O sonho real de Luis Fernando Veríssimo

Esquina FC
2 min readSep 27, 2020

Autor de inúmeros livros sobre os mais diversos temas, Luis Fernando Veríssimo também é um reconhecido cronista esportivo. O estilo romântico, com demasiada atenção dispensada a fatos que poucos olhos torcedores se atentam, faz dele um dos grandes da área. A depender do resultado da peleja, suas crônicas despertam sentimentos de alívio ou paixão. Foi assim que o escritor cobriu nada menos que 6 Copas do Mundo (entre 1986 e 2006) por alguns jornais brasileiros.

Além de testemunhar o desfile da “amarelinha” pelos palcos mundiais, Luís Fernando, que nasceu em 1936, também teve o privilégio de testemunhar, em 1956, a estreia de Pelé pelo Santos e as duas finais intercontinentais que o alvinegro praiano disputou no Maracanã. No entanto, nenhuma das grandes atuações do rei do futebol o fez mudar a sua grande paixão: o Sport Club Internacional.

Apesar de ter herdado o talento literário de Érico Veríssimo, seu pai e um dos gigantes da literatura brasileira, Luis Fernando decidiu mudar os rumos futebolísticos da família. Érico, pouco afeto ao futebol, era gremista. Porém, a tentativa de converter o filho ao tricolor gaúcho foi frustrada pela brilhante fase do Inter nos anos 40, tempos do “rolo compressor”. Foi justamente nessa época que Luis Fernando debutou nas arquibancadas do Estádio dos Eucaliptos — antiga casa do Inter. Ironicamente, presencional uma trágica derrota do Colorado para o Tricolor.

As décadas se passaram, as glórias dos anos 70 vieram e o declínio dos anos 80 e 90 foram encarados como o “fim da história” pela torcida vermelha do Rio Grande do Sul. Para Luis Fernando, contudo, tudo isso foi um grande prelúdio para o dia 17 de dezembro de 2006, o dia para o qual a história do Inter e, por que não, a história do Brasil convergiram. De Pedro Alvares Cabral ou Dom Pedro II a Falcão, todos fizeram parte de uma grande narrativa cujo desfecho ocorreu em Yokohama. De tão improvável, aquele Inter x Barcelona parecia nada mais que um sonho aleatório no qual um personagem como Gabiru aparece “do nada” e se torna um protagonista. Foi assim que o autor gaúcho definiu a conquista do Inter na crônica “Não me acordem”, publicada um dia depois no jornal Zero Hora.

Uma vida resumida em uma partida. Dramas, glórias, alegrias, tristezas, centro e periferia representados em campo. Uma profusão de sentimentos. O sonho de Luís Fernando Veríssimo era real e não foi necessário que alguém o acordasse.

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