O humor fino em mil faces produzido por Cristovam Tadeu

O humor fino em mil faces produzido por Cristovam Tadeu

Tudo - 11, abril, 2017

 

Falar de Cristovam Tadeu oferece um vasto cardápio de opções. Sua partida súbita, vítima de um ataque cardíaco enquanto dormia no último sábado, trouxe à tona vários relatos e lembranças de seus trabalhos.

As tirinhas foram sua primeira forma de expressão artística, chegando a publicar uma delas no extinto jornal O Norte com apenas 12 anos, já revelando sua predileção pelo bom humor e pela fina ironia, algo que o acompanharia em quase todas as incursões artísticas que havia feito.

O balanço da carreira apresenta números substanciais. Cristovam dirigiu, produziu e escreveu 15 shows humorísticos de palco, duas peças de teatro e também trabalhou com publicidade, estrelando quase cem comerciais por várias cidades do Nordeste. No cinema, participou de Por 30 Dinheiros e está no inédito Beiço de Estrada, de Eliézero Rolim, e foi pioneiro ao produzir o primeiro programa de humor ao estilo das sitcoms da TV paraibana, o Sábado de Graça.

Desde 2011, era o diretor de programação da Rádio Tabajara, tendo como principal preocupação a valorização da produção cultural paraibana. “Nessa gestão, nós diluímos a música da Paraíba dentro da programação, ou seja, você vai ouvir Chico Buarque e na sequência Escurinho. A música que um faz é a mesma do outro”, ressaltou, em entrevista ao jornal A União em 2014.

O humorista de palco

Participando de grupos de teatro desde 1979, Cristovam Tadeu acabou se envolvendo com o palco de outra forma, em shows de humor no formato one-man-show, especialmente no Bar Travessia, na década de 1980. A partir daí, não parou mais. Uma das pessoas que ele trouxe para os palcos foi o humorista Marcello Piancó. “Nos conhecemos na universidade, Minha primeira apresentação da vida em um palco foi durante o intervalo de um show dele. Era um profissional muito dedicado e disciplinado, sempre atento aos pequenos detalhes”, relembra. Uma de suas imitações mais marcantes era a de Caetano Veloso, Dom Marcelo Carvalheira e Ariano Suassuna, em quem baseou seu último show, Movimento Humorial (foto).

O quadrinista

Suas primeiras charges vieram em 1985, nas páginas do Jornal O Norte, mas sua história com a HQ começou antes, com apenas 12 anos, quando conseguiu ter uma de suas tirinhas publicadas pelo mesmo jornal. Alguns de seus personagens mais marcantes foram Lampirão, Ostradamos, Herr Fróid e o bêbado de humor ácido e sem filtros Bartolo, este último publicado em vários jornais do estado, incluindo o CORREIO, onde também foi chargista. “Cristovam tinha uma veia humorística muito forte e uma trajetória longa como quadrinista, com influência forte de Henfil. Foi um dos maiores da produção de tiras aqui na Paraíba, junto com Henrique Magalhães”, pontua Thaïs Gualberto, coordenadora de Quadrinhos da Fundação Espaço Cultural (Funesc).

No teatro

Em 1979, ingressou no teatro ao conhecer o grupo do Teatro Santa Roza, de atores como Ednaldo do Egypto, Lucy Camelo, Luiz Carlos Pontes e Pereira Nascimento. Anos depois, participou de peças de teatro infantil e escreveu a comédia Branca de Calvão e as Sete Nevinhas (foto), re-montada recentemente pela Cia. Paraibana de Comédia e dirigida por Edilson Alves. “Ele era bastante rígido e disciplinado, queria todos os atores com o texto na ponta da língua. Acho que acabei levando muito dessa disciplina dele para meus trabalhos”.

Na TV e no rádio

Na década de 1980, se aventurou por São Paulo, buscando trabalhar com a televisão. Curiosamente, seus primeiros trabalhos foram apenas como a voz, chegando a fazer dublagens para a BKS e na Álamo, fazendo as vozes de vilões de Jaspion. Mais tarde, enquanto humorista, integrou o elenco de Só Riso na Praça, na Bandeirantes, de 1989 a 1990. Aqui, escreveu e dirigiu a sitcom Sábado de Graça, na TV O Norte, de 1999 a 2000 e participou, entre 2006 e 2011, do Show do Tom (foto), da Record TV. No rádio, marcou com o programa Classe X, na Rádio Universitária, como lembra o professor Carmélio Reynaldo que estava com ele no programa. “Espaço aberto para a criatividade imensa dele, que supria qualquer necessidade humana no veículo, fosse para escrever, cantar, atuar ou narrar. De radionovelas a paródia do programa de Xuxa, tudo era possível graças à capacidade de Cristovam Tadeu fazer mil vozes”.

 

(Texto de André Luiz Maia, publicado no Jornal Correio da Paraíba em 11/04/2017)