, assassinou 0 imperador.
Quando Papiniano foi executa do, 0 imperador que
dias, era chamado Antonino por seu povo, quis sabe
motivo a cabe9a do condenado fora cortada com ur
e nao com uma espadal
GETA, BASSIANO-CARACALA, JULIA DOM
348
mente tor n e c I a a
Roma 191.000 metros
cublcos de agua.
350
que de todas as partes, no vasto imperio, foi 0 nom
rador aviltado, execrado, coberto de vergonha. 0
tam bern a Antonino Bassiano 0 apelido de Tarantes,
brava urn gladiador baixinho, celebre pela sua fei
sua crueldade. Todavia, Bassiano entrou na Histo
nome de Caracala.
FIsicamente pouco resistente, oao podia 0 imperado
nem· os fortes calOles, nem os frios rigoro-sos. De
mandou fazer para si roupas que tinham a apare
especie de armadura. Pensava preservar-se das pun
urn assassino eventual, sem suportar 0 peso dum
Sobre sua pseudo-armadura, trazia urn manto de
Ignora-se se esse traje era de origem celta, siria ou
sabe-se que nao era talhado numa unica pe9a de te
o exigia 0 costume em Roma. Compunha-se de um
de peda90s de pano. Cobria 0 corpo e caia quase
Esse manto, 0 primeiro sem duvida de corte "mode
mava-se urn caracallus e deu ao imperador seu a
soldados traziam tambem mantos do mesmo corte.
Inteligente, duma competencia desconhecida dos qu
yam, JUlia Domna ocupava-se com os negocios do E
Roma como em Antioquia, se bem que seu filho so d
aten9ao aos sabios conselhos de sua mae, nao cessa
medida do possivel, de manter com mao esperta e
redeas do governo. Era, de certo, preciso agir com
com muita habilidade, para poupar a susceptibilida
elvel imperador, mas JUlia Domna, · morando em
entretinha correspondencia seguida, e em grego e
com todas as provincias do Imperio. Recebia os al
narios e os embaixadores e prosseguia, como antes, se
de filosofia.
Quanto a Caracala, seus pend ores pelo vicio, pelo
e pela desafei9aO, 0 habito de abandonar aos outros
sabilidades do governo, ativavam fatalmente sua p
egipcio, chamado Serapis, mestre na arte da quirom
Acorrentado, condenado a morte, repetiu 0 egfpcio
vras profeticas.
Despachou-se ao imperador, de regresso a Antio
carta por meio da qual foi posto ao corrente da si
fecia. Ora, Sua Majestade, todo entregue a alegria
a uma corrida de carros, esqueceu-se de abrir a corres
e mandou a carta para Macrino que, em Roma, cu
neg6cios civis. Macrino leu a missiva e nao perdeu u
Encarregou urn soldado, descontente por nao ter r
adiantamento com que contava, de suprimir 0 imper
Entrementes, Caracala havia partido em peregrina
Carres, hoje Harran, celebre por ter ali residido Abr
derrota que os partas infligiram a Crasso, no ano d
de J. C. Sacrificava aqui 0 imperador ao seu pen
cultos magicos orientais e pela astrologia. Queria
santuario de Luna. Desde muito tempo, alias,
em Roma, como religiao de Estado, 0 culto solar
sirio.
Dominado pelo remorso e pelo medo que 0 impeli
curar na magia e nas ciencias ocultas urn exutorio
obsess6es morbidas, perdera 0 imperador a confian<;
soldados. Nem mesmo se dava cootade que, desc
irritados, mau grado seu soldo bastante elevado, de
seu chefe que, outrora, pretendera ser urn deles! V
de cavaleiros acompanhou 0 imperador na sua via
pitada. Para satisfazer uma necessidade natural,
parou e, afastando-se da estrada, meteu-se nas moi
dado Marcial alcan<;!ou 0 imperador e enfiou-lhe 0
cora<;!ao. 0 assassino foi abatido imediatamente por ur
cita.
Pade entao Julia Domna sem constrangimento de
grimas. Com seus dois filhos, perdera tambem seu
imperatriz. Incapaz de suportar 0 peso de sua de
cidou-se.
para instaurar () culto unico e universal de se
Heliogabalo.
LAMPRfDIO, "Antoni
liogabal us".
354
grava muito tempo ao cuidado da barba. Caminhav
medidos e, por ocasiao das audiencias que concedi
afetada tipha urn timbre tao surdo que era dificil co
o que dizia.
Entretanto em Roma, ap6s a morte de Caracala e
de paz com os partas, teve 0 povo a alegria de viv
de calma e de tranquilidade. (Herodiano).
Em compensac;ao, as legioes comec;avam a despreza
chefe. Ap6s a vit6ria das armas, 0 tratado de paz com
era tao penoso e vergonhoso que os soldados tiveram
sao de serem os vencidos.
Macrino, suprema ironia, prometera a Arta ban fortes
dinheiro para indeniza·lo dos estragos e devastac;oes
pelas tropas. Quando 0 imperador deu a conhecer s
de baixar 0 montante do soldo, os legionarios romano
rados, comec;aram a fazer ameac;as. Tomou corpo
suprimir 0 imperador.
Ora, a dinastia dos Severos nao estava extinta. Af
poder, os membros dessa familia nao quiseram deix
batar, por intrusos que a ele nao tinham direito,
nome de Antonino. JUlia Mesa, a irma de JUlia
espdsa de Setimo Severo, tinha duas filhas, Semis
Ambas tinham urn filho: Semis deu a luz Vario Av
meia Alexandre. Tdda a familia vivia em Emeso,
do Oronte, na Siria, seu pais de origem. Em nossos d
chama-se Horns. Os habitantes de Emeso adorav
Heliogabalo (Baal), sob a forma duma pedra negra
se dizia ter caido do ceu. 0 filho de Semis era grao
de Heliogabalo (Elagabalo).
JUlia Domna, sabe-se, era a filha dum grao-sacerdote
gabalo, e Vario Avito, 0 filho de Semis, exerceu,
catorze anos, a mesma func;ao. A famIlia estava est
associada ao culto de Baal.
Vario Avito era, pois, 0 filho legitimo do shio Var
e de Semis. Aproveitando-se das perturbac;oes e das
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356
Pode-se verificar que, aos olhos de JUlia Mesa, a
de sua filha tinha importancia bern secundaria em r
a aspira~ao ao trono de seu neto. E Semis, na es
ver seu filho reinar em Roma, nao hesitou, "diante
em expor-se ao escandalo e a vergonha. Conseguira
mulheres, a for~a de persuasao, convencer os roma
jovem grao-sacerdote era, com efeito, 0 bastardo de
Lembremos que naquela epoca, eram os Antoninos
como deuses. 0 novo Antonino nao tardou em
homenagens e os testemunhos honorificos das c
imperio romano.
Julia Mesa, a av6, ja 0 dissemos, era nao soment
rica, mas tambem matreira, astuta e inteligente.
filha, era sobretudo ambiciosa, corajosa, de cert
Avito, seu filho, adolescente efeminado, gastava sem
bela aspecto fisico, dotado, 0 jovem sacerdote er
pelos soldados e seu templo nunca estava vazio.
Avito, pretenso filho legitim~ de Caracala, foi p
imperador. De novo, ficou amea~ada a existencia d
Em rme, perto de Anti6quia, travou-se a luta entre
de Macrino e os partidarios de Avito. 0 exercito
incapaz de sustentar 0 combate, foi derrotado. M
e Mesa, chorando e gritando, salta ram de seu carr
diram que os fujoes abandonassem a batalha, que se
com ardor. Quando Macrino compreendeu que
estava decidido a resistir, pos-se em fuga em com
seu filho Diadumeniano. Ficou provado que 0 exe
mediocre pode conquistar a vit6ria, se 0 adversar
mais covarde do que ele! Detidos em Calcedonia
foram Macrino e seu filho assassinados durante su
rencia para Anti6quia. Entrementes, Mesa, distrib
prodigalidade dons e favores, conquistara para su
legionarios de Macrino. Notemos que, na hist6ria r
Macrino 0 primeiro imperador que, no decorrer de se
nunca residiu em Roma.
abjetos e suas inven~6es dementes, avantajou-se de
dos ao sahlnico Nero!
Quando no Senado leu-se a mensa gem anunciando a
de Heliogabalo imperador dos romanos, houve, com
em semelhante circunstancia, uma explosao de alegr
lhentas manifesta<;oes de entusiasmo. Cantava-se o
de Heliogabalo, amaldi<;oando-se Macrino e seu
familiarizar os romanos com sua Figura e seu porte
enviara Heliogabalo aRoma seu retrato em taman
representando-o vestido com seu traje sacerdotal.
foi exposto no Senado, ao lade da estatua da Vitor
Na primavera do ana de 219, fez Heliogabalo s
solene em Roma. Vestido com roupas dum luxo ina
tado como uma ma<;a, os olhos brilhando com urn
gular (devido ao emprego de essencias), urn colar
em torno do pesco<;o e a fronte cingida por urn d
diamantes refulgentes, tomou posse da cidade 0
oriental. A avo e a mae, sentadas a seus lados, como
no seu amor e. na sua admira<;ao pelo belo adolescen
entretanto inquietas, porque nao ignoravam que
preciso dirigir e disciplinar 0 instrumento, insubmiss
de suas ambi<;6es desmedidas!
Roma foi teatro de cenas dum Fausto nunca visto.
carro, 0 aerolito sagrado, a famosa pedra negra de
apresentada a multidao por ocasiao duma procissao d
nal esplendor. 0 jovem sfrio trouxera consigo 0 deu
rava. Caminhava diante dos caval os, as arrecuas,
perder de vista 0 deus Heliogabalo, para 0 qual havi
em Roma dois templos: urn, sabre 0 Palatino, 0
proximidades da atual Porta Maior.
Tinha 0 jovem imperador a inten<;ao de impor H
como 0 deus oficial e principal dos romanos, 0 qu
sidir a todos os cultos reunidos, inclusive as religi6es
e dos cristaos, que deviam, por assim dizer, por-s
de Heliogabalo, deus unico e universal!
358
uniao, 0 casamento divino dos deuses orientais e d
romanos, escolheu 0 jovem imperador como esposa u
Aquilia Severa, que, por conseqiiencia, era obrigada
mento a viver em castidade absoluta.
Decretou que uma uniao entre um grao-sacerdo
sacerdotisa era nao somente bem adequada, mas
que os filhos provenientes <:Ie tal casamento possuia
possibilidades de assemelhar-se aos deuses.
Foi 0 primeiro escandalo que 0 imperador ofereceu
ao romanos e que provocou grande descontentament
lagao inteira. Divorciou-se, alias, da vestal pouco tem
de have-la desposado. Por sua ordem, a effgie d
Celeste, a divina deusa de Carta go, foi transferi
templo de Heliogabalo.
Parece que a Celeste foi entao venerada como um
Mater. Seu culto comportava ritos magicos e orgi
ciados a sacriHcios de criangas. Heliogabalo quis na
abolir os cultos romanos consagrados, mas esperava
mundo inteiro a adorar seu deus. Por ocasiao de
oficiais, ao som dos cimbalos e dos tamborins, ex
imperador passos de danga em redor dos altares,
sIrias cantavam melopeias orientais.
Pasmados diante do fausto desse culto, a vista do
pedra divina caida do Cell, fascinados pelos ritos ori
lantes de cores do imperador-sacerdote, estavam o
maravilhados, embriagados de efluvios de incense e
desconhecida.
Quem era, afinal, esse deus que Heliogabalo adora
antes de tudo, os prazeres sexuais, as crises de histeri
vagao e 0 vicio. Em toda a peninsula, ordenava H
que se arrebatassem a seus pais os mais belos filhos
cracia para oferece-los em sacriffcio a seu deus. A
secretas e magicas deviam servi-lo; os feiticeiros e
lhe ofereceriam em holocausto as mais belas vltima
HELIOGABALO
362
Na sala do banquete, mandara Heliogabalo prepara
reversivel. A dado sinal, massas de violetas e de flor
a especie caiam sobre os convivas, cobrindo-os de
odorifero que alguns, enterrados sob 0 alude, perec
cados, nao tendo conseguido escapar para 0 ar livre
A agua da piscina em que Heliogabalo se recreava
mada com essencia de rosas; e ofere cia a seus favor
cheias dessa agua na qual tomara seu banho. Quando
as termas, cercado de sua corte, mandava distribuir
e preciosos. Mandou construir, em lugares afastados
onde nao era possivellevar a agua do mar, piscinas q
a seus an1igos. Desejoso de contemplar uma montan
de neve, exigiu urn dia que lha trouxcssem, de pai
quos, em imensas tinas!
Nos seus aposentos, os coxins e as almofadas deviam
fados com peles de coelho e penas de peru. Satura
fumes, 0 imperador estendia-se sobre seu leito juncad
Urn dia, fez servir, durante urn banquete, seiscent
de cegonha de que so saboreava os miolos. Noutra
exigia vinte e duas travessas de carnes raras. Entre
os convivas, em companhia das cortesas, partilhav
banho e Ihe afirmavam sem cessar a imensa alegri
causavam .os agapes.
Sua Majestade colecionava tambem os reptis e sen
alegria em solta-los a noite, quando 0 povo estava r
jogos. No panico geral que se seguia, numerosos cida
pisados ou feridos.
Urn dia, atrelava le6es ao seu carro. Noutro, atrelav
elefantes e vestia trajes apropriados em homa da d
que esses animais pertenciam. Criava aspides, vibora
hipopotamos, crocodilos e urn rinoceronte. Urn dia
de seu zoo. Mandou en tao "capturar" as mais belas
Roma que atrelou nuas, as duas e as quatro, a urn
conduzia pelas ruas da cidade.
Irreconhecivel sob urn disfarce e coberto por uma p
Efeminado, 0 imperador gostava de fiar la; usava um
nos cabelos, pintava as palpebras com alvaiade
Depilava a barba.
Heliogabalo era incapaz de manter-se em repouso,
tude calma e tranquila e, nao somente quando anda
templo, durante os sacrificios ou por ocasiiio de suas·
ou de seus discursos, saltitava, balanyava-se e da
cessar.
Omado duma tUnica verde, exibia-se tambem no pap
dutor de carro, designando como arbitros seus guarda
sua avo e suas numerosas concubinas. Como urn aut
dutor de carro, mendigava 0 imperador, com profu
rencias, peyas de ouro dos oficiais e dos arbitros.
Dotado duma linda voz, cantava agradavelmente
£lauta, trompa, urn instrumento de tres cord as e org
que foi ci primeiro romano a vestir-se unicamente de
apreciava acima de tudo. Possula uma tUnica de
cor de pUrpura e uma tUnica persa bordada de pedras
tao pesada que se queixava muitas vezes ao anda
Ate sapatos tinha ete encrustados de jOias e cingia-l
um diadema destinado a realyar a feminina beleza d
de trayos puros.
No teatro, ria ruidosamente, com tais explosoes que
dores nao podiam ouvir os atores. Mandava reunir, nu
publico, as mulheres publicas de Roma para dirig
cursos grosseiros e obscenos.
Quando, durante uma bacanal, seus amigos, embria
yam adormecidos, fechava as portas e apagava as
introduzir na sala leoes, leopatdos e ursos. Dom
. esses animais inofensivos, porque lhes haviam arr
dentes. Heliogabalo nao queria que semi" amigos p
desejava somente fazer-lhes medo. Conseguia-o tao
alguns, aterrorizados, morriam .duma crise cardlaca
Foi Heliogabalo 0 inventor do colchao pneumatic
curso dos banquetes, eram os escravos encarregados
364
dava servir a seus convidados esses admiraveis simu
dia, encomendou a seus escravos, prometendo-lhe
recompensas, mil libras de teias de aranha. Quando
sentaram dez mil libras desse fragil material, decla
simplesmerite que isso provava que Roma era uma g
cidadel
A seus amigos, ofere cia caixas cheias de ras, de
de serpentes ou de moscas. Pela soma de cern mil
comprou uma prostituta de grande beleza que entre
toea-la, como "donzela". No porto, mandava afun
carregados de mercadorias, afirman'do que assim
grandeza de sua alma.
Era de noite que Heliogabal0 executava 0 trnbalh
incumbia como imperador e levantava-se muito
manha. Raramente seus cortesaos 0 deixavam, apos
encia, sem ter recebido suntuosos presentes. Somen
que tinham reputac;:ao de economia voltavam de m
porque Sua Majestade detestava as pessoas pre
parcimoniosas.
Tendo os padres sirios predito a Heliogabalo uma
lenta, mandou tranc;:ar, para se enforcar, cordas
temperaram-se espadas de Duro para que com ela
sasse 0 corac;:ao e estavam a sua disposic;:ao todas a
de veneno. Ordenou mesmo que se construisse um
torre para que pudesse, em caso de extrema urgen
pitar-se no vacuo. Mas os soldados e, antes de tudo
rianos, nao Ihe permitiram que atentasse contra seu
Heliogabalo projetounovo atentado contra a vida de
Mas, como da primeira vez, so conseguiu 0 imperado
a calera de sua guarda. No derradeiro minuto, segu
mae e, para salvar sua vida, em companhia da mae
dre e de seu primo, apareceu no acampamento dos p
e tentou acalmar os soldados.
Os pretorianos nao tiravam os olhos de cima dele. C
fera apanhada na armadilha, estavli ali, exposto a
HELIOG.fi..BALO
RAT/seONA
(R<VU/ ~
oanu6t'of -
368 369
ordem.
Para consegui-Io, era preciso que fosse ela a Unic
a inteligencia de seu filho. Perto dele, nao tolerava
outra mulher. Quando Alexandre desposou a filha de
cio (que Mameia havia escolhido), foi entao sua fel
curta dura9aO.
o Senado conferiu ao sogro de Alexandre 0 titulo
Mas quando este ultimo quis agir de conformidad
atribui90es de seu titulo, foi simplesmente execut
acuSa9aO de alta trai9aO. A infeliz esposa (chamava
ou Herencia Orbiana), expulsa do palacio por sua
banida para a Africa. Alexandre, no entanto, amav
mente I
:£ verdade que, com 0 apoio dos preceptores mais
da epoca, logrou Mameia modelar 0 melhor que pad
caprichoso e fraco de seu filho. Na verdade, seus
esfor90s viram-se coroados de exito. Se Alexandre
na origem, um temperamento duma for9a normal e
meza media, sua honestidade visceral, sua probidade
a ordem e 0 afeto, sem nenhuma falha, que dedic
mae, fizeram dele uma criatura de escol.
De certo,. o jovem soberano, homado e louvado com
pelos romanos, nao gostava de tomar decisoes, nem
sua linica responsabilidade. Manso como os zMiros
sua terra natal, s6 agia sob obriga9ao do dever. Co
9ao expressa de consultar sua mae, nunca se furtava
decisao. Jamais ousava contraria-Ia; ela dominava-o
Por esta razao, 0 povo romano conferiu a mae 0 titu
e bern pretensioso de "mae da Patria", 0 que signifi
"mae da Humanidade"l
Os olhos de Alexandre eram belos e brilhantes e
poucas criaturas podiam suportar-Ihe 0 olhar. De bo
abibuiam-Ihe 0 dom de saber ler os pensamentos
Astr6logo eminente, autorizou os caldeus a se reinst
370
. utilidade para 0 Estado.
o imperador estudava geometria, pintava e cantava.
trariamente a Nero e Heliogabalo, s6 cantava em
diante de seus escravos. Os historiadores romanos
3.0 imperador venerado numerosos talentos e facul
foram provavelmente obra de sua imagina9ao, talv
se sentissem felizes por ter aquele sabio sobrevivid
gabalo, porem mais simplesmente sem duvida para
admira9ao e a estima que sentiam pelo imperador.
Sirio de nascimento, queria sem cessar mascarar e fa
cer sua origem estrangeira. Seu comportamento
"oriental" que 0 de Heliogabalo. Desejoso de ser, a t
considerado como urn romano, encolerizava-se quand
tantes de Anti6quia e de Alexandria 0 chamavam, ·m
brincadeira, 0 "sacerdote sirio".
Todos os dias, 0 imperador, ao romper do dia, di
templo. Se Lampridio disse a verdade, Alexandre Se
rava nao s6 os deuses romanos e os imperadores d
mas tambem a Apolonio de Tiana.
Esse grande taurnaturgo, admiravel pregador, que via
viveu no 1.° seculo depois de J. C. . f: apresentado p
ora como urn feiticeiro, ora como urn ser divino. Jul
admiradora de ApolOnio, encarregou Filostrato, 0 re
de escrever uma biografia de Apolonio que, embora
romanceada, parece em parte uma especie de imita9a
Testamento.
Pretende-se que Alexandre Severo teve a inten9ao d
urn templo para nele venerar 0 Cristo. Emprestou-se
desejo a Adriano, que construira varicis templos se
Os conselheiros de Alexandre advertiram-no contra t
Na opiniao deles, era perigoso construir urn temp
Deus dos cristaos porque, dessa maneira, todos o
corriam 0 risco de se tornar cristaos. ·
o imperador concedeu aos judeus a liberdade de e
culto. Foi proibido perseguir os cristaos. Julia Mameia
ou a pesca, ou passeava simplesmente ape. Depois
com os neg6cios de Estado e ninguem nessa ocupa
preendeu nervoso, desagradavel ou irritado. Em s
obras consagradas a vida de Alexandre, 0 Grande
Platao, cuja "REPUBLICA" era sua leitura pred
como Cicero e Horacio. Praticava os esportes, de
a nata-rao, e fazia ungir seu corpo com essencias ra
Depois do banho, uma rapida refeic;ao, composta d
pao e de ovos, permitia-Ihe muitas vezes abster-se d
A tarde, ocupava-se primeiro com a correspondenci
secret:hios, depois recebia seus amigos e outros s
Ulpiano, 0 jurisconsulto, assistia aos col6quios impor
S6brio, 0 imperador bebia muita agua fresca ; e no
tava seu vinho com suco de rosas. 0 gosto bastante p
que tinha Alexandre pela essencia de rosa foi, na v
unico trac;o comum com seu primo Heliogabalo.
Desde 0 comec;o de seu reinado, os individuos duv
quais Heliogabalo confiara altas func;6es, foram de
seus cargos.
Os danc;arinos, os homossexuais prostituidos, os
grossciros e incultos foram eliminados do Senado,
e do pessoal do palacio. 0 im])erador despediu o
que ofereceu como escravos a damas da burguesia
amigos. .
Na sua opiniao, nem os homens nem as mulheres
devium tolerar aquele "terceiro sexo". Se Heliog
passou de urn escravo dos eunucos, ordenou Alexan
- Se esses ociosos nao querem trabalhar, tern 0
dircito de suprimi-Ios scm julgamento previo.
Os an6es, os loucos, os cantores de VOZ(;S de soprano
e os momos foram declarados propriedades do
Estado tomou tamb6m a seu cargo as mulhere
costumes.
Quanto aos juizes facilmente corruptiveis, acabou
traficancia no emprego.
372
- Deuses do ceu! esse Arabiano ainda esta vivo?! E
os pes aqui, no Senado?!
Nao gostava 0 imperador de favorecer os homens a
prebendas, mas, pelo contrario, apelava, na provisa
cargos, para os homens competentes e capazes,
altivos para solicitar um favoritismo qualquer. Os m
tecnicos e os sabios receberam cargos bem remuner
o Estado concedeu emprestimos, sem juros, aos 6rfa
de famHias pobres. Sem acbrdo previo do Senado
podia ser eleito senador e, como nos tempos antig
sentimento do Senado era necessario para a nome
cOnsul.
Quando Mameia exortou seu filho a severidade m
respondeu Alexandre que sua maneira de governa
tanto a seguranc;:a social quanta a estabilidade polit
Trabalhador consciencioso, 0 jovem imperador, dur
inteiras, examinava as listas dos oficiais e dos home
exercitos para b em conhecer e medir suas aptidoes,
e seu soldo; anotava os nomes dos que mereciam p
elaborava projetos precis os e detalhados, referentes
sitos de armas e aos abastecimentos, para poupar a
cargas muito pesadas no decurso das campanhas.
Dotava as expedic;:oes militares em terra estrangeir
mem largamente suficiente de animais vigorosos d
de tra<;ao. Alexandre Severo visitava os doentes e
e por ocasiao de marchas forc;:adas, fazia transportar
em carros. Confiavam-se os combatentes atingidos
mentos graves e deixados nas cidades atravessadas, ao
vigilantes dos habitantes considerados como seguro
mentados.
Quando projetava uma expedic;:ao, 0 imperador p
minuciosamente de antemao. Prevenia seus legionar
e da hora da partida, como das distancias que se
percorrer. Em contraposic;:ao, nao revelava nunca ne
tivo, nem 0 planQ da batalha, cuidoso de deixar 0
dos. Seus puros-sangues eram velozes, seus ames
perfeitamente equilibrados e concebidos. No conju
gioes exibiam bela aspecto. Representavam orgulho
poder e a g16ria de Roma.
Ora, na realidade, 0 exercito romano, composto d
originarios de tantos paises diferentes, nao era, naqu
urn corpo homogeneo, capaz de resistir a todos o
Por outro lado, os predecessores de Alexandre hav
gada demais, corrompido mesmo os soldados, que se
diante do esfor~o, indolentes e caprichosos. Inten~a
em si, teve Alexandre a ideia de estabelecer corpos
perto de suas guamiC;;oes como camponeses fronte
terras, alias, que lhes foram dadas. No plano militar
medida conseqiieneias desastrosas, porque a ativid
taria, 0 amor ao solo enfraqueciam a ranidez, a nr
revide e 0 gosto pela profissao de soldados verdade
De todas as partes do mundo, trouxe Alexandre aR
as especies de comerciantes, aos quais concedeu fac
negociar e serias vanta gens fin anceiras. Fixou em tax
os impostos dos artifices, dos alfaiates, dos teceloe
dos vidraceiros, dos ferreiros e dos ourives. Criou a
de oHeio dos comereiantes de frutas e legumes, do
vinfcola e dos couros. Urn dia, 0 povo reclamou um
pre~os e 0 imperador quis saber quais eram afinal
dorias demasiado caras. Os romanos responderam:
- A came de boi e a came de porco!
Alexandre Severo, em lugar de baixar os pre<;os,
urn decreto proibindo 0 abate. Dois anos mais tard
revogou 0 decreto, houve tal abundElllcia de came
ser vendida a pre<;os bast ante moderados.
o imperador preferia as simples togas de Hnho as r
de purpura ou adamascados de ouro.
- Os fios de DurO endure cern os panos e seu conta
pele e desagradavel - afirmava de.
374
que na Italia, tinham-se os romanos acostumado a
exemplo dos celtas, dos dacios e dos gennanos. No
depois de J. c., 0 imperador tambem adotara
ca1c:;:as.
Concebeu Alexandre Severo 0 projeto de fazer os fu
da corte usarem uniformes de acordo com sua pos
se tratava de roupas militares, mas queria 0 imper
nhecer ao primeiro olhar a quem se dirigia. Dese
os escravos duma maneira particular, a fim de q
tornasse facil para eles misturarem-se com os hom
Ora, parece que os jurisconsultos Ulpiano e Paulo a
os projetos de Alexandre. Objetaram-lhe, e com razl
medida suscitaria profundo descontentamento. Por o
os escravos, naqucla epoca, eram menos numerosos
passado, porque, em virtude de raz6cs puramente hu
tendia-se a fazer deles homens livres.
"Segundo as leis da natureza, ensinou Ulpiano, todos
sao iguais."
o imperador exigiu que os banhos dos hom ens e da
fossem estritamente separados. Esta medida, outrora
fbra abolida no reinado de Heliogabalo. Para evi
oitocentas tennas publicas de Roma viesse a carec
sidios para sua manutenc:;:ao, abandonou-Ihes Alexan
froto das florestas do Estado. Abastecia as tennas
de iluminac:;:ao. Sabe-se que era possive! tomar banho
No ana de 222 depois de J. C., mandou Alexandre co
Roma 0 derradeiro aqueduto antigo. As medalhas
226 depois de J. c., algumas das quais trazem a im
termas, testemunham a que ponto era 0 banho cois
e capital para os romanos.
Lcvava-se em Roma uma existencia agradavel. O
amavam seu imperador, mas, seja que nlio os ten
de DurO como seus predecessores, seja talvez tamb
era equilibrado, jus to e razOllvel, esse senhor, nobre
ALEXANDRE SEVERO
378
o. 200
,
400
,
600 km
Em 550 ante8 de J . C., Ciro, ortgtnano do, Per8ia, provincia do Ira, derrubou 0 grande
meda, conqui8tou Ecbatana, capital do Ira, . e fundou 0 imperio d08 aquemenida8. Em P
IN
contram-se as ruina8 grandi08a8 do palacio e dos tumul08 d08 aquemenidas. Essa dinast
'I /191 ante8 de J . C., quando Alexandre, 0 Grande, conqui8tou 0 imperio persa. Seguiu-se 0 r
\0 nhentos an08 dos ars{widas, dinastia parta, is to e, nao persa. No ana de 226 depois de J.
reconquistado por um homem originar'io de Parsa. Arda8chir fundou a diana8tia d08 sas
residencia foi Istakhar. A nova capital foi Ctesifonte onde residiram os poder080s rei8 Arda
de J. C., foi 0 Ira . conquistado pela pequena pr
Parsa. Ciro e Ardaschir tinham nascido no coraerao
antiga provincia de Parsa, hoje Fars, que constitu
mais autentica e mais caracteristica do' Ira; Em Pa
dos grandes conquistadores Ciro, Dario e Xerxes
epoca de Ardaschir, tinham desaparecido havia mai
centos anos, a tradierao conservava-se viva. Lembra
grande epopeia dos Aquemenidas e de suas tenta
conquistar a Grecia e, com ela, a Europa. Ali, u
sonhou com urn imperio tal que 0 mundo jamais vir
Como muitos conquistadores, era Ardaschir de orige
e como em tantos outros casos semelhantes, provO
tarde, com apoio de textos, de maneira precis a, qu
viera duma familia nobre! Ora, a referencia que te
categ6rica e mais importante, e-nos fornecida pelo
{uabe Mohamed Tabary que, em 923, redigiu uma
UNIVERSAL, explicando 0 que se passara no ano de
•>\rdaschir era filho de Sassan, simples sold ado, e
dum tintureiro, chamado Babec. Alguns pretendem
san era urn alto dignitario de Istakhar, capital da
de Parsa. Pouco importa. Sassan, simples soldado (ou
foi, pois, 0 fundador da dinastia dos Sassanidas. Nat
os poetas e cronistas persa!; exaltaram, embelezaram
caram as origens de Ardaschir. Provaram de mane
tavel que proviera ele duma familia principesca, de
em linha direta dos grandes reis Ciro, Dario e Xerxes
suas afirmativas, 0 destine e 0 tempo, no decurso d
haviam rebaixado a dinastia real para fazer desses h
ples mortais. .
Fortalecido pelas suas origens nobres, estava Ardasch
de ser e de encarnar 0 herdeiro legitimo da antiga m
Revoltou-se contra Sapor, seu irmao mais velho, e
titulo de rei de Par sa. Queria libertar seu povo d
dos partas e recolocar no trono do Ira a velha din
que, outrora, fbra arruinada por Alexandre, 0 Gra
380
sores, 0 Rei dos Reis.
Como outrora, apos a vitoria de Ciro sobre os meda
de Parsa, verdadeiro centro e corar;ao do Ira; reto
o reinado de Ardaschir, seu poder e sua irradiar;a
pais. A velha religiao de Zoroastro conheceu entao u
de renovar;ao. Se, des de longos seculos, veneravam o
Ormuzd (Ahuramazda), 0 deus supremo, Ahriman,
do Mal, e 0 profeta Zoroastro, numerosos altares
derrocado, as lampadas estavam extintas e os magos
dotes tinham perdido todo 0 poder.
Ardaschir instalou 0 mazdeismo como religiao do
conferiu de novo aos magos a dignidade do sacerd
dou colecionar e traduzir uma vez mais os livros s
Zend-Avesta; todas as outras religi6es foram proibid
lidos os templos, desapareceram os deuses estrangei
guinim-se os jude us e os cristaos. Ate mesmo os
origem persa foram alvo das medidas de repressao.
A administrar;ao do imperio conheceu uma reorga
uma coordenar;ao rigorosas. Se alguns raros feudais
o direito de exercer as funr;6es de governador,
regulos viram-se destronados. Ardaschir declara
vezes:
- Nao h8. potc~ncia sem exercito, nem exercito sem
nem dinheiro sem agricultura, nem agricultura sem j
Nao ignorou 0 rei que 0 trono e 0 altar sao duas f
paraveis; soube tambem que urn soberano sem religia
ipso facto, um tirano. Fortalecido com esta sum a de
nao somente construiu um novo imperio, mas fu
poh~ncia mundial.
No plano historico, 0 nascimento do novo imperio p
tituiu 0 acontecimento mais importante do 3.° sec
de J. C. Roma cessara de encarnar a unica potenci
Com 0 Imperio dos Sassanidas, encontrara Roma u
seu porte. Ora, no plano espiritual e moral, foi 0 imp
triturado entre duas forr;as contraditorias. A oeste
zaram em todos os pIanos com 0 imperio romano.
A irradia9ao espiritual do imperio sassanida flores
nossa Idade Media ocidental. Dos Sassanidas, herdam
laria e a nobreza, os torneios, os combates singulare
e com lan9a, os costumes e modos corteses, a feuda
religiao do Estado. A era dos Sassanidas irradiou-se p
ate a vit6ria dos arabes, isto e, a do IsHio, no an
quando 0 Ira passou a integrar-se no Califado.
Quanto a Ardaschir, era inevitavel que, avido de p
gl6ria, se embatesse contra a vontade e a resistencia
Quando se declarava 0 herdeiro do antigo imperio pe
automaticamente de Roma a restitui9aO das provinci
que deviam voltar a .pertencer-lhe. Invadiu entao
tamia e a Siria, colocadas sob domfnio romano, e os
de Ardaschir penetraram ate a Asia Menor. Roma jam
semelhante provoca9ao durante a longa ascensao de
e de sua irradia9ao.
Alexandre Severo enviou a Ardaschir uma carta
exortava a nao atacar os pafses estrangeiros, nem
a ferro e sangue. "~ bastante perigo so lan9ar uma
escrevia 0 jovem e pacffico imperador, - porque u
com Roma em nada se assemelha a esses embates
essas guerrilh~s com hordas barbaras". Teve Alexan
dado de lembrar ao rei persa as inesquedveis
Augusto, de Trajano e de Setimo Severo.
Ardaschir mandou a Anti6quia, na Sfria, uma embaix
regada de levar sua resposta a Alexandre. Um dia, qu
persas, esplendidos sold ados de elevada estatura,
. de ouro, apresentaram-se diante do imperador, a q
garam a mensa gem do Rei dos Reis. Ardaschir exigi
o abandono da Siria e de suas possessoes asiaticas
enfim, sob 0 dominio persa, seu antigo e poderoso im
num passado distante, atacara a Grecia, voltasse a
foi, intacto e temfvel.
382
projetos de seu adversario. No decorrer dos anos de
em companhia de sua mae, residiu em Anti6quia, o
ainda uma vez resolver 0 conflito por via diplomatica
latente, de que Roma estava amea~ada no interio
tou-se entao ainda uma vez. Quanto aos soldados
urn invemo agradavel. Visitaram os banhos reservad
lheres, beberam a vontade e divertiram-se do me
Nao ocultavam a opiniao que tinham de seu "govem
o de Mameia, todo-poderosa a sombra de seu filho!
Alexandre mandou por a ferros os rebeldes mais exc
a insurrei~ao tomava corpo. No tribunal, diante dos
acusados e dos que ainda estavam livres, pronuncio
imperador urn de seus aborrecidos discursos que,
uma maravilhosa diaIetica, nao acabava mais.
- Se a disciplina se relaxa, perderemos nao som
prestigioe nosso renome, mas tam bern 0 Imperio. O
romanos, vossos camaradas, meus legionarios, levam
de devassidao. Embriagam-se, ron dam os banhos
tam-se como gregos!
Os soldados resmungaram, depois puseram-se a dar
- Tendes 0 direito de gritar durante as batalhas
imperador, - mas nao diante de vosso chefe. Provai
combatendo os germanos e os persas, e nao m
comigo. Se desprezais a lei, nao sois dignos de ser
cidadaos romanos!
Aqui e ali, no vasto imperio, houve desordens e rev
se as perturba~6es foram rapidamente reprimidas, 0
estado de espfrito que reinava no exercito constitufa
e permanente perigo, diante dos conflitos de grand
dura de que Roma estava amea9ada.
No ana de 232, tres corpos do exercito avan9avam pa
potamia. 0 primeiro atravessou a Armenia, 0 segund
potamia do Norte e 0 terceiro, sob 0 alto comando de
marchou ao encontro do exercito persa ao suI do E
o primeiro corpo do exercito registrou a princfpio al
e penetrou ate a Media, sofreu ao vol tar enonn
devidas ao frio rigoroso e ao mau estado das e
montanha.
Chegada ate as planicies pantanosas de Babilonia
que atravessou 0 norte da Mesopotamia foi assaltad
tada pelo exercito persa e seus temiveis couraceiro
os romanos grande ou.mero de mortos. Quanto a
sempre irresoluto, manobrou suas tropas com tant
que suas legioes foram dizimadas pela doencsa e pe
mento.
No plano estrategico, estavam as operac;oes de antem
a fracasso. Dividir em pedac;os 0 exercito era prova
dade e imprevidencia. As tres fonnacsoes, demasiado
umas das outras, ficaram na impossibilidade de se s
o resultado do grande choque entre Roma e a Pe
antecipadamente previsto. A Persia arrebatou a vito
via, nao cooseguiu Ardaschir conservar a Mesopotam
os persas sofrido perdas demasiado pesadas, fez 0
(provisoriamente) as hostilidades. Puderam os roman
posse das solidas fortificacsoes estabelecidas nas
que tiveram de abandonar. Nenhum tratado d
assinado.
Alexandre que, em Roma, se vangloriava de ter obt
dosa vitoria, na realidade fora 0 grande vencido. S
em homens era elevadas.
Mas, 0 Imperio nao 0 ignorava, outro perigo, bern m
ainda, ameacsava Roma. Era a invasao do Nor
germanos!
uma Europa unida teria naBcido, des de longo8 s6cu
prtiticamente, toda a Europa continental all exprimi1
meio das linguas romanicaB.
o AUTOR.
386
GRAV. 127 - 0 Arco de Triunfo de Constantino, de marmore branco, foi
romano, em 312, depois de J. C. Devia comemorar sua memoria com sua
na Ponte Mulvio. 0 monumento foi acabado a tempo para 0 jubileu d
reinado de Constantino, em 315 depois de J . C. Nas inscri~6es, Constan
o "fundador da paz".
GRAV. 128 - A Basilica de Constantino era uma majestosa constru~ao em
o Forum de Roma. Obra d~ arquiteto desconhec1do, virla 0 edlficio a
a arquitetura de toda a Europa.
Arminio (perto de Detmold). Os queruscos e seus al
giram as legi6es do imperador Augusto, atacando-
pres a, uma derrota decisiva num sub-bosque pantan
nas montanhas.
Por outra parte, 0 nome germfmico de Arminio nao
mann, sob 0 qual entrou na hist6ria da Alemanha
Seimer, principe querusco, alistou-se com seu irm
no exercito romano e foi chamado amicus populi rorn
do povo romano). D e volta a seu pais, 0 jovem pr
posou Tusnelda, filha de Segesto, que se opunh
mento.
Cerca de oitenta anos depois da vit6ria de Arm
dum dos povos germanicQs, sobre as legi6es roman
ou 89 depois de J. C.), 0 imperador Domiciano c
constru<;;ao do Limes. Aut6crata, como 0 foi 0 ch
Shi-huang-ti, que criou os terraplenos das fortifica<
minadas mais tarde a Grande Muralhada China, foi
urn despota. Por principio, nao tolerava resistencia
a sua vontade. Mas foi urn grande organizador e ur
trad~r emerito. Vencedor dos chates, povos do nor
vincia de Hesse que, na epoca, foram os mais temive
de Roma, percebeu perfeitamente os mUltiplos pe
delicados problemas que a froBteira do Norte apr
Roma.
Domiciano come<;;ou a constru<;;ao do Limes, Adrian
refor<;;ou as defesas, consolidou-as pela adjun<;;ao dum
de baluartes e de fossos. No reinado de Antonino P
foi tra<;;ado mais para diante, para leste e refor<;;ado
fica<;;6es seguiram entao urna linha reta, mau grado
do terreno. Nurna extensao de 550 quilOmetros, do R
de HOnningen) ate 0 Danubio (perto de Ratisbona),
a barreira romana. Partin do a Europa em duas par
verdade a causa profunda de incessantes conflitos.
outra fortifica<;;ao de fronteira, erguida pelos romano
vlncias limitrofes, na Gra-Bretanha, na Africa, na
388
e da Retia, os germanos do oeste e seus irmao
puseram-se em movimento. Foi entao que apare
alemaes.
Este nome e composto das palavras ane (todos)
(homens). Foi, pois, uma reuniao, uma associa9ao d
Varias tribos tinham-se reunido em torno dos semno
imigrado que se fixara naquela regiao), e essa mistur
se chamou, pela primeira vez, os alemaes.
Concluiram uma alian9a com os chates, povo sede
habitava 0 norte do Mein e que, no passado, dera 0
a Domiciano. No ano de 213 depois de J. c., os ale
chates transpuseram as fronteiras do imperio roma
Na Retia e na N6rica, procedia Roma a recoostru9
tradas. No ana de 213, Caracala venceu os alemae
Miltenberg, sobre 0 Reno. Para substituir as pali9ad
cidas pelas chuvas, eleva ram os romanos sobre 0 Li
ao norte do Danubio, muros de pedra, da altura
tres metros e de urn metro de espessura. 0 muro
fortifica9ao imponente, tinha mais de 166 quilome
diante da Germania, constituia 0 Limes urn baluart
com urn fosso de angulos salientes. Diante do fosso,
menos profundo, estava cavado con tendo fincadas
que constituiam a pali9ada. Essas estacas, dum d
trinta centlmetros, tinham tres a quatro metros de
obra fortificada tinha cerca de vinte metros de larg
Foi possivel reencontrar os vestigios do Limes. D
montanha de Sayn, pode-se admirar por quarenta
reconstitui9ao das pali9adas. Deram elas bastantes d
aos sabios que procuraram os tra90s do Limes. Ess
dores pacientes nao mediam a utilidade do estreito
nao podia constituir, pensavam eles, urn obstacu
assaltante. No leito desse fosso, encontraram-se ped
de madeira, pregos e destr090s de ard6sias.
Urn dia, descobriram-se, nos pantanos de Odenwald
admiravehnente conservadas. E a utilidade, a razao
o Limes nao era somente urn baluarte protegido po
e paligadas, tinha tambem torres de madeira dom
horizonte nos lugares ' estrategicos, onde a vista nao
obstaculos. Podem-se contar mais de mil torres de v
de uma para outra, as sentinelas podiam interpelar-s
De dia, os sinais se faziam do alto das torres com fur
volutas escapavam para 0 ceu por meio de abert
nos tetos. De noite, as serrtinelas comunicavam-se p
sinais luminosos. Para indicar a aproximagao das trop
mantinham-se tochas acesas e imoveis. Para assinal
ximagao do inimigo, agitavam-nas. Era a "telegrafia"
se praticava no decorrer dos primeiros seculos depo
Para dar a conhecer as sentinelas a aproximagao
recorria-se tambem aos toques de trompa.
Perto do Limes, a distancia regular, casamatas de
de forma retangular, abrigavam os guardas campe
o interior, elevavam-se fortalezas tais como Heddes
dorf e Niederberg. E ate nas zonas de seguran9a, a
das eram protegidas pela celebre cidadela de Maien
central de legionarios.
A obra fortificada compreendia tambem torres de pe
duzidas com exatidao na coluna de Trajano e na
Aurelio. Na montanha de Sayn, pode-se admirar a
crao duma torre de pedra do Limes. Dessa montan
duma vista esplendida sobre 0 vale de Brexbach,
nacho
Em 232, depois de J. C., fizeram os alemaes nov
no imperio romano. Ultrapassaram 0 Limes, nao s
teira renana, mas tambem na parte setentrional da
autoctones das provfncias invadidas esconderam
ocultos em anforas, seu dinheiro e suas jOias. Com
foi mais possivel recuperar seus bens, encontram-se
nossos dias semelhantes tesouros.
Roma alistou, de todas as partes do mundo, ate
Espanha, legi6es encarregadas de defender as provin
390
tagem nos primeiros reencontros com os alemaes.
Depois, veio a catastrofe. Ainda bern nao se havia
as opera~6es decisivas quando, de todas as partes, g
leva~6es irrompem no exercito romano. Rapidament
rador dissolve varios corpos de tropas.
Sua mae, a seiI lado, tivera a ideia, verdadeirame
fUrdia, de diminuir os soldos. Por avareza? Menosp
o perigo? Seja como for, nao procurou 0 jovem
senao esquivar-se ao combate. A conselho de Mam
em tratativas com 0 inimigo. Mas os soIdados, ata
tratava-se provavelmente das legi6es panonianas -
preenderam rna is porque se batiam! Se 0 imperad
em conciliabulos com 0 inimigo, oferecia, de certo, d
adversario! Ora, os legionarios preferiam beneficiar-s
mos com esses tesouros, isto e, desejavam ir ao comb
A crise estava iminente. Nao havia uma pitonisa dru
a Alexandre quando ele partiu para a guerra:
- Vail Mas nlio esperes conquistar a vit6ria; e de
tuas tropas!
Mas 0 imperador nlio levara a serio essas palavras
Como de costume, naquela mesma noite, jantou so
aberta. Perto das 7 horas, deitou-se para descansar
A tenda estava erguida na proximidade da aIdeia
nheim, perto de Maien~a. Era uma fresca noite de
ano de 235 depois de J. C.
- Que ha? - exclamou Alexandre, despertado br
de seu sono. - Trazes-me uma mensagem?
Urn homem, palido, tremente, mantinha-se de pe,
imperador. 0 legionario, que se enganara, penetr
saber, na tenda do imperador. Medindo 0 seu erro,
uma louca id6ia apoderou-se de seu espirito. Que a
se 0 imperador se conservasse vivo? Que punic;lio, . d
sofrer no dia seguinte? Precipitou-se para fora, ch
camaradas para ajuda-Io a suprimir Alexandre. Os ho
ALEXANDRE SEVERO
394
GRAV. 129 - Constantino, 0 Grande, primeiro imperador cristao. 0
meira vez na Hist6ria, reunlu 0 cristianismo a coroa e abriu uma
moderna conseguiu esclarecer e expl1car a existencia des
Por ocasHio das primeiras escaramu9as, os roman
mercenarios estrangeiros aferraram-se selvagement
alemaes que, pouco tempo antes, haviam transposto
Maximino batera-se nas primeiras linhas. Imperad
que seu dever era aquele.
A vit6ria alcan9ada por Maximino contra 0 inimigo
provisoriamente os perigos da invasao germanica. 0
tomou 0 titulo de Gennanicus Maximus. As ruinas
ca90es que datam daquelaepoca provam que a paz
leceu as margens do Reno e no alto Danubio.
Maximino nomeou seu filho, rapazola de seduto
Cesar, isto e, cO-imperador. Nos quarteis de invern
miurn, a margem do Save, perto de Belgrado, cel
as festas da vit6ria.
No decurso dos anos de 236 e 237, mediu-se 0 imper
riosamente, com os dacios e os sarmatas. Na primav
de 238, voltou a Sirmium, onde se aquartelou e
embaixadores vindos de Roma e das provincias. O
atraia aRoma. Sentia-se a vontade e feliz, na gran
do Save, entre os guerreiros e os cavalos. Concebeu
o projeto de submeter todos os povos germanicos
do Norte.
Perseguiu sem descanso os partidarios da dinasti
extinta. Exerceu sua vingan9a com extrema crueldad
crucificar homens, partindo-Ihes 0 cranio e lan9a
pasto para os animais selvagens. Talvez tenha .acre
urn homem de origem tao h,umilde quanto a sua, tin
9ao de empregar semelhante vioIencia, a Hrn de fa
peitar e temer e para conservar 0 poder,
Foi por ' is so que Jacob Burckardt escreveu:
"Seu reinado foi, no principio, mais monstruoso do
nao importa qual outro imperador tornado ao acaso
Recalcando, talvez sem razao, ,0 sentimento de su
dade, odiava os senadores e todas as familias n
exce9ao. Cecilia Paulina, sua esposa, esfor90u-se po
396
Santo Hipolitoe 0 exegeta Origenes, que haviam
rela<;oes cordiais com Mameia, foram perseguidos pe
do imperador. Exilados para a Sardenha, Sao Poncia
Hipolito. Na Capadocia e no Ponto, Sereniano, gove
provincias, perseguiu os cristaos. Todavia, nao pode
mino contado entre os autenticos perseguidores del
em virtude de razoes de poHtica interna, tolerou a m
do sacerdocio das comunidades cristas. As sevicias n
cia e no Ponto nao devem ser imputadas totalmente a
Naquelas provincias, haviam tornado os cristaos re
por urn tremor de terral
o imperador tinha sem cessar necessidade de d
imperio era vasto, 0 inimigo nao se desarmava
custava extremamente caro. Aumentaram-se os imp
pagamento obtinha-se a custa dos meios de coer<;ao
ros~s. Sob a amea<;a incessante de ver seus bens c
as famHias abastadas nao tiveram mais repouso n
o imperador lan<;ara as vistas sobre as oferendas d
Os objetos do culto de DurO e de prata, os idolos,
e os vasos consagrados foram fundidos e converti
moeda. Provocavam tais medidas a indigna<;ao e a c
e nao e de admirar que jovens patricios romanos te
tido, em Trisdro, na Africa (a 175 quilometros ao s
tago, perto de EI Djem), 0 procurador imperial e
de cobrar os impostos e confiscar-lhes as propr
campo.
Nomearam imperador um homem idoso e de muit
proconsul Gordiano. Contra a vontade deste, param
com a purpura imperial. 0 velho recusou, protestou
em altos brados a seus deuses, rolando pelo chao,
a seus "benfeitores" que 0 deixassem em paz. O
amea<;aram-no com a espada. De born grade ou a
preciso que fosse imperador. Passavam-se estes acon
no ana de 238. Gordiano estava com oitenta anos.
o Senado romano confirmou a eleic:;:ao dos dois
Maximino foi expulso do trono e, na capital, 0 povo e
festejou a "queda do tirano". Numerosos partidarios
rador da Tracia foram massacrados.
Na Africa, contava Maximino entre seus fieis um tal
governador da Numidia. Capeliano sublevou sua p
conseguiu persuadir os insurretos a entrarem em l
Gordiano. 0 velho enviou seu filho aos locais para r
a ordem. Mas, no decorrer duma batalha encarnic:;:ad
Gordiano foi ' morto. Gordiano, 0 pai, suicidou-se.
Quando a sinistra noticia da morte dos dois Gordian
aRoma, 0 Senado, que ficou apavorado, aguardand
de Maximino, elegeu entre seus membros dois im
Maximo Pupieno e Balbino.
Gozando de direitos e de poderes iguais, os dois Ce
a ajuda duma comissao formada de vinte sen ador
organizar a defesa da peninsula contra as ataques de
o temido .ex-imperador. 0 povo e as soldados pr
alem disso imperador romano Gordiano, 0 neto de
Sob 0 rein a do de tres imperadores reunidos, pens
estar em condi<;6es de lutar contra 0 quarto, de
aguardava sua hora na fronteira germanica!
Maximino comportou-se entao como um urso. I
compreender a que the acontecia, esgotava suas
acessos de furor. Precipitava-se contra uma parede
chao, batia em seus servidores e queria arrancar o
seu filho! Acabou afogando seu pesar e sua c6lera
Recuperando 0 dominio de si mesmo, reuniu seu e
qual havia arrolado transfugas germanicos, e com su
transpas os Alpes. Quando a vanguard a germanic
em vista de Emona, a atual Laibach, encontrou a ci
donada e deserta. Famintos, nao puderam os soldados
a menor subsistencial Pouco tempo antes de sua
398
fame. Em Aquileia, Maximino deu de encontro a
ten cia armada. Mas todas as suas tentativas para
assalto a fortaleza fracassaram.
Os habitantes de Aquileia, que nao ignoravam a s
vada a sua cidade se caisse ela em maos de Maxim
deram-se com a coragem do desespero. Por fim,
legiao parta de Maximino interveio. Nao para invest
mas, famintos, esgotados e sem esperan<;a, os legiona
sinaram muito naturalmente seu chefe e seu filho, c
era celebre.
Urn mes ap6s a morte do poderoso Maximino, os
massacraram os dois imperadores eleitos pelo Senad
e Balbino, incapazes de entender-se e de realizar
entre si. E urn menino de treze anos foi nomeado
de Roma.
Os sold ados, 0 povo e 0 Senado saudaram altisso
escolha de Gordiano III, neto do digno anciao que
nao poupara. Na realidade, 0 menino Cesar repr
vit6ria da soldadesca que, uma vez mais, arrogara-s
de escoTher urn senhor. Com a nomea~ao de Pup
Balbino, 0 Senado participara, pela ultima vez, da el
imperador.
Doravante, a digna assembleia cessara de ser tida
Durante oitocentos anos, participara ativamente do
da hist6ria romana. A partir daquele qia, tendo abd
poder real e legal, 0 Senado foi apenas uma insti
valor e sem prestigio!
o historiador alemao Ernst Kornemann sublinhou,
dade, esta hora decisiva da hist6ria de Roma:
"Com 0 Senado, as bases aristocraticas do Estad
desapareceram. Com urn governo puramente militar
vidade economica, toda cultura intelectual de va
nivel elevado nao eram mais imaginaveis! Era co
furacao houvesse soprado sobre 0 pais, como se u
MAXIMINO, MAXIMO PUPIENO E BALB
402
cura, etema e sem fim, de urn Deus invisfvel.
Plotino foi, na verda de, uma especie de santo. Se
ao exercito em marcha para 0 leste, nao 0 fez para
como urn sold ado, mas para olhar e aprender, na
de sabio, curioso de adquirir sabedoria e conhecim
sejoso de visitar as tndias, queria, antes de tudo, p
filosofias dos persas, dos hindus e dos sabios do
Oriente. Confiou 'sua sorte ao imperador e a Mi
tinham admiravelmente organizado a expedi9ao.
Misiteu, sem se fazer reconhecer, aproximava-se das
e falava-lhes com benevolencia. Inspecionava as t
legionarios, velava pelo bem-estar dos soldados;
sabre todos os mfnimos detalhes da vida dos homens
liza9ao vigilante. Sob 0 comando em chefe de Misi
o exercito organizado com uma perfei9ao e uma
como nunca se conhecera.
"E pOl'que amou a esse ponto 0 imperador e 0 Esta
todos venera do", relata 0 cronista.
Partir para leste! Tal era 0 sonho desse homem e
Nas pegadas de Alexandre, 0 Grande, Misiteu que
ate 0 Indo e, quem sabe? atingir a China. Mas f
por uma gripe infecciosa que 0 levou em poucos d
duma doen9a do estomago, como 0 pretenderam
foi vftirna dum envenenamento, como 0 afirmara
Morreu ap6s a absor9ao dum purgante que medico
dos por urn arabe the administraram. Com a idade d
e cinco anos, JUlio Filipe, 0 Arabe, filho dum xeque
sfrio), originario da Traconftida, aspera regiao rocho
alem das fronteiras orientais da Palestina, cooseg
rar-se, sem combate, do comando abandonado pelo
chefe do exercito.
Por meio de baixas manobras, dum sabio solapa
abastecimentos, 106rou sublevar os soldados contr
Gordiano. Nao era de porte 0 imperador para lutar co
homem de baixa extra9ao, grosseiro, brutal, arroga
leste do Jordao."
Depois de ter tentado em vao opor-se a Filipe, Gor
pactuar com ele. Teve de tolerar-Ihe a presen9a a
ate 0 dia em que 0 infeliz veio a ser assassinado.
Conhece-se 0 lugar em que foi abatido Gordiano
Circesio e Dura-Europos, perto da confluencia do
e do Eufrates, erigiram os romanos a memoria do a
urn monumento que ainda existe. Filipe fez transpor
os despojos de Gordiano (morto aos deze~sete anos) e
tempo mandou anunciar que 0 imperador sucumb
grave molestia.
Quanto a Plotino, logrou, ao fim da campanha, ati
quia, donde alcanc;ou Roma.
Apos urn africano e urn sirio, coube 0 reino de R
arabe. Filipe, 0 Arabe cedeu a principio algumas
depois coocluiu a paz com os persas e confiou a vig
fronteiras de leste· a seu innao Prisco.
Precipitavam-se os acontecimentos e teve de seguir c
cia para a fronteira do norte do imperio romano. N
do outono de 246, na Dacia, lutou com exito contra
Grac;as a esta vit6ria, a provincia da Dacia permanec
Filipe, 0 Arabe, tomou 0 nome de Carpicus Maxim
de Damasco, fundou a cidade de Filipopolis e conf
direitos de que gozavam as colonias.
Existem ainda imponentes vestigios dos esplendido
que Filipe, 0 Arabe construira de acordo com os m
palacios, teatros, templos e termas de Roma. A
Filip6polis, na Tracia, fundada por Filipe da
pai de Alexandre, 0 Grande, foi igualmente declara
romana.
Enquanto 0 vasto Imperio Romano, minado no inter
c;ado no exterior, comec;uva a desagregar-se, enq
fronteiras proclamavam os soldados sem cessar nov
. dores, Filipe, 0 Arabe, no ano de 248 depois de J. C
o milenario da funda9ao de Roma. Haviam dec
404
Sob 0 reinado de F ilipe, 0 Ara be ( 244 a 249), ameayaram os godo s a Dacia e ass
nopolis, capital da M esia. K niva 0 ?·ei godo, inflingiu a Decio severa derrota. O
taram Filipolis. Em 251, Decio, vencido pelos godos, foi assassinado. T adas as ci
no mapa acima foram investidas, conquistadas, pilhadas e destl·uidas pelos godo
solene. Nenhum estrangeiro teve permissiio de a el
os escravos tambem receberam ordem de ocultar-
compostos de vinte e sete rapazes e de vinte e sete
aristocracia imploraram a benr;iio dos deuses. Dur
noites os sacriHcios oferecidos nas margens do Tib
jogos esplendidos no Circo Maximo, danr;as e musica
de Marte, ilurninado pOl' tochas e lampioes.
o historiador romano JUlio Capitulino deL'{Qu-noS u
9iio dos festejos. Gordiano III havia previsto urn de
fal para celebrar as vitorias que conquistara contra
coin seu mestre Misiteu. Estava morto 0 adolescen
animais que capturara, milhares de feras, tinham sid
aRoma. Foi Filipe quem os expos ao povo. Con
composir;iio dessa coler;iio de feras: dez alces, dez
hienas, dez le6es selvagens, dez girafas, seis hipopo
rinoceronte, vinte asnos selva gens, trinta leopardos
le6es domados. Os sacriHcios e os combates na areia
matanc;as, estavam destinados a inaugurar nova er
para 0 Imperio Romano. Ora, fOi, na realidade, 0 c
o decHnio, 0 desmembramento e a decomposic;iio.
Filipe presidia aos festejos em Roma, os primeir
aproximavam-se do Reno; os godos, os carpas e os
atravessavam 0 Danubio e os blemios da Etiopia
no Egito. Nas provincias romanas, numerosos fora
prietarios rurais que armaram seus escravos e seus
para resistir aos invasores, porque 0 govemo era i
assegurar a proter;iio das provincias.
Depois as legi6es panonianas se insurgiram. Na
godos causavam profundas devastac;6es. Naquela
danubiana, os legionarios proclamaram imperador urn
ciano. No Oriente, foi 0 romano Jotapiano quem
pUrpura imperial. Urn terceiro pretendente, Uranio
deu-se a conhecer na Sfria. Tendo perdido toda esp
sua forc;a e no seu poder, ofereceu Filipe, 0 Arabe
sua abdicac;iio. Os senadores niio se pronunciaram
406
Mas os legionarios amea9aram; e Decio, diante da
tade deles, cedeu. Revestido da purpura imperial
contra Filipe, que esmagou em Verona, em 249. Mo
o derradeiro imperador oriental de Roma.
Formidaveis invasoes dns godos, perto do Danubio
de novo 0 imperio romano. Nenhum outro povo germ
tanto quanto os godos, uma atividade de repercussoe
sivas para a Hist6ria da migra9ao dos povos. Onde
a patria desses povos temerarios e aventureiros?
significa9aO de seu nome?
Os godos foram chamados pelos romanos Gothi ou
Tacito chamava-os Gothones. Segundo Plinio, eram
das costas do Mar Baltico e do Frische-Haff, e 0
afirma que os godos eram urn povo germanico. Os
mavam-se a si mesmos Gutans ou Gutos, e na Ger
ziam-se Gutthiuda. Compoe-se este nome de gu
thiuda: Volk (povo).
Provavelmente, vinham de Gotland e Goetaland, p
dional da Suecia onde seu nome foi conservado.
ram-se a princIpio na embocadura do Vistula, pa
em seguida para 0 leste da Europa. No come90 do
no momento preciso em que os alemaes apareceram
godos, povo poderoso, ocuparam as costas do Mar N
Sob 0 reinado de Filipe, 0 Arabe (244 a 249) am
Dacia e assediaram Marcian6polis, capital da Mesia
em Nic6polis, recuaram diante de Decio, mas, sob 0
do rei Kniva, liquidaram 0 exercito romano e pilhar
polis, perto da cadeia de montanhas de Hemo (Ba
encarar por pre90 nenhum uma retirada possivel,
os godos a Macedonia e penetraram ate as Term6pila
tando para 0 norte, esmagaram em Mesia, perto de
Dobrudja, a parte mais importante dos exercitos rom
Desde 0 come90 da batalha, Herenio Etrusco, 0 filho
rad~r, foi atingido por uma flecha mortal. Cercado
mento de tropas, 0 imperador Decio, depois de ter s
Os godos eram or-igillcirivs da Gotlandia, ilha da Sw€c
Baltico, e de Goetaland, a parte meridional da SUllc·ia ond
foi conse?"'vado. Como uma for ~a da natureza, penetTa?'am
p08santes, ute 0 Mar lv'cgro, a Asia Meno)' e A
GRAV. 130 - Os pretorianos eonstituiam a Guarda Imperial. Servi
de dezesseis anos, reeebiam urn sOldo triplo, traziam armaduras do
vinham muitas vezes nas sueessOes dos tmperadores e vendiam
de dinheiro de eontado. A guarda pretoriana eompunha-se habitu
,. Uma eoorte comportava 500 hom ens e, desde Setimo Severo, ce
ano de 312, Constantino dissolveu a. guarda pre
FILIPE, 0 ARABE E DEClO
o AUTOR.
412
os godos e detivera 0 avanr;:o dos agressores. E
legionarios de Galo vinham a saber que Emiliano
saria regiamente os tra.nsfugas que passassem para s
Assassinaram simplesmente 0 imperador Galo e, co
urn triste habito), seu filho Vilsiano.
Esse assassinato decidiu do resultado da guerra civil.
confirrnou a nomea9aO de Emiliano. Hercules, 0 V
!,.,Iarte, 0 Vingador, foram os tltulos honorllicos corn
lumbrado, glorificou-se Emiliano durante quatro
dem-se ler esses tltulos de gloria nas medalhas da
este proposito, como 0 homem so enterra seu Duro
do perigo, as coler;:6es que encantam os nurnismata
ern geral, das epocas mais agitadas da humanidade
glorificam Emiliano chegaram-nos ern grande nume
Pouco tempo antes de sua morte, 0 desgrar;:ado Galo e
general Valeriano procurar reforr;:os na Galia e na
Se 0 fiel Valeriano chegou tarde demais para cu
missao e salvar seu chefe, nao abandonou a esp
vinga-Io.
As tropas de Emiliano comportaram-se en tao corn
vandalismo, corn a mesma crueldade que os legi
Galo. Os soldados acampados na plankie de Espo
chegar os exercitos de Valeriano. A comparar;:ao foi
preenderam imediatamente que aqueles exercitos
poderosos que os deles e, sobretudo, que 0 adversa
aproximava revelava-se como urn chefe valoroso
mentado.
Num ardente dia do mes de agosto do ano de 253
de J. C., mataram Emiliano, que so reinara quatro
Retia, os exercitos da Germania e da Galia proclam
perador 0 consul P. Lidnio Valeriano. Naqueles temp
ter notado, era bern raro que urn homem fosse nome
rador sem ter mergulhado suas maos no sangue. Ora,
nao so 0 Senado, mas 0 imperio romano inteiro ap
novo Cesar.
Psic610go fino, facilitou a carreira de oficiais val
Claudio, Aureliano e Probo que, mais tarde, sal
patria. Ora, como tantos outros homens honestos e p
a fraqueza de deixar-se cegar pelas atuac;oes de s
nao julgar 0 temperam ento in stave I desse singular pe
Sentiu-se muito orgulhoso e cumulado, quando 0 S
. feriu a esse Who adorado 0 titulo imperial e
Augusto. 0 co-regente, 0 Dom Carlos da histori
personagem complexo e estranho, chamava-se P. Lic
cio Galiano.
o pai e 0 filho herdavam uma sucessao bern pesa
prometida. 0 Imperio encontrava-se ameac;ado em
suas fronteiras . Se os germanos eram entao os adver
agressivos e mais perigosos, constituiam os persa
poderosos e astutos. Roma tinha de d efender-se em
frentes contra esses temiveis exercitos estnmgeiros.
Era a Persia entao uma pot€mcia mundial, tanto qua
Os gem1anos, pelo contrario, pela primeira vez na s
tentaram, ao norte do Mar Negro, fundar urn Est
como as primeiras vagas anunciando a mare que
Italia. Hordas de francos penetraram entao na Gal
ram ate a Espanha e, pouco tempo depois, por
desembarcatam na Africa do Norte (257).
Diante dessa situac;ao dramatica e desesperada, 0
Valeriano, em 254, procedeu a partilha do Imperio.
o leste, com Antioquia como residencia, para si, e
foi encarregado da defesa do oeste. .
Teve essa decisao importancia capital. Pela prime
Historia, 0 valor do Oriente aparecia claramente ao
mundo. Valeriano, imperador, escolhia sua residenci
na direC;ao do mundo grego, enquanto que Galiano
govemava a oeste 0 mundo latino. Pela primeira vez,
dividido, foi a cena "oriental" exposta em plena luz
espectadores "ocidentais". A parte oriental do imper
comec;ava a pesar bern mais fortemente na balanc;a,
414
GALO E EMILIANO
o AUTOR.
418
de Ahuramazda e de seu profeta Zoroastro, os maniq
lavam a doutrina da Luz, os judeus adoravam Jave,
Jesus, os xamanes idolah'avam seus manipansos e
magicos e os bramanes suas inurn eras divindades
Sapor que os fi6is das diferentes religioes podia
seguir 0 ideal e dobrar-se aos cultos que lhes convin
Todavia, procurou Sapor alargar e aperfei90ar a ob
pai Ardascrur come9ara no plano religioso. Ardasch
gara urn alto dignitario eclesiastico (Tansar) de r
diferentes textos do Avesta, os livros sagrados dos a
sas, e publica-los como urn escrito canonico autoriz
Sapor acrescentou a lista dos livros sagrados trabal
ficos, obras medicas, astronomicas e metafisicas pr
da India, da Grecia e de outros paises. 0 grande
possuia uma cultura universal.
E surpreendente verificar a potencia e a riqueza da
religiosas que se manifestaram em redor do ano de
de J. c. Na Europa e na Asia, cinco ideias mestras,
universal, sondavam os cora90es e a inteligencia do
No Ocidente, a religiao judeu-crista; na Persia, as do
Ahuramazda e de Manes; na India, 0 budismo, com
sao cultural em Gandhara, provincia afega. Essas q
rentes religiosas tinham tbdas sofrido a influencia d
grega que, gra9as a sua interpenetra<;ao com 0 p
oriental, foi chamada helenismo.
Amea9ado na sua propria essencia pelo cristianis
budismo, Ahuramazda, 0 deus antigo, adquirira na
Sassanidas urna for9a e uma vida novas, precisamente
luta que teve de sustentar contra religio'es mais recen
Se Ardascrur, pai de Sapor, contentara-se com ser r
o filho intitulou-se "grande rei do Ira e de todos
Em lingua persa, 0 titulo Shahansha i Eran u Anera
textualmente "grande Rei do Ira e do nao-Ira "
cruel, tinha Sapor urn espirito empreendedor esse
dinamico. Possuia, duvida-se urn tanto, urn harem
fora da Asia. Estrategista avisado, nao ignorava Sap
era preciso, para come~ar, libertar-se da amea~a q
sava no fIanco direito, is to e, a Armenia.
No ana de 252 depois de J. C., 0 rei da Persia inva
pals aspero e montanhoso onde, des de trinta anos,
roes vinha-se defendendo com exito contra os ataque
ou exteriores. Vma biografia nao romanceada desse
tuiria urn livro verdadeiramente apaixonante. Sapor
mandar assassinar Cosroes. Tiridates, filho deste,
menino. Como se da muitas vezes 0 caso, a queda
armenia foi provocada por agita~oes intern as do
duvida existia urn partido dos nobres, oposto a Tir
teve de procurar refugio entre os romanos. Os outro
da casa real, Artavasdes a frente, submeteram-se a
Persia. 0 medo do senhor, isto e, 0 medo do rei
era 0 m6vel unico que levava aqueles povos a sub
homens eram atrafdos e como que fascinados pelo re
e pelo ardor da fe em Ahuramazda e em seu profeta
Convem sublinhar que 0 novo imperio persa nao s
unicamente gra~as ao poder dos dois gran des Sass
daschir e Sapor, mas sobretudo sob a pressao e a int
do mazdeismo e da nova doutrina de Manes. A que
menia abriu uma brecha perigosa nas linhas fortifica
do imperio romano. Sapor atacou a Mesopotamia.
saqueando a sua passagem, as tropas do rei invadir
sitiaram Anti6quia e atravessaram a Capad6cia. A
Tiana foi tomada de assalto e Cesareia investida.
Valeriano, que passara dos sessenta anos, experim
maiores dificuldades em enfrentar aquela grave situa
a catastrofe do Oriente-Pr6ximo surpreendera-o no
critico em que os godos e os boranos multiplicavam
soes e suas piratarias, tanto em terra como no mar.
Bern parece que 0 velho imperador tenha, de fa
algumas vit6rias contra os persas, porque as medalha
no ana de 259 trazem inscri~oes celebrando esses a
420
o-\-' s
Depois de deixa-r sua nsidencta em Antt6qttia, Valeriano avan{!ou ate a Capadocta, mas, ao
t; ?l6Hcias, deu meia-volta e eseolheu para qual'tel-general Samosata, fo?'taleza do Eufrates, C
o apoio da sol'ida /o?'taleza de Edes8a, que?'ia Valeriano resisti?' aos per8as. O?'a, 0 adversti
desb loquear a de/esa em Dm'a-Europos (ond e desde 1929 se 1'ealizam escava{!oes). Ern Nak
)1Ode-se admi'l"al", esculpida na ?'oeha, a ?'ep?'e8enta~iio do i?nperadO?' Vale)"iano eativo, aeo
joelhos cliante do )'ci Sa,pM' a cavalo, 0 im7Jeradol' l'OllW'I/O ?1tolTCtt no cativeir
em que, nao importa qual general romano, por mai
cante que fosse, que houvesse obtido alguns exitos
acreditava-se habilitado a seu ato de rebeliao ou co
purpura imperial! Naqueles tempos, como em nosso
a ditadura 0 meio mais seguro empregado por urn h
sonhava exercer 0 poder, mas, e preciso dize-Io, 0
que a isso recorresse, assinava sua senten9a de mor
Era, alias, por essa razao' que Valeriano nao ousa
seus lugares-tenentes numerosos corpos de exercito,
bastante perigoso conceder plenos poderes a quem
fosse.
Depois de ter nomeado prefeito do pretorio, isto
dante em chefe, urn tal Sucessiano, mandou-o co
boranos. Despachou 0 General Felix para Bizanc
missao de por a cidade em estado de defesa. Mas par
nao constituiam essas medidas preventivas urn ob
transponivel. Com efeito, as ordens formais, as m
seguran9a e de protec;:ao, todos os projetos do velho
pareciarn diminuidos, alterados e como que parali
indecisao do imperador.
Depois de ter deixado Antioquia, avanc;:ou Valer
Capadocia. Mas quando soube dos gran des reveses d
deu meia-volta e escolheu como quartel general Sam
taleza construida no Alto Eufrates. Contando com a
da inexpugnavel fortaleza de Edessa, acreditava, ern
tel-general, resistir aos persas.
o rei Sapor enviou seu filho Hormisdas (Ormuzd)
posi9aO sbbre 0 Eufrates. Os persas conseguirarn en
ponto fraco em Dura-Europos (aquele caravansara
margem do Eufrates, local onde se vern prossegu
1928 a escavac;:oes das mais interessantes do mun
oriental e que foi pbsto a lume peIo Instituto de B
da Fran9a e pela Universidade de Yale). Ao nord
dum penhasco, e a cidade banhada pelo Eufrates.
422
Provavelmente, urna parte da cidade teve de desapa
o lento solapamento causado pelo curso do Eufrate
redes, descobriram-se gravuras que representavam
persas. As escavac;:oes provam a dificuldade, a sev
assedio que os persas tinham tentado, bern como a
da defesa dos assediados. Os persas atacaram a cidad
galerias subterraneas e os . romanos defenderam-s
sapas rna is profundas. Numerosos assaltos ocorrera
da terra! Trouxeram-sea lume varios esqueletos
cintura bolsas guarnecidas de medalhas de prata do
depois de J. C.
Em meio desse tremendo perigo, enviou 0 ceu mais
contra os romanos, 0 qual lhes centuplicou a mi
perigos. A peste dizimou as legioes do imperador
Enquanto seus soldados, como que estrangulados po
invisivel, caiam aos . milhares, 0 velho imperador i
a si mesmo com angustia, a fim de conhecer as ra
lhidas pelo ceu e que haviam prevalecido para d
sobre Roma tal punic;:ao. Na sua angustia, teve V
ideia diabolica de punir os cristaos, porque era prec
trar responsaveis, bodes-expiatorios para aquele tragi
Pensava assim reconciliar-se com 0 ceu e acalmar
dos antigos deuses de Rama, e depois desviar a at
cidadaos romanos, tendida para aquele Oriente a fogo
para fixa-Ia, ultima esperanc;:a, sobre aqueles cr
malMicos.
Estes, no entanto, rezavam com fervor pela vitoria do
romano. Mas era a seu Deus que imploravam. Interr
governador romano da provincia da Africa, Sao Cipr
de Cartago, declarava :
- Sou cristao. Nao conhec;:o outr~ Deus senao 0 Deu
Nos, cristaos, servimos a tal Deus e imploramos-Ihe
que salve a humanidade e proteja 0 imperador.
Mas as cabec;:as desses homens leais cairam sob 0 m
carrasco. Foi executa do grande numero de cristaos
- Eis 0 que acontece quando nao se veneram mais
e quando se recusa uma piedosa sauda9aO diante d
vina do imperador! - gritara 0 juiz romano para 0 d
bispo, durante seu supHcio.
Com efeito, se nao se "veneram mais os deuses r
pensava Valeriano, em desespero, - enviam-nos el
e os persas".
Ora, se 0 velho imperador feria duramente os cris
trava-se incapaz de deter 0 avan90 dos persasl
No ana de 260 depois de J. C., Sapor investiu cont
A cidade heroica defendeu-se corajosamente. Valeri
por fim decidido a travar batalha. Enfraquecido pela
com soldados famintos, sem cora gem, esgotados e
zados, 0 exercito romano travou a luta. Imediatam
°
preenderam os combatentes que proprio imperad
toda a esperan9a.
No derradeiro momento, tentou Valeriano uma sor
perada. Depois pediu aos persas que entabolassem
90es de paz. Gra9as a fornssima soma de dinheiro, i
conduir a paz. Mas 0 astucioso Sapor, que tinha
servi90 de informa90es, nada ignorava da situa9ao c
de Valeriano.
Depois de ter recusado encetar as conversa90es de
Sapor "cedeu" as instancias dos romanos. Aceitou u
rencia entre os dois adversarios com a condi9aO de q
rador Valeriano se apresentasse a ele em pessoa. Se
fian9a, dirigiu-se Valeriano ao acampamento inimigo
feito prisioneiro. Se constitula esse ate desleal urn
perfido as leis da guerra, pouco se The deu 0 rei Sa
o imperador romano era, pois, prisioneiro dos barba
Cativo e escravo;. estava, mau grade a ignominia e a
vivo! .
Tal foi a sorte lastimavel do imperador e do Imperi
Ora, 0 mundo de entao tinha 0 ouvido fino. Sem
sem telefone, sem aviiio, as noticias se propagavam
424
nos Iabios almocreves. Os cambistas, espantados, fix
urn olhar apavorado as medalhas cunhadas com a
imperador. Os caldeireiros, os encantadores de serp
mesmo os mendigos perderam a respira<;:ao. Pelos
cinco quilometros que contavam as ruas de Roma e
o mais sinistro boato que algum dia houvesse ferido
romanas: 0 imperador estava prisioneiro!
Depois, como uma mare invasora, a amea<;a dos pers
os diques de defesa do Ocidente. Antioquia tombou.
cidadao sirio da cidade, Mariades, indicou 0 caminho
do rei persa. Esse hom em, depois de ter desviado o
pt'lbHcos de Antioquia, fora expulso peIo conselho
Agora, traia a patria. Provavelmente, teve 0 cuidad
desaparecerem testemunhas, importunas pessoas
Antioquia.
Se as reservas da fabrica de moedas e os tesouros
puderam ser postos em Iugar seguro, nao suspeitou
da trai<;ao. Os habitantes assistiam a uma representa9
quando 0 rei Sapor entrou na cidade. Os persas in
as casas e os campos vizinhos. Por ordem de Sapor
Mariades foi queimado vivo, talvez porque sua t
tivesse sido total e perfeita e houvesse ajudado a
lugar seguro 0 Duro e 0 tesouro da cidade.
Numerosas cidades pequenas, bern cornu Tarso e C
capitais da Cilicia e da Capadocia, cairam nas maos
Em Paflagonia, no norte da Asia Menor, os cavale
atingiram as costas do Mar Negro. .
Num desfile interminaveI, os prisioneiros 5e arrast
estradas deserticas do Oriente. Uma vez por dia, som
o gado, levavam-nos ao bebedouro. Dizem que a f
ragem do imperador Bend-i-Kaiser, em Susiana, foi
por esses pfisioneiros.
Ate sua morte, foi 0 imperador Valeriano tratado pel
como um vil escravo. Mandava-o a passeio, acorre
nao somente pintar as vitorias nas paredes, como
romanos!
Tal foi, ate 0 fim de sua existencia, 0 tratamento in
imperador de Roma. Parece bem que Valeriano ten
ainda numerosos anos. Apos sua morte, por ordem
foi empalhado, besuntado de vermelho e exposto nu
"para vergonha eterna de Roma".
E posslvel que os cristaos hajam, nos seus escritos, e
demais 0 quadro das miserias sofridas pelo imperad
esse Valeriano que os havia perse[,;uido com tanta in
e cmeldade. AIgu.ls historiadores pens am que, nas su
os sofrimentos do vencido tenham si(~:J fortemen
mados.
Todavia, .e certo que Sapor que, depois, veio a ser
amear;ado pelos romanos e por seus aliados, tenha de
o peso de sua calera e de seus terrfveis ressentime
seu destacado prisioneiro. 11: fato bern conhecido e
que os persas, naql1ela epoca, eram homens crueis. E
i-Rustan, nao longe das mInas de Persepolis, pode-se
pida na rocha, uma representac;ao do imperador
acorrentado e de joelhos diante do rei Sapor, sentad
cavalo . .0 baixo-relevo acha-se perfeitamente conserv
Nenhum povo, naquele momento, estava em con
resistir ao impetuoso av,nr;o dos persas. Os exercitos
pilhavam, incendiavam e massacravam sem enco
posic;lio capaz de deter seu fmpeto irresistIvel. Po
roman os, em fuga, dispersos, reuniram-se e elege
chefe urn general chamado Calixto, apelidado Balis
aliou com Macriano, comandante do grande quart
romano. Depois de ter requisitado os barcos dos
CiHcia, Balista embarcou para Soloi (Pompei6polis
peIos persas. Massacrou ali milhares de soldados pe
a seu ativo a captura mais importante da epoca: a
de Sapor.
426
muros, alegou estar obrigado a celebrar rapidam
festal
Durante aquele perfodo de perturbayoes e desorden
de Edessa, a despeito da peste e dos ass altos d
havia-se aguentado bern. Batendo em retirada, foi S
gado a passar nos arredores da fortaleza. Conscien
tencia inabalavel de Edessa, Sapor, a frente du
enfraquecido e esgotado, nao ousava engajar host
os habitantes de Edessa, triunfantes, viram com se
grande Sapor comprar a peso de ouro (aquele our
dos romanos) uma passagem livre atraves de suas te
Doravante, uma especie de paralisia freiou, an
dinamismo ate entao invencfvel do rei da Persia,
conquista. No oasis de Palmira, encontrou Sapor
de seu porte, bloquearam seu avanyo vitorioso para
Por outra parte, no final de seu reinado, os neg6ci
de seu reino preocuparam-no a tal ponto que nao
o futuro, encarar a eventualidade duma guerra contr
nos. Fatigado dos combates, 0 rei da Persia viveu
entregou-se a construyao de ediHcios gramliosos.
:£ possIvel tamhem que a filosofia conciliante
tivesse uma influencia moderadora sbbre 0 ardor
de Sapor. Talvez 0 grande doutrinario tivesse em
numa fe {mica e suprema as tres principais religi6es
a saber: 0 cristianismo, 0 budismo e 0 mazdefsmo.
qual tenha side a divindade a quem 0 grande sobe
no fim de sua existencia e ap6s urn reinado de t
considerou como 0 verdadeiro Deus?
Medalhas pare cern provar que ele mantinha toda a
dade a Ahuramazda, Ormuzd, 0 deus da Luz. Ess
de mil e setecentos anos de idade, mostram-nos
expressiv~, franco, inteligente; pode-se ler numa face
inscriyao:
"Adorador de Ormuzd, 0 excelente Sapor, Rei do
Ira germe divino dos deuses."
Transmitiu-nos 0 archote do espirito helenico
o AUTOR.
430
mundo romano, em Atenas, na Siria, no Egito, os ho
eminentes e entre eles, cristaos, encorajados por Ga
vendavam e faziam progredir as id6ias sublimes e pr
cultura chlssica. 0 Ocid~nte deve a Galiano a reve
transmissao da qualidade do espirito e do modo de
da Grecia.
Ora, precisamente no seu reinado, cablstrofes fer
ap6s outra, 0 imperio romano, ja tao duramente pro
262 depois de J. G, grande numero de cidades da A
foram destruidas por urn tremor de terra. Durante lo
a peste prosseguiu sua sinistra messe no Imperio.
Galiano, cujo modelo foi Augusto, procurou, com um
cia digna de seu predecessor, e a energia e proo
chefe, deter toda amea9a e to do perigo. Como 0
Eutr6pio, teve pedodos de abatimento em que ced
corajado, a uma especie de pesada passividade.
Durante sete anos, resistiu aos ataques incessante
manos nas fronteiras renanas. Era preciso deter as
alemaes, dos godcs e dos herulos. Galiano esfors
defender as provincias danubianas, a Galia, a Africa
Mandou fortificar as cidades amea9adas e em noss
cintos construidos no tempo de Galiano, Verona, po
testemunham a pressa com que foram edificados. Ga
sem cessar, de con tar com os usurpadores. Durante s
tal numero de ambiciosos cobi9aram a p{lrpura im
na Historia, esses generais sao designados pelo
"trinta tiranos"!
Mau grado os exitos alcan9ados contra P6stumo,
Galiano impedir que 0 traidor ficasse senhor das
da Galia. "Imperador independente", residia P6stum
yes (Augusta Treverorum), onde mandou erigir c
magnlficas. Reinando' na Galia, na Inglaterra e na
o usurpador comportava-se como se a mundo Ihe t
tencido.
Se 0 Limes, a famosa obra de defesa, fora constr
preservar a paz, a guerra, no momento, estava no
fortificac;oes caiam e se desmoronavam umas ap6s ou
Galiano reorganizou 0 exercito. Criou urn exercito
reserva, de as;ao rapida e imediata. A arma mais i
isto e, a cavalaria, compunha-se de daImatas, de mo
germanos. Esse corpo, destinado a voar ni.pidamen
corro dos territ6rios limitrofes ameac;ados, estaci
Milao.
Respondendo as exigencias da epoca, a cavalaria
com extrema mobilidade. A guerra contra a Persia de
que a infantaria, em face da caval aria ligeira dos
demasiado lenta e demasiado pes ada para mover-se
a infanta ria permanecia 0 que foi dois mil anos ant
deveria permanecer do is mil anos depois: 0 nueleo
forc;a, a potencia decisiva do exercito.
Galiano foi 0 unico imperador da epoca, eric;ada de
e de perturbac;oes, que, no outono do ana de 263, po
o decimo aniversario de sua ascensao ao trono. Cinco
tarde, depois de ter infligido pesada derrota aos g
herulos que, pilhando e saqueando, haviam ava
Atenas e Corinto, 0 soberano, inquieto, sempre alerta
a toda a pressa do Danubio a Italia. Urn dissidente
general de cavalaria, sitiava Milao.
o imperador agia sempre com energia e prontidao
vigilancia, sua faculdade de tomar decisoes rapidas
as causas de sua perda. Anunciou-se a Galiano a ap
dos exercitos de Aureolo que, na realidade, estavam
em Milao. Era urn simples ardil. Diante da tenda do
achavam-se de tocaia os conjurados. De cabec;a n
capacete, sem armadura, precipitou-se 0 imperador
e caiu como que fulminado sob os golpes dos assassi
Seus contemporfmeos tinham-no conhecido mal. Per
original, duma individualidade fora do comum, m
meio-cristao, odiava seu pai e era profundamente li
432
GALIANO
o A UTOR.
436
{mica. No plano pd.tico, 0 soberano do oasis tinha
gativas de imperador.
Num dia de abril do ana de 267 depois de J. C.,
de sua gl6ria, foi Odenato assassinado. Atingira a
duma potencia transbordante, ao ver do imperado
Fora Roma, enciumada, a instigadora do crime? Ign
o sucessor legitimo do rei dos desertos era seu filho
Mas tinha 0 principe muito pouca idade para reihar
a viuva de Odenato, assumiu os encargos do gover
pela primeira vez na Hist6ria, uma mulher de r
via-se colocada a testa dum vasto imperio. Foi
Zen6bia.
Zen6bia e urn nome grego, sendo 0 nome oriental
Bat-Zabbai, "filha de Zabbai". Zen6bia declarava qu
gem provinha em linha reta dos soberanos egipcios,
de Cle6patra de sangue macedonio. Diz-se que foi
velmente mais bela que Cle6patra e duma castidade
virginal. Com 0 unico fito de assegurar sua des
diz-nos a Hist6ria, e que permitia que seu espciso
conhecesse uma vez por mes!
Tinha Zen6bia cabeleira escura, dentes de alvura de
e grandes olhos negros reluzentes. Cultivara com m
inteligencia de natureza, dizia-se, muito masculina. C
gino, 0 celebre fil6sofo e ret6rico, foi seu mestre.
resplendente Zen6bia nas belezas da lingua e da
gregas. Discipulo dum egipcio emerito e tendo e
ensinado em Atenas, foi Longino urn homem duma
e duma experiencia superiores. Tanto para 0 me
para a principesca aluna, tinha 0 Egito, em todos
uma grandeza e uma importancia .capitais. Longino
mais tarde 0 conselheiro intimo e 0 ministro da
Palmira.
De espirito curioso, dotada duma inteligencia
falava Zen6bia correntemente 0 sirio, 0 aramaico,
capital! 0 Mundo oriental de entao admirava e v
casal admiravel e corajoso. Quanto aRoma, e forc;o
considerou a principio Odenato e Zenobia como os
do imperador Valeriano I
Quando Odenato nao tinha suas tropas engajadas n
dic;ao militar, quando nao estava absorvido pelos n
Estado, dirigia-se a cac;a. Matava leoes e pantera
tempo, havia provavelmente na Slria imensas flo
quais devia haver alem domais ursos. Zenobia ac
seu esposo a cac;a e ali tambem, pela sua coragem
ardor, igualava os homens. Enrijecida, resistente,
nem 0 calor nem 0 frio, nunca viajava em carro fec
pelo contra rio, montava em sela como um cavaleiro
de suas tropas, cavalgava durante longas horas,
aparente.
Por ocasiao da morte de Odenato, era Palmira uma
rescente que irradiavapela Slria e por grande parte
Os palse.s vizinhos, a Arabia, a Armenia e a Pers
Zenobia, solicitavam seus favores e sua amizade.
Mas Zenobia ambicionava a conquista dum poder
versal aindal Longino, com entusiasmo, fazia-a aprec
do Egito. E nao era 0 Egito 0 coroamento da cultur
rara do mundo, com cinco mil anos de existencia
aquele pals 0 celeiro de trigo do imperio romano?
Zabdas, chefe de seu estado-maior, no decorrer de l
versac;6es noturnas, submetera-Ihe um plano de
Zenobia queria reinar sobre 0 pals dos faraos e de
tensos antepassados. Nao podia ter paz enquanto na
para ela e para seu jovem filho, aquele fruto que, a
era 0 mais belo de todos.
A frente dum magnIfico exercito, enviou 0 general
Nilo. Ao mesmo tempo atacou a Arabia. 0 moment
ravel: Probo, 0 prefeito romano do Egito, estav
Quando regressou ele as press as, foi demasiado
438
meio, combateu pelo Imperio, com exito. Derrotou
perto do lago de Garda e obteve, em Nish, uma vito r
sobre os godos. Suas vitorias anunciavam a resta
Imperio, mas em 270, Claudio, 0 Godo, morreu de p
Sucedeu-Ihe Aureliano. Dotado de grande for<;a ffs
soldado brilhante, disciplinado e excelente estrateg
joso e intrepido, executava opera<;oes militares com
e tenacidade. Quando tomava uma decisiio, dela n
viava mais e, duma maneira geral, foi, entre os lugar
romanos na IIiria, a personalidade mais saliente. Dis
na guerra contra os godos e, por ocasiao da morte d
era inegavelmente 0 indicado para ascender ao tron
imperador, todavia, carecia de amabilidade, de tato
no dominio espiritual.
Mas a obra realizada por Aureliano, no decurso de s
e admiravel. Para garantir suas retaguardas, assino
meiro lugar urn tratado com Zenobia. Governava e
e abandonou a Zenobia e a seu filho a dire<;iio d
Proximo. Aureliano come<;ou entao a por de novo
o Imperio que, de todos os lados, estava como
atenazado e roido pelos seus agressores.
Na Polonia, conseguiu 0 imperador repelir os
mas os jutos e os alemaes infligiram-Ihe pesada d
Picencia.
Roma estava amea<;ada. Com a vitoria obtida sobr
sario em Ticino, Aureliano restabeleceu a situa<;ao
.uma tatica que dava frutos, incorporava 0 inimig
nas fileiras de seu exercito. Cercou Roma de m
altura de seis metros e da largura de quatro. Essas
que se estendem por dezenove quilometros, ainda
recinto estava dotado de tbrres e de dezoito portas.
Como os legiomhios romanos estivessem constante
expedi<;oes e em campanhas, foi a obra construida
pelos prisioneiros de guerra. 0 imperador abandonou
a provincia da Dacia. Depois de ter restabelecido
AFRICA
1000 I}ookm
Tarso
• Jerusalem
• Petra
440
os palmirenses 0 Egito e cunharam medalhas em um
faces vinha a eHgie de seu rei Vabalotos e na outra a
rador Aureliano. Em breve, so se viu nas medalha
do palmirense (desde 11 de marI)!o de 271). No ver
de 271, Zen6bia outorgou-se 0 titulo de August
coroou-se . imperatriz e seu filho tornou-se Augusto
destacara-se do imperio romano. Foi, para Aureli
verdadeira provoca~ao.
Nao era homem para tolerar semelhante atitude. D
ter rompido as relal)!oes politicas e comerciais com
levantou urn exercito e reconquistou 0 Egito. Para
ana de 271, os longos comboios do exercito imperia
o caminho de leste. Na fronteira da Capadocia, a
Tiana resistiu, mas teve de capitular apos urn s
curto.
o imperador tratou os habitantes com clemen cia. Em
a propaganda operou seu efeito e a maior parte d
escancarou suas portas ao imperador dos romanos
procurou 0 apoio do rei dos persas, mas 0 velho
estava decidido a levar socorro a celebre rainha.
Em Antioquia, em presenl)!a da rainha, travou-se 0
A sorte das armas abandonou Zenobia. Aureliano c
a vit6ria contra a famosa cavalaria palmirense. Anti
nas maos dos romanos e, de novo, 0 imperador,
Clemente, poupou os habitantes.
o exercito de Zen6bia retomou 0 caminho das
estradas de caravanas. Aureliano mandou oferecer
uma proposta de paz. Exigia sua submissao e atraia
l)!1io para a hecatombe de combatentes tombados no O
- S6 havia romanos - ' respondeu Zenobia com desp
Em ~meso, travou ela nova batalha. Os legionarios
pondo-lhe em debandada as tropas, alcanl)!aram vit6
- 0 deus do Sol de ~meso deixou seu santmlrio p
vitoria aRoma - declarou Aureliano.
tentativa dos increus: urn ensaio de monotelsmo pa
Embora vencedores, estavam esgotados os soldado
Extenuadas, queimados por urn sol implacavel,
marchas for~adas para Palmira. A cidade maravilh
extraordinariamente abastecida; seu SltiO represen
empresa mnito arriscacla e penosa. Os assaltantes c
agua e Aureliana foi ferido por uma flecha. Mas aqu
militar nao desesperou e nao abandonou a tarefa qu
sera. Naquela luta implacavel, Zen6bia, crendo-se b
turamente perdida, cedeu a seu tenaz adversario, c
e ciencia ultrapassavam mesmo suas maiores esperan
preendeu que 0 tempo era impotente para veneer
de Ameliano e que nem a fome, nem 0 desenco
dizimariam os legiom\.rios romanos. Em lombo d
ros-se em fuga na dire9aO de Dura-Europos, a m
Eufrates. Estava deciclida a obter socorro rapido
dos persas; pens ava, gra9as a seu encanto, be1eza e
ganha-Ios para sua causa. Mas os cavaleiros romano
lhe aos cafcanhares.
Tendo alcan9ado 0 Eu£rates, Zen6bia estava ja com
barea que devia transporta-Ia para a outra margem,
sentava · para ela a liberdade! Mas os romanos se a
da rainha e de seu filho. Desencorajada diante d
rainha, Palmira abandonou toda resistencia.
Levaram a rainha a presen9a de Aureliano. 0 impe
guntou-Ihe em virtude de que direito acreditara
rebelar-se contra os senhores de Roma. Zen6bia rep
sutileza, que nao the fora posslvel considerar com
dores romanos nem os predecessores de Aurelian
"".lsurpadores!
- Tu, somente, es meu vencedor e meu senhor!
Mas em breve a rainha cativa perdeu a cora gem
soube que os legionarios exigiam sua cabe9a, sua
sua seguran9a abandonaram-na. Esqueeeu 0 exempl
patra, que ensinara que uma rainha deve preferi
442
o rude e severo Aureliano mandou decapitar os mir
eminentes de Palmira. Longino contou-se entre as
terror e do desespero da rainha que, pouco tempo
uma das mulheres rna is nobres e mais valentes d
Longino morreu com aquela calma dignidade que
o apanagio dos filosofos. Perfeitamente placido e
si, sem uma queixa, so tinha palavras de consolac;ao
companheiros de miseria e deplorava a sorte da r
venturada. Acompanhou 0 carrasco, resignado, sem
emoc;ao aparente traisse sua dor.
Em Palmira, 0 imperador romano apoderou-se dum
tesouro: ouro, prata, seda, pedras preciosas, arma
e camelos. As imensas riquezas contidas nos ediHcio
nos templos, nos armazens enos celeiros do oasis
do mundo cairam nas maos dos romanos. Dizem que
poupou as propriedades privadas. Para com os hab
cidade exerceu sua proverbial clemencia.
o vencedor Aureliano, 0 imperador de Roma, cujo
dava em todos os labios, mal acabava de transpor
na viagem de regresso, quando soube que Palmira
de novo em revolta contra ele. Deu meia-volta e,
com Uma crueldade digna dos asiaticos, Aurelia
explosao de calera, exerceu seu furor contra os h
mulheres e as crianc;as de Palmira e ate mesmo
camponeses dos arredores. Ora, depois de ter dad
de saquear a cidade, ficou aterrado diante do esp
destruic;ao do maravilhoso oasis. Os palmirenses
viveram a destruic;ao tiveram 0 direito de reconstrui
Mas foi esse urn arrependimento bern ligeiro e gra
mira nao deveria mais renascer de suas cinzas. Ta
apresentam em nossos dias, as ruinas de Palmira
setecentos anos de existencia!
o imperador Aureliano reconquistara 0 Imperio R
sua quase totalidade, quando urn personagem curioso
contra ele. Firmo, armador e fabricante de pap
Imagine-se que no ana de 270 depois de J. c., tr
por barcos ou em lombo de camelo, a "seda de F
expedida duma extremidade do mundo a outra. A
romanas, como as damas de Palmira, usavam vestid
de Firmo. .
Assim que soube que Aureliano, depois de sua pri
quista de Palmira, avan~ava pelo caminho de regress
com tribos nubias. Fomentou verdadeira revolu~ao
me~o do ano de 273, proclamou-se imperador ro
legi6es de Aureliano restabeleceram imediatament
e sabe-se, percorrendo a historia, que 0 rei do papel
tao temenlrio e aventuroso, pas fim a seus dias.
Em Roma, a entrada triunfal de Aureliano eclipso
fausto todos os desfiles de seus predecessores. Vinte
quatro tigres reais, duzentos animais dos mais raros
e mil e seiscentos gladiadores participaram dos jo
do anfiteatro. 0 desfile mostrava os trofeus dos , h
armas vencidos, os ricos tesouros da Asia, os embai
Eti6pia, da Arabia, da Persia, da India, da China,
minavel procissao dos prisioneiros godos, vandalos
alemaes, francos, gauleses, sirios e eglj)cios. Nele
playa 0 suntuoso guarda-roupa da rainha de Palmira
captura mais preciosa da campanha do Oriente:
rainha. Urn escravo a conduzia, amarrada a uma c
DurO forjada, em tomo de seu pesco~o. Fragil, mas
e bela, a desventurada parecia como que esmagad
de suas pr6prias joias. Ape, precedia 0 suntuoso car
bate s6bre 0 qual projetara fazer sua entrada tr
Roma!
o carro de Aureliano tinha, atrelados, quatro cervo
dos por ocasiao da guerra contra os godos. A vis
desfile surpreendente que, durante longas horas, atr
ruas da capital, os rornanos ficaram todos a princip
cados e mudos de surpresa. Depois houve uma e
444
ZENoBIA E AURELIANO
EUTR6pIO, "Hist6r
Roma", livro IX.
448
do ana de 276, foi assassinado em Tiana.
o exercito de leste escolheu entao para imperador
Marco Aurelio Probo, 0 oficial mais digno do exercit
Se a Hist6ria nao the houvesse pregado uma rna
tar-se-ia entre os maiores soberanos de Roma. Consegu
a uma serie de ofensivas calculadas com precisao, re
em pouco tempo 0 poder do Imperio. Em urn ano,
Calia da invasao germanica. Do Reno ao Danubio,
repeliu os ataques dos barbaros, submeteu monta
surretos, abateu os usurpadores no interior das pr
transplantou para 0 Imperio grande nu.mero de p
germanicos. A PolOnia, seu pais de origem, foi obje
mais atentos cuidados.
Probo impos refonnas agrarias e exportou a vinh
Alemanha e a Hungria. Preparava urna expedil)!ao
persas, quando foi abatido em Sirmio, em 282. A d
seu reinado ultrapassou de urn ana 0 de Aureliano
como senhor e deus, realizara uma obra tao imp
senao mais - quanta a do grande guerreiro. Mas
s6 fomeceu a seu respeito raras precis6es e Prob
conhecido.
Caro, sucessor de Aureliano, e seus filhos Carino e N
residindo urn a oeste e outro a leste, sao, na h
Cesares, persona gens bern apagados e fugitivos, po
tres pereceram de morte violenta. Acompanhand
numa expedil)!ao vitoriosa contra os persas, Numeri
em Ctesifonte, cidade conquistada, a direl)!ao do ex
reconduzi-Io aRoma.
No outono de 284, os exercitos romanos atingiram a
Fez-se entao uma descoberta macabra. Desde alg
uma fedentina insuportavel desprendia-se da liteir
Verificou-se que ela ocultava urn corpo em dec
Durante varios ·dias, os soldados tinham transportado
do imperadorl Arrio Aper, seu sogro, fora 0 assassin
historia . e uma arte, com a condic;:ao de que 0 cr
bern sucedido, numa sintese concisa, no apanhar a
persona gem e no relatar dele 0 essencial com exat
Aurelio Valerio Diocletianus, Diocleciano, foi sem
dos personagens mais complexos da Historia; uma na
luminosa, ora toda em semi-tons. Se nao atingia a
de urn genio universal, seus dons e sua inteligenci
savam de longe a media. Militar medIocre, foi urn o
de genio. Grac;:as as suas fraquezas "demasiado
cometeu, como imperador, graves erros. Colocado
de uma epoca, foi 0 derradeiro grande imperador pa
Antes de sua ascensao ao poder, usava 0 nome de D
origem simples, nascera na D almacia, provavelmen
lona, onde construiu, para 0 fim de sua vida, urn
palacio. Nao se conhece 0 ana de seu nascimento. T
momenta de sua abdicac;:ao, em 305 depois de J. C
das medalhas mostra 0 retrato dum setuagenario.
nascido cerca do ana de 235.
A 17 de novembro de 284, em Nicomedia, na Bitini
cleciano pro clam ado Augusto, isto e, imperador, p
narios. Pronunciou entao uma alocuc;:ao. Brandindo u
nua, de olhos voltados para 0 sol, jurou que estav
da morte de Numeriano. Depois, num gesto rapido
relampago, enfiou a espada no peito de Arrio Ape
do pretorio, sogro de seu predecessor.
Con vern explicar aqui que esse assassinio, duma s
evidente, nao foi conseqiiencia dum capricho ou du
fletido! Aper, em latirn, significa "javali". Urn adiv
predito a Diocles:
- Seras imperador, quando tiveres matado urn jav
Agora, 0 javali, morto, jazia no seu sangue. A pro
zara-se. Naqueles tempos, em que a superstic;:ao da
as formulas magicas e aos misterios, 0 gesto de D
teve, pois, urn sentido profundo. Estupefactos, nao e
450
lhantes. Suas faculdades mostravam-se mais como
pratica, pouco feitas para atrair-lhe rapidamente u
facil.
Gibbon, que dele tra~ou urn retrato psicologico ext
sutil, escreveu que seu carater energico e viril evo
aos influxos beneficos da experiencia e de seu con
dos homens. Acrescenta Gibbon que suas disposi~6e
eram uma mistura equilibrada de generosidade e de m
de dp~ura e de firmeza, e de perfeita dissimula~a
ocultava sob uma retidao toda militar. Tenaz, sou
tanto, adaptar-se as circunstancias e sobretudo
senhor na arte de subordinar suas paix6es... e a
servidores aos fins que queria atingir. Tinha costum
ficar, sob pretextos de justi~a e de necessidade publ
riosas, as medidas que era levado a tomar. H.
descreveu as rea~6es de seus contemporaneos.
admira~ao mais sincera, a estima que tinham por el
de desconfian~a e dum ligeiro malestar.
Diocleciano cercava-se duma "pompa toda imper
claramente a compreender que se considerava como
mento de Deus sobre a terra. Imperador pela gra~a
estabeleceu Diocleciano uma autarquia marcada du
fera religiosa que acentuava 0 carater sagrado e so
de seu cargo, na qual 0 cerimonial da corte e 0
·imperador exprimiam a venera~ao devida ao mais no
reinante na terra, iepresentante direto de Deus. Apo
crise a qual, no 3.° seculo, 0 Imperio Romano este
de sucumbir, a centraliza~ao do pader imperial co
sem duvida as necessidades e as exigencias da epoc
"Se era posslvel salvar 0 Imperio Romano, a salva~a
do alto, tal foi a cren~a popular", escreveu Rostovt
Vestido com a toga imperial de seda adamascada
om ado de um diadema encrustado de perolas, ca
finos sapatos real~dos coni perola!> e pedras preci
tinha Diocleciano sua corte em Nicomedia (hoje I
No seu isolamento solene, pontificava 0 imperador n
Palatium. Todo cidadao desejoso de ser recebido, i
pelos funcionarios e pelos eunucos ate 0 santo d
. devia prosternar-se diante do imperador e dirigir-lhe
como a urn deus.
No comec;o da audiencia, era preciso ajoelhar-se
toga imperial. A "proskynese", segundo a etiquet
Persia antiga, era igualmente exigida para respeita
os parentes do imperador. Seu titulo oficial era 0
(dominus) e nao mais a denominagao de "primeiro
(princeps), como no tempo de Augusto. Os cidadaos l
chamados "suditos" e 0 principado tornara-se 0 "dom
Diocleciano teve uma filha, Valeria, mas nenhum d
masculino. Tendo compreendido que 0 imperio era p
extenso para ser govern ado por um s6 hom em, n
verao do ano de 285, seu camarada de guerra, M
"Cesar" e mandou-o para a Calia. Pouco tempo d
reconhecimento aos meritos e esforgos tao preciosos
miano, Diocleciano proclamou-o Augusto e co-impe
Roma teve, pois, dois imperadores: Maximiano, a
Diocleciano, a leste. Os dois "Augustos" eram co
como "irm1ios", llobre alianr;a grac;as a qual Diocleci
a seu nivel 0 cO-imperador. Todavia, reservou para si
e a direr;ao suprema do Imperio. Se escolheu 0 L
residencia foi porqu,e devia resolver problemas di
e militares, delicados e importantes. No Oriente, e
sobretudo preservar as fronteiras contra os empree
dos Sassanidas. A potencia economica excepcional
fazia dele 0 centro do Imperio Romano.
De Nicomedia, onde havia ascendido ao poder, fez D
sua residencia. Embelezou a cidade, construindo g
mero de ediHcios. Foi la que, mais tarde, veio a re
honras imperiais. 0 ret6rico Libanio, uma gerar;
chamou Nicomedia "a mais bela metr6pole do mun
452
Milao, na proximidade da fronteira do norte, sem ce
r;ada. Foi nessa epoca que Milao comer;ou a eclip
Durante sete anos, 0 reinado dos imperadores Dio
Maximiniano harmonizou-se perfeitamente.
Inteligente e prudente, apelou Diocleciano para os
fim de santificar e imortalizar seu novo sistema d
Sob a proter;ao do deus supremo, JUpiter optimus
reinou Diocleciano doravante sob 0 titulo religioso
Maximiano recebeu 0 titulo de Herculius. A. image
Hercules que, no Olimpo, foi 0 braGo direito de
dois Cesares, na terra, deviam trabalhar de acordo
feito entendimento.
Os imperadores venceram numerosos inimigos: os b
os alemaes, os francos, os sarmatas, os godos e os a
grade as vit6rias conquistadas por Claudio, Aurelian
nenhum desses adversarios tao temidos depusera as
Os dois soberanos que, dum continente a outro, se
tao harmoniosamente - sem telefone e sem telegraf
traram-se em Milao. Atraves das estradas coberta
tinham, em plena inverno, transposto os Alpes. Se os
os receberam com entusiasmo, fica ram os bravos burg
embarar;ados pela presenr;a de do is imperadores.
tempo, porque seu cerimonial estava preparado pa
apenas urn! .
Quando Diocleciano compreendeu que dois chefes
riam para veneer amear;as permanentes do exterio
administrativas ingratas do interior, criou em 293 s
tetrarquia, 0 regime dos quatro. Cada imperador
era secundado por urn cesar. Habil psic610go, como
rante toda a sua vida, escolhera Diocleciano dois p
pret6rio, hom ens seguros e fieis.
Galerio, cesar de Diocleciano, devia governar a
Treves como residencia. Essa cidade tornou-se enta
mais magnfficas e mais atraentes do Ocidente. Co
cesar de Maximiano, administrou as provincias do
maneira, teriam a possibilidade de abdicar, isto e,
vivos, 0 poder, sem correr 0 risco do assassinato, so
forma. Alem disso, tiveram os cesares, ap6s seus
de casar com as filhas de seus pais adotivos. Em
ainda, pode-se admirar em Veneza, na pra9a de S
o monumento dos Tetrarcas. Os quatro monarcas f
grupo de quatro estlltuas de p6rfiro.
Diocleciano conservou, pois, 0 poder supremo. Adu
o "fundador da paz etema", recebeu 0 tltillo de Inve
Na hist6ria dos homens, e raro qne uma icleia tao co
e tao artificial se haja concretizado de maneira ta
Dos quatro cantos do mundo, os imperadores, e
acorclo, administravam, fiscalizavam e conquistava
contra os inimigos. Canl.usio, general e governaclo
Bretanha, conquistou a ilha inteira e fez-se procla
rador. Cercado em Boulogne, foi derrotado e recon
Gra-Bretanha.
A hist6ria roman a, de 295 a 305, orgulhava-se no
duma grande vit6ria sobre os alemaes, de batalha
perto do Danubio, de triunfos sobre os persas, de
Africa, duma revolu9ao abafada que rebentara no
extensao do dominio romano a leste (alem do Tigre)
tiplas constru90es de obras fortificadas.
Em Roma, a maravilha da arquitetura da epoca tom
as termas de Diocleciano. Entre as oitocentas termas
as de Diocleciano ultrapassavam todas as outras
riquezas e pelas suas climensoes. As termas de Car
se the podiam comparar. Da sala central, com su
ab6badas em aresta e suas fachadas de colunas, f
Angelo sua igreja de Santa Maria dos Anjos. Sobre
em nossos dias, eleva-se 0 Museu Nacional da Itali
Projetar, financiar, criar, organizar, construir: tais
atividades que correspondiam as necessidades e as
mais magistrais do temperamento de Diocleciano. C
cas de armas em Anti6quia, em Edessa, em Damasc
454
palacios se ergueram. Os indestrutiveis vestigios r
Treves sao urn vivo testemunho da epoca.
Em Cartago, em Anti6quia, 0 ardor do construtor, do
inacessivel, manifestavam-se. Em Dafne (Sfria), ma
truir do is palacios, cinco termas, urn estadio e urn
dedicado a Hecate, erguido no alto duma montanha
de Apolo de Mileto foi aumentado e urna piscina,
em Alexandria, fornecia a frescura repousante.
Por outra parte, foi Diocleciano urn administrador
de cria9ao inaudito e instaurou os poderes publicos
p6ticos da Antigilidade, nos quais urn numero cr
funcionarios do Estado encontravam-se, por assim d
tuidos de toda liberdade de a9ao; todos eram su
ao poder supremo. A hierarquia dos funcionarios
veu-se de maneira inquietante e em propor90es
desconhecidas nesse dominio. Uma administra9ao ce
o en cargo de supervisionar todas as fun90es exigida
maquina de Estado monstruosa. Suprimiram-se as
90es autooomas e cada orgao de fiscaliza9ao ou de
era fiscalizado igualmente por outra orgao de fisc
de supervisao. 0 sistema era tao Simples quanta
categorico; ate mesmo os altos funcionarios do gove
nao eram senao servidores e escravos do Estado.
cias do Imperio foram reagrupadas e reunidas em c
dioceses.
Ora, essas medidas nao eram a conseqli~ncia nem d
lomania, nem de urn despotismo demoniaco, nem
idiosincrasia de tudo regulamentar; eram apenas a o
monomania co obsedado pela ideia de controlar a m
Estado ate nas suas menores molas para descobrir
manifesta90es, a confirma9ao de seu proprio valor.
alias, que Diocleciano tenha querido considerar
Romano como urn imenso espelho no qual, poderoso
deus, pudesse sozinho refletir-se e adorar-se?
a tradi~lio · deixou de ser viva, s6 urn sistema, urn
perfeitamente concebidos slio aptos para lutar con
tomas da degenerescencia. Diocleciano tentou salvar
com seu sistema buroCTlltico aperfei~oado.
As dile~6es e inclina~6es dum povo sucedem-se e
como 0 fluxo e 0 refluxo. A inclina~lio pela guerra
saturada, e seguida dum desejo e duma necessida
mais dunlveis. Por esta razlio, 0 amor a paz entre
turbulentas e, em geral, urn sintoma de lassidlio,
ser urn indicio dum "carater essencialmente born e
Ora, ap6s a vit6ria de Cesar sobre Pompeu, ap6s urn
guerras civis sangrentas, Roma, cansada dos Cesar
mada dum desejo de paz e de tranquilidade que n
deixou.
Quando no ano de 31 antes de J. c., a batalha d
ganha e no ana de 30, conquistado 0 Egito, Augusto
suas legi6es. 0 exercito foi reduzido a metade de se
mantiveram-se somente vinte e oito legi6es em arm
cionadas nas fronteiras do imperio. Nlio houve e
reserva. A hatalha de Teutoburgerwald em que Va
9 depois de J. c., perdeu tres legi6es, demonstro
de semelhante poHtica. Augusto, 0 grande hom em
o criador do principado, foi ao mesmo tempo 0 pai
ideia da paz universal. Em Roma a ara pacis Augu
da paz de Augusto, e disso 0 testemunho vivo. E e
si~6es "romanticas" da era de Augusto, esse ideal da
esse raio de luz que precedeu 0 Salvador da cristan
durava no espirito dos imperadores que se suc
trono.
Se Trajano, 0 derradeiro grande soldado colocado
romano, tomara a ofens iva contra os dacios e os pa
zando assim urn projeto grato a Cesar, cuja execu
mortais dos idos de mar~o impediram, a poHtica de
por isso era, no con junto e por principio, uma
defesa.
456
trado da ideia da pax Augustae, quis ser urn imp
Paz e reinar, com uma sabedoria verdadeiramente
como urn "servidor glorioso" do Estado e do povo.
Essa desmilitarizaltao enfraqueceu mais uma vez 0
Imperio Romano, cercado de povos cuja hierarquia d
culturais nao era matizada, isto e, de povos pouco
que, conscientes de sua jovem forlta, aguardavam 0
em que poderiam atacar 0 grande imperio. No 3.°
pOis de J. c., 0 antagonismo entre as duas tendenc
dit6rias esteve a pique de acarretar a rulna de Ro
parte, 0 mundo civilizado estava penetrado da no
religi6es mlsticas, da ideia da paz augustiniana, do
"paz em toda a terra", e doutra parte, ao norte, os
manicos, ignorando totalmente esses ideais pacHicos
seus castelos fortificados e precipitavam-se ao assalto
com todo 0 ardor de suas forltas primitivas, de seu
dores gritos de guerra, enquanto que no Oriente,
desde Alexandre, 0 Grande, 0 imperio dos Sassan
jugado, conhecia em 226, redespertar magistral.
As legi6es roman as estacionadas nas fronteiras tin
atitude pouco romana porque, desde muito tempo,
os homens recrutados mais na populaltao da Ibilia,
contrario, entre os povos das marcas do imperio. A
ramana penetrara ate as fronteiras. Mesmo nos acam
militares, "vivia-se bern e confortavelmente". 0 ex
fronteiras era apenas uma especie de "corpo defen
ja bern tempo de agir e de remediar esse estado
e Diocleciano, para reforltar as tropas fronteiriltas
interior urn exercito de reserva.
Os esforltos e os retoques importantes em favor da
aumento dos efetivos militares, 0 aparelho adminis
gantesco, as cortes imperiais dispendiosas e ,as cons
edificios publicos constitularn orltamentos que necess
uma reforma fiscal. Todos os anos, fixava 0 imperado
tan cia dos impostos exiglveis para 0 exerdcio cor
caput.
A imposi~ao, 0 jugatio, ah~m do iugum e do caput, era
segundo 0 Dumero dos animais domesticos. Todos
sem exce~ao deviam ser declarados; e 0 campones, r
por suas terras e por suas "cabe~as", tinha obriga~ao
imposto. Para facilitar sua tarefa, 0 Estado prendia
ou por desgra~a) 0 campones a sua gleba e este nao
a possibilidade de mudar sua condi~ao.
As cidades eram obrigadas a fomecer 0 dinheiro e
dorias manufaturadas de que 0 Estado tinha necess
grupo de ricos cidadaos, os "curiais" eram, na qua
conselheiros municipais, responsaveis pelas cidades.
fortuna pessoal, garantiam pagamentos pontuais de
cidadaos. Como os camponeses, os curiais - e por
nao se apressavam em aceitar a fun9ao - nao po
abandonar seu cargo, que transmitiam a seus filhos
saos e os comerciantes estavam agrupados em corp
consequentemente deviam pagar impostos. Verdadeir
de funcionarios esfor~ava-se, sem descanso, em frust
tativas dos coletores que procuravam fraudar ao mes
o fisco e 0 contribuinte.
Assim, os camponeses, os artesaos e os comerciantes
submetidos faziam paralisar a economia. A vida
na~ao encontrava-se como que jugulada por urn sist
nistrativo rigoroso. Todo .poderosos, viviam os fu
apesar de tudo, amedrontados. 0 medo engendrava
tidade. Gra~as a metodos de fiscaliza~ao severos e a
inflexivel, indispensavel para levantar as somas nece
pagamento da constru~ao, da administra~ao e do
obtivera Diocleciano de seu povo uma resigna~ao
preciso calar-se, obedecer e pagar. S6 Roma estava
imposto. Era 0 linico priviIegio da antiga metr6pole
o julgamento da Hist6ria, fortemente influenciado p
tos antigos de fonte crista, condenou severamente, e d
. negativa, as medidas tomadas por Diocleciano, ultim
458
~ava, inevitavel, e era impossivel obter a seguran
sem exigir sacrificios da naC;ao inteira. Dioclecian
o problema com seu "estado de aperto"; chama-
nossos dias, a "economia de guerra". Tinha por Hm
o equipamento do exercito.
Hoje, nao se ignora mais que a economia planificada
ciano era bastante fraca em mais de um ponto. Mais
dente de notar, com todo 0 conhecimento dos fatos
e que 0 mundo moderno tenha recaldo nos mesmos
verificar posteriormente que semelhantes metodos n
lograr exito!
No reinado de Diocleciano, tentou-se tambem lim
dos prec;os. Em 301, Hxou 0 imperador, de maneir
para 0 Imperio, os pre\-os das mercadorias, os ganho
rarios e os salarios. Cria-se assim evitar exigencias
da corte e do exercito. Todo mercador, que ultrapassa
comercio os pre~os maximos, era passivel da pena
bem que tivesse sido precedido por uma esta biliza~a
monetario com base no padrao-ouro, nao obteve es
exito algum. Tornando-se raras as mercadorias,
mercado negro, e 0 sangue correu.
"Acuados, os comerciantes nao ousavam mais ve
carestia dos viveres aumentou em proporc;oes a
escreveu 0 cristao Lactfmcio, na sua obra De mo
secutorum.
Promulgada em 301, num edito, a "tarifa dos pre~os
de Diocleciano tornou-se publica e foi gravada e
Algumas ainda existem. Quando se percorre a lista
cadorias cujos pre~os foram tarifados, a vida cotidia
epoca passada toma a nossos olhos relevo impression
Tiriham os romanos uma alimentac;ao extremamen
Fica-se estupefacto diante do numero de alimentos
venda. Citemos em primeiro lugar as aves domesticas
a perdiz, 0 pombo selvagem, 0 pombo domestico, a
pato e 0 pavao eram evidentemente iguarias procur
das, encontravam-se cenouras, alcachofras, aspargos e
Ravia abundancia de frutas: ma9as pequenas e
figos da Siria, tamaras, damascos, pessegos, cerejas
Acrescentemos as amendoas, as nozes, "os peixes
e 0 vinho do Egito.
As "pedras de tarifas maximas", cujo texto se gravav
ou em grego, ou nas duas Hnguas ao mesmo tempo,
se descobrem sem cessar fragmentos nas provinci
romanas, proporcionam-nos interessantes detalhes
da maneira de via jar, de locomover-se naquela ep
tiam veiculos-camas, veiculos de carga e veiculo
Fabricavam-se para uso dos veiculos de transpo
cubos, raios, bancos e uma especie de ferradura na
no casco do animal. Guarda-p6s guarneciam as l
diam-se comprar mantos com capuz, romeiras, ves
ric;:os com colchetes e roupas de baixo de pelo
Vendiam-se peles de carneiros para os chapeus e gor
de linho c lenc;:6is, capas para colch6es, fronhas de tr
canetas, tinta e pergaminho ac;:afroado.
Interessa conhecer algumas corporac;:oes de oHc
openirios qualificados para a pavimenta9ao (de marm
cheteiros especializados em encrustac;:oes murais ou
polidores, tosquiadores, veterinarios, barbeiros, alfa
tureiros, massagistas especializados nas termas, p
advogados. No que concerne a hist6ria da econom
a lei sobre os pre90s maxim os constitui 0 docum
importante e mais completo da Antigilidade.
Ignora-se durante quantos anos esteve em vigor es
Provavelmente foi abolido 0 mais tardar em 305, p
da abdicac;:ao de Diocleciano: Se e passivel conhece
essa lei; a vida catidiana da epoca, sabe-se tamb
ponto a economia foi "planificada" ate no minimo d
bern que a diferen9a hierarquica persistisse entre
servus, e 0 campones enfeudado, colonus, a planificac
460
porque os legiomhios 0 preferiam as outras divind
bremos que 0 imperador exigia de seus suditos uma
absoluta, adoratio.
Quando Diocleciano compreendeu que, sob a inf
cristianismo, 0 mundo romano acusava tal decadencia
no ano de 303, e provavelmente sob a instigac:;:ao
a perseguir os cristaos.
Essa perseguic:;:ao foi, pelo menos parcialmente, co
dum fato preciso. Por ocasiao de um sacriHcio, nao
o imperador imolar convenientemente a vitima. 0
desastroso da oferenda, a que cesar GaIerio assistiu
tado a influencia nefasta e oculta dos cristaos. To
vidores do palacio receberam entao a ordem de sa
deuses de Roma. Os que a isso serecusavam eram
a cacete.
Descobriu-se, durante essa repressao, que 0 prop
imperial estava "minado" pelo ideal cristao. Decid
rador uma "depurac:;:ao" do exercito e dos funciona
ameac:;:a do sacrificio obrigatorio, as numerosas pess
recusaram a ele submeter-se foram despedidas.
Nascido em 250 depois de J. c., mais ou menos, e
ao cristianismo em 305, Lactancio, originario da
romana da Africa, evocou na sua obra Da Morte
guidores dos Cristaos, 0 terror das vitimas e 0 cas
que feriu seus carrascos.
Se Diocleciano mostrou-se demasiado avisado para
imediatamente repressoes de grande envergadura
religiosas, pelas reac:;:oes que provocaram entre
foram perigosas e tomaram muitas vezes uma am
prevista. Na manha de 23 de fevereiro de 303, pro
uma intervenc:;:ao criminosa que se revelou inoper
sastrosa.
Em Nicomedia, perto do palacio imperial, erguia-se
lica crista. Das janelas do palacio, podiam-se ver
que, todos os dias, se dirigiam a reza. Era uma c
sagrados, pilharam e destruiram 0 que lhes caiu nas
pretorianos, armados de machados e de alavancas,
em boa ordem e demoliram a igreja que, algumas h
erguia orgulhosamente suas flechas para 0 ceu. as cr
a despeito da primeira depurar;ao, tinham eonser
postos e suas funr;6es no exercito e na administrar
amear;ados de prisao. a edito de depurar;ao era val
Imperio, mas ate entao 0 sangue nao havia corrido.
Em Nicomedia, urn cristao corajoso arraneou 0 decre
num edificio publico. Rasgou-o em pedacinhos e grit
mente que s6 se tinham inscrito nele "as vit6rias co
contra os godos e os sarmatas".
Acusado por Diocleciano e Maximiano de crime de
tade, oondenaram-no a ser queimado vivo. 0 Ma
Romano faz menr;ao desse exemplo. as imperadores
que "se aplicassem todas as torturas conhecidas". Ma
soube suportar seu martirio com uma serenidade de
que nao se eonseguiu deseobrir em seu rosto 0 mell
sofrimento. Foi, como 0 relata Lactancio, "ass ado viv
tou sen calvario com nma paciencia admiravel. Que
ate Hear reduzido a cinzas".
Pan co tempo depois, 0 palacio imperial em Nicome
diou-se e poueo faltou para que os dois velhos im
nele perecessem. Diocleciano ordenou que fossem
servidores submetidos a tortura.
Quinze dias mais tarde, 0 palacio ardia de novo. GaI
suas suspeitas sobre os cristaos. Ora, segundo Lac
"GaIerio que, pela segunda vez, pusera fogo ao p
dramatica narrar;ao de Lactancio e pormenorizada
com pena severa e agressiva. Testemunha ocular, ' na
para por em duvida suas asserr;6es, mau grado a
do tom. Por outro lado, 0 historiador cristao Eusebi
que Galerio foi 0 verdadeiro instigador das pe
cristas.
462
cipio, submetidos as mais refinadas torturas, e de
dados. Antimio, 0 bispo de Nicomedia, morreu co
Duma maneira geral, todo cristao que caisse entr
dos carras cos sofria a pena merecida por urn i
Massacravam-se os homens sem processo, sem
previo. Pedro, 0 camareiro de DiocIeciano, morreu
quencia da tortura. 0 confessor Donato ficou seis
masmorra imunda e sofreu suplicio mais de nove vez
rooegou sua fe e saiu vivo de sua prisao ap6s long
Doroteu e Corgonio, dois altos funcionarios da corte,
as persegui90es cristas, foram executados da ma
cruel.
Rouve assim milhares de martires. Citemos entre o
lebres: Sao Sebastiao e Santa Ines em Roma, Santa
Siracusa, Santa Catarina em Alexandria e Santa B
Nicomedia. Em Tiro, no Egito, em Sarag09a, em Tr
reram os cristaos pela sua fe e foi~lhes concedida
martir.
Quando os cristaos enterravam as vitimas de sua fe
ravam-nas e lan9avam-nas ao mar, a fim de que a
desses mortos nao provocassc a conversao de futu
litosl
Em algumas regioes do Imperio, encontravam os cr
tolerancia, confessada ou oculta, entre os funciona
didos, escandalizados pelas horrlveis efusoes de s
Calia e na Cra-Bretanha, governadas por Constanci
as igrejas foram arrasadas, mas pouparam-se as criatu
nas. Em outras provincias, desenrolaram-se cenas o
govemadores faziam arrastar os cristaos para diante
pagaos. Depois libertavam-nos, decIarando bern alto q
cumprido os sacrificios de uso. Mas, a fim de qu
desse credito a tais declara90es, proclamavam os c
altas vozes sua £e inabalavel!
Todavia, alguns govern adores deram prova de uma
extrema. Torturas refinadas, variantes sadicas de
crueldade - fizeram 0 impossivel para evitar a ex
cristaos. Gabavam-se entao de nao ter matado, mas
a alegria de "quebrar a resistencia" dos crentes.
Relata Lactancio que 0 govemador da Bitinia m
orgulhoso, como se tivesse vencido uma tribo de
quando urn cristao, ap6s ter resistido durante dois
gava sua fe. Contavam-se entre os mais humanos, o
dores que mandaram executar os cristaos rapidam
tortura. Mas em muitas provincias, e sobretudo
govemadoria de GaIeria, a "cac;:a as feiticeiras" to
amplitude ate entao desconhecida no Imperio:
Na verdade, 0 paganismo em agonia e os antigos de
cados de seus pedestais nao recuaram diante de
alguma antes de afundar no nada, para dar lugar
nova: 0 cristianismo venceu na dor e no sofrimento
Nao se deve tambem esquecer 0 entusiasmo, a forc
da Igreja primitiva, a vontade de sacrificio, a alegr
morrer como martir, naturais nos primeiros cristaos
mulheres, houve adeptas que suplicaram mesmo ao
que as executassem porque eram cristas. Outras prec
na arena para ali serem devoradas pelas feras. Ou
atrafram voluntariamente a atenc;:ao dos govema
grande era a paixao que animava sua fe, quando m
para 0 suplicio.
Em nenhum momento, tentaram os cristaos esca
perseguidores, fomentando uma rebeliao ou uma
Curvaram-se diante da autoridade e da perseguic;:a
ofereceram a Cesar 0 que a Cesar era devido. Mas n
deram testemunho de uma coragem sublime. Imitand
e 0 ensinamento do Cristo, venceram no sofrimento
espada, mas pela aceitac;:iio e pela resignac;:ao. Seu
diante da dor ultrapassava qualquer medida imagin
pode ser aqui descrito .. Esses mediadores entre 0 C
que, pela sua morte expiat6ria, permitiram e ativara
do cristianismo, conservando para 0 mundo a palav
464
~ao, porque estavam convencidas de que, com 0 seu
suspiro, penetrariam na beatitude etema. Parece
que uma fe tao sublime tenha podido existir. A a~ao
operava com uma eficilcia soberana. 0 dinamism
meiros cristaos foi sem igual, 0 poder espiritual,
exerceu uma irradia~ao {mica e sem igual. Foi as
cristianismo recebeu 0 impulso que 0 transportou
na dura~ao e na etemidade dos hom ens.
No come~o, freiou Diocleciano 0 furor coletivo q
sencadeara contra os cristaos de Nicomedia. Preoc
conservar 0 dominio sobre 0 con junto das persegu
mulgou segundo edito ordenando apenas a deten~a
Com toda objetividade, parece que tenha sido pa
modera~ao. Convem julga-Io com equidade. Pagao
supersticioso; acreditava, pelo contrario, com since
deuses roman os que, no passado, tin ham forjado 0
grandeza de Roma. Os romanos e seus partidarios
manter a tradi~ao, reclamavam para suas divindade
de antigiiidade. Todavia, 0 africano Am6bio, na
persegui~6es, em 305, escreveu e afirmou com corag
obra composta de sete livros, as ideiasseguintes:
"Vosso culto tambem, no momento em que se iniciou
Ora, 0 valor de uma religiao nao pode ser julgad
sua antigiiidade, mas segundo sua divindade; o. qu
nao e conhecer 0 dia em que se come~ou a adorar
mas a natureza mesma desse Deus. Existe uma divin
antiga do que eIe? A quem deve a etemidade aquilo
cisamente, the confere sua natureza de etemidade
sucessao ininterrupta dos tempos infinitos a conseq
tural de sua dura~ao, que sera sem fim? Ora, vos
romanos eram apenas homens. Onde existem nup
mentos, partos: parteiras, oficios, doen~as, onde a
condiciona a escravidao, onde se encontram feriment
sangue, amoricos, saudades nostalgicas e vQlupia, o
em sua religiao. Venerava os deuses rornanos, agua
ansiedade seus pressagios e, curioso das revela~oes
esquadrinhava as entranhas dos animais sacrificado
surpreender a vontade do ceu. Somente contra os
persas sentia 6dio feroz. Diodeciano enviava os dis
Manes, com seus textos sagrados, ou para a fogueir
as galeras, porque nas suas pessoas percebia 0 imp
s6 os perigosos fanaticos religiosos, mas os inimigo
os partidario, os agentes secretos do rei dos persas. P
ciano, a propaga<;ao da mistica rnaniqueia arriscava
a potencia dos deuses persas e, com ela, a de seu ini
Diocleciano, s6 Jupiter era 0 Deus e 0 protetor d
Convicto de que Jupiter the dera 0 poder e a gl6ri
as divindades romanas.
Diocleciano ignorava 0 extase e a gra<;a da beatitu
nao era, pois, urn rnistico. 0 cristianismo nao pod
espirito calculador, a inteligencia organizadora e fr
criatura positiva. Deuses novos e, antes de tudo,
unico, incompreensivel e inacesslvel, pareciam-Ihe
susceptiveis de provo car a vingan~a dos deuses rom
balavel, tinha Diocleciano fe na missao eterna da
roman a, gra~as a sua cultura, a sua lingua e a su
Foi, entre os imperadores do fim da Antiguidade,
querer preservar e conservar intacta a hegemon
tradicional. 0 Estado greco-bizantino do Oriente era
contra-corrente antagonista desse derradeiro profeta
Durante 0 ana das persegui<;oes cristas, 0 dalma
em companhia de Maximiano, dirigiu-se a Roma p
o vigesimo aniversario de seu reinado. Mas Diocle
tia-se angustiado. Tornava-se neurastenico. Seu estad
se agravou e, urn ana mais tarde, por ocasiao da
regresso a Nicomedia, grave depressao nervosa este
de provocar-Ihe a morte.
Ignora-se a natureza exata da molestia aguda de que
(talvez urn ataque de apoplexia), mas tem-se certez
466
Dois meses mais tarde, a L O de maio de 305, Dio
seu cO-imperador abdicaram. A abdica<;ao de Maxim
zou-se em Milao. Perto de Nicomedia, ao pe dum
Diocleciano apresentou-se perante 0 exercito com
ganhara tantas batalhas. Com os olhos cheios de
declarou que se senti a demasiado idoso, doente, e
necessidade de repouso.
Constancio e Galerio, os dois cesares, sucederam ao
dores demissionarios. Come<;ava uma segunda tetrar
Durante vinte anos, reinara Diocleciano sobre 0 m
fendera 0 Imperio e criara uma administra<;ao de en
gigantescas. Agora, 0 grande organizador retirava-se
cidade natal, Salona, na Dalmacia. Completara os
de reinado previstos no seu sistema tetrarquico. Ago
viver a existencia pacifica dum campanio.
D esejava 0 ancHio, de toda a sua alma, a calma, 0 r
que queria gozar. Tendo previsto 0 dia de sua abdica
dara construir para si urn s61ido palacio, bern
copiado do modelo dum acampamento romano. Es
era ao mesmo tempo uma fortaleza, uma casa de
uma "vila". Diocleciano queria viver os derradeiro
sua existencia numa fortaleza, porque the impo
seguran<;a. Desconfiava dos crisUios e nao ignorav
corte numerosas personalidades se haviam conv
segredo.
o palacio, cujas fachadas de leste e de oeste m
metros, afetava a forma de urn trapezio retangular. A
maci<;as que 0 enclausuravam dos lados norte, lest
tinham uma espessura de 2 m 10. Na fl'ce meridlonal
uma altura de 24 metros! Ao suI, estava 0 palacio
para 0 mar, e a fachada media 181 metros.
A nove metros acima do solo, na fachada do suI,
corredor, coberto e abrigado, servindo de passeio
de colunas e de vinte a quatro arcadas. Era ali qu
imperador passeava lentamente todos os dias, perdid
raneo permitir-Ihe-ia fugir para 0 mar.
Era a fortaleza perto de Salona tao imponente que
Media uma cidade inteira se agrupou em redor
aninhada sob sua protec;ao. Era Espalato, hoje Split
lavia. Em 1926, contaram-se no interior da fortaleza
e 3.200 habitantes. A potencia da construc;ao sobr
do Adriatico da testemunho da violenta vontade qu
toda a sua existencia, se abrigava no corpo do gr
trutor.
Os apartamentos situados na face suI do palacio
todas as pec;as necessarias ao trem de vida de urn
Urn triclinium (sala de refei96es), cubicula (quartos
ninfeias (salas guarnecidas de banheiros, de fontes
tuas), biblio,tecas, banhos, em suma, todo 0 confo
arquitetura greco-roman a pudera realizar.
No circuito do recinto estavam situados, ao mesm
lojas, os entrepostos, os locais dos escravos, os eSb
fornos. No andar, encontravam-se os apartamentos d
e da comitiva, porque 0 imperador tinha consigo
toda com pI eta. ,
o palacio tinha acesso por tres port6es. 0 portao
voltado para Salona, e a celebre Porta Aurea, de qua
e . meio de altura e mais de quatro . metros de la
ocasiao das escavac;6es realizadas de 1904 a 1910, p
que os alicerces da porta atingiam a perto de tres
profundidade. .
Fiel ao deus que venerava, mandara Diocleciano
interior do palacio urn templo de JUpiter.
Urn aqueduto de oito quilometros de comprimento,
ora subterraneo, levava ao palacio a agua potavel do
Sobre os 670 metros que media 0 aqueduto, eram
suportados por pHares de 16 m 50 de altura. Quan
cedeu, em 1878-1879, a sua reconstruc;:ao, urn terc;o d
mento primitivo podia ser ainda utilizado tal qual
minimo de reparac;aes. Tinha a agua importancia c
468
canteiros da regii'io participavam da constru9ao do e
pedras provinham das pedreiras da provincia. Mas o
das colunas do pahlcio vinham das pedreiras de m
Egito, granito rosa, porfiro, marmore cinzento, v
branco. Para embelezar as salas, colossais escultura
foram transportadas por mar.
Todavia, uma viagem rapida interrompeu 0 repouso
rador. Teve de comparecer a uma conferencia, em
a margem do Danubio, para ajudar Galerio a repo
nos negocios do govemo. Se recusou a oferta de re
fun90es imperiais, foi testemunha do desmoroname
sistema administrativo. Soube que sua esposa e sua
yam sendo perseguidas, depois, que tinham side a
no momento em que tentavam juntar-se a ele.
Seu espfrito tornou-se sombrio e tacitumo. Sem rep
corria as imensas galerias de seu palacio. Proferia
ninguem compreendia. Diocleciano perguntava a si
qual razao a obra de sua vida, a organiza9ao criada e
para durar, havia-se desmoronado tao ntpidament
sozinho, constituindo assim a unica exce9ao na su
imperadores que, todos, pereceram assassinados.
No seu palacio de Salona, mandara Diocleciano co
mausoIeu de forma octogonal, cercado de vinte e q
nas. 0 sarcofago, de porfiro vermelho, devia ser co
rneio da cupula central. Esse Mmulo do famoso c
do espirito romano era coberto por uma tape9aria d
Quando os raios do sol poente penetravam pela
ogiva, tomava tambem a penumbra uma tonalidade
melho-dourado. Era ali que 0 imperador desejava rep
etemidade. Mas la so ficou durante meio seculo,
sarcofago e seu conteudo foram roubados.
Para aMm da morte, devia 0 cristianismo encontrar u
de vingan9a. Nos proprios lugares onde repousava 0
que quis salvar 0 Imperio Romano e seus deuses ant
truiu-se uma igreja crista: a catedral de Espalato.
uma luz bem acima do sol, 0 signo vitorioso da Cr
seguintes palaV1'as: "Com este sinal vencerus
472
tancio, apelidado Constancio Cloro (0 Palido). Rec
com efeito, a Inglaterra. Remontando 0 Tamisa, e
tenda em Londres. Constancio iria, alias, morrer na
em Eburacum (York), como 0 imperador Setimo Se
o imperador Galerio, duro e intolerante, era homem
cia bern diversa. Irrefletido e impulsivo, enganava
vezes nos seus calculos e nas suas previs6es. Era am
no correr dos anos de 303 e 304, perseguiu com encam
os cristaos.
Lembremos que foi Galerio quem induziu Dioc1eci
segui9ao dos crentes. Com a mesma seguran9a de
prova por ocasiao de suas sevkias contra os cristao
seu novo cargo imperial. Sucessor de Dioc1eciano, acr
com toda 16gica, 0 chefe supremo da tetrarquia, 0
principal entre os quatro monarcas. Agia, alias, em d
disso, sem ouvir a opiniao de Constancio, seu comp
Ocidente e mais velhla do que ele, a quem, normalm
devido caber 0 comando da tetrarquia.
Era com desconfian9a que os dois Augustos se olhav
tancio Cloro, que residia na Galia, e 0 robusto G
residia a leste, na planicie do Danubio. A situa9ao m
tensa; os dois cesares, Severo e Daia, eram instrumen
entre as maos de Galerio. Em suma, num mundo
por quatro imperadores, Galerio reinava, de fato, s
do is homens de confian<;a de Galerio, Severo e Daia
estreitamente Constancio, que nao tinha, praticam
nhuma liberdade de a<;ao.
As maos de Constancio viam-se tanto mais ligadas q
filho Constantino vivia na corte de Galerio, seu
oculto e nao dec1arado. Educado no Oriente Proxim
Constantino, longe de seu pai e de sua mae Hel
dura aprendizagem da vida. Tendo terminado ' sua
rnilitar sob a fiscaliza<;ao de Dioc1ef'iano" 0 rapaz,
do genial organizador em Nicomedia (para onde c
politica 'intemacional) medira as gran des correntes q
uma vez, tenha percebido na pessoa daquele bela a
laura e de elevada estatura, urn sucessor digno de
tetrarquia nao era hereditaria e os imperadores n
escolher seus cesares entre os membros de suas famil
tivas. Assim, 0 rapaz sofreu mais de uma humilhac;a
a abdicac;ao de Diocleciano e foi Daia, e nao de, que
o titulo de cesar. Depois, tendo de acompanhar 0
GaIerio, colocaram-no de novo sob estreita vigilan
urn refem, cadeias invisiveis retinham-no na cOrte
que, desconfiado e suspeitoso, possuia com a pessoa
especie de penhor que 0 garantia contra qualque
hostil de Constancio, seu co-imperador e pai de C
De certo, 0 corajoso jovem i que aspirava a urn al
ocupou posic;ao elevada na corte de Galerio. Jove
distinguiu-se na planicie do Danubio durante as gue
sivas contra a invasao dos sarmatas. Todavia, jamais
par a vigilancia rigorosa que se exercia contra de.
Entrementes, preparou Constancio uma expedic;ao
pictos e os escotos (os antepassados dos escoceses
entao 0 que se chama urn "momento hist6rico"!
despachou a seu colega Galerio urn emissario, rogan
Ihe enviasse seu filho Constantino, de que necess
sua campanha britanica. A decisao de Galerio er
Reter Constantino teria sido urn ato de hostilidade
Se 0 deixasse partir, pai e filho teriam liberdade de
vontade.
Posto diante de urn problema complexo e dificil d
GaIerio, como de costume, agiu sem nenhum escru
a Constantino ordem de juntar-se a seu pai mas, seg
a probabilidade, encarregou Severo de aprisiona-lo,
rer da viagem. Ora, Constantino teria de percorrer as
colocadas sob 0 dominio do cesar Severo. Compreen
raz6es que obrigaram Constantino Ii fugir, com grand
duma muda a outra, e a extenuar e depois matar s
474
tribos britllnicas. Os soldados, illl maior parte g
adoravam 0 rapaz e Croco (ou Eroco), principe alem
considerava-o ja como 0 futuro Augusto. Era preci
desejo de Constancio que, doente desde muito temp
em Ehoracum. 0 exercito romano, composto de
barbaros, proclamou Constantino imperador, a 25
de 306.
Vma embaixada foi ter com GaIerio para anunciar 0
tecera na Bretanha e pedir-Ihe seu consentimento. 0
GaIerio nomeou Severo, que the era totalmente
Augusto, isto e~ imperador, e reconheceu Constan
imperador suplente, nomeando-o cesar. Constantin
satisfeito, porque possula, como 0 precisou Josef
melhor ?,iografo moderno, "0 dom precioso de sab
sua hora .
Ora, a morte de Constancio Cloro provocara urn
de revolta entre os alemaes e os francos. Constant
imediatamente ao ataque. Apo<:1erou-se dos reis dele
e Ragaiso, encarcerou-os em Treves, depois mandou
como pasto as feras na arena da cidade. Reorganiz
do Reno e langou em Colooia uma ponte sobre 0 R
Retirado para sua cas a de campo de Lucania, na I
dional, 0 ex-imperador Maximiano sentia-se irritado.
admitir que 0 rebento ilegftimo de Constancio Clo
sido proclamado imperador, enquanto que seu pro
Maxencio, tinha de ficar na sombra. Maxencio vivia
dores de Roma e Maximiano, furioso, mergulhado em
amargas, construla pIanos para 0 futuro.
Severo, que governava a Italia meridional, era imp
Roma. No pass ado, Maximiano, que residia em M
por este motivo afastado a antiga capital do centro
mundial.
Quanto a Diocleciano, reinava no Oriente. Por o
raras estadas que teve de fazer em Roma, impressio
desfavoravelmente, a cidade e a populagao. Pres
seguinte, novo centenario da fundac;ao de Rama
comemorado e, nessa ocasiao, Roma, a orgulhosa
universo, desejava receber as honras que the era
as pretorianos nao queriam deixar-se afastar da ce
Ficaram nos seus acampamentos, depois entraram a
em revolta. Maxencio foi entao proclamado imperad
derradeira vez, foi Roma cidade imperial.
Ora, Galerio, que s6 tolerara a contragosto a procl
Constantino, decidiu desta vez opor-se pela forc;a
de Maxencio. Detestava' seu genro, esposo duma su
primeiro leito, indolente, mole, sem virilidade, ma
isso menos arrogante e pretensioso. Mandou Sev
Maxencio. Mas Maximiano e Maxencio, 0 pai e 0 fil
seusesforc;os e conseguiram capturar Severo. Quan
se dirigiu ao local para encarregar-se pessoalmente
c;oes, encontrara Severo assassinado.
Nesse jogo de xadrez nao escasseavam as manobr
Para conservar a amizade de Constantino, 0 ex
Maximiano deu-Ihe como esposa sua filha Fausta.
ainda nao era nubil, Constantino, contudo, a am
mente, e des de a idade mais tenra, cc)Usiderava-a
noiva.
Incapaz de gozar, com toda a tranquil ida de, 0 se
o velho Maximiano proclamou Constantino August
ao mesmo tempo, chamar Augusto pelo seu novo ge
miano e Constantino, de perfeito acordo, foram
pela multidao. Mas 0 velho nao estava tranquilizad
seu filho, em Roma, usava igualmente a purpura.
pois, aRoma e, diante dos legionarios reunidos,
toga imperial dos ombros de Maxencio.
Mas os legionarios romanos tomaram 0 partido do
gostavam de Maximiano, que reinara em Milao.
havia-se profundamente enganado e tratou de por-s
para pedir protec;ao a Constantino, seu genro.
476
. ~
,Ij)
/
(Split) .q
478
regi6es mais recuadas a civiliza9aO, a cultura e a f
trutiva de Roma. Ali, compreende-se que as dista
existiam para aqueles homens. Nao foram mesmo urn
serio para urn velho fatigado como Diocleciano!
Naquele mundo em decomposic;ao, a velha raposa f
uma vez admirar seu genio organizador. A "orde
restabelecida. Mas certos soberanos ambiciosos,
reformar e de fazer tremer 0 mundo, tinham bri
ausencia no congresso de Carnunto.
A inveja desempenhou de novo seu papel destruidor
tamente compreenslvel que Constantino e Daia nao
satisfeitos com ver Lidnio proclamado Augusto. C
sentia-se humilhado e, com Daia, reclamou os mesm
o velho Maximiano, sempre alerta, nao podia su
exilio. Procurava erguer sua filha Fausta contra s
e fomentava urna revolta entre os legionarios de
Constantino. Mas, desta vez, desmascarado, foi exec
Constantino, resolutamente, libertou-se dos entraves
tituia aquele sistema hierarquico ultrapassado. Dec
descendente direto de Claudio II, 0 Godo e tomou
protetor da segunda e nova dinastia flaviana 0 de
invendvel, 0 Sol Invictus de Aureliano. Reconheceu-
mente como 0 descendente e 0 herdeiro direto de um
ilustre. Estigmatizando 0 tirano Maxencio, revelou p
sua hostilidade contra ele. Mas procurou ganhar as
dos cristaos de Roma e da Italia.
Quanto a Maxencio, achou urn pretexto para entrar
contra Constantino. Invocando 0 afeto que tiver
defunto pai, declarou que Constantino assassinara e
sem razao valida. Para comec;ar as hostilidades, ma
rubar as estatuas de Constantino em Roma.
Na Cermania, na Calia e na Bretanha, recrutava C
tropas e transpas os Alpes. Maxencio, a £rente du
muito mais nurneroso, estacionava em Roma onde
fonna duma imensa galeria abobadada. A basilica r
via de lugar de reunHio e abrjgava 0 tribunal.
Mais tarde, os arquitetos cristaos inspiraram-se na f
volumes daqueles edificios para construir suas ba
e, as primeiras igrejas cristas. A basilica de Maxenci
-mente, serviu de modelo a Miguel Angelo, quando
o zimborio de Sao Pedro.
Roma preparou, para 0 ano de 313, 0 grande jubi
funda9ao. Para retomar seu lugar e tornar-se de nov
e a senhora do mundo, tinha Roma necessidade de
radar aureolado de gloria. Se os romanos acredi
Maxencio seria esse homem que procuravam, comp
bem depressa que 0 novo idolo nao era, na verda de
tirano egoi'sta, duro e depravado.
A frente de 90.000 infantes e de 8.000 cavaleiros,
Constantino as portas de Roma. Maxencio dispunha
infantes e de 18.000 cavaleiros. Encerrou-se em Roma
demolir a ponte sobre_0 Tibre. Era em Roma mesm
pole inexpugmivel, que queria resistir aos ataques
tantino.
Maxencio sacrificava aos deuses e consultava os on
sibilas. 0 nome de Sibila, cuja origem remonta aos
Asia Menor, designa as sacerdotisas e as profetisas
cujos oraculos Virgilio descreveu na Eneida. O
ordenaram a Maxencio que repelisse 0 agressor. T
Tibre numa ponte de barcas, composta de duas p
radas ligadas por correntes, £acil de destruir em caso
sidade. A batalha realizou-se na margem oposta,
ponte Mulvio.
Constantino deu, a principio, uma carga de cavalar
em boa ordem, a infanta ria travou 0 cqmbate.
Seus legionarios estavam animados dum sentimento
desconhecido dos mercenarios; urn espirito novo,
na sua furia combativa. Inferiores em numero, mas
ultrapassaram pela sua cora~em os legioncirios de-
480
Quando a noticia da morte do imperador espalhou-se
ninguem ousou manifestar alegria. Duvidava-se da
do fa to e temia-se a colera de Maxencio. 0 histori
Zosimo, que escreveu cerca do ano de 425, uma histor
evocou, em estilo vivo, a atmosfera reinante en tao
de Roma. Mas quando a populaC;ao pode ver a
Maxencio, enfiada na ponta duma lanc;a, urn entusia
explodiu.
Constantino condenou alguns partidarios do impe
cido. 0 Senado consagrou a Constantino os ediH
trufdos em honra de Maxencio e conferiu-lhe 0 titul
de Augusto.
o imperador fez uma entrada triunfal na cidade.
outubro de 312, libertador de Roma e nuncio da paz
tino, vindo pela via Flaminia, entrou na cidade
Triumphalis. Sabe-se que 0 arco de triunfo de C
fora elevado por Maxencio, mas para sua propria
veio a terminar-se em 315, tres anos apos a entrada
tantino em Roma.
Queria 0 costume que 0 desfile triunfal terminasse o
mente pela marcha para 0 Capitolio, onde 0 imper
ficava a Jupiter. Ora, Constantino renunciou a essa c
nao sacrificou aos deuses pagaos, quando seu povo
esse gesto ritual, sobretudo da mao de Constantino, q
em Roma pela primeira vez em sua vida. 0 Senad
tradiC;ao, venerava sinceramente os deuses romanos
com satisfac;:ao nao dissimulada uma confirmaC;ao
nos deuses antigos.
Mas Constantino evitou o. templo capitolino. Antes
da ponte Mulvio, urn acontecimento sobrenatural de
tocado a alma e revoltado sua consciencia. Era 0 q
'Sava entao nas altas esferas romanas e foi tamb
pretende a le~da. A respeito da lenta evoluC;ao que
no espirito de Constantino,elaborou a ciencia histo
ha carencia total de visionarios. Ora, a conversao es
Constantino representava, ap6s a existencia do C
conversao de Sao Paulo, 0 acontecimento pSicol6gico
de conseqiiencias hist6ricas.
Em 312, antes da batalha da ponte Mulvio, 0 imp
mano, de origem iliria, teve a subita revela<;ao da o
do Deus dos cristaos.
Eusebio, 0 mais fertil dos autores do imperio roma
contemporaneo e favorito de Constantino, deixou-nos
<;ao da visao do imperador. Lactancio, seu contempo
versao diferente do famoso sonho pelo qual foi C
advertido da revela<;ao divina.
Constantino teve uma visao. 0 sol e a cruz tra<;av
urn signo desconhecido. Durante seu sono, uma voz th
que colocasse 0 emblem a divino no escudo de seu
Obedecendo a essa injun<;ao divina, Constantino fez
combaterem sob a prote<;ao do signo sagrado. Deu
gravar nos escudos a letra grega X. Essa letra corre
Ch, do nome de Cristo em latim. Na haste da direi
do X, mandou Constantino ajuntar 0 tra<;o curvo d
no nome de Cristo. Era 0 monograma de Cristo: ~
Esse signo reaparece, quando se imita e reproduz a
as duas primeiras letras do nome de Cristo - 0 khi
gravadas no capacete de Constantino.
o capacete monogramado do imperador sera repro
medalhas alguns anos ap6s a batalha da ponte Mulv
lha ocorreu em 312; e a medalha de prata de Ticino f
em 315. Na ponta da crista do capacete imperial, h
grama ~
No khi deitado, encontra-se 0 rho grego, isto e, as
meiras letras (C e R) do nome de Cristo. Essa meda
tra-se no gabinete de numismatica da cidade de Mu
Foi autentica ou imaginada pelos historiadores a
Constantino?
482
o sobrenome de PanHlio. A Faculdade possufa uma
tecas mais celebres da epoca, a do exegeta Odgene
zado, por ocasiao das perseguir;:oes cristas do impera
morreu Odgenes em consequencia de suas torturas e
Eusebio escreveu grande numero de obras import
Vida de Constantino e urn verdadeiro canto de a
cado a vitoria do cristianismo. A ciencia historica
tern certeza de que as indicar;:oes capitais de Eu
autenticas.
Ora, numerosos historiadores tentam provar que na
sebio quem compos a Vita Constantini. Estimam q
obra tivesse existido no 4.° seculo, os escritores
te-Ia-iam utilizado, ou pelo menos mencionado. Or
autor do 4.° seculo fez alusao a uma biografia de C
escrita por Eusebio, e esta restrir;:ao parece conf
existe dela uma tardia contrafar;:ao crista. Quem de
ideia com tanta inteligencia quanto erudir;:ao e 0
belga Henri Gregoire.
Era Eusebio muito piedoso e 0 amor a verdade estav
a sua profunda fe crista. Com a historia de sua prop
escrevia a biografia de urn homem a quem conhec
mente. Constantino descrevera a Eusebio, com
detalhes, a visao da cruz divina que the aparecera.
. relato do venenivel historiador, que viveu de 260 a
de J. c., Constantino, antes da batalha da ponte Me
o auxHio de Deus. Suplicou-Ihe que the desse a
revelar;:ao de sua verdadeira essen cia. Enquanto 0
suplicava, mergulhado em suas preces, 0 signo
aparecera, No ceu, numa aureola luminosa acima d
como que cristalizadas pela luz, a Santa Cruz e esta
gravadas no azul:
In hoc signo vinces (com este sinal venceras).
Nao se pode duvidar da realidade do fato. Const
muito confidencialmente, alusao a sua visao, e, dum
esteja em condic;ao de receptividade. A maneira p
visao fonna unidade com a' representac;ao subjetiva,
pela qual uma e criada ou provocada pela outra, a
entre a ac;ao exercida pela potencia do sobrenatu
forc;a divina guard am seu impenetravel segredo.
Por conseqtiencia, 0 que importa aqui para 0 caso
tantino, nao e essencialmente saber se a visao era "
mas penetrar 0 estado de receptividade de Const
desejo de ser escolhido para perceber 0 signo do D
deiro e umco. 0 que importa e que Constantin
descrito, e, por fim, que tenha crido nele. 1!: i
verificar que a ciencia historica modema tende a co
ela foi "autentica", e nada imaginaria ou inventada.
caso, a autenticidade evidente e verossimil. Heinz K
veu, com justa razao, que a fabulac;ao, a imaginac;a
nao correspondem absolutamente ao carater e ao
mento de Constantino.
"A visao foi relatada por testemunhas dignas de fe;
cren~ crista de Constantino, depois de 312, nao e
duvida alguma."
Komemann, especialista na historia da Antigu
creveu:
"Que 0 Deus cristao tenha penetrado a alma do ho
nobre e mais eminente de seu tempo, que essa revel
constituido 0 "acontecimento subjetivo" capital da
de Constantino, e urn fato que, em nossos dias, n
negar."
Duma maneira geraI, as apreciac;oes gerais de Burck
achava que 0 imperador era urn politico positiv~, m
nada mistico nem religioso, estao atualmente ult
Jacob Burckhardt, historiador de arte, filosofo de or
via em Constantino urn ser que se aproximara d
divino pela grac;a de uma "segunda mao", is to e,
tic;ao, e que se serviu do cristianismo unicamente c
politico.
484
inesperada, e esses fatores sao a conseqiiencia im
falta de aten9ao concedida ate entao a evolu9ao
de Constantino. Consciente da missao que deveu
"mais e mais cristianizado e certo de Ser urn elei
Kraft), Constantino descobriu 0 cristianismo, nao dum
brutal e subita, mas lentamente e duma maneira abs
logica. Nao se tratava aqui duma conversao espeta
duma evolu9ao lenta, perfeitamente coerente. Penet
imperativos da missao que tinha de cumprir, sua
intima the trazia a firmeza e a autoridade com as
por ocasiao da batalha que travou contra Maxencio
se deve esquecer que sua posi9ao, a priori, era precar
ana de 312. Considerava-se Roma inexpugnavel. Seu
dispunha dum exercito superior em efetivos. As e
que Constantino fizera no curso de suas campanhas
nao podiam ser-lhe de socorro algum aqui, no que
tomada da fortaleza mais moderna e mais poderosa
Por outra parte os aruspices pagaos the tin ham a
que se abstivesse de provocar uma guerra contra .Max
Foi, pois, seu puro apostolado que 0 impeliu a a9
colocar 0 combate decisivo sob 0 signo do Deus inv
por esta razao que se voltou para Cristo, mediad
cujos disdpulos, sacrificios e ideal de amor nao tinh
ser nem dominados, nem surpreendidos pela potenc
do imperador romano.
Constantino tinha uma memoria precisa e exata dos
corte de Diocleciano, depois na de Galerio, puder
a ineficacia e a inutilidade das persegui90es cristas
simpatizante com a fe crista, detest.ava Diocleciano
Sem trai-Ios, surpreendera tantas palavras e tantos
NuIil tijolo proveniente do palacio de Diocleciano
descobriu-se urn peixe gravado (urna especie de
Alguns indicios fazem crer que tun homem perseguid
tra90u as pressas aquele simbolo. Colocara contra a
lado gravado do tijolo, a fint de dissimular a men
sabera jamais 0 nome do homem, que, forte em s
tombando sob a angustia, no palacio de Espala
assim em segredo, 0 signo que testemunhava seu amo
o jovem Constantino, educado na corte de Dioclec
cebeu, freqiientes vezes, os divin~s signos revelad
certo que a gravidade do problema da Reden9ao
escapar-lhe. Sofreu, por outra parte, a inflw3ncia m
de seu pai, tao tolerante; depois teve conhecimen
tragico de GaIerio. 0 inimigo irredutlvel dos crista
com efeito, ap6s cruel agonia, nos pavores provo
evolu9ao dum cancer.
Diante de seu Hm iminente, Galerio pensou que 0
cristaos the dera a terrivel molestia. E 0 feroz p
a 30 de abril de 311, pouco antes de sua morte,
urn edito todo cheio de tolerfmcia, em favor dos cr
Nao se deve esquecer por outra parte que as cor
giosas e a evolu9ao intelectual da epoca favoreciam
urn gesto decisivo. Se Constantino tivesse sofrido
as certezas e as angustias duma tragica crise de c
em seus atos reagiu lentarilente e com prudencia. Jo
adorado JUpiter, Hercules e Apolo. Depois, foi 0 d
invisivel, umco, invendvel, perto ja da concep9ao cr
mente 0 deus do Sol invisivel apareceu-Ihe como 0 D
Seu slmDolo divino representava uma cruz sem po
sobre a qual estava desenhado 0 sol f' . No com
reinado, nao se recomendou Constantino ainda a
pelo nome de cristao. Os tempos nao haviam pass
nado era pagao, paga tambem a maioria da pop
Imperio. A:"sim, a inscri9ao descoberta no arco de t
firma a pruden cia do imperador: "A inspira9ao da D
Se as representa90es Hgurativas sao ainda alegoria
do Sol, 0 texto menciona ja a "divindade" e faz n
aparecer a transi~ao entre 0 culto solar e 0 cristiani
Constantino estava sem duvida intimamente convenc
devia ao Deus dos cristaos sua vit6ria sobre Max
486
CONSTANTINO
490
provincias danubian as e balcanicas. Lidnio dispu
poder importante. Constancia nao se sentiu satisfeita
uniao. Seu esposo obrigou-a a adotar urn filho que ti
escrava, porque nao podia esperar outra descendenc
mento deles fora concluido em virtude de razoes
segundo 0 desejo de Constantillo. E Constancia,
romana, submetera-se as razoes de Estado.
Em Milao, os dois imperadores decidiram instaurar a
religiosa; 0 cristianismo devia ser tolerado. Os im
confessaram-se disdpulos da religiao da Summa D
Divindade Suprema. Era prematuro nomear aber
Deus cristao. Segundo 0 acordo de Milao, os bens
os lugares de reuniao dos cristaos deviam ser res
diversas comunidades cristas reconhecidas. De fu
cidadao teria 0 direito de viver segundo a religi
escolha. :It inUtil sublinhar que a liberdade religios
tava em primeiro lugar aos cristaos. Com 0 fim
Lidnio a sua fe, de predispo-Io favoravelmente p
cristianismo, de facilitar-lhe, em larga medida, a ap
nova politica religiosa, prometeu Constantino a se
aumentar-Ihe 0 poder soberano e os territorios com
Maximino Daia, que reinava sobre as provincias do
Para Daia, as conven~oes de Milao constituiam um
seria. Decidiu ganhar dianteira a Lidnio e .a tacar as
balcanicas. Demasiado ocupado em repelir os franc
Constantino, segundo toda a probabilidade, nao pod
seu colega. Daia nao era precisamente 0 que se c
criatura atraente.
IHrio, brutal e grosseiro, homem de baixa extra~ao
poder a que havia ascendido, debochado, era domi
mulheres; bebia demais, era supersticioso e sem tal
ticos e militares. Pela severidade de suas perseguir
pelo contrario, ultrapassado de cern covados 0
Diocleciano, contudo tao temivel, com suas extermin
feitamente organizadas. Maxirnino Daia estava con
Lidnio. Ignorando qualquer escrupul0 e as aten
naturais, fez os animais de carga correrem -pelas
cobertas de neve da Asia Menor. Esgotados, seu
pereceram e 0 exercito de Daia sofreu perdas con
Durante onze dias, sitiou Bizancio. Apoderqu-se da
bern como de Perinto e de Heracleia e marchou so
nopla. Em Tzirallum, nao longe de Heracieia, na T
vou-se a batalha, a 1.0 de maio de 313.
Os adversarios dirigiram-se a deuses diferentes.
batalha, os soldados de Lidnio imploraram 0 de
invendvel, 0 que nao era ainda 0 Deus cristao. Mas
crista assinala aqui a aparigao de urn anjo.
Os soldados cle Maxirnino Daia tinham posto sua
no poder dos antigos deuses romanos, na infaHv
dos advinhos e dos oraculos. A 1.0 de maio de 313
frente dum exercito bern inferior em ntlmero, alcan
bante vit6ria contra Daia. Venceu, sob a divina p
deus invislvel, senao verdadeiramente cristao.
Maxirnino Daia mandou executar, como vulgares t
os adivinhos que tinham anunciado sua vit6ria. Eus
a severidade com a qual 0 destino feriu Maximino
morreu de lepra ou de sffilis.
"Inexoravelmente, sem esperanga, suas entranhas
puseram. .. Por causa de sua voracidade, seu co
como urn amontoado de gordura que se desman
podridao."
Miseravel destrogo; torturado por insuportaveis d
acusou-se perante Deus. Mandou cessar as persegu
mulgou ordens para a reconstrugao das igrejas e
cristaos que rezassem por ele. Eusebio escreveu qu
dade, merecia Daia sua punigao. Nao somente fizera
milhares de cristaos pelo fogo, pela espada, pela fo
crucificagao, nao somente os langara as feras ou
no mar, mas havia-os mutilado - homens, mulheres
de olhos vasados, de pes esmagados - para manda
492
- Minhas duras experit~ncias ensinaram-me que 0
cristiios e 0 verdadeiro Deus - declarou antes de ex
Licinio mandou precipitar a esposa de Daia no
estrangnlou-Ihe 0 filho, de oito anos de idade, be
filha, de sete anos.
Enfim, reinava Constantino no Ocidente e 0 impera
no Oriente. A tetrarquia de Diocleciano nao existi
dois chefes de Estado, ligados por urn parentes
teriam po dido fundar urn imperio romano sob 0 sig
e da tolerancia religiosa.
Favoravelmente impressionado por Constantino,
encontro em Milao, dirigira Licinio aos govern a
provincias asiaticas proclama~6es, ordenando a lib
cultos. Mas, ail poucoa pouco, sua tolerancia se esf
dar lugar ao 6dio e as pe,rsegui~6es.
Consciente do perigo que representava a atitude
Constantino quis criar urn Estado intermedi;hio
mundo e 0 de seu co-imperador. Casou sua meia-
tacia com urn. tal Bassiano, a quem nomeou Cesar
confion 0 governo da Italia e da Iliria.
Instavel, inca paz de manter palavra, chicanista,
agressivo, Licmio tinha urn espirito rebelde e intri
dicou-se tao bern a suas ocultas coospiratas que Sen
seu irmao Bassiano a assassinar Constantino. Mas est
deu a conjura. Mandou executar Bassanio e exigiu
a extradi<Jao de Senecio. Licinio recusou.
No ana de 314, a primeira guerra entre as dois im
come~ou. Na batalha de Cibalis, a margem do-Save
tino ganhou uma primeira vit6ria, a 8 de outubro
resultado de urn segundo assalto, na Tracia fico
Conclufram en tao uma paz coxa e decidiram que
se liinitaria aos territ6rios colocados sob sua ob
sendo os de Constantino, alias, os mais importantes
primeira vez, uma verdadeira partilha do Imperio;
vestre e pode-se sup or, com toda a verossimilha
constru~ao das primeiras igrejas foi urn dos assunto
conversas. Constantino confiou aos cristaos altos car
gie do Sol Invictus desapareceu das medalhas e 0 d
reconhecido oficialmente como urn dia feriado.
A instaura~ao do repouso dominical demonstra a
que se operou entao, a transi~ao essencial, capita
o Deus cristao substituiu 0 deus do Sol. 0 domin
Sol (dies solis) e como uma ponte ligando 0 culto
cristianismo. Nao se ignora que 0 dies solis era
dia da semana do calendario romano. Entre os cri
dia era consagrado a reuniao dos crentes: Agora, a i
do dies solis, como feriado publico, aproveitava a
e aos adoradores do deus Sol, porque, ate entao,
dia da semana nao era feriado. Pouco mais ou menos
epoca, come~ram os cristaos a comemorar 0 nasc
Cristo a 25 de dezembro, que e 0 dia do nascime
invictus. Fiel servidor da religiao revelada, Constant
o paganismo e suas festas no molde cristao.
Seu adversario prosseguiu urn caminho bern diferen
de 321, come~ou Lidnio suas ferozes persegui~5es
cristaos. As igrejas foram destrufdas, os dignitarios c
a morte e os fieis lan~ados na prisao. Eusebio escre
prop6sito:
"Lidnio estava convencido de que nossos atos e lloss
s6 serviam para ol;>ter 0 favor de Deus em prove ito
tantino."
Alguns cristaos "foram executados segundo uma te
dema. Com a espada, cortavam-se os corpos em
peda~os, e, ap6s essa horrenda crueldade, essas ign
cias, lan~avam-nos ao mar para que fossem devora
tubar5es".
Quando, em 324, os godos atravessaram 0 Dallubio
ram no imperio romano, Licinio deveria te-los repe
travou. Licinio invocou os deuses pagaos. Reuniu os
os profetas egipcios, os envenenadores especializad
gicos, os sacerdotes e os astr610gos, e sacrificou aos d
interrogava para conhecer 0 resultado da guerra. Os
da vontade dos deuses, por meio de senten9as he
pela fbr9a "sobrenatural" dos poemas, oraculos e c
maram que Licinio conquistaria a vit6ria. Os augure
CQncluiram, observando 0 voo dos passaros, que a f
sorriria. E os aruspicos confirmaram esses pressagio
"Essa batalha demonstrara qual de n6s dais possui a
9a - afirmou Licmio. - Se nossos deuses a1can9arem
levaremos a guerra contra todos os infieis (os crist
Constantino colocou-se ainda uma vez sob a prote9ao
da vit6ria~'. A 3 de julho de 324, esmagou Licinio nu
ravel batalha, em Andrinopla. T ornou-se entao 0
Europa. Licinio, acuado, ocupou Bizancio, mas C
investiu a cidade. Refugiado na Asia, veio a ser Lic
tivamente posto fora de combate em Cris6polis.
Calcedonia depuseram as armas.
Deve-se lembrar que Constancia, a meia-irma de C
havia desposado Licinio. Implorou a seu irmao 0 p
Licinio. Constantino concedeu-Ihe a vida e autoriz
a .viver, livre e em paz, em Tessalonica.
Ora, 0 aut6crata Licinio era incapaz de viver sem e
poder temivel e sem se entregar a nebulosas intri
conversa9oes com os barbaros das provincias d
Essa viola9ao da palavra dada, essa trai9ao, provo
deten9aa. Condenado pelo Senado romano, Licini
cutado.
Senhor do mundo, primeiro imperador cristao da ter
Constantino a for9a vitoriosa do signo miraculoso.
de encarnar 0 eleito de Deus, derrubou todos os
que interditavam aos cristaos 0 exercicio de seu cu
construir e restaurar as igrejas. Num conselho suprem
dignitluios cristaos reuniram-se em tomo do impera
tantino regulamentou e organizou os neg6cios da Ig
As comunidades cristas nao estavam de modo algum
nUII)a cren9a unanime. As Faculdades de teologi
trinarios professavam concep96es diferentes e mu
antagonicas. 0 ensinamento cristao era obscurecido
toes insidiosas quanta a revela9ao, por duvidas, p
contradit6rias ' e por urn sectarismo obstinado. A he
valor espiritual temlvel que caracterizou a epoca.
essa palavra grega significa "0 que foi escolhido".
dela entao para designar as doutrinas que se afa
ensinamento cristao oficial e ortodoxo. Nao se dev
que essas lutas sao 0 espelho de uma epoca em que
"atraves das rea90es provocadas pelos fil6sofos d
dade, construlram e regulamentaram sua £e e sua
(Vogt). .
Constantino desejava a unifica9ao das Igrejas cristas
o "catolicismo" era a unidade tao desejada. Ora, n
sobretudo, esse fim se achava longe de ser atingido.
e as concep90es mais contradit6rias eram · ali disc
paixao. Em 318, em Alexandria, urn padre, Ario, cens
doutrina nova. 0 heresiarca foi excomungado por
seu . bispo. Mas outros dignibirios orientais aliaram
doutrina e the concederam sua prote9ao. 0 arianis
pagou e as comunidades cristas do Oriente com
agitar-se. Ario ensinava que 0 Cristo e Deus 0 Pai
seres distintos, de essencia analoga mas nao consubst
Para resolver a questao, 0 imperador Constantino
maio a julho de 325, as bispos do Imperio no condlio
na Bitinia. A fim de que todos os altos dignitario
pudessem a de comparecer, ordenou Constantino
sesse em servi90 a "posta publica" e se colocassem a
dos organizadores todos os animais de carga nec
seu born funcionam ento.
496
exemplo de sua vida ascetica e de sua piedosa e pe
consta!lcia, outros ainda eram celebres pela sua
exemplar. Veterarios anciaos acotovelavam jovens
entrados de poueo ao servi~o da eristandade. 0
fazia-se ouvir na lingua latina e a assembIeia era
polita que se tomava preciso traduzir seus discurso
se exprimiu em grego, foi eompreendido por grand
de ouvintes. Constantino conseguiu eonvencer uns e
outros e pos todos de acordo quanta aos problemas
Segundo seu desejo, decidiu a assembIeia que todos
sem exce~ao, celebrariam doravante a Pascoa uma ve
"porque 0 Salvador nos legou urn s6 dia para nossa
o dia de seu Calvario sagrado e, segundo sua vontad
cat6liea sera uma".
A decisao mais importante do SiDOdo foi a que cortou
versias suscitadas pela doutrina de Ario. No Simbolo
compos-se a "verdadeira" profissao de fe dos crista
Em 327, por ocasiao dum segundo concflio, Consta
trazer Ario de novo a profissao de fe crista. Trope~o
oposi~ao de bispo Atanasio, e as exegeses, as co
recome~aram com impeto, durante varios anos. Des
Atanasio banido para Treves.
Durante 0 lapso de tempo que separou os dois con
de 326), tomou-se 0 imperador cristao culpado d
grave. Duma liga~ao com Mamertina, sua concub
Constantino urn filho, Crispo. Fausta, a esposa legit
perador, apaixonou-se pe~o filho mais velho de seu e
Ora, quando Fausta verificou que os temos sentim
sentia por Crispo nao eram retribuidos, quando 0
vinte anos, repeliu suas propostas, a decep~ao e
inspiraram a Fausta a ideia diab6lica de caluniar C
a seu pai. Pretendeu (e 0 que se supoe) que Cris
abusar dela. 0 epis6dio faz pensar em D. Carlos
Felipe II, da Espanha, em Pedro, 0 Grande, qu
executar seu filho Aleixo. Burckhardt cita a esse p
na qual, segundo 0 sistema de Diocleciano, teria ele d
Desempenhou Fausta, para com seu enteado, 0 papel
De sua uniao com Constantino haviam nascido tre
podia-se supor que quisesse ela perder Crispo aos
seu pai, para salvaguardar os direitos de seus propr
o imperador, tao ponderado, entrou em violenta c
The dar oportunidade de justificar-se ou de explicar
deira conduta, mandou Constantino executar Crispo
na Dalmacia. Ora, 0 jovem Crispo, que se tinha
catorze anos, estava inocente do crime de que 0
Foi a piedosa Helena, mae de Constantino, quem d
impostura. Suprimiu-se entao Fausta. Obrigaram-n
urn banho de vapor nas termas do palacio, enquant
dores aqueciam os fomos ao extremo. Morreu ela
Depois do drama, promulgou Constantino uma lei in
o concubinato. Sem duvida, experimentou profund
pela sua falta. Sem duvida, compreendera que su
dade insuflara em sua esposa 0 desejo e 0 gosto
proibido.
Naquela epoca, houve urn acontecimento que gu
valor capital. Constantino transferiu a sede do Im
Biztmcio, que toIpou 0 nome de Constantinopla, g
desta maneira 0 nome do primeiro imperador cri
a terra. Antes de escolher Bizfmcio, sonhara Consta
outras cidades: Serdica (Sofia), Salonica, Sirmio e T
diu-se por Bizancio, situada na proximidade da
administrativa de seu predecessor Diocleciano. Biza
destinada a tomar-se uma Roma crista, uma Rom
e 0 tra~ado da nova cidade era calcado sobre 0 de Ro
os trabalhos de coostru9ao come9ado a 26 de novem
foi Constantinopla inaugurada a 11 de maio de 330.
Constantino regulamentou entao a sucessao ao trono
de seus filhos devia receber uma parte do Imperio; u
parte era reservada a seu sobrinho. Na semana de
ana de 337, contraiu 0 senhor do mundo uma grav
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Somente na hora da morte e que recebeu, das mao
Eusl bio de Nicomedia, 0 batismo cristao. Escolher
damente aquele instante para entrar no seio da Ig
Desta maneira, pensava, os erros que cometera d
existencia apareceriam aos olhos dos homens como o
de urn incredulo. Tendo recebido 0 batismo, entro
eterna com a alma desembara~ada de todo pecado.
Havia Constantino acariciado 0 projeto de fazer-se
aguas do Jordao, "nas ondas onde, para nossa edifiC
Salvador recebeu 0 batismo".
- Enfim eis chegado - dizia de - 0 momenta tao
que desejei de tbda a minha alma para encontrar
em Deus!
No derradeiro dia de Pentecostes do ana de 337, 0 h
recebera a revela~ao do signo sagrado e que 0 ha
para sempre ao Ocidente, adormeceu para a eternid
Num sarc6fago de ouro, os despojos de Constantino
foram . transportados para Constantinopla e expost
mais vasta e mais suntuosa do palacio imperial. V
yam em candelabras de DurO e inundavam com
luz 0 catafalco sobre 0 qual repousava 0 imperad
fronte cingida por urn diadema, revestido com su
batismo. Recusara levar a purpura imperial depois
recebido nas fontes batismais. Dia e noite, os legion
ram 0 seu corpo. Na hora marcada, os altos funci
dignitarios e os chefes do exercito ajoelharam-se
despojos mortais de Constantino. 0 ceremonial da c
rolou-se segundo 0 costume, rihlal frio e inexorav
unico entre os mortais que, aMm da morte, per
imperador".
Depois, com a vinda de Constante que, unico do
ilustre defunto, acompanhara sep. pai na cidade e
sac6fago foi transferido para a igreja dos Ap6stolos
tino mandara construi-Ia perto da nova metr6pole e
para 0 ceu a uma altura prodigiosa".
pareciam velar juntamente com 0 protetor dos crist
tantino, imperador do mundo, quis encarnar 0 decim
ap6stolo, 0 anunciador da fe. E, vencedor, gra9as
alegre e invencivel, esperava ser digno de receber
morte, 0 nome de ap6stolo.
Naquele lugar, nao repousava, solitario e abandona
nara que celebrassem, naquele mausoIeu, missas pe
de sua alma. Esperava ouvir as preces que, pert
homens dirigiam aos ap6stoIos de Cristo.
Foi Constantino seguramente urn homem feliz, por
9ara a fe. Grac;as a ele, e para alem da morte, ce
milhoes de humanos acederam a pura revela9aO d
crista. Foi feliz, indizlvelmente, porque soube que
a vida eterna, penetrando na radiosa luz de Deus.
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