Sociedade

Cristina Sampaio: “Recebi ameaças e mensagens de ódio às dezenas por causa deste cartoon. O sentido de humor está a perder-se completamente”

Depois da polémica com o cartoon, transmitido pela RTP, de um polícia francês a treinar tiro a alvos com diferentes tonalidades, a autora Cristina Sampaio explica: “Eu não acordei de manhã a pensar, 'olha, agora vou atacar a polícia portuguesa'. Não havia nada neste momento em Portugal que justificasse o cartoon, mas, se houvesse, eu faria na mesma, porque não estava a criticar as forças de segurança. Nós estamos a criticar o racismo na polícia. Estamos a chamar a atenção para um problema. O papel do cartunista é agitar as consciências, não é atacar, nem ferir ou magoar. Há um grande problema hoje em dia que é: o sentido de humor está a perder-se completamente. Não se pode brincar com nada”. Oiça aqui as declarações de Cristina Sampaio, no podcast Perguntar Não Ofende

Passaram 31 anos desde que 28 mil portugueses assinaram uma petição contra um cartoon em que António enfiou o nariz de João Paulo II num preservativo, oito anos desde que milhões de europeus disseram “Je suis Charlie", e poucas vezes se deve ter falado tanto de cartoons em Portugal como no último mês. É sobre ele, mas também sobre indignação, tentativas de censura e as redes sociais que Daniel Oliveira conversa com a sua autora Cristina Sampaio, André Carrilho, António e Nuno Saraiva. Quatro dos melhores cartunistas portugueses.

NUNO FOX

Primeiro, foi a indignação com um cartoon contra António Costa, da autoria de um professor e exibido numa manifestação, considerado racista por muitos. Depois, foi o cartoon de Cristina Sampaio, que foi divulgado na RTP, em que um polícia, treinando numa carreira tiro, era tão mais certeiro quando mais escuro era o seu alvo. Desta vez, a crítica não era porque o cartoon era racista, era porque criticava o racismo das forças de segurança.

Cartoon de André Carrilho

Apesar do alvo da crítica ser a polícia francesa, foi a portuguesa que enfiou a carapuça. Depois do Chega e do PSD terem exigido a presença dos responsáveis no parlamento, o ministro da Administração Interna telefonou ao Presidente da RTP, exigindo responsabilidades e pedindo, cito, sentido de responsabilidade para que “a liberdade de expressão não coloque em causa a imagem e o prestígio das instituições”. Afirmação saída da boca de um democrata que deixaria no desemprego qualquer cartunista decente.

Cartoon de António
Cartoon de Cristina Sampaio

Pelo seu poder metafórico, os cartoons sempre foram uma arma capaz de criar ondas de indignação. Num tempo que a vontade de chocar, por vezes de forma vazia, se generalizou através das redes sociais e em que a indignação passou a ser o estado natural das opiniões públicas, não é certo que todos saibam o espaço que esta forma poderosa de crítica social, cultural e política continua a ter. Num tempo em que algum excesso de correção na linguagem convive com a vulgarização do insulto e do preconceito, os cartunistas podem ser apanhados em fogo cruzado.

Cartoon de Nuno Saraiva

É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha. Subscreva (no Spotify, Apple e Google) e oiça mais episódios:

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: danieloliveira.lx@gmail.com

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