Estão Todos Bem

De Niro e Drew: relação pai e filha exposta de maneira arrebatadora

Refilmagem escolhe enfatizar sentimentos que
parecem ter caído em desuso pelo cinema

Por Angelo Capontes Jr.

O sentimento paterno de Estão Todos Bem, refilmagem do italiano Stanno Tutti Bene, consegue ser representado de uma maneira tão terna e carismática pelo grandioso Robert De Niro que este drama familiar atinge níveis emocionais arrebatadores.

Na trama, De Niro é um pai que, após viuvar, perde pouco a pouco o contanto com os filhos. Aposentado, prepara uma calorosa reunião familiar, mas ninguém aparece. Decide então ir atrás de cada um para conferir se todos estão bem, como garantem por telefonemas. Não encontra isso. Problemas no casamento, no trabalho, na vida pessoal e até mesmo envolvimento com drogas integram a realidade da vida dos filhos do viúvo.

O filme tenta de todas as maneiras fugir do esquemático. Não só consegue isso como também imprime uma boa visão de família ao mostrar as preocupações mútuas: ele quer sempre o melhor para os filhos, mas para isso precisa da verdade; eles escondem a verdade porque querem o melhor para o pai. Não tenta, em hipótese alguma, passar lições de moral ao espectador – tudo o que recheia a obra é composto de belas análises sobre a família, o lar e o afeto, tirando de curso qualquer impressionismo ou choque que tenha a finalidade de arrancar lágrimas do público.

A busca desse pai, durante as quase duas horas bem distribuídas, é amena. Nada toca; nada estraga. A única finalidade da personagem é contemplar o bem-estar de cada um dos filhos e ficar em paz com isso. Em alguns momentos esse desejo; essa realização; o cega. O clímax, todavia, mostra todas as verdades como uma facada em seu peito embaladas num segmento distinto.

Mais acessível que a obra original, Estão Todos Bem arrebata, também, pelo elenco coadjuvante. Kate Beckinsale faz um trabalho suave, discreto e sereno. Já Sam Rockwell (um ator bárbaro que poderia ter sido um pouco melhor aproveitado pelo roteiro) consegue dividir a cena com De Niro sem se ofuscar. Mas a melhor mesmo é a sempre excepcional Drew Barrymore que, de uma maneira doce e simpática, brilha e coloca sua personagem em auto-relevo.

Trata-se de uma obra construída cautelosamente, com o cuidado certo para que nada caia em cima da relação pai e filho. E esse molde feito à mão não atrapalha o sentimento que é levado durante toda a obra de modo irretocável. O ritmo nunca é apressado e dá tempo e espaço para que todos os problemas sejam resolvidos, todos os segredos sejam guardados, e todas as personagens se construam na base do afeto. Extasia de maneira lenta, mas sempre eficiente – tem calma, cuidado e fôlego suficientes para que o filme não se torne quadrado.

Dessa forma, Estão Todos Bem pode ser definido como uma daquelas serendipidades; uma surpresa agradável. Um filme com virtudes que, às vezes, parecem esquecidas tanto pelo cinema como pelas pessoas: a bondade, a doçura e, sobretudo, o amor.