“AS FOTOGRAFIAS” DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de novembro de 1919 – Lisboa, 2 de julho de 2004)
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AS FOTOGRAFIAS
Era quase no inverno naquele dia
Tempo de grandes passeios
Confusamente agora recordados –
A estrada atravessava a serra pelo meio
Em rugosos muros de pedra e musgo a mão deslizava –
Tempos de retratos tirados
De olhos franzidos sob um sol de frente
Retratos que guardam para sempre
O perfume do pinhal das tardes
E o perfume de lenha e mosto das aldeias
Sophia de Mello Breyner Andresen
In: Dual, 1.ª ed. 1972, Lisboa: Moraes Editores. Consultado in: Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética. Alfragide: Editorial Caminho, 2011. Pg. 563.
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Vários fotógrafos retrataram Sophia. Eis alguns:
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Autor desconhecido (?), 1946 (?)
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Fernando Lemos, 1949-52
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João Cutileiro, Lagos, 1960
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Eduardo Gageiro, Na casa da Travessa das Mónicas, 1964
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Inês Gonçalves, anos 80
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Eduardo Gageiro, anos 90
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António Pedro Ferreira, anos 90
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Adriano Miranda, 1999
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Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de novembro 1919 no Porto, onde passou a infância. Em 1939-1940 estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Publicou os primeiros versos em 1940, nos Cadernos de Poesia. Na sequência do seu casamento com o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares, em 1946, passou a viver em Lisboa. Foi mãe de cinco filhos, para quem começou a escrever contos infantis. Além da literatura infantil, Sophia escreveu também contos, artigos, ensaios e teatro. Traduziu Eurípedes, Shakespeare, Claudel, Dante e alguns poetas portugueses para o francês.
Em termos cívicos, a escritora caracterizou-se por uma atitude interventiva, tendo denunciado ativamente o regime salazarista e os seus seguidores. Apoiou a candidatura do general Humberto Delgado e fez parte dos movimentos católicos contra o antigo regime, tendo sido um dos subscritores da “Carta dos 101 Católicos” contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política de Salazar. Foi ainda fundadora e membro da Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos. Após o 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto, numa lista do Partido Socialista. Foi também público o seu apoio à independência de Timor-Leste, consagrada em 2002.
A sua obra está traduzida em várias línguas e recebeu múltiplos prémios, entre outros, o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores em 1964 e o Prémio Teixeira de Pascoaes, em 1977, em 1992 o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, o Prémio Camões 1999, o Prémio Poesia Max Jacob 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana 2003 – a primeira vez que um português venceu este prestigiado galardão.
Foi-lhe atribuído o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico (1981), o grau de Grã-Cruz da mesma Ordem (1998) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1987).
Com uma linguagem poética quase transparente e íntima, ao mesmo tempo ancorada nos antigos mitos clássicos, Sophia evoca nos seus versos os objetos, as coisas, os seres, os tempos, o mar… O mar tantas vezes presente! Os seus poemas integram o Oceanário de Lisboa.
Faleceu a 2 de julho de 2004, em Lisboa. Dez anos depois, em 2014, foram-lhe concedidas honras de Estado e os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.
(Base: Wook.pt)
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Outros poemas de Sophia de Melo Breyner Andresen no Fascínio da Fotografia, aqui (com fotografia de António Bracons) e aqui (“Ilhas”, com fotografia de Daniel Blaufuks).
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