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PortuguesContemp_3_MP_0081P18013_PNLD_2018

Published by kaylanne Bruna, 2022-06-11 10:35:49

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lÍNGua e liNGuaGeM 149 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2 Observe as expressões: • lavar à mão • lavar à máquina • lavados a seco a. Nas duas primeiras ocorrências, o uso do acento indicador da crase é facultativo. Seguindo a regra da substituição pelo masculino, haveria esse acento? Justifique sua resposta pela regra. b. Reescreva as duas primeiras ocorrências da questão anterior sem o acento indicador da crase, relacione-as aos dois primeiros desenhos do texto e deduza: Por que se optou, no guia, por utilizar a forma com acento? c. Levando o contexto de circulação em consideração, conclua: A ausência de acento indicador da crase poderia acarretar um problema de leitura? Não, pois na forma masculina lavar a seco permanece apenas o a da preposição, sem o artigo o. Segundo a regra, haveria crase se a forma masculina fosse composta por ao, lavar ao seco, o que não ocorre. b) Lavar a mão e Lavar a máquina. Provavelmente porque escritas assim, fora de contexto, pode parecer que a mão e a máquina são objetos do verbo lavar, dando a entender que a mão e a máquina é que serão lavadas. Não, pois nessa situação é possível compreender que se trata de lavar a roupa usando a mão ou a máquina, uma vez que a leitura desse tipo de etiqueta e a busca pelo significado do desenho em geral se dá justamente pelo interesse em lavar a roupa. Relatório e currículo O relatório FOCO NO TEXTO Leia o texto a seguir. Relatório do º Encontro da Comunidade de Desenvolvimento Tema: Programa de Construção Sustentável da CBIC Belo Horizonte Introdu•‹o No dia 10 de outubro de 2012 foi realizado o 4º encontro da Comunidade de Desenvolvimento do CDSC, com o tema “Programa de Construção Sustentável da CBIC (PCS)” . Esse relatório tem como objetivo sumarizar o que foi apresentado e discutido no evento, que contou com 24 participantes, representando empresas associadas ao CDSC, entidades convidadas e integrantes do Núcleo Petrobras de Sustentabilidade e o Núcleo Bradesco de Inovação, ambos da FDC. O CDSC visa a construção de indicadores, ferramentas e abordagens que auxiliam as organizações a entenderem e aplicarem os pressupostos da sustentabilidade. A esse respeito, o principal objetivo do encontro foi, com base no PCS, dar início à construção da agenda mineira de sustentabilidade na construção. Para isso, os participantes foram convidados a debater as questões prioritárias para diferentes segmentos da cadeia produtiva da construção em Minas Gerais, utilizando também como base pesquisas realizadas pelo CDSC e os resultados dos outros encontros. A seguir, os principais pontos discutidos serão apresentados. PRODUÇÃO DE TEXTO PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 149 5/12/16 6:19 PM


150 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO Temas centrais para a sustentabilidade no setor da construção: oportunidades e ameaça No início da sessão foi feita uma apresentação do programa de Construção Sustentável da CBIC (PCS). Em seguida foi iniciado um debate com os participantes do evento com relação aos temas apontados no PCS. Para ampliar o escopo do debate, o CDSC apresentou também aos participantes os temas relevantes obtidos em pesquisas e encontros com empresas. [...] Por onde começar? Um dos participantes apontou que tudo deveria começar com a conscientização, e uma opção colocada foi que a própria FDC poderia oferecer capacitação para maior domínio por parte dos gestores sobre os temas relacionados à sustentabilidade na construção. A justificativa para começar pela conscientização é que o indivíduo consciente sobre a sustentabilidade faz ações relacionadas surgirem. Outra participante ponderou que a sustentabilidade só é realmente levada adiante em organizações com um interesse institucional no tema. Havendo esse interesse, é preciso compreender como as diferentes áreas da empresa se relacionam com os aspectos de sustentabilidade. Para a ampliação da visão de cada área o primeiro passo é a conscientização. Foram ainda apontadas outras formas de se iniciar o diálogo e a implementação da sustentabilidade nos diferentes segmentos: iniciativas efetivas dos sindicatos, órgãos públicos e das empresas particulares em dar realmente destino correto aos resíduos. Outros pontos que deveriam ser trabalhados são listados abaixo: • Inter-relação entre Estado; órgãos reguladores e cadeia produtiva antes de tomada de decisões por meio de reuniões com facilitadores autênticos e atuantes na área de sustentabilidade. • Divulgação de profissionais e empresas que atuam com sustentabilidade para toda a cadeia produtiva da construção. • Trabalho na gestão da responsabilidade compartilhada com o apoio político. • Facilitação do financiamento às empresas que estão trabalhando com os tratamentos dos resíduos. • Envolver os laboratórios das faculdades no desenvolvimento de destinações produtivas para resíduos e de novos produtos. • Qualificação de projetistas para que atribuam conceitos de sustentabilidade aos projetos. • Promoção de maior comunicação entre empresas (construtoras, transportadoras e receptoras e recicladoras de resíduos). Por fim, outra maneira de se trabalhar a sustentabilidade nos segmentos do setor é a partir dos temas levantados. Os temas prioritários – Energia e Educação para a Sustentabilidade – apontados pelos participantes podem servir de ponto de partida. Próximos passos Com os resultados obtidos no encontro é possível perceber a necessidade de se analisar, estudar e propor alternativas diferenciadas para os diversos segmentos do setor da construção, que apontam temas, barreiras e inciativas específicas. O próximo passo é utilizar o material obtido no encontro como insumo para pesquisas futuras, levando em consideração as especificidades dos segmentos do setor da construção. (Disponível em: http://www.fdc.org.br/professoresepesquisa/nucleos/ Documents/relatorio_4_encontro.pdf. Acesso em: 14/1/2016.) Monty Rakusen/Getty Images PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 150 5/12/16 6:19 PM


151Produção de texto A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2 1. O texto lido descreve um evento específico. a. Qual é esse evento? b. Quem participou do evento? c. O que foi discutido no evento? 2. Levante hipóteses: Com qual finalidade o texto em estudo foi escrito? Em qual situação de comunicação ele circula? 3. Observe as siglas contidas no texto: CDSC, CBIC, PCS, FDC. a. Apenas uma entre elas tem seu significado explicitado no texto. Qual é ela? O que ela significa? b. Entre as opções de significado oferecidas a seguir para cada sigla, deduza qual é o correto, tendo em vista o conteúdo do relatório. • CDSC: Comissão para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina • CDSC: Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção • CBIC: Câmara Brasileira da Indústria da Construção • CBIC: Centro Baiano de Incentivo à Cultura • FDC: Fundação dos Direitos da Criança • FDC: Fundação Dom Cabral c. Tendo em vista a situação de comunicação em que um relatório circula, levante hipóteses: Por que, no texto em estudo, o significado dessas siglas não foi especificado? 4. Um relatório pode ser composto por partes diversas, mas há alguns itens que devem estar presentes em todo relatório: objetivo (seja do relatório, seja do evento ou da atividade relatada); ações realizadas; resultados obtidos; possíveis ações futuras. Segundo o relatório em estudo: a. Qual é o objetivo do relatório? b. Quais eram os objetivos do evento relatado? c. Quais foram as ações realizadas? d. Quais foram os resultados obtidos? E a possível ação futura? 5. Releia o item “Por onde começar?”. a. Qual função esse item desempenha no relatório? b. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: Esse item constitui uma parte obrigatória em um relatório? c. Essa estrutura se assemelha à estrutura de qual outro gênero, tendo em vista o detalhamento da descrição apresentada? Justifique sua resposta. 6. Discuta com os colegas e o professor e, depois, anote em seu caderno os itens, entre os seguintes, que podem constar em um relatório. • saudações aos leitores • justificativa • solicitação de patrocínio • impactos causados nos sujeitos envolvidos • prestação financeira de contas • fotos • complicação seguida de clímax • considerações finais • despedida Um encontro de um grupo de discussão sobre desenvolvimento sustentável. 24 pessoas, representando empresas e entidades ligadas a núcleos de discussão do tema. Temas centrais para a sustentabilidade no setor da construção: oportunidades e ameaça; temas relevantes obtidos em pesquisas e encontros com empresas; importância da conscientização e da capacitação, bem como de iniciativas efetivas dos sindicatos, órgãos públicos e das empresas particulares em dar realmente destino correto aos resíduos. Foi escrito com a finalidade de divulgar a um público mais amplo, e não apenas aos que estavam presentes, o que foi discutido no encontro. Pode ser distribuído a pessoas específicas, pode ser disponibilizado em um ambiente on-line ou circular por e-mail ou pelo correios. É PCS, que significa Programa de Construção Sustentável. X X X Porque, em geral, um relatório é um documento que circula em um grupo; portanto, certamente se supõe que as pessoas a quem esse relatório se destina conhecem tais siglas. Sumarizar o que foi apresentado e discutido no evento. Construção de indicadores, ferramentas e abordagens que auxiliam as organizações a entender e aplicar os pressupostos da sustentabilidade; dar início à construção da agenda mineira de sustentabilidade na construção. 4. c) Os participantes foram convidados a debater as questões prioritárias e tomaram conhecimento de pesquisas e resultados dos outros encontros; foi feita uma apresentação do programa; foi iniciado um debate com os participantes; foram apresentados aos participantes os temas relevantes obtidos em pesquisas e encontros com empresas. A percepção da necessidade de analisar, estudar e propor alternativas diferenciadas para os diversos segmentos do setor da construção. / A utilização do material obtido no encontro como insumo para pesquisas. A de detalhar os tópicos do debate feito no dia do encontro. Não, pois é um detalhamento bem específico e facultativo, dependendo dos objetivos e da função do relatório. À estrutura de uma ata, pois detalha a fala de alguns participantes e elenca pontos discutidos e mencionados na discussão. X X X X X REGISTRE NO CADERNO PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 151 5/12/16 6:19 PM


152 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO HORA DE ESCREVER Seguem duas propostas de elaboração de produção de relatórios. 1. No capítulo 1, houve a realização de um debate no qual foram deliberadas ações para a organização da feira de cidadania a ser realizada no final da unidade. A fim de registrar as decisões tomadas, faça, individualmente, um relatório sobre os pontos discutidos no debate. Para isso, utilize as anotações que você fez durante a discussão. 2. Prepare-se para produzir um relatório de prestação de contas da feira. Guarde a documentação que utilizou com vistas à organização dos trabalhos e faça anotações que possam auxiliar na elaboração futura do relatório. Quem ficou responsável por qual tarefa? Quais atividades foram realizadas? Quantas pessoas participaram? Como foi a receptividade dos visitantes à feira? Qual oficina foi a mais concorrida? ANTES DE ESCREVER Planeje seu relatório, seguindo estas orientações: • Reúna todo o material com as informações relativas ao planejamento e/ou à organização da feira de cidadania: documentos, anotações, fotografias, etc. • Certifique-se de que tem à mão informações para contemplar os itens mínimos de um relatório: objetivo, tópicos discutidos, principais resultados. • Defina quais serão as partes do relatório, tendo em vista a principal função dele: é importante mencionar a razão do evento? É interessante anexar algum documento ou imagem? É relevante comentar os impactos do evento na comunidade? • Defina se há necessidade de detalhar as discussões realizadas no evento. • Aponte os resultados do evento. • Caso o evento relatado tenha dado origem a decisões relativas a ações futuras, registre-as. ANTES DE PASSAR A LImPO Antes de dar seu relatório por finalizado, observe: • se o material de consulta que você selecionou foi aproveitado ao máximo; • se os itens mínimos de um relatório foram contemplados; • se as partes que compõem seu texto apresentam informações relevantes, considerando-se a finalidade que ele tem em vista; • se o detalhamento das informações está equilibrado, ou seja, não é exagerado nem insuficiente; • se os resultados ou os planos relativos a ações futuras foram mencionados. Dê continuidade à organização da feira de cidadania que a classe realizará no final da unidade, registrando em um relatório as decisões acordadas no debate deliberativo e preparando a produção de um relatório após a feira, a fim de prestar contas, à escola e à comunidade, dos resultados do trabalho realizado por vocês. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 152 5/12/16 6:19 PM


153PRODUÇÃO DE TEXTO A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2 O currículo Você, que está no 3¼ ano do ensino médio, em breve poderá precisar de um currículo, caso decida ingressar no mercado de trabalho. Trata-se de um documento no qual são relacionadas as principais atividades que uma pessoa já realizou no âmbito escolar e/ou profissional. Veja, a seguir, as principais informações que devem constar em um currículo breve. Nome completo Data de nascimento, estado civil Endereço com CEP Telefones (residencial e celular) E-mail Área de interesse (opcional, caso haja alguma específica) Formação escolar/acadêmica Nome da escola/universidade Curso (ensino médio regular ou técnico) Início e término previsto Formação complementar Cursos de informática, cursos extras cujo conteúdo possa ser relevante para o cargo pretendido (música, esporte, teatro, etc.) Idiomas Nome do idioma, nível de conhecimento, nome da escola, período cursado Experiência profissional Empregos e estágios anteriores, sempre começando pelo mais recente Nome da empresa e período de duração Cargo ocupado e principais atividades realizadas Atividades complementares Atividades realizadas extraoficialmente: cargos ocupados na escola (membro do grêmio, representante de classe, etc.), organizações de eventos culturais, atividades voluntárias socialmente relevantes, vivência no exterior, participação em grupos comunitários, de estudo, de pesquisa, etc. HORA DE ESCREVER Seguem duas propostas de elaboração de currículos. 1. Seguindo o modelo acima, elabore um currículo com o resumo das principais atividades que você já realizou. Tenha-o à mão, caso haja alguma oportunidade do seu interesse. 2. Planeje, com os colegas da classe, uma oficina de elaboração de currículos. Durante a feira de cidadania, vocês poderão elaborar currículos para os visitantes ou dar dicas e orientações sobre como deve ser um bom currículo. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 153 5/12/16 6:19 PM


154 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão ANTES DE ESCREVER Planeje a elaboração do seu currículo, seguindo estas orientações: • Apresente seus dados pessoais de forma completa (números de documentos pessoais são desnecessários). • Só coloque foto (em formato 3 x 4, com roupa sóbria e fisionomia que demonstre seriedade) se houver essa solicitação. • Registre todos os cursos que fez e as atividades profissionais que realizou (de preferência aquelas que você tem como comprovar) e jamais cite cursos que não frequentou. • Seja sincero e objetivo ao mencionar o domínio de algum conhecimento ou a participação em trabalhos ou cursos. • Não faça autoavaliações elogiosas. • Utilize uma linguagem em acordo com a norma-padrão. • Escreva entre uma e duas páginas. Caso você já tenha experiência profissional em que se incluem numerosas atividades, mencione apenas as que forem mais relevantes com vistas ao cargo ao qual está se candidatando. • A não ser que o currículo seja direcionado a uma área artística, prefira um formato clássico. ANTES DE PASSAR A LImPO Antes de dar seu currículo por finalizado, observe: • se seus dados pessoais estão completos e atualizados, sem excesso de informação; • caso haja foto, se ela é adequada; • se todas as atividades relevantes que você já realizou estão mencionadas; • se as descrições de experiências e atividades foram feitas de forma direta e objetiva, sem autoelogios; • se não há desvios em relação à ortografia e à norma-padrão; • se a versão final tem, no máximo, duas páginas; • se o documento está em um formato clássico. Shutterstock PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP2_130a154.indd 154 5/12/16 6:19 PM


155 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 A geração de 30 Colocação pronominal Cartas argumentativas A geração de 30: Carlos Drummond de Andrade CAPÍTULO 3 LITERATURA Coleção Gilberto Chateubriand MAM, Rio de Janeiro, RJ Porto (1935), de Antônio Gomide, pintor modernista que, na década de 1930, passou a pintar temas nacionais, em especial figuras humanas de nossa paisagem. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 155 5/12/16 6:22 PM


156 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão Carlos Drummond de Andrade O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira, Minas Gerais. Estudou Farmácia em Ouro Preto, mas não exerceu a profissão. Foi um dos fundadores de A revista (1925), publicação mineira que tinha o propósito de difundir o Modernismo no Estado. Em 1934, o poeta mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve contato com os escritores da geração de 1930 que viviam na então capital do país. Foi funcionário público e, como cronista, escreveu para jornais mineiros e cariocas. Produziu poesia, crônicas, contos e literatura infantil e é considerado por alguns críticos como o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Arquivo/Agência O Dia/Estadão Conteúdo A poesia de 30 Os poetas da geração de 1930, assim como os romancistas, viveram o período de tensão dos anos 1930-40, marcados por fatos como a Revolução de 1930, o início do Estado Novo (1937-45), a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o acirramento ideológico, entre outros. Apesar disso, a poesia buscou caminhos próprios, diferenciando-se da prosa, que explorou fortemente o veio regionalista. O traço preponderante da poesia dessa geração é a reflexão sobre o “estar no mundo”, voltada muitas vezes para questões sociais, mas também para questões filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. Do ponto de vista formal, os poetas da geração de 1930 mantiveram as conquistas da geração de 22 − como o verso livre, as palavras em liberdade, a busca de uma linguagem brasileira, mais próxima do oral e do coloquial, etc. −, mas retomaram alguns dos procedimentos formais antes combatidos pelos modernistas, como o verso regular, o soneto e outras formas tradicionais da poesia. Aliás, alguns escritores dessa geração, como Vinícius de Morais, destacaram-se como grandes sonetistas. Os principais poetas dessa geração foram Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Morais, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Mário Quintana. A poesia de Drummond será estudada neste capítulo; a de Cecília Meireles e Vinícius de Morais, no capítulo 1 da unidade seguinte. Carlos Drummond de Andrade A primeira obra de poesia de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, foi publicada em 1930. Ao longo dos mais de cinquenta anos de produção literária do poeta, sua a obra foi se modificando, refletindo os fatos histórico-sociais, porém nunca deixou de apresentar certos traços que lhe foram essenciais, como a reflexão existencial e a ironia. Da vasta produção em prosa e verso do autor, daremos destaque à poesia, que contou com várias fases. Os poemas das duas primeiras obras, Alguma poesia e Brejo das almas (1934), foram criados sob a influência dos modernistas de 22 e, por isso, ainda são marcados pelo experimentalismo estético, pelo poema-piada, pela síntese, pela ironia e pelo humor. Apesar disso, apresentam uma profunda reflexão sobre o “estar no mundo”, em uma perspectiva mais individualista e pessimista, revelando um claro sentimento de mal-estar, desagregação e inadequação. A partir de 1940, entretanto, com a publicação de Sentimento do mundo, nota-se uma clara mudança de perspectiva do poeta. Seus poemas se direcionam, então, para temas sociais e universais, como a guerra, e passam a expressar um sentimento de esperança e de união entre os homens. Essa fase se estende nos livros subsequentes, José (1942) e Rosa do povo (1945). A publicação deste último livro coincide com o fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, no Brasil. Nas obras posteriores, o poeta retoma a postura reflexiva e filosófica das obras iniciais, marcada por acentuados traços de desilusão e pessimismo em relação à humanidade. São dessa fase as obras Claro enigma (1951), Fazendeiro do ar (1954) e A vida passada a limpo (1959). Na fase final de sua produção, em obras como Boitempo (1968), Corpo (1982), Amar se aprende amando (1984), entre outras, Drummond se volta para temas universais como a memória, o tempo, o amor e o erotismo. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 156 5/12/16 6:22 PM


LITERATURA 157 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 LITERATURA FOCO NO TEXTO Você vai ler, a seguir, dois poemas de Carlos Drummond de Andrade. O primeiro pertence à obra Alguma poesia, e o segundo, à obra Sentimento do mundo. Texto 1 Coração numeroso Foi no Rio. Eu passeava na Avenida quase meia-noite. Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis. Havia a promessa do mar e bondes tilintavam, abafando o calor que soprava no vento e o vento vinha de Minas. Meus paralíticos sonhos desgosto de viver (a vida para mim é vontade de morrer) faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente na Galeria Cruzeiro quente quente e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro, nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso. Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas autos abertos correndo caminho do mar voluptuosidade errante do calor mil presentes da vida aos homens indiferentes, que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram O mar batia em meu peito, já não batia no cais. A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu a cidade sou eu sou eu a cidade meu amor. (Reuni‹o. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 15-6.) Texto 2 A noite dissolve os homens A Portinari A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tampouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. realejo: instrumento musical que se toca por meio de uma manivela. Nelson Provazi PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 157 5/12/16 6:22 PM


158 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO A noite caiu. Tremenda, sem esperança... os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros. E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas. A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio... Os suicidas tinham razão. Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais acender e dos bens que repartirás com todos os homens. Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna. O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório. Minha fadiga encontrará em ti o seu termo, minha carne estremece na certeza de tua vinda. O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio... Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora. (Idem, p. 57-8.) 1. O poema “Coração numeroso” é organizado em duas partes e mostra impressões do eu lírico na cidade do Rio de Janeiro. Considerando essa estrutura do poema e as ideias que ele apresenta, responda: a. Que versos compõem a primeira e a segunda partes? Justifique sua resposta. b. Que palavra introduz a segunda parte? c. Logo, entre as duas partes, que tipo de relação há: de causa e consequência, de oposição ou de condição? 2. A respeito da relação do eu lírico com a cidade do Rio de Janeiro, responda, justificando com elementos do texto: a. O eu lírico é dessa cidade? Releia os dois versos da primeira estrofe e infira: Qual é a origem dele? b. Como o eu lírico se sente no Rio de Janeiro? c. O modo como o eu lírico se sente resulta apenas de ele estar na cidade do Rio de Janeiro ou ele já se sentia assim antes? Professor: Peça aos alunos que numerem os versos do poema, para facilitar a realização da atividade. A primeira parte é constituída pelos versos de 1 a 14; a segunda, do verso 15 até o último. A primeira parte termina em “Acabemos com isso”, que dá a entender que algo de diferente mas ocorrerá a partir dali. De oposição. Não, pois ele não conhecia ninguém ali; provavelmente sua origem é Minas, pois se refere ao “doce vento mineiro”, como se o vento o remetesse ao passado e a um espaço familiar, de conforto. Ele se sente deslocado, desgostoso e infeliz, conforme indicam os trechos “desgosto de viver” e “Acabemos com isso”. Provavelmente já se sentia assim antes, pois afirma “a vida para mim é vontade de morrer”. A parte “Guerra” do painel Guerra e paz (1956), de Portinari, hoje na sede da ONU, em Nova Iorque. hirto: duro, imóvel. peremptório: definitivo, decisivo. REGISTRE NO CADERNO Sede da ONU, Nova Iorque, EUA PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 158 5/12/16 6:22 PM


literatura 159 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 3. Na segunda parte do poema, algo de novo começa a acontecer, dando início a uma gradação de emoções e sentimentos. a. Como o eu lírico começa a ver e sentir a cidade? Justifique sua resposta com palavras ou expressões do texto. b. Que versos dessa parte exprimem a mudança de sentimentos do eu lírico em relação à cidade? Justifique sua resposta. c. Considerando a gradação, levante hipóteses e responda: A que ou a quem se refere a expressão meu amor, que finaliza o poema? O que essa expressão representa nas transformações que o eu lírico estava vivendo? 4. O poema “Coração numeroso” se inclui na primeira fase da poesia de Drummond, marcada pelo gauchismo (da palavra francesa gauche, “lado esquerdo”, ou seja, a sensação de ser estranho, diferente, inadequado), pelo ceticismo, pela ironia e por alguns traços da geração de 22. a. Há traços de gauchismo no poema? Se sim, em qual parte dele? Justifique sua resposta com elementos do texto. b. Que traços da geração modernista de 22 se observam no poema? 5. O poema “A noite dissolve os homens” também é, como “Coração numeroso”, organizado em duas partes. a. Identifique essas duas partes. b. Que palavras do poema constituem uma antítese entre as partes? 6. Observe estes versos do poema: • “acusam a presença negra” • “A noite anoiteceu tudo...” • “inexperiente das luzes que vai acender” • “adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.” • “se tinge com as tintas da antemanhã” • “e o sangue que escorre é doce, de tão necessário / para colorir tuas pálidas faces, aurora.” a. Que alterações cromáticas, observadas na sequência dos versos acima, ocorrem ao longo do poema? b. Que figura de linguagem se verifica nas transformação das cores? 7. O poema se inicia com o verso “A noite desceu. Que noite!”. a. Que tipo de efeito a noite tem sobre os homens? Que sentimentos desperta nas pessoas? Justifique sua resposta com trechos do poema. b. A ação da noite se restringe a alguns homens ou tem um alcance geral? Justifique sua resposta com elementos do poema. c. O poema foi publicado em 1940. Que elementos do contexto são mencionados nele? d. Levando em conta sua resposta no item anterior, interprete: O que representa a metáfora a noite? 3. a) Ele começa a ver a cidade de outra maneira e a senti-la de forma vibrante, sedutora e sensual, conforme indica o emprego de expressões como fascinação, mil presentes, voluptuosidade. 3. b) Toda a última estrofe, especialmente os versos “O mar batia em meu peito, já não batia no cais”, “a cidade sou eu “ e “eu sou a cidade”, que revelam uma completa identificação do eu lírico com a cidade. 3. c) Professor: Sugerimos abrir a discussão com a classe, pois pode haver mais de uma possibilidade de resposta. Do nosso ponto de vista, a leitura mais provável é a de que a expressão meu amor se refira à própria cidade. Tal sentimento é o auge da gradação, explicitando a descoberta do amor pela cidade experimentada pelo eu lírico. 4. a) Sim, o gauchismo está presente nas duas partes. Na primeira, em razão da fala de identificação do eu lírico com o que vê e sente na cidade: agitação, movimento, barulho, calor; na segunda, em razão da diferença entre ele e os “homens indiferentes”, que não sentem pela cidade o mesmo que ele. Verso livre, fragmentação e uso de flashes cinematográficos, reforçados pela falta de pontuação, como ocorre na segunda estrofe do poema. Cada parte corresponde a uma estrofe do poema. As palavras noite e aurora. A partir da negritude total da noite (“a presença negra”, “a noite anoiteceu tudo”) aos poucos ocorre o clareamento, associado à manhã, primeiro em tons róseos (“vapor róseo”), e depois em vermelho-sangue, trazido pela aurora. A gradação. 7. a) A noite traz a incompreensão entre os homens, paralisa-os e provoca-lhes o medo, conforme indicam os versos “a noite espalhou o medo / e a total incompreensão”. 7. b) Ela tem um alcance geral, conforme indicam os versos “onde se combate”, “a noite dissolve os homens” e “a noite dissolve as pátrias”. 7. c) São mencionados elementos relacionados ao contexto da Segunda Guerra Mundial, que ocorria então, referidos nas palavras e expressões “campos desfalecidos”, “guerreiros”, “almirantes cintiliantes! nas suas fardas”, “fascista”. Representa o momento sombrio que a humanidade viveu durante a Segunda Guerra Mundial. A Galeria Cruzeiro funcionava no térreo do Hotel Avenida, na antiga avenida Central, hoje avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. A galeria tinha bares e restaurantes e uma estação de bondes. O hotel foi demolido em 1957. Arquivo/Estadão Conteúdo The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 159 5/12/16 6:22 PM


160 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO 8. Na segunda estrofe, o eu lírico avista o nascimento da aurora. a. No confronto com a noite, como a aurora se mostra inicialmente? b. O que a aurora traz para os seres humanos? Justifique sua resposta com elementos do texto. c. Considerando o contexto, interprete: O que representa a metáfora aurora? 9. Em “Havemos de amanhecer”, a forma verbal havemos é auxiliar de amanhecer. a. Em que pessoa está essa forma verbal? O eu lírico se inclui entre os que vão amanhecer? b. A postura do eu lírico no poema “A noite dissolve os homens” representa uma ruptura ou uma continuidade em relação à fase gauche da poesia de Carlos Drummond de Andrade? Por quê? Ela se mostra tímida, inexperiente e fria. O fim do cansaço (“Minha fadiga encontrará em ti o seu termo”), solidariedade (“as mãos dos sobreviventes se entrelaçam”), sentimentos humanos (“um perdão simples e macio”). A aurora representa a esperança de um novo tempo, depois de terminada a guerra: um tempo de esperança, amor, solidariedade e comunhão entre os homens. A forma verbal havemos está na 1» pessoa do plural, cujo sujeito desinencial é nós. O eu lírico se inclui entre os que vão amanhecer. 9. b) Representa uma ruptura com o gauchismo da fase inicial da poesia drummondiana. Nela havia uma visão mais individualista e pessimista do mundo, enquanto nessa nova fase o eu lírico se mostra mais aberto ao mundo exterior, mais solidário e mais afável em relação aos seres humanos. Professor: Comente com os alunos que Sentimento do mundo (1940), obra da qual o poema faz parte, é o início de uma nova fase na obra do poeta (que inclui as obras José e Rosa do povo), mais social e comprometida com as questões sociais e políticas do tempo em que ele viveu. Um esc‰ndalo no meio do caminho Um dos mais conhecidos poemas de Drummond é este: No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. (Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.) Veja o que o autor comentou a respeito do poema: O meu poema “No meio do caminho”, composto de dez versos, repete de propósito sete vezes as palavras “tinha” e “pedra”, e seis vezes as palavras “meio” e “caminho”. Isso foi julgado escandaloso; hoje o poema está traduzido em 17 línguas, e me diverti publicando um livro de 194 páginas contendo as descomposturas mais indignadas contra ele, e também os elogios mais entusiásticos. Achavam-me idiota ou palhaço; suportei os ataques porque ao mesmo tempo recebia o estímulo de meus companheiros de geração e de pessoas mais velhas, nas quais depositava confiança pela capacidade intelectual e pela honestidade de julgamento que a distinguiam. (Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2000. Prefácio.) • A poesia da geração de 1930 caracteriza-se, predominantemente, pela reflexão em torno de questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. Do ponto de vista formal, as conquistas de 22 foram mantidas, mas os poetas voltaram a explorar versos e formas convencionais, como o decassílabo e o soneto. • Carlos Drummond de Andrade é o principal poeta da geração de 1930, e sua obra apresenta várias fases. • A primeira fase da poesia de Drummond é marcada por certos procedimentos formais da geração de 22, como o verso livre, a síntese e a ironia, mas também pelo gauchismo, isto é, por uma perspectiva individualista e pessimista em relação ao mundo. • A segunda fase da poesia de Drummond se situa no contexto do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial e se volta para questões sociais em uma perspectiva de crítica à realidade e, ao mesmo tempo, de solidariedade e esperança em um mundo melhor. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 160 5/12/16 6:22 PM


161 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 Colocação pronominal FOCO NO TEXTO Leia o texto a seguir, de Antonio Prata. Abra•ando ‡rvore Não era uma felicidade eufórica, dessas de gritar “Urru!”, estava mais pra uma brisa de contentamento, como se eu bebesse vinho branco à beira-mar ou lesse Rubem Braga na varanda de um sítio. Eu tinha acordado cedo naquela sexta ‒ e acordar cedo sempre me predispõe à felicidade. O trabalho havia rendido bem e, antes do fim da manhã, já tinha acabado de escrever tudo o que me propusera para o dia. À uma, fui almoçar com o meu editor. Ele estava com alguns capítulos do meu livro novo desde dezembro e eu temia que não tivesse gostado. Gostou. Fez alguns reparos com que concordei. Comemos um peixe na brasa ‒ peixe e brasa também costumam me predispor à felicidade – e como era sexta-feira, e como somos amigos, e como comemorávamos essa pequena alegria que é um trabalho andar bem, uma parceria funcionar, brindamos com vinho branco ‒ não à beira-mar, mas à beira do Cemitério da Consolação, que pode não ter a grandeza de um Atlântico, mas também tem lá os seus pacíficos encantos. Saí andando meio emocionado, meio sem rumo pela tarde ensolarada e quando vi estava em frente à paineira da Biblioteca Mario de Andrade. É uma árvore gigante, que provavelmente já estava ali antes do Mario de Andrade nascer, continuou ali depois de ele morrer e continuará ali depois que todos os 18 milhões de habitantes que hoje perambulam pela cidade de São Paulo estiverem abaixo de suas raízes. Talvez tenha sido o assombro com essa longevidade, talvez acordar cedo, talvez os elogios ao livro e o vinho certamente colaborou: fato é que senti uma súbita vontade de abraçar aquela árvore. Acho importante deixar claro, inclemente leitor, que não sou do tipo que abraça árvore. Na verdade, sou do tipo que faz piada com quem abraça árvore. Se me contassem, até a última sexta, que algum amigo meu foi visto abraçando uma paineira na rua da Consolação eu diria, sem pestanejar: enlouqueceu. Mas... Não haveria nada de místico no abraço. Eu não achava que a paineira iria me emprestar qualquer “energia”, nem que ela sugaria de minh’alma possíveis toxinas metafísicas. Era algo simbólico como atirar uma rosa ao mar dia 31 de dezembro, uma mínima inflexão na correria: aí está você, imóvel e longeva, aqui estou eu, ágil e breve, duas soluções do acaso para a soma de elementos da tabela periódica ‒ e ela seguiria ali, com sua fotossíntese, eu seguiria adiante, com minhas caraminholas. Olhei prum lado. Olhei pro outro. Tomei coragem e foi só sentir o rosto tocar o tronco para ouvir: “Antonio?!”. Era meu editor. Foram dois segundos de desesLÍNGUA E LINGUAGEM LÍNGUA e LINGUAGEM Nelson Provazi PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 161 5/12/16 6:22 PM


162 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão pero durante os quais contemplei o distrato do livro, a infâmia pública, o alcoolismo e a mendicância, mas só dois segundos, pois meu inconsciente, consciente do perigo, me lançou a ideia salvadora. “Uma braçada”, disse eu, girando pra esquerda e envolvendo a árvore novamente, “duas braçadas e... Três”. Então encarei, seguro, meu possível verdugo: “Três braçadas dá o que? Uns cinco metros de perímetro? Tava medindo pra descrever, no livro. Tem uma parte mais no fim em que essa paineira é importante.” Colou. Nos despedimos. Ele foi embora prum lado, a minha felicidade pro outro e agora estou aqui, já noite alta desta sexta-feira, tentando enfiar a todo custo um tronco de quase dois metros de diâmetro num livro em que, até então, não havia nem uma samambaia.  (Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2016/ 01/1730364-abracando-arvore.shtml. Acesso em: 5/3/2016.) 1. O autor conta, em seu texto, sobre um dia específico de sua vida. a. Qual era o estado de espírito do autor naquele dia? b. A que acontecimentos ele atribui tal estado de espírito? c. Qual atitude inusitada ele tomou levado por esse estado de espírito? 2. Ao decidir realizar um ato julgado por ele mesmo como inusitado, o autor foi surpreendido por seu editor. a. Qual foi a reação do autor nesse momento e o que ele fez para sair da situação embaraçosa? b. Qual problema essa atitude trouxe para ele? 3. Esse texto foi publicado em um jornal de grande circulação. Tendo em vista a história contada, responda: a. Qual nova função pode assumir esse texto, além de entreter os leitores? b. Levante hipóteses: O problema mencionado pelo autor no último parágrafo permanecerá após a circulação desse texto? 4. Observe as seguintes construções empregadas no texto: “sempre me predispõe” “tudo o que me propusera” “costumam me predispor” “Se me contassem” “iria me emprestar” “me lançou a ideia” “Nos despedimos.” a. O que há de comum entre todas elas no que diz respeito à posição do pronome oblíquo? b. Discuta com os colegas e o professor: Em alguma dessas ocorrências, ao produzir o mesmo enunciado, você colocaria o pronome em lugar diferente? 5. Embora no português falado atualmente no Brasil (e escrito em situações informais) os pronomes sejam majoritariamente colocados na posição em que estão no texto lido, há outras maneiras de explorar essa distrato: anulação, rescisão. inflexão: mudança de rumo, desvio. verdugo: carrasco, algoz. Ele estava feliz, animado. b) Ter acordado cedo, ter terminado suas tarefas mais cedo, ter tido êxito em um trabalho e um almoço agradável com seu editor, parceiro profissional e amigo. Decidiu abraçar uma árvore. Ele se desesperou e inventou uma história para justificar sua atitude. A necessidade de fazer uma alteração não planejada no livro que estava escrevendo. A de justificar a atitude do autor para seu editor, o que ele não teve coragem de fazer no momento do ocorrido. Provavelmente não, pois seu editor conhecerá o verdadeiro motivo da atitude e ele não precisará mais alterar a história original de seu livro. Ele sempre aparece antes do verbo que acompanha. Há mais de uma possibilidade de resposta. Provavelmente, os alunos usariam as mesmas construções. Professor: Proponha a discussão à classe, sugerindo que pensem em outras possibilidades de colocação dos pronomes. Antonio Prata Antonio Prata é escritor e roteirista. Filho dos também escritores Mário Prata e Marta Góes, nasceu em São Paulo em 1977 e atualmente escreve para o jornal Folha de S. Paulo, além de ter alguns livros publicados, entre eles Nu, de botas (Cia. das Letras) e Meio intelectual, meio de esquerda (Ed. 34). REGISTRE NO CADERNO Paulo Liebert/Estadão Conteúdo PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 162 5/12/16 6:22 PM


língua e linguagem 163 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 colocação. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: Quais das opções a seguir são consideradas adequadas à norma-padrão segundo a gramática normativa? sempre predispõe-me tudo o que propuse-me-ra tudo o que propusera-me costumam predispor-me ir-me-ia emprestar iria emprestar-me lançou-me a ideia Despedimo-nos 6. Encontre no texto outros trechos que comprovem a opção do autor de empregar uma linguagem bastante informal, próxima da fala. REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA Como você viu no estudo do texto de Antonio Prata, é possível empregar os pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos que acompanham de forma variada. Assim: Colocação pronominal é a posição do pronome oblíquo átono em relação ao verbo que ele acompanha. Atualmente, a colocação pronominal no português brasileiro é majoritariamente feita por meio da próclise, isto é, da colocação antes do verbo. É possível, entretanto, em determinadas construções, em geral mais formais, encontrar outras formas de colocação pronominal. A gramática normativa classifica a colocação pronominal em três tipos: • próclise: pronome colocado antes da forma verbal. Ex.: “sempre me predispõe”. • ênclise: pronome colocado depois da forma verbal. Ex.: “lançou-me a ideia”. • mesóclise: pronome colocado no meio da forma verbal. Ex.: “ir-me-ia emprestar”. Apresentamos a seguir as regras específicas para o uso da ênclise e da mesóclise, colocações pouco utilizadas no português do Brasil. Nos demais casos, continua-se utilizando a próclise, a forma mais comum em nosso país. Não há necessidade de adotar essas regras em sua fala cotidiana; porém, é interessante conhecê-las e utilizá-las em situações de escrita formal e de avaliações e exames escritos. Deve-se dar preferência à ênclise: • para se iniciar frase, ou se há vírgula antes do verbo: “Sentei-me na primeira fileira”, “Se chegar cedo, sento-me na primeira fileira”; • em frases imperativas afirmativas: “Amanhã sentem-se todos na primeira fileira”; • em casos de gerúndio ou infinitivo pessoal: “Chegou sentando-se na primeira fileira”, “Era meu intuito ajudá-lo.”. Deve-se dar preferência à mesóclise: • com formas verbais no futuro do presente ou no futuro do pretérito: “Dirse-á que somos loucos.”, “Sentar-se-ia na primeira fileira se tivesse chegado cedo.”. X X X X “dessas de gritar “Urru”; “estava mais pra uma brisa”; “também tem lá os seus pacíficos encantos”; “com minhas caraminholas”; “Olhei prum lado. Olhei pro outro”; “tentando enfiar a todo custo”. As palavras atrativas Alguns termos são chamados de palavras atrativas, pois atraem o pronome para antes do verbo e geram próclise, mesmo em contextos nos quais se teria ênclise ou mesóclise. São elas: • advérbios: “Não se queixe”, “Antes me encontrei com ela”; • pronomes relativos e indefinidos: “tudo o que me propus a fazer...”, “Ninguém me avisou...”; • conjunções subordinativas: “Disse que me deixariam ficar”, “Se me contassem...”; • gerúndio e infinitivo pessoal precedidos de preposição: “Em se tratando de...”, “Para se sentarem”. REGISTRE NO CADERNO PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 163 5/12/16 6:22 PM


taunay&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiIyMvs_67LAhUCDJAKHSy QC0QQ6AEIJjAA#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 5/3/2016.) a. Observe a forma como é feita a colocação pronominal dos termos em destaque nos textos, agrupe-os segundo usos similares e justifique cada uma das ocorrências com base nas regras estudadas. b. Embora tenham sido escritos com mais de um século de diferença entre si, os dois textos fazem usos semelhantes da colocação pronominal. Discuta com os colegas e o professor: Quais desses usos são comuns no dia a dia do brasileiro atualmente? Nos casos em que a colocação pronominal do texto não é utilizada no dia a dia, indique formas alternativas. c. Levante hipóteses: Quais motivos fazem com que cada um desses textos apresente os pronomes dessa forma? Você vai ler a seguir um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, autor estudado na seção Literatura deste capítulo. a) far-se-á e ir-me-ia: mesóclise com futuro do presente e futuro do pretérito, respectivamente. Expedindo-se e Falta-me: ênclise após vírgula e em início de frase, respectivamente. se falar e se tornou: próclise pelas palavras atrativas que (conjunção subordinativa) e somente (advérbio); se referir: próclise com infinitivo pessoal antecedido de preposição. b) Se falar, se tornou e se referir ainda são comuns. Em situações formais de fala ou de escrita, também se encontram expedindo-se e falta-me, que, em situações informais, seriam substituídas por se expedindo e me falta. Já far-se-á e ir-me-ia, provavelmente seriam substituídas por se fará e iria me (alongando) ou, ainda, por construções alternativas, como será feita ou iria alongar minha fala/meu texto. c) No primeiro caso, por se tratar de um texto extremamente formal da esfera jurídica, na qual é comum seguir as regras da norma-padrão formal e, no segundo, por se tratar de um texto antigo, época em que algumas pessoas ainda utilizavam essas construções. A colocação pronominal no português brasileiro A colocação brasileira dos pronomes oblíquos átonos é bem característica, sendo inclusive muito mencionada como uma das principais diferenças entre a variedade brasileira e as variedades africanas e europeia do português. Em matéria da Revista Língua (edição 67), Luiz Costa Pereira Junior analisa essa forma típica dos pronomes nas construções brasileiras. Segundo Pereira Junior, Gilberto Freyre observa que no Brasil colonial construções como faça-me e dê-me eram usadas pelos senhores de escravos com frieza e secura, em ordens firmes e implacáveis. Assim, “O modo português adquiriu na boca dos senhores certo ranço de ênfase hoje antipático: faça-me isso; dê-me aquilo”, cita Gilberto Freyre, na obra Casa-grande e senzala. Pereira Junior conclui, com base nas ideias de Freyre, que o brasileiro, nesse contexto, teria optado “por um ’modo mais doce’ de pedir: me dê no lugar de dê-me; me faça, mais brando que façame, doce aversão ao ’imperativo antipático’ prescrito pela gramática tradicional lusa”, com a ênclise e a mesóclise. O autor destaca ainda que esse fenômeno é denominado “próclise absoluta” por Rodolfo Ilari e Renato Basso, no livro O português da gente. “Absoluta” porque esse tipo de colocação pronominal predomina na variedade brasileira, que antecipa o pronome átono para o início da sentença, dando um caráter de súplica a uma fala que poderia soar como cerimoniosa ou mesmo autoritária. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 164 5/12/16 6:22 PM


LÍNGUA e LINGUAGEM 165 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 A flor e a náusea Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal. 2. Publicado na obra A rosa do povo (1945) e escrito em um momento histórico conturbado – ditadura Vargas no Brasil e Segunda Guerra Mundial –, o poema “A flor e a náusea” deixa transparecer o sentimento do eu lírico em relação a esse contexto. Com base nas três primeiras estrofes, responda: a. Como se caracteriza o ambiente e o tempo em que vive o eu lírico? Justifique sua resposta com palavras, expressões e versos do texto. b. Quais são os desejos do eu lírico nesse contexto? Justifique sua resposta com versos do texto. a) Triste, escuro, tenebroso, pessimista. “rua cinzenta”, “melancolias”, “O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.”, “O tempo pobre”, “os muros são surdos”, “Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.”. Instituir alguma mudança, falar com as pessoas, mudar o rumo do que vê. “Devo seguir até o enjoo?”, “Posso, sem armas, revoltar-me?”, “Em vão me tento explicar, os muros são surdos.” Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. (Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 78-9.) Thinkstock/Getty Images PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 165 7/6/17 08:35


166 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO 3. Nas estrofes de 4 a 7, o eu lírico fala sobre si mesmo. a. O que se sabe do eu lírico por meio desses versos? b. Levante hipóteses: Essas características permitem associar o eu lírico a quem? 4. As três últimas estrofes falam sobre o nascimento de uma flor. a. Levante hipóteses: Por que esse acontecimento é tratado como fora do comum no contexto do poema? b. Como o eu lírico descreve a flor que nasceu? O que há de inesperado nessa descrição? c. Quais sentimentos essa flor desperta no eu lírico? Justifique sua resposta com versos do poema. d. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual sentido maior se pode atribuir ao nascimento dessa flor, levando em consideração todo o contexto de produção do poema? Indique o verso que resume essa ideia. 5. Há no poema diversos pronomes oblíquos átonos que acompanham verbos. a. Reproduza a tabela a seguir em seu caderno, identifique essas ocorrências no poema e complete a tabela como no exemplo, de acordo com cada tipo de ocorrência. Ênclise em início de frase ou depois de uma pausa revoltar-me Próclise motivada por palavra atrativa Casos que não se encaixam nas regras b. Entre os casos que não se encaixam nas regras apontados por você no item anterior, sobressai a próclise ou a ênclise? Levante hipóteses: Por que isso ocorre? c. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Com base nas características da poesia modernista e especialmente da poesia de Drummond, o que justifica a forma como o poeta utiliza próclises e ênclises no poema em estudo? 6. Releia este verso: “Em vão me tento explicar, os muros são surdos.” a. Levante hipóteses: Quem são os muros surdos? b. Levante hipóteses: Por que foi utilizada essa colocação pronominal? c. Como você falaria essa frase? Justifique sua resposta. Que tem em torno de 40 anos de idade, que reflete sobre os crimes que vê, que passa por um momento de perturbação, que em 1918 era um menino considerado anarquista, que se salva e dá esperança às pessoas com seu próprio ódio. Ao próprio poeta Carlos Drummond de Andrade. Professor: Retome o boxe da biografia de Drummond com os alunos para estabelecer as relações. Porque o momento e a atmosfera descritos no poema não são favoráveis ao nascimento de uma flor, especialmente no meio do asfalto. b) Desbotada, sem cor, com pétalas fechadas, de nome desconhecido, feia. Em geral, especialmente na poesia, a flor é associada ao colorido, à beleza. Surpresa, empatia, solidariedade. “Uma flor nasceu na rua!”, “garanto que uma flor nasceu.”, “Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde”, “e lentamente passo a mão nessa forma insegura.” d) A flor pode ser associada à esperança em um futuro melhor, que renasce aos poucos, ainda tímido, em meio às condições adversas vividas naquele momento histórico. Essa ideia é sintetizada no último verso: “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”. Sento-me que o perdem, que se percebe, não se abrem espreitam-me, fundem-se, me tento explicar, perdoá-los, me salvo, avolumam-se, movem-se b) A ênclise. Há possibilidades diversas de hipóteses: porque essa construção era mais comum na época do que é hoje em dia, porque fica mais sonoro, porque essa era a preferência do poeta, etc. Conforme estudado, os poetas da geração de 30 buscam uma linguagem mais próxima da fala, sem preocupação com métrica ou rimas. No entanto, mesmo não se sentindo presos às regras da norma-padrão, também não se colocam de forma radical em relação a uma necessidade de falar brasileiro, pois se consideram livres para escrever como preferirem. As pessoas, a sociedade, o governo. A presença da locução adverbial em vão pode ter influenciado a opção por deslocar o pronome, funcionando como um elemento atrativo. Resposta pessoal. Em geral, atualmente no Brasil as pessoas falam tento me explicar, pois o pronome entre as duas formas verbais é a construção mais comum. REGISTRE NO CADERNO PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 166 5/12/16 6:22 PM


LÍNGUA e LINGUAGEM 167 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 TEXTO E ENUNCIAÇÃO Leia o anúncio a seguir e responda às questões. (Disponível em: www.putasacada. com.br/parque-d-pedro-shoppingfull-jazz. Acesso em: 30/6/2017.) 1. Relacione as partes verbal e não verbal do anúncio, produzido por um shopping center. O que retratam as imagens da esquerda e da direita? Qual é a relação dessas imagens com o anúncio? 2. Releia o enunciado principal à esquerda. Nele, o anúncio faz uso de um trocadilho com uma expressão de uso corrente no mundo da moda. a. Qual é o trocadilho e qual é o sentido da expressão? b. Levante hipóteses: O que é um “preço que está na moda”? 3. Há dois termos desse enunciado que são contrapostos para criar um efeito de humor. a. Identifique-os e explique qual é a diferença de sentido entre eles no contexto do anúncio. b. Explique por que a contraposição desses termos é confirmada pela informação trazida no enunciado. c. Relacione um desses termos ao enunciado da direita do anúncio. Qual novo sentido ele ganha nesse contexto? d. Identifique o caso de colocação de pronome oblíquo átono nesse trecho. 4. A colocação pronominal tal como aparece no anúncio não é a indicada pelas regras da gramática normativa. a. Justifique essa afirmação. b. Reescreva o enunciado, colocando o pronome segundo as regras da gramática normativa. c. Compare a versão escrita por você no item anterior e a versão do anúncio. Discuta com os colegas e o professor e conclua: O sentido construído pelas duas expressões é o mesmo? Justifique sua resposta. d. Conclua: No anúncio em estudo, a opção pela forma não padrão se deu por desconhecimento das regras? Justifique sua resposta com base na finalidade do anúncio. Uma simulação de uma etiqueta de loja e uma sacola cheia, que fazem referência a objetos novos, com etiqueta, que ainda estão nas lojas e podem encher a sacola do visitante que aproveitar a promoção anunciada. O trecho “preço que está na moda não cai” faz um trocadilho com a expressão cair de moda, que significa “desatualizar-se”. Um preço à altura dos produtos do shopping, que estaria sempre na moda; um preço que agrada aos consumidores porque é baixo. Cai e se joga. O primeiro remete à expressão cair o preço, que quer dizer que o preço diminuiu e, o segundo, à expressão se joga, uma gíria que significa “se esbaldar, aproveitar muito”. Porque ele diz que os preços estão até 70% mais baixos, o que significa uma redução considerável, de mais da metade. O termo se joga associado ao enunciado “Eu quero tudo” sugere que não apenas os preços, mas também o consumidor vai “se jogar” na promoção, isto é, vai aproveitar para comprar muito. se joga A gramática normativa indica que, após vírgula, deve-se usar ênclise, e não próclise. Até 70% off. Porque preço que está na moda não cai, joga-se. Não, pois seguindo a regra a frase perde esse sentido, uma vez que a expressão “se joga” é uma gíria, utilizada em contextos informais e cristalizada com essa colocação pronominal. Não, pois a intenção foi utilizar propositalmente a forma não padrão para fazer referência à gíria e criar o efeito de humor no anúncio. REGISTRE NO CADERNO Full Jazz PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 167 7/6/17 08:35


168 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO As cartas argumentativas de solicitação e de reclamação A carta de solicitação FOCO NO TEXTO Leia a carta a seguir. PRODUÇÃO DE TEXTO 1. Essa carta faz uma solicitação. a. A quem a solicitação é dirigida e por quem ela é feita? b. O texto da carta deixa claro o assunto sobre o qual é feita a solicitação. Identifique o trecho que confirma essa afirmação. c. Qual é a solicitação feita? 2. A situação de comunicação em que a carta em estudo circulou fica subentendida no texto. Deduza: Qual fato motivou a escrita da carta? 3. Releia o trecho: “vosso edital, tão importante para a classe das artes cênicas” A solicitação é dirigida aos Correios; é feita pela Cooperativa Brasileira de Circo. Trata-se do trecho “Referente ao Edital de Seleção de Patrocínios de projetos culturais”, situado antes do vocativo. A de que, nos editais seguintes, o circo seja incluído entre as opções de projetos culturais. O fato de os Correios terem lançado um edital de fomento a projetos culturais que não incluía atividades ligadas ao circo. São Paulo, 18 de julho de 2013. À Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – Correios Referente ao Edital de Seleção de Patrocínios e projetos culturais. Prezados Senhores, A Cooperativa Brasileira de Circo e as demais entidades que compõem a Aliança Pró Circo vêm através desta solicitar que V. Sa. nas próximas edições de vosso edital, tão importante para a classe das artes cênicas, incluam o circo como opção. Atravessamos um momento profícuo, com imensa atividade e inúmeros espetáculos sendo criados para apresentação em espaços públicos e teatrais. Fazemos parte da programação habitual do SESC, SESI, Caixa Cultural, Circuito Cultural Paulista, Circuito das Artes, além de inúmeros festivais pelo Brasil que existem ou estão sendo criados para atender a essa produção – Festival Brasileiro de Circo, Festival Mundial de Circo, Ri Catarina, Palhaçaria, entre outros. Acreditamos que não tem sentido estarmos alijados do processo no momento em que nossa linguagem está fortalecida e reconhecida internacionalmente. No aguardo de que a inclusão se faça o mais rapidamente possível e à inteira disposição para informações, (Disponível em: https://circoop.files.wordpress.com/2013/09/ carta-correios.jpg. Acesso em: 15/1/2016.) REGISTRE NO CADERNO Reprodução Reprodução PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 168 5/12/16 6:22 PM


169Produção de texto A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 a. Justifique o uso da forma pronominal vosso no contexto da carta. b. Levante hipóteses: Por que o autor da carta optou por utilizar essa forma de tratamento? c. Explique por que esse trecho, associado à escolha do pronome de tratamento, pode também ser considerado estratégia de argumentação no contexto da carta. 4. Para fundamentar a solicitação que faz, o remetente lança mão de argumentos. Quais são esses argumentos? 5. Leia algumas das definições apresentadas no Dicionário Houaiss para o termo patrocínio: custeio total ou parcial de um espetáculo artístico ou desportivo, de programa de rádio ou televisão etc. com objetivos publicitários; chancela; apoio, ger. financeiro, concedido, como estratégia de marketing, por uma organização a determinada atividade artística, cultural, científica, comunitária, educacional, esportiva ou promocional a. Com base nesses sentidos do termo patrocínio e na situação de comunicação em que a carta circulou, levante hipóteses: Qual é a intenção dos Correios com o edital? b. Ao fazer uma solicitação, é importante levar em conta não apenas os interesses do remetente, mas também interesses dos interlocutores. Explique de que maneira o autor da carta em estudo considera em seus argumentos os interesses do destinatário. 6. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Os argumentos utilizados na carta em estudo são relevantes e bem-construídos? Justifique sua resposta. 7. Uma carta de solicitação pode conter uma reclamação implícita e subentendida ou explícita. Levante hipóteses: Qual reclamação pode ser considerada plausível para a carta em estudo? A carta de reclamação FOCO NO TEXTO O texto a seguir é uma carta de reclamação publicada em um portal da Internet especializado em automóveis. São Bernardo do Campo, 9 de junho de 2010. Pergunto para a empresa F do Brasil, por intermédio deste conceituado portal, já que não obtive resposta aceitável por meio do único canal de comunicação com a fábrica, o telefone 0800. Comprei um veículo FF, em leilão, com 10 mil quilômetros rodados, proveniente da frota utilizada em Camaçari pela empresa F. Por se tratar de carros utilizados por funcionários de alto escalão da empresa, fui informado de que o carro estaria sem garantia. Mesmo assim comprei, confiando na qualidade dos produtos da Marca F, pois já adquiri diversos veículos, e meus familiares, ao longo de 20 anos, têm sido também clientes desTrata-se de um pronome utilizado em situações formais, como demonstração de respeito e/ou subordinação ao interlocutor. Para se mostrar respeitoso e valorizar o destinatário. Porque, além de tratar o destinatário de forma respeitosa, demonstra considerar que o edital promovido pelo interlocutor é de grande importância, valorizando, assim, as iniciativas dele. Os de que o circo passa por “um momento profícuo”, desenvolve muitas e diversificadas atividades por todo o país e tem reconhecimento internacional. a) Associar sua imagem a projetos culturais, a fim de ter sua marca divulgada positivamente em meios variados, como uma empresa que se preocupa com a cultura brasileira. Ao mencionar a importância atual do circo em todo o país e até mesmo internacionalmente, o autor mostra indiretamente ao destinatário que apoiar essa área lhe proporcionará uma grande projeção. Sim, pois valorizam o interlocutor e mostram que ele também tem a ganhar, caso atenda à solicitação. A reclamação de que o edital excluiu o circo das atividades artísticas elencadas na sua regulamentação. REGISTRE NO CADERNO PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 169 5/12/16 6:22 PM


170 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão sa montadora. Exemplos: FX Super Série,  FSuper,  FC (4 ao longo dos anos), FY Sedan, FY Hatch (anos 2007 e 2009), FK 2009, FF 2008 e um FW 2010, que ainda não chegou, todos sempre comprados em concessionárias F (principalmente a FS, com a Sra. T.).  Por minha conta, mandei o veículo comprado no leilão para a revisão dos 10 mil e 15 mil km (antecipadamente, para evitar problemas), pagando normalmente por tais revisões. Porém, na última revisão surgiu um defeito que, segundo a concessionária FS e a própria empresa F, localizava-se no diferencial do carro, que afeta a tração 4wd, fazendo com que o veículo trave as rodas traseiras em funcionamento (nunca tinha ouvido nem lido nada a respeito disso). Após a constatação do defeito, a concessionária entrou em contato com o fabricante, a fábrica autorizou a troca da peça e ainda me ofereceu garantia estendida, comunicando a mim e também à concessionária a troca sem custo algum (mesmo não estando em garantia, por se tratar de um defeito de fabricação e não de mau uso). Após cerca de 3 semanas da autorização do conserto, a própria F me ligou (consultor R. de O., do 0800 da fábrica), alegando que não fariam mais o conserto, por se tratar de um carro comprado em leilão. Fiquei muito surpreso, pois, quando ligaram autorizando, estavam cientes de que era um carro de leilão. Passados mais de 30 dias, o meu carro está no elevador da concessionária, desmontado,  sem solução, pois, na minha opinião, a fábrica não sabe o defeito do carro! Diferencial com problemas! Como? Nunca vi isso, e para que leiloar um carro com problema no diferencial? Como vou consertar? Se nem a fábrica tem essa peça, ou seja, isso não se quebra!!! (O atendente do 0800 me disse que a peça teria de vir do México e achava que iria demorar cerca de 30 dias.) Péssimo isso, a empresa F está no país há várias décadas, não é uma marca recente como outras que também sofrem por falta de peças. Assumi a responsabilidade de comprar um carro em leilão ciente de que não possui garantia. Mas um defeito no diferencial, isso não aceito. Se após 6 meses de eu ter comprado um carro em leilão, ele rachar no meio, o fabricante não se responsabiliza por nada? Isso é bem estranho. E me pergunto: como se quebra um diferencial de um carro com 14 mil km e automático? Fico no aguardo por alguma ajuda no caso. (Disponível em: http://carroseacessorios.com.br/noticias-detalhes.php?id=4926. Acesso em: 13/1/2016. Texto adaptado.) 1. Qual é o motivo da reclamação feita na carta em estudo? 2. Para fazer sua reclamação, o autor lançou mão de determinadas estratégias. Identifique, na carta em estudo, trechos em que ele: a. se coloca como cliente antigo e fiel à empresa contatada; b. usa nomes e dados para confirmar a veracidade das informações que expõe na carta; c. tece elogios à empresa contatada; d. assume parte da responsabilidade pelo ocorrido; e. se mostra uma pessoa flexível, disposta a contribuir para a solução do problema. 3. A propósio das estratégias utilizadas na carta, conclua: Elas contribuem para que seu autor atinja o objetivo? Por quê? 4. Embora a carta tenha um tom predominantemente moderado e objetivo, há um momento específico no qual o autor se manifesta de forma mais emocional. a. Qual é esse trecho? b. Indique as marcas formais que permitem inferir essa mudança no tom da carta. c. Levante hipóteses: Esse tom também pode ser considerado uma estratégia argumentativa em uma carta de reclamação? Justifique sua resposta. diferencial: conjunto de engrenagens que, em um automóvel, transmite às rodas o movimento do motor de maneira que, nas curvas, elas se movam com velocidades diferentes. Um problema apresentado por um carro comprado em leilão. No segundo parágrafo, de “já adquiri diversos veículos e meus familiares ao longo de 20 anos têm sido também clientes dessa montadora”, até “com a Sra. T.)”.  Todos os nomes mencionados no 2¼ parágrafo, o nome da concessionária e do consultor do 0800. “confiando na qualidade dos produtos da Marca F”; “a empresa F está no país há várias décadas, não é uma marca recente como outras que também sofrem por falta de peças.” “fui informado de que o carro estaria sem garantia. Mesmo assim comprei”; “Assumi a responsabilidade de comprar um carro em leilão ciente de que não possui garantia.” “Por minha conta, mandei o veículo comprado no leilão para a revisão dos 10 mil e 15 mil km (antecipadamente para evitar problemas), pagando normalmente por tais revisões.”; Sim, pois ao utilizar tais estratégias o reclamante ganha credibilidade, pois mostra que é uma pessoa razoável, reconhece o valor do interlocutor e se mostra disposto a resolver o problema da melhor forma possível para ambas as partes. O trecho constituído pelos dois últimos parágrafos. b) Uso excessivo de pontos de exclamação, perguntas em tom de indignação e inconformidade (“Como?”, “Como vou resolver isso?”). c) Talvez o autor da carta tenha imaginado que sim; mas, geralmente, ocorre o contrário, pois demonstra descontrole emocional e subjetividade, o que leva o texto a perder objetividade e, consequentemente, credibilidade. 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171PRODUÇÃO DE TEXTO A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 00. 5. Uma carta de reclamação pode conter uma solicitação, implícita e subentendida, ou explícita. Levante hipóteses: Qual solicitação pode ser considerada à carta em estudo? HORA DE EsCREvER Seguem três propostas de produção de cartas argumentativas e de solicitação e reclamação. Combine com o professor como realizá-las. 1. Escreva, individualmente, uma carta de solicitação à direção da escola para a realização da feira de cidadania. A fim de construir uma boa argumentação e convencer seus interlocutores da importância da feira para a escola e a comunidade, utilize as anotações do debate sobre a organização do evento, bem como as informações do relatório escrito a partir dele. Lembre-se de apresentar todos os dados do evento (data, horário, público-alvo, objetivos, expectativas, etc.) e mencionar tudo o que a escola deverá fornecer, além do espaço, para que a feira possa ser realizada (funcionários, pátio, número de salas, etc.). Após todos escreverem suas cartas, selecionem a que julgarem mais completa e bem-escrita para representar a classe. 2. Leia, a seguir, uma notícia sobre uma carta que faz uma reclamação pouco comum. A australiana Jade Ruthven respondeu publicando ainda mais imagens da filha, Addison, de  meses  Quem é pai ou mãe, especialmente os de primeira viagem, sabe que é quase impossível resistir ao impulso de clicar seu bebê o tempo todo e compartilhar as imagens com os amigos pela internet. Cada passo, cada sorriso, cada nova conquista – mesmo aquelas que parecem mínimas para o mundo – ganham uma importância magnífica aos olhos dos progenitores. A timeline de redes sociais, como Facebook e Instagram, vira mesmo um álbum infinito e constantemente atualizado dos filhos. Com a australiana Jade Ruthven, de 33 anos, não foi diferente. Acontece que supostas amigas não se contentaram em ocultar as atualizações ou desfazer a amizade com a moça, diante do incômodo que sentiram com a enxurrada de imagens que invadiram seus feeds. Eles enviaram uma carta de reclamação anônima à proprietária da conta. Elas escreveram o seguinte: “Jade, Me reuni com algumas das garotas e estamos tão CANSADAS de seus comentários recorrentes sobre a sua vida e cada pequena coisinha que Addy faz. Olha, nós todas temos filhos pelos quais somos loucas – adivinhe – todo pai acha que seu filho é o melhor do mundo. Mas não fazemos todo mundo engolir isso!!!  Ela veste uma roupa nova – bem, tire uma foto e mande PRIVADAMENTE para a pessoa que deu a roupa para ela – não para todos!!!  Ela engatinha para fora do tapete – nós NÃO ligamos!!! Ela tem 6 meses – GRANDE COISA!!! Pare e pense – se todas as mães postassem todas as bobagens sobre seus filhos – tenho certeza de que você se cansaria muito rápido. Mal podemos esperar para você voltar ao trabalho – talvez você não tenha tanto tempo para passar no Facebook. Addy é linda e nós todas a amamos, mas nossas crianças são demais também. Acho que você está irritando muita gente com seus “Addy isso e Addy aquilo” – achamos que isso diminuiria depois do primeiro mês, mas isso não aconteceu. Nem todo mundo está tão interesEntre elas: que a concessionária resolva o problema do carro, dê outro carro ao reclamante, devolva o dinheiro, pague uma indenização, etc. Dê continuidade à organização da feira de cidadania que a classe realizará no final da unidade, escrevendo uma carta de solicitação para o uso do espaço da escola no evento, a ser encaminhada à direção, e também modelos de cartas de reclamação e/ou solicitação a serem oferecidos aos visitantes da feira. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 171 5/12/16 6:22 PM


172 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO sado quanto você sobre o que Addy faz, então dê um tempo. Estamos fazendo isso para que você saiba o que realmente as pessoas pensam.” Ao ler a carta que foi deixada sem assinatura na caixa de correspondência em frente à sua casa, Jade ficou chocada e a enviou para a comediante australiana Em Rusciano, que postou a foto em sua página no Facebook e escreveu uma coluna sobre o assunto para o site www.news.com.au. Em entrevista ao jornal Daily Mail da Austrália, a mãe disse que não respondeu. Junto com alguns de seus amigos – desta vez, de verdade – ela criou a hashtag #Addyspam e passou um longo período postando diversas imagens da filha. (Revista Crescer, 22/4/2015. Disponível em: https://focusfoto.com.br/mae-recebe-carta-mal-educadade-amigos-que-se-cansaram-das-fotos-de-seu-bebe-nas-redes-sociais/. Acesso em: 11/2/2016.) A carta de reclamação reproduzida na notícia acabou despertando na destinatária um comportamento oposto ao que seus autores pretendiam. Discuta com os colegas e o professor a fim de identificar na carta possíveis razões de seu efeito ter sido o oposto do esperado. Depois, reescreva o texto, procurando torná-lo mais eficiente, considerando a finalidade em vista. Na feira, exponham as duas versões, chamando a atenção dos visitantes para estratégias capazes de tornar uma carta de reclamação eficiente, ou seja, capazes de levar à solução do problema que constitui o motivo da reclamação feita por seus autores. Consumidor digital Há atualmente diversas páginas virtuais que disponibilizam espaço para consumidores fazerem reclamações relativas a problemas referentes à compra de produtos variados. Esses espaços se tornaram meios eficientes de comunicação direta entre consumidores e empresas fornecedoras. Muitas vezes, certos problemas são resolvidos apenas por meio desse recurso. Alguns dos principais sites voltados a reclamações de consumidores são estes: 3. Organize, com os colegas da classe, um serviço de escrita de cartas de reclamação e/ou solicitação a ser oferecido aos visitantes da feira de cidadania. Em grupo, escrevam cartas de solicitação e/ou reclamação diversas, para utilizar como modelos no dia da feira. Assim, escrevam: • carta de reclamação e solicitação de troca de um produto que foi comprado com defeito; • carta de reclamação, dirigida ao condomínio, sobre um morador que para o carro fora de sua vaga, atrapalhando a circulação na garagem, e com a solicitação para que sejam tomadas medidas cabíveis; • carta de reclamação referente a veículos que param em fila dupla na porta da escola em horários de entrada e saída; • carta de reclamação, destinada à direção da escola, sobre um ou mais problemas relacionados ao prédio (escada perigosa, falta de acessibilidade, banheiros inadequados, etc.) e com a solicitação de que o(s) problema(s) apontado(s) seja(m) solucionado(s); • carta de reclamação e/ou solicitação relativa a uma situação específica da realidade vivida por vocês na escola ou na comunidade e considerada relevante pela classe. http://www.reclameaqui.com.br/ http://www.denuncio.com.br/ http://www.reclamao.com.br/ Fotografias: Reprodução PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 172 7/6/17 08:35


173PRODUÇÃO DE TEXTO A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 ANTEs DE EsCREvER Planeje sua carta de reclamação e/ou solicitação, seguindo estas orientações: • Escolha o alvo da reclamação e/ou solicitação. • Ao definir o destinatário, considere qual é a pessoa ou instituição que tem, de fato, poder para solucionar o problema ou autorizar o atendimento à solicitação. • Defina qual é o objetivo central de sua carta, ou seja, fazer uma reclamação, uma solicitação, ou ambas. • Se a carta for de reclamação, anote o(s) problema(s) e defina a melhor forma de abordá-lo(s), expondo-o(s) abertamente, mas de forma polida; • Se a carta envolver uma solicitação, seja objetivo(a) e direto(a) no pedido, porém lembrando-se de valorizar o interlocutor e apontar possíveis vantagens que ele pode vir a ter caso atenda à solicitação. • Procure fazer ressalvas, ou seja, mesmo que seu texto tenha como foco uma reclamação, tente encontrar na situação pontos positivos que possam ser ressaltados. • Evite se colocar excessivamente na situação de vítima, assuma a parte de responsabilidade que lhe cabe. • Lembre-se de indicar a data e o local de onde escreve, bem como de assinar a carta. Se julgar relevante, considerando o assunto da carta, mencione também algum(ns) de seus dados pessoais (idade, ocupação profissional, bairro onde mora, etc.) ou experiências anteriores que possam ajudar na construção da argumentação. • Fundamente seu ponto de vista com argumentos objetivos e concretos, mencionando fatos, autoridades, situações do cotidiano que ilustrem e esclareçam seus argumentos. • Procure esclarecer o destinatário de que seu objetivo não é unicamente reclamar ou solicitar algo por interesse pessoal, mas também evitar que o problema ocorra com outras pessoas no futuro. • Procure adequar o grau de formalidade da linguagem ao assunto da reclamação e/ou solicitação e ao destinatário da carta. ANTEs DE PAssAR A LImPO Antes de dar por finalizada sua carta de solicitação e/ou reclamação, observe: • se o alvo da sua reclamação e/ou solicitação está claro; • se o destinatário é, efetivamente, a pessoa ou instituição responsável por solucionar o problema ou por autorizar o atendimento à solicitação; • se a solicitação foi feita com objetividade e se houve menção a pontos positivos relacionados à situação, além dos pontos negativos; • se seu ponto de vista está bem-fundamentado, isto é, apoiado em fatos, argumentos, exemplos e relatos que convençam o destinatário de que sua reclamação é legítima e/ou sua solicitação merece ser atendida; • se você indicou data, local, seu nome completo e os outros dados que julgue relevantes no contexto da carta; • se você deixou claro que o alvo da reclamação e/ou solicitação diz respeito não só a um interesse individual, mas também à preocupação de evitar a ocorrência da mesma situação com outras pessoas no futuro; • se a linguagem está adequada ao destinatário. PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 173 5/12/16 6:22 PM


174 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO (ENEM) Confidência do itabirano  Alguns anos vivi em Itabira.  Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.  Noventa por cento de ferro nas calçadas.  Oitenta por cento de ferro nas almas.  E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.  A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...  Tive ouro, tive gado, tive fazendas.  Hoje sou funcionário público.  Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!  ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima a. representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.  b. apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.  c. evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.  d. critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.   e. apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos. X POR DENTRO DO ENEm E DO vEsTIBULAR ENEm Em CONTEXTO As questões do Enem exigem algumas habilidades de leitura, como o reconhecimento das concepções estéticas e dos procedimentos de construção do texto literário, tal como ocorre nesta questão: Diferentemente do que afirma a alternativa a, Carlos Drummond de Andrade pertence à geração de 30, fase que se afasta do tom contestatório da geração de 22 (ou fase heroica), voltandose para questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. A alternativa b também PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 174 5/12/16 6:22 PM


175 apresenta uma afirmação falsa, pois a “apresentação objetiva de dados e fatos históricos” não é um traço característico do gênero lírico, como também não é um elemento central do poema em questão. Nas alternativas d e e, as referências às “influências românticas” e à “inutilidade do poeta” não podem ser verificadas em “Confidência do itabirano”. Nesse poema, o eu lírico apresenta uma visão crítica em relação à sua cidade natal e evidencia, por meio de imagens, a influência que Itabira exerce sobre ele; portanto, a alternativa correta é a c. QUEsTÕEs DO ENEm E DO vEsTIBULAR 1. (ENEM) Texto I Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações...  AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Texto II À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do mercado. TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos.  Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento). Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos, a. a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados. b. a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens. c. o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social. d. o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão. e. a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta. 2. (UEL-PR) Sobre o romance Fogo morto, de José Lins do Rego, é correto afirmar: X a. Caracteriza-se como uma obra memorialista, pois a personagem central, mestre José Amaro, narra a sua história pessoal, enfatizando os problemas que o mundo capitalista traz para o homem. b. Embora tenha sido escrito na década de 1930, quando o movimento modernista já havia operado uma revolução na literatura, o romance é bastante convencional, sobretudo na caracterização da paisagem e do homem nordestino, aproximando-se da visão de mundo romântica. c. Apresenta uma visão saudosa da realidade política, econômica e social do Nordeste da primeira metade do século XX, bem como uma visão pitoresca do espaço enfocado. d. O uso do discurso indireto livre é um dos procedimentos de construção narrativa mais significativos do romance, na medida em que permite a diversidade de olhares sobre uma dada realidade e, ao mesmo tempo, auxilia no processo de aprofundamento do drama psicológico vivenciado pelas personagens. e. Faz um retrato fotográfico da realidade nordestina, afastando-se do ficcional, uma vez que parte de fatos que realmente existiram e que podem ser comprovados, como a decadência dos engenhos de açúcar e a Guerra de Canudos. 3. (FUVEST-SP) O Brasil já está ˆ beira do abismo. Mas ainda vai ser preciso um grande esforço de todo mundo pra colocarmos ele novamente lá em cima. Millôr Fernandes. a. Em seu sentido usual, a expressão destacada significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal significado se confirma no texto? Justifique sua resposta. b. Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e substituindo a forma pra por para que. Faça as demais transformações que são necessárias para adequar o texto à norma escrita padrão. X 3. a) Não, pois pela continuação do texto – especialmente pelo trecho “colocarmos ele novamente lá em cima” – é possível inferir que o significado, nesse caso, é o de que ele está à beira não para cair, mas sim pronto para escalar, subir o abismo e chegar ao topo. Embora o Brasil ainda precise de um grande esforço de todo mundo para ser colocado em cima do abismo, já está à beira dele. REGISTRE NO CADERNO Por dentro do Enem e do vestibular PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 175 5/12/16 6:22 PM


176 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO 4. (ITA-SP) Os romances de Machado de Assis e os de Graciliano Ramos são exemplos bem acabados da forte presença do realismo na Literatura Brasileira. Entretanto, há diferenças bem marcantes entre a ficção realista do século XIX e a ficção de cunho realista da geração de 30. Algumas delas são: I. As obras realistas do século XIX (em particular os romances de Machado de Assis) retratam a burguesia rica, enquanto os romances de Graciliano Ramos retratam apenas os retirantes vítimas da seca. II. No século XIX, o realismo tem preferência pela temática do adultério feminino e do triângulo amoroso, tema este que não é central nas obras da geração de 30, que se preocupam mais com a desigualdade social. III. Os romances machadianos são urbanos; as obras de Graciliano Ramos retratam, em geral, os ambientes rurais do Nordeste. IV. No realismo do século XIX, as personagens, em geral, são mesquinhas, vis e medíocres. Já na ficção realista dos anos 30, as personagens são, sobretudo, produtos de um meio social adverso e injusto. Está(ão) correta(s) a. apenas I, II E III. b. apenas I, II e IV. c. apenas II, III e IV. d. apenas III e IV. e. todas. 5. (FUVEST-SP) Leia o trecho a seguir: O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender. (Graciliano Ramos, Vidas secas.) Considere as seguintes afirmações sobre este trecho de Vidas secas, entendido no contexto da obra, e responda ao que se pede. a. No trecho, torna-se claro que a escassez vocabular do menino contribui de modo decisivo para ampliar as diferenças que distinguem homens de animais. Você concorda com essa afirmação? Justifique, com base no trecho, sua resposta. b. Nesse trecho, como em outros do mesmo livro, é por exprimir suas emoções e sentimentos pessoais a respeito da pobreza sertaneja que o narrador obtém X 5. a) Não, ao contrário. O vocabulário restrito do menino mostra a falta de comunicação oral entre os membros da família, o que acaba por animalizálas, já que o nível de linguagem deles é semelhante ao do papagaio. b) Não, ao contrário. A obra é narrada num estilo direto e seco, sem emoções por parte do narrador. O retrato cru da realidade é que pode vir, por si só, a emocionar o leitor. o efeito de contagiar o leitor, fazendo com que ele também se emocione. Você concorda com a afirmação? Justifique sua resposta. 6. (UNICAMP-SP) Matte a vontade. Matte Leão. Este enunciado faz parte de uma propaganda afixada em lugares nos quais se vende o chá Matte Leão. Observe as construções abaixo, feitas a partir do enunciado em questão: Matte à vontade. Mate a vontade. Mate à vontade. a. Complete cada uma das construções acima com palavras ou expressões que explicitem as leituras possíveis relacionadas à propaganda. b. Retome a propaganda e explique o seu funcionamento, explicitando as relações morfológicas, sintáticas e semânticas envolvidas. 7. (ENEM) 6. a) Possibilidades variadas de resposta, desde que enquadradas no contexto da propaganda: (Beba) (chá) Matte (Leão) à vontade. / Mate a vontade (de beber Matte Leão). / (Beba chá) mate (Leão) à vontade. Resposta na página seguinte. VERÍSSIMO, L. F. As cobras em: Se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997. (Foto: Reprodução/Enem) O humor da tira decorre da reação de uma das cobras com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de pronome oblíquo. De acordo com a norma-padrão da língua, esse uso é inadequado, pois a. contraria o uso previsto para o registro oral da língua. b. contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e objeto.  c. gera inadequação na concordância com o verbo.  d. gera ambiguidade na leitura do texto.  e. apresenta dupla marcação de sujeito. 8. (FUVEST-SP) No trecho “mas minha mãe botou ele por promessa”, o pronome pessoal foi empregado em registro coloquial. É o que também se verifica em: a. “‒ E se me desculpe, senhorita, posso convidar a passear?” b. “‒ E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?” X REGISTRE NO CADERNO Luis Fernando Veríssimo PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 176 5/12/16 6:22 PM


177 c. “‒ Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?” d. “‒ Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.” e. “‒ (...) pois como senhor vê eu vinguei... pois é...” Produção de texto 9. (UNICAMP-SP) Você e um grupo de colegas ganharam um concurso que vai financiar a realização de uma oficina cultural na sua escola. Após o desenvolvimento do projeto, você, como membro do grupo, ficou responsável por escrever um relatório sobre as atividades realizadas na oficina, informando o que foi feito. O relatório será avaliado por uma comissão composta por professores da escola. A aprovação do relatório permitirá que você e seu grupo voltem a concorrer ao prêmio no ano seguinte. O relatório deverá contemplar a apresentação do projeto (público-alvo, objetivos e justificativa), o relato das atividades desenvolvidas e comentário(s) sobre os impactos das atividades na comunidade. Na abertura do concurso, os grupos concorrentes receberam o seguinte texto de orientação geral: As Oficinas Culturais são espaços que procuram oferecer aos interessados atividades gratuitas, especialmente as de caráter prático, com o objetivo de proporcionar oportunidades de aquisição de novos conhecimentos e novas vivências, de experimentação e de contato com os mais diversos tipos de linguagens, técnicas e ideias. As Oficinas Culturais atuam nas áreas de artes plásticas, cinema, circo, cultura geral, dança, design, folclore, fotografia, história em quadrinhos, literatura, meio ambiente, multimídia, música, ópera, rádio, teatro e vídeo. O público a ser atingido depende do objetivo de cada atividade, podendo variar do iniciante ao profissional. As Oficinas Culturais visam à formação cultural e não à educação formal do cidadão. Pretendem mostrar caminhos, sugerir ideias, ampliar o campo de visão. (Adaptado de Oficina Cultural Regional. Sérgio Buarque de Holanda. Disponível em http://www.guiasaocarlos.com.br/oficina_cultural/ conceito.asp. Acessado em 07/10/2013.) X 6. b) No 1º enunciado, o verbo (beber, tomar) está implícito, bem como parte do nome do produto (Leão). A grafia do termo Matte impede que se confunda com o verbo matar e o sinal de crase indica que a expressão à vontade deve ser lida como uma locução adverbial, assim como no 3º, no qual o termo mate, pela grafia, indica não o nome próprio da bebida como no 1º, mas o nome comum, com a referência a qualquer mate. Já no 2º, a ausência de sinal de crase indica a presença apenas do substantivo, uma vez que o verbo matar não rege preposição. Assim, a propaganda trabalha com o jogo de sentidos entre palavras e expressões homônimas, mas com significados e classificações distintos: Matte (nome próprio), mate (verbo) e mate (nome comum) e à vontade (locução adverbial) e a vontade (objeto direto.) 10. (UFPR-PR) Em 3 de setembro de 2010, a revista ISTOÉ publicou uma síntese, assinada por Paulo Lima, do livro ainda inédito Fé em Deus e pé na tábua – Como e por que você enlouquece dirigindo no Brasil, do antropólogo Roberto DaMatta: Nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da nossa incapacidade de sermos uma sociedade igualitária; de instituirmos a igualdade como um guia para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores de uma sociedade que se quer republicana e moderna, mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, no qual alguns podiam mais do que muitos, como ocorre até hoje. Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem ser atendidas. É o espaço do acolhimento, do tudo é possível por meio da mamãe. Daí a pessoa chega na rua e não consegue entender aquele espaço onde todos são juridicamente iguais. Ir para a rua, no Brasil, ainda é um ato dramático, porque significa abandonar a teia de laços sociais onde todos se conhecem e ir para um espaço onde ninguém é de ninguém. E o trânsito é o lado mais negativo desse mundo da rua. É doentio, desumano e vergonhoso notar que 40 mil pessoas morrem por ano no trânsito de um país que se acredita cordial, hospitaleiro e carnavalesco. No Brasil, você se sente superior ao pedestre porque tem um carro. Ou superior a outro motorista porque tem um carro mais moderno ou mais caro. O motorista não consegue entender que ele não é diferente de outro motorista, do pedestre, do motorista de ônibus. Que ele não tem um salvo-conduto para transgredir as leis. No Brasil, obedecer à lei é uma babaquice, um sintoma de inferioridade. Quem obedece é subordinado porque a hierarquia que permeia nossas relações sociais jamais foi politizada. Isso é herança de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, em que não houve investimento sério no transporte coletivo e onde ainda impera o “Você sabe com quem está falando?” (LIMA, Paulo. “Como estou dirigindo?”, ISTOÉ, ed. 2130.) Tomando como ponto de partida as opiniões de DaMatta, escreva uma carta dirigida ao Secretário de Educação do Estado do Paraná, solicitando a inclusão, no currículo do Ensino Médio, de conteúdos voltados à educação para o trânsito. Use as afirmações de DaMatta como argumentos para fundamentar sua solicitação. O texto deve ter de 10 a 12 linhas. REGISTRE NO CADERNO Por dentro do Enem e do vestibular PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 177 5/12/16 6:22 PM


178 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO Cidadania em debate Como encerramento da unidade, realize com os colegas da classe uma feira de cidadania, na qual serão promovidos debates deliberativos com a comunidade escolar e do bairro e serão montadas oficinas de produção de currículo e de cartas argumentativas de solicitação e/ou reclamação. 1. Organizando, preparando e divulgando o evento Vocês já definiram, no debate deliberativo realizado no capítulo 1, o perfil do evento que realizarão: data, horário, estrutura, título, público-alvo, divulgação. Providenciem, agora, os meios necessários para que as deliberações do debate sejam colocadas em prática: • Organizem-se em grupos, de acordo com os interesses de cada aluno, e definam qual grupo ficará responsável por qual atividade da feira. • Em todos os murais produzidos, confiram se o tamanho das letras está adequado, para que os convidados os leiam de pé, ao visitar o local. • Divulguem o evento para a comunidade, com certa antecedência, especificando as atividades que serão realizadas, a fim de que as pessoas interessadas possam se preparar para participar delas de modo mais ativo, seja buscando informações sobre o debate, seja providenciando os documentos que precisarão consultar, caso desejem aproveitar o momento para elaborar um currículo ou uma carta de reclamação e/ou solicitação. 2. Realizando a feira O(s) debate(s) deliberativo(s) • Preparem o espaço para a realização do debate deliberativo sobre possíveis ações de preservação do meio ambiente planejado por vocês no capítulo 1 da unidade. • Definam quem serão os moderadores, os assessores e os participantes e como os participantes e os espectadores ficarão dispostos no local. • Se julgarem conveniente, organizem mais um debate, em horário diferente, sobre algum tema relevante para a escola ou para a comunidade. • Divulguem com antecedência o(s) tema(s) do(s) debate(s), a fim de que as pessoas possam manifestar seu interesse e vocês consigam se planejar para recebê-las. • Façam a programação do(s) horário(s) do(s) debate(s) e divulguem-na para todo o público da feira. RICO/Arquivo da editora PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 178 7/6/17 08:35


A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 179 Oficina de currículos: o cidadão que busca inserção no mercado de trabalho • Organizem um espaço com computadores para receber as pessoas que vocês auxiliarão na elaboração de currículos. • Montem no lugar da realização da oficina um mural com modelos de currículos e dicas para a elaboração de currículos atraentes e eficientes. Oficina de cartas: cidadão que solicita e reclama seus direitos • Reúnam em um mural, para servirem de modelo, as cartas de solicitação e/ou reclamação produzidas por vocês no capítulo 3. • Se quiserem, criem um mural com orientações sobre o que não se deve fazer nessas cartas. Pesquisem exemplos de cartas que, por algum motivo, não foram eficientes e apontem estratégias que seriam as mais adequadas em cada contexto. • Preparem um espaço no qual vocês possam prestar uma consultoria para os visitantes que queiram tirar dúvidas ou escrever cartas de solicitação e/ou reclamação. Para dar dicas, sugestões e orientações sobre como produzi-las de forma eficiente, atendendo ao fim para o qual foram escritas, tomem por base o estudo realizado no capítulo 3. • Organizem um espaço com computadores conectados à Internet para apresentar aos visitantes sites de reclamação a que os consumidores podem recorrer. Vocês podem oferecer ajuda àqueles que quiserem deixar sua reclamação registrada ali mesmo. 3. Registrando o evento • Durante a feira, façam registros, em fotos, vídeos e anotações, de momentos importantes, como um agradecimento de alguém, uma história contada por um convidado, um depoimento interessante. Depois, utilizem esse material, junto com o já reunido anteriormente, na escrita do relatório sobre a realização do evento. • Encaminhem o relatório à comunidade, à direção da escola e ao professor que orientou a realização do evento, a fim de que, no futuro, outros grupos possam consultá-lo ao organizar a produção de eventos semelhantes. Jaume Gual/AGE Fotostock/AGB Photo Library David Buffington/Getty Images PortuguesContemporaneo3_UN2_CAP3_155a179.indd 179 5/12/16 6:22 PM


Nonononononon UNIDADE 3 Hora e vez da linguagem Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. (Clarice Lispector. A paix‹o segundo G. H. Edição crítica organizada por Benedito Nunes. Madri: Allca XX; São Paulo: Scipione, 1997. p. XXVII.) Fruteira (1998), de Aldemir Martins, artista cearense que começou a expor na década de 1940. Coleção particular 180 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 180 5/12/16 6:24 PM


Nonono nonon SiMulaDO eNeM – a reDaÇÃO eM eXaMe Participe de um simulado da prova de redação do Enem, organizado por você e seus colegas; depois, participe de uma banca de correção para avaliar a produção da classe. Casas (1953), de Alfredo Volpi. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas – volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu. (Idem. p. XXVII.) Mire veja... o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. (Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 15.) uma casa não é nunca só para ser contemplada; melhor: somente por dentro é possível contemplá-la. (João Cabral de Melo Neto. “A mulher e a casa”. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 241-2.) Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil 181 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 181 5/12/16 6:24 PM


Cecília Meireles e Vinícius de Morais LITERATURA a poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos a dissertação (i) CAPÍTULO 1 Cec’lia Meireles Cecília Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro. Perdeu os pais muito cedo e foi criada pela avó, que lhe proporcionou os primeiros contatos com a literatura. Formada em Magistério, dedicou-se com grande empenho à carreira de professora. Publicou seu primeiro livro de poesia, Espectros, aos 19 anos. Durante muito tempo, publicou em jornais crônicas e também artigos relacionados à educação. Em 1934, fundou a primeira biblioteca infantil do país. A poetisa obteve grande prestígio em Portugal e é considerada uma das principais vozes da literatura em língua portuguesa. Cecília Meireles Mais conhecida como poetisa, Cecília Meireles também foi cronista e contista e deixou uma grande contribuição na área da educação, da literaEternidade (1931), tela de Ismael Nery, pintor que foi líder espiritual e exerceu forte influência no grupo de poetas católicos do Rio de Janeiro nos anos 1930, particularmente sobre Jorge de Lima e Murilo Mendes. Col. Chaim José e Regina Hamer, SP Foto do Acervo UH/Folhapress 182 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 182 5/12/16 6:24 PM


literatura tura infantil e do folclore. Como intelectual e educadora, defendeu o ensino laico e se empenhou no combate ao autoritarismo do Estado Novo. Suas primeiras publicações, como Espectros (1919), Nunca mais... e poema dos poemas (1923) e Baladas para el rei (1925), apresentam certos traços neossimbolistas, como a musicalidade, a espiritualidade, a melancolia, o sonho e o uso de símbolos, além de referências recorrentes ao mar, à tristeza e à efemeridade do tempo. A obra da autora, entretanto, mesmo nas produções posteriores, nunca se enquadrou perfeitamente em nenhum movimento literário. Cecília é essencialmente uma poetisa moderna, mas vinculada fortemente à tradição ibérica da poesia. Cultivou o verso livre, mas tinha amplo domínio das formas poéticas convencionais, como a canção, o epigrama, o noturno, o verso redondilho, ritmos bem-marcados, etc. Entre os vários livros que publicou, estão também Viagem (1939), Vaga música (1942) e Romanceiro da Inconfidência (1953). No âmbito da literatura infantil, é autora da conhecida obra Ou isto ou aquilo (1964). FOCO NO TEXTO Leia, a seguir, dois poemas de Cecília Meireles, ambos da obra Viagem. Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. (Obra poŽtica. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p. 81.) Can•‹o Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; — depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar. Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas. O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho, dentro de um navio... Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça. Depois, tudo estará perfeito: praia lisa, águas ordenadas, meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas. (Idem, p. 88.) Andressa Honório 183 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 183 5/12/16 6:24 PM


1. O poema “Motivo” se inicia com o verso “Eu canto porque o instante existe”. a. Qual é o canto a que se refere o poema? b. Para o eu lírico, o que motiva o seu canto? 2. O poema “Motivo” é constituído, em grande parte, de antíteses. a. Identifique as antíteses do poema. b. A quem elas se referem? c. Como o eu lírico vê a si mesmo em sua experiência de poeta? d. Qual é a importância dessas antíteses no processo de criação poética? 3. Há, no poema “Motivo”, referência à efemeridade do tempo, tema frequente na poesia de tradição clássica. a. Identifique uma referência a esse tema. b. Para o eu lírico, se a matéria é efêmera, então o que é eterno? Justifique sua resposta com um verso do poema. 4. No poema “Canção”, o eu lírico faz referência ao seu sonho e, por meio de um conjunto de imagens, revela o destino que deu a eles. a. A que meio ou ambiente estão relacionadas as imagens do poema? Justifique com alguns elementos do texto. b. Com que objetivo o eu lírico põe seu sonho em um navio? O que representa o naufrágio do navio? c. Dê uma interpretação à imagem final do poema: “e as minhas duas mãos quebradas”. d. Que sentimentos o eu lírico revela ter em relação ao sonho e à vida? 5. Cecília Meireles é considerada uma poetisa de grande habilidade formal. Compare os dois poemas e responda: a. Que semelhança eles apresentam, do ponto de vista formal, ou seja, quanto a estrofação, métrica, ritmo e rimas? b. Entre as figuras de linguagem sonoras, qual delas se verifica nos versos “O vento vem vindo de longe” e “a noite se curva de frio”, do poema “Canção”? Que efeito de sentido ela resulta da presença dessa figura? c. Cecília Meireles é associada frequentemente ao Simbolismo ou ao Neossimbolismo. Que traços desses poemas têm afinidade com a estética simbolista? Justifique sua resposta com elementos dos textos. Vinícius de Morais As primeiras obras de Vinícius de Morais, como O caminho para a distância (1933) e Forma e exegese (1935), foram marcadas pela preocupação espiritual e pela busca do “sublime” por meio da transcendência mística. Nessa fase, Vinícius fazia parte de um grupo de escritores e católicos do Rio de Janeiro, e nos poemas desse período são comuns as antíteses matéria/espírito ou humano/divino e versos longos, quase versos-parágrafos, além de uma linguagem elevada, com influência clássica. Aos poucos, porém, sua poesia se transforma e começa a se voltar para temas do cotidiano. Em Ariana, a mulher (1936), por exemplo, a figura feminina ganha espaço, porém ainda é tratada de forma platônica, idealizada e inacessível, como na tradição clássica ou na poesia romântica. É o canto poético, ou seja, a própria poesia. É o instante que existe, ou seja, é o presente, é a própria vida. alegre/triste, gozo/tormento, noites/dias, desmorono/edifico, permaneço/desfaço, fico/passo Todas se referem ao próprio eu lírico. Ele se vê como um ser imprevisível, indefinível, contraditório, que não se enquadra em nenhum conceito ou pré-conceito. A contradição ou imprevisibilidade do eu lírico é a base para a criação literária, ou seja, a poesia precisa de total liberdade para poder nascer. O verso “E um dia sei que estarei mudo”. O que é eterno é a poesia, conforme é sugerido no verso “Tem sangue eterno a asa ritmada”. 4. a) Estão relacionadas ao ambiente marítimo, como comprovam as palavras e expressões navio, mar, naufragar, molhadas, azul das ondas, areias desertas, água, praia lisa. 4. b) Ele põe seu sonho em um navio com o objetivo de afundá-lo para que, assim, ele desapareça. O naufrágio representa a superação dos sonhos frustrados. 4. c) Professor: Sugerimos abrir a discussão com a classe, pois pode haver mais de uma interpretação. Sugestão: O eu lírico pôs o navio no mar com as mãos. Ao afundá-lo e destruir seu sonho, é como se tivesse cortado parte de si mesmo. Sentimentos como pessimismo, desesperança, descrença. 5. a) Os dois poemas apresentam estrofes de quatro versos, sendo que, em “Canção”, todos os versos são octossílabos e, em “Motivo”, os três primeiros são octossílabos e o último de cada estrofe é dissílabo. As sílabas tônicas dos versos dos dois poemas recaem na 4ª e na 8ª sílabas (nos dissílabos, caem na segunda). Em “Motivo”, as rimas são alternadas (ABAB); em “Canção”, rimam apenas o 2º e o 4º versos de cada estrofe. A figura de linguagem é a aliteração, que sugere o som do próprio vento. A musicalidade, as imagens sugestivas e vagas (“Tem sangue eterno a asa ritmada”, “irmão das coisas fugidias”), a reflexão existencial, a atmosfera onírica. “Motivo” em canção O poema “Motivo”, de Cecília Meireles, foi musicado pelo compositor Fagner, assim como um trecho do poema “Marcha”, da autora, que faz parte da letra da canção “Canteiros”. A canção “Motivo” foi incluída no álbum Eu canto, que foi lançado por Fagner em 1978 e fez grande sucesso. As canções “Motivo” e “Canteiros” podem ser ouvidas na Internet. REGISTRE NO CADERNOCBS 184 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 184 5/12/16 6:24 PM


literatura A partir das obras Cinco elegias e Poemas, sonetos e baladas, ambas de 1943, o poeta passou a extrair poesia de temas banais do cotidiano (o mar, a praia, a pátria, os trabalhadores, os pescadores, etc.) e a fazer uso de uma linguagem mais simples, coloquial e enxuta. Nos poemas dessas obras, a mulher começou a ser tematizada de forma concreta e sensual. A simplicidade dos temas e o coloquialismo da linguagem contribuíram para a vinculação do poeta à música popular. Em decorrência dessa nova atividade artística, muitos de seus poemas, entre eles “Soneto de fidelidade” e “Soneto de separação” − provavelmente os dois poemas que os brasileiros mais sabem de cor − foram musicados e cantados. A parceria com grandes compositores da música popular brasileira, como Tom Jobim, Toquinho e Chico Buarque, consagrou definitivamente o poeta-compositor. A canção “Garota de Ipanema”, por exemplo, de autoria de Vinícius e Tom Jobim, é conhecida internacionalmente. FOCO NO TEXTO Você vai ler, a seguir, dois poemas de Vinícius de Morais: “Pátria minha” e “Soneto de separação”. O primeiro foi incluído na Antologia poética publicada em 1954, e o segundo, na obra Poemas, sonetos e baladas, publicada em 1946. Texto 1 Pátria minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. [...] Fonte de mel, bicho triste, pátria minha Amada, idolatrada, salve, salve! Que mais doce esperança acorrentada O não poder dizer-te: aguarda... Não tardo! Quero rever-te, pátria minha, e para Rever-te me esqueci de tudo Fui cego, estropiado, surdo, mudo Vi minha humilde morte cara a cara Rasguei poemas, mulheres, horizontes Fiquei simples, sem fontes. Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta Lábaro não; a minha pátria é desolação De caminhos, a minha pátria é terra sedenta E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular Que bebe nuvem, come terra E urina mar. Vin’cius de Morais Vinícius de Morais (1913-1980) nasceu no Rio de Janeiro e foi poeta, cronista, dramaturgo e compositor. Estudou Direito, Ciências Jurídicas e Sociais e ingressou em 1946 na carreira diplomática, na qual permaneceu até 1969, quando foi exonerado do Ministério das Relações Exteriores pelo governo militar. Nos anos que viveu no exterior, foi diplomata nos Estados Unidos, na França e no Uruguai. Publicou sua primeira obra, o livro de poemas O caminho para a distância, em 1933, mas só começou a se tornar famoso em 1956, com a encenação da peça Orfeu da Conceição. Na década de 1950, o poeta começou a se envolver com a carreira musical, que lhe conferiu grande popularidade. Teve como parceiros musicais figuras importantes da MPB, como Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque e Toquinho, entre outros. Folhapress/Folhapress 185 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 185 5/12/16 6:24 PM


Mais do que a mais garrida a minha pátria tem Uma quentura, um querer bem, um bem Um libertas quae sera tamen Que um dia traduzi num exame escrito: “Liberta que serás também” E repito! Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha Atento à fome em tuas entranhas E ao batuque em teu coração. Não te direi o nome, pátria minha Teu nome é pátria amada, é patriazinha Não rima com mãe gentil Vives em mim como uma filha, que és Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez. Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: “Pátria minha, saudades de quem te ama... Vinicius de Moraes.” (Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. p. 267-9.) Texto 2 Soneto de separa•‹o De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (In: Nova antologia poética de Vinicius de Moraes, seleção e organização de Antonio Cícero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 2008. p. 100 © VM.) Libertas quae sera tamen: expressão, em latim, de autoria do poeta Virgílio, que significa “liberdade, ainda que tardia”; foi utilizada como lema do movimento da Inconfidência Mineira e hoje aparece na bandeira de Minas Gerais. presto: ligeiro, rápido. Andressa Honório 186 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 186 5/12/16 6:24 PM


-grama) sugere que a mensagem será enviada por uma ave. 4. b) Porque o sabiá é uma ave brasileira. A cotovia e o rouxinol, que são típicas do continente europeu, pegarão a carta e a entregarão ao sabiá, para que ele a leve à pátria. c) Com “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, cujos versos iniciais são “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá”. Logo, além do tema do exílio, é a palavra sabiá que estabelece uma relação intertextual com o poema de Gonçalves Dias. Não; em “Pátria minha” o poeta assume a voz do eu lírico ao assinar o poema como “Vinicius de Moraes”. De uma separação amorosa, conforme indica o verso “E das bocas unidas fez-se a espuma”. Antítese. Opondo dois momentos: o antes e o depois da separação. A repetição constante da expressão de repente revela a surpresa do eu lírico com a rapidez que envolveu a separação e, ao mesmo tempo, com a fragilidade das relações amorosas. “Pátria minha” e o exílio Quando escreveu “Pátria minha”, Vinícius de Morais vivia em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde, como diplomata, era vice-cônsul. Por estar fora do país, ele se sentia como se estivesse em exílio. Em 1949, o poeta enviou uma cópia do poema ”Pátria minha” ao amigo e também poeta e funcionário do Itamaraty, João Cabral de Melo Neto, que vivia em Barcelona, na Espanha. Querendo fazer uma surpresa a Vinícius, Cabral imprimiu em sua prensa pessoal cinquenta exemplares do poema e os entregou ao amigo. O poema “Pátria minha” foi publicado em livro cinco anos depois, em 1954. REGISTRE NO CADERNO VM Cultural Vinícius de Morais e João Cabral de Melo Neto. 187 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 187 5/12/16 6:24 PM


7. O hipérbato ou inversão é outra figura de linguagem que ocorre com frequência no poema. a. Coloque na ordem direta os seguintes versos do poema, desfazendo os hipérbatos. • “De repente do riso fez-se o pranto” • “De repente da calma fez-se o vento” • “Que dos olhos desfez a última chama” b. Levante hipóteses: Que relação há entre as inversões sintáticas nos versos e o conteúdo do poema? 8. Por meio de imagens, o eu lírico consegue transmitir os sentimentos decorrentes da separação, ao mesmo tempo que faz uma espécie de balanço da vida. Responda, justificando suas respostas com palavras ou expressões do texto: a. Que sentimentos ele revela ter nesse momento? b. Que perspectiva o eu lírico tem para sua vida? 9. Observe e compare, do ponto de vista formal, os dois poemas de Vinícius de Morais. a. Qual deles adota uma forma convencional, com versos regulares? Qual adota uma forma livre, com versos livres? b. Qual dos dois poemas tem uma linguagem mais elevada? Em qual deles a linguagem é mais simples e coloquial? c. O que as respostas dos itens anteriores permitem concluir sobre a poe sia de Vinícius de Morais, do ponto de vista formal? De repente o pranto fez-se do riso De repente o vento fez-se da calma Que (o qual) desfez a última chama dos olhos As inversões sintáticas reforçam as oposições que se dão no nível do conteúdo, ou seja, o eu lírico também está vivendo uma vida “invertida”, ou seja, que é o contrário do que vivera antes. Sentimentos como surpresa (“espanto”), sofrimento (“pranto”, “drama”), tristeza (“triste”), solidão (“sozinho”). O eu lírico não tem perspectiva definida, sua vida é uma “aventura errante”, sem rumo. O “Soneto de separação” adota uma forma convencional, o soneto, com versos decassílabos. O poema “Pátria minha” adota forma e versos livres. 9. b) O soneto tem uma linguagem mais elevada, com o emprego de termos como bruma e aventura errante, enquanto o poema “Pátria minha” tem uma linguagem mais simples e coloquial, conforme demonstra o emprego de termos como bicho triste, patriazinha. Permitem concluir que o poeta cultivou tanto forma e versos livres, de acordo com as propostas da geração de 22, quanto forma e versos regulares, de tradição clássica. • Cecília Meireles e Vinícius de Morais integraram o grupo de poetas católicos do Rio de Janeiro que se destacaram nos anos 1930-40. Além do verso livre, ambos cultivaram também formas clássicas da poesia. • A poesia de Cecília Meireles apresenta certos traços associados ao Simbolismo, como a musicalidade, a espiritualidade, a melancolia e o uso de uma linguagem mais sugestiva do que descritiva. • A poesia de Vinícius de Morais teve inicialmente inspiração religiosa e era escrita em uma linguagem elevada, com influência da tradição clássica. Aos poucos, porém, o poeta se voltou para temas do cotidiano, como a mulher, o amor, a pátria, o mar, os filhos, fazendo uso de formas poéticas mais simples e de linguagem mais acessível e coloquial. Da fase final de sua poesia, nasceram as canções que popularizam definitivamente o poeta-compositor. REGISTRE NO CADERNO 188 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 188 5/12/16 6:24 PM


Você vai ler, a seguir, um soneto de Vinícius de Morais e a letra de uma canção, com música de Tom Jobim e letra de Vinícius de Morais. Na Internet, é possível assistir a parte de um show na qual os dois juntos apresentam a canção e Vinícius declama o poema. Procure ver. Soneto de fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. (In: Nova antologia poética de Vinicius de Moraes. São Paulo: Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 2008. p. 39. © VM.) Eu sei que vou te amar Eu sei que vou te amar Por toda minha vida eu vou te amar Em cada despedida eu vou te amar Desesperadamente, eu sei que vou te amar E cada verso meu será Pra te dizer que eu sei que vou te amar Por toda minha vida Eu sei que vou chorar A cada ausência tua eu vou chorar Mas cada volta tua há de apagar O que esta ausência tua me causou Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver A espera de viver ao lado teu Por toda minha vida (Vinícius de Morais e Tom Jobim. Disponível em: http://www.jobim.org/jobim/ handle/2010/11054. Acesso em: 23/3/2016.) atento: cuidadoso, respeitoso. LITERATURA Osterreichische Galerie Belvedere, Viena, Áustria O beijo (1908), de Gustav Klimt. 189 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 189 7/6/17 08:36


1. O poema de Vinícius de Morais apresenta recursos formais – como inversões e outras figuras de linguagem – que o associam à tradição da poesia clássica. a. Qual é o tipo de composição utilizado? b. A fim de constatar o uso de inversões no poema, ponha os versos da 1ª estrofe na ordem direta. c. Qual é o efeito de sentido decorrente do emprego do polissíndeto em “Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto”? d. Identifique no poema exemplos de antítese, pleonasmo e metáfora. 2. O poema tem como título “Soneto de fidelidade”. De acordo com o ponto de vista do eu lírico: a. A fidelidade exige renúncia? Justifique sua resposta com elementos do texto. b. De acordo com a 2ª estrofe, de que outra forma se mostra a fidelidade? 3. O eu lírico imagina a possibilidade de futuramente ocorrerem duas situações adversas: a morte e a solidão. a. Para ele, o que é a morte? b. E a solidão? 4. Depois de passar por essas experiências, o eu lírico poderia, então, chegar a uma conclusão a respeito do amor, resumida nos dois últimos versos do poema: “Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure”. a. Que figura de linguagem se verifica na expressão infinito enquanto dure? Justifique sua resposta. b. Interprete esses versos e explique que conceito de amor tem o eu lírico, levando em conta o sentido dessa figura de linguagem reconhecida no item a. 5. O soneto e a letra da canção são de Vinícius de Morais. Compare os dois textos. a. Que semelhanças e diferenças eles apresentam quanto à percepção do eu lírico sobre o amor? b. Que diferenças eles apresentam em relação à forma e à linguagem? c. Essas diferenças são compatíveis com o gênero e com o propósito comunicativo de cada texto? Justifique sua resposta. O soneto. Antes de tudo, serei atento ao meu amor, e com tal zelo, e sempre, e tanto, que meu pensamento se encante dele, mesmo em face do maior encanto. A repetição da conjunção reitera e destaca a ênfase dada pelo eu lírico à devoção com que vai cuidar de seu amor pela pessoa amada. Antítese: riso/pranto, pesar/contentamento; pleonasmo: rir meu riso; metáfora: chama. Sim, conforme os versos “Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento”. Mostra-se fidelidade também vivendo o amor nas mais variadas situações, nos momentos banais da vida, na tristeza e na alegria. A morte (a sua própria ou da pessoa amada) é a maior preocupação de quem ama. É o fim da pessoa que ama, pois a pessoa amada já partiu. Um paradoxo, pois, se é infinito, supostamente não teria fim, não acabaria nunca. Seu conceito de amor é de que, enquanto durar, o amor deve ser pleno e total, uma espécie de entrega incondicional. Ou seja, ele deve ser infinito do ponto de vista da intensidade, e não da durabilidade. Nos dois textos, o amor deve ser constante e uma espécie de entrega. No poema, entretanto, é prevista a possibilidade de o amor ter um fim (motivado pela morte ou não); já na canção, o amor deve durar toda a vida. 5. b) Enquanto o soneto apresenta uma linguagem e uma forma poética clássica (emprego do soneto, versos decassílabos, vocabulário selecionado, figuras de linguagem, etc.), a canção apresenta uma letra simples, direta e fluente, com versos livres, vocabulário comum e versos inteiramente repetidos. Inteiramente compatíveis. O poema supõe um leitor de poesia, isto é, um leitor acostumado com a linguagem poética e seus recursos formais. Já a canção é feita para ser cantada e ouvida; logo, é natural que apresente repetições e uma simplicidade formal maior, pois disso depende a memorização da letra. REGISTRE NO CADERNO 190 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 190 5/12/16 6:24 PM


lÍNGua e liNGuaGeM FOCO NO TEXTO Leia, a seguir, uma redação que teve nota máxima no exame do Enem. A imigração no Brasil Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração. ■, inúmeros brasileiros deixaram ■ em busca de melhores condições de vida. No século XXI, um fenômeno inverso é evidente: a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios, com indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos. No entanto, as condições precárias de vida ■ são desafios ■ para a plena adaptação de todos os cidadãos ■. A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo é um importante fator atrativo ■. ■ o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo previsões, seja menor em 2012 em relação a anos anteriores, o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C. ■ contribui para a construção de uma imagem positiva e promissora do Brasil no exterior, o que favorece a imigração. A vida dos imigrantes no país, ■, exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria. ■, para impedir a continuidade ■, é imprescindível a intervenção governamental, por meio da fiscalização de empresas que apresentem imigrantes como funcionários, bem como a realização de denúncias de exploração por brasileiros ou por imigrantes. ■, é necessário fomentar o respeito e a assistência a eles, ideais que devem ser divulgados por campanhas e por propagandas do governo ou de ONG’s, além de garantir seu acesso à saúde e à educação, por meio de políticas públicas específicas ■. (Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/ guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 20/2/2016.) 1. Em sua primeira leitura, você certamente percebeu que faltam alguns termos fundamentais para a compreensão do texto. a. Entre as expressões do quadro a seguir, identifique os que completam adequadamente o texto e escreva-os em seu caderno, na ordem em que devem ser empregadas. a esse grupo Embora entretanto Na chamada década perdida dessas pessoas Portanto aos estrangeiros Ademais Esse aspecto dessa situação ao governo e à sociedade brasileira à nova realidade o país b. Reveja no texto os seguintes trechos e expressões e indique qual(is) expressão(ões) do quadro do item anterior retoma(m) cada um deles. Na chamada década perdida / o país / dessas pessoas / ao governo e à sociedade brasileira / à nova realidade / aos estrangeiros / Embora / Esse aspecto / entretanto / Portanto / dessa situação / Ademais / a esse grupo Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos LÍNGUA E LINGUAGEM 191 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 191 5/12/16 6:24 PM


• “a década de 1980” • “o Brasil” • “indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos” • “a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios” • “o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C” • “A vida dos imigrantes no país [...] exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria” c. Volte novamente ao texto e, com base nas relações estabelecidas entre as ideias, associe os conectivos que constam no quadro do item a aos seguintes valores semânticos. • adição • adversidade • concessão • conclusão d. Identifique no texto outro conectivo com o mesmo valor semântico de entretanto. 2. O texto lido, conforme aponta o título, discorre sobre a questão da imigração no Brasil. a. Levante hipóteses: Quais são os possíveis meios de circulação de textos como esse? Qual é a sua principal função? b. Sabendo que o texto lido é uma redação do Enem, discuta com os colegas e o professor: Qual é, de fato, a função de textos como esse? 3. Discuta com os colegas e o professor e responda: a. Qual é a tese defendida por esse texto? b. Quais argumentos e fatos ele utiliza para fundamentar o ponto de vista adaptado? c. Qual é a conclusão do texto? 4. Releia estes trechos do texto: • “Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração” • “o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C” a. Há, nos trechos, termos que podem ser eliminados sem prejuízo para a estrutura e o sentido global deles. Identifique-os. b. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual é a função desses termos nos trechos? Justifique sua resposta. REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA Na seção anterior, você viu que em um texto há palavras que se referem a elementos externos a ele e palavras que se referem a outras palavras do texto. O processo que estabelece essas referências é denominado referenciação. Você viu também que há palavras que estabelecem relações entre partes do texto, indicando o caminho escolhido pelo autor dentro da perspectiva adotada. Essas palavras são chamadas de operadores argumentativos. Referenciação é o processo pelo qual se introduzem referentes no texto. A retomada desses elementos ao longo do texto é denominada progressão referencial. Na chamada década perdida o país; ao governo e à sociedade brasileira dessas pessoas; aos estrangeiros; a esse grupo à nova realidade Esse aspecto dessa situação ademais entretanto embora portanto no entanto Entre eles: jornal, revista, blog. Defender o ponto de vista do autor sobre o assunto e expor propostas de minimização do problema levantado. Cumprir as exigências da prova para obter um resultado satisfatório. A de que o crescimento econômico do Brasil tem atraído um grande número de imigrantes, que enfrentam no país uma situação precária. 3. b) Referência a datas e locais específicos (década de 1980, século XXI, 2012; países latino-americanos), referência a fatos, como “A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo”, “a redução do PIB em 2012” e a realidade de exploração e miséria enfrentada pelos imigrantes. c) A de que a intervenção governamental é necessária, seja para fiscalizar a exploração ilegal da mão de obra dos imigrantes, seja para legalizar a situação dessas pessoas, seja para, por meio de campanhas e propagandas, fomentar o respeito e a assistência a elas. principalmente, no primeiro; verdadeiro e por exemplo, no segundo Apontar e reforçar o ponto de vista do autor do texto, uma vez que tais termos relacionam a outros contextos as orações em que aparecem. Assim, principalmente indica que houve emigração em outros momentos, mas que na década de 1980 foi maior; verdadeiro enfatiza o aquecimento na economia; por exemplo indica que há ainda outros fatos que poderiam ser citados. REGISTRE NO CADERNO 192 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 192 5/12/16 6:24 PM


língua e linguagem Operadores argumentativos são termos utilizados para correlacionar partes de um texto, a fim de permitir que a direção argumentativa que se pretende tomar fique subentendida. A progressão referencial pode se realizar por estratégias variadas, entre elas o uso de: • formas com valor pronominal, tais como ele, ela, esse, essa, etc.; • advérbios e expressões adverbiais locativas, tais como aqui, ali, lá; • sinônimos do termo retomado; • termos genéricos que abrangem em algum sentido o termo retomado; • elipses, isto é, omissões do termo retomado. Os operadores argumentativos têm sentidos variados, relacionados à finalidade com que são utilizados, como: • assinalar um argumento mais forte: até, até mesmo, mesmo, inclusive. • unir argumentos convergentes: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto... como, além de, além disso; • introduzir uma conclusão relacionada ao que foi expresso anteriormente: portanto, logo, por conseguinte, em decorrência; • estabelecer uma comparação: mais... (de) que, menos... (do) que, tão... quanto; • introduzir uma justificativa ou explicação relacionada ao que foi expresso anteriormente: já que, pois, uma vez que; • contrapor argumentos que apontam para conclusões opostas: mas, porém, contudo, todavia, no entanto, embora, ainda que, apesar de. APLIQUE O QUE APRENDEU 1. Os parágrafos a seguir são partes de um texto. Leia-os com atenção e, com base na progressão referencial e nos operadores argumentativos utilizados, indique em seu caderno a ordem em que eles estão dispostos no texto original. Justifique sua escolha. I. O feminismo também atua nos comportamentos e nos estereótipos, que tanto geram comentários nocivos. Não é razoável haver estranhamento, por exemplo, a um grupo de mulheres confraternizando num bar, sem nenhum homem na mesa; ao modo de se vestir — e ao tamanho de saias, shorts, vestidos ou bermudões; ao jeito de cortar os cabelos; à opção de maquiar-se ou tatuar-se; e sobretudo às decisões de cada cidadã de tocar a vida como bem entender, fora dos padrões da “mulher perfeita”, querendo ter filhos ou não, casar ou não. II. A rigor, a existência do 8 de março e todo o discurso que se reaviva a cada data evidenciam o ranço machista da sociedade. Houvesse plena igualdade de gênero, o Dia Internacional da Mulher seria lembrado mais pelo martírio das operárias subjugadas do que pela luta de direitos. Mas é necessário brigar para eliminar as diferenças, e isso se conquista com diálogo. Muito se avançou nas últimas décadas. É importante seguir em frente cada vez mais. 193 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 193 5/12/16 6:24 PM


III. Ainda é forte a associação da defesa dos direitos das mulheres a situações anacrônicas como a queima de sutiãs em praça pública ou a depreciação generalizada dos homens. O feminismo, tal como muitos movimentos sociais, evoluiu e hoje carrega várias bandeiras: ter direito a uma vida sem violência, poder decidir sobre a própria sexualidade e não escondê-la, ter voz para denunciar o machismo, a desigualdade de gênero e a discriminação racial. IV. Na semana do Dia Internacional da Mulher, muito se fala em valorização do trabalho, em equiparação de salário e em maior participação nas diferentes esferas de poder, tanto na gestão pública quanto nos meios privados, no Brasil e no mundo. Essas demandas precisam de ação permanente, visto que a sociedade ainda apresenta incompreensíveis discrepâncias. Mas é interessante, na efeméride que se comemora hoje, propor olhar para outro tema bastante sensível à causa: o preconceito contra o feminismo. (Jornal O Dia, Rio de Janeiro, 8/3/2014. Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/ opiniao/2014-03-08/editorial-feminismo-e-um-direito-humano.html. Acesso em: 20/2/2016.) Leia a tira a seguir e responda às questões de 2 a 5. IV (localiza o texto no tempo, introduz o assunto que será tratado, apresenta uma tese e indica uma proposta de encaminhamento da discussão); I (começa retomando o termo feminismo do parágrafo IV, que aparece no trecho “o feminismo também atua”); III (o termo direitos das mulheres retoma todas as ações listadas no final do parágrafo I); II (retoma a referência temporal e a afirmação sobre machismo e feminismo feitas no começo do texto, reforça o ponto de vista defendido no desenvolvimento e finaliza resumindo suas ideias nos dois últimos períodos). 2. No 1º quadrinho, Mafalda e Felipe conversam sobre um assunto específico. Qual é esse assunto? 3. O 1º quadrinho termina com uma pergunta, o que leva o leitor a estabelecer uma relação entre esse quadrinho e o 2º. a. O que o pai de Mafalda faz no 2º quadrinho? b. Com base nas expressões das crianças no 2º e no 3º quadrinhos, conclua: O que elas pensaram que o pai de Mafalda estava indo fazer? 4. O 4º quadrinho quebra a expectativa das crianças e provoca um comentário de Felipe. a. Com base na conversa inicial de Mafalda e Felipe, reescreva o comentário do garoto, substituindo assim pela ideia que esse termo retoma. b. Nesse contexto, qual é o valor semântico do termo tão? 5. Observe a expressão do pai de Mafalda no último quadrinho. a. Considerando-se que ele não ouviu a conversa inicial das crianças, o que a reação dele denota? b. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Com que sentido o pai de Mafalda entendeu o termo tão, utilizado por Felipe? Justifique sua resposta. A decisão tomada pelo pai da garota de exterminar as formigas das plantas. Leva consigo um martelo. Exterminar as formigas com o martelo. Entre outras possibilidades: “Logo vi que seu pai não podia ser tão bobo como alguém que vai tentar matar formigas com um martelo”. Valor comparativo. Desapontamento, decepção. Ele entendeu o termo com o sentido de ênfase; assim, é como se Felipe tivesse dito que o pai da amiga é “um pouco bobo”, mas não tanto. REGISTRE NO CADERNO Joaquín Salvador Lavado (QUINO) (Quino. Mafalda no jardim de infância. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 26.) 194 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 194 7/6/17 08:36


LÍNGUA e LINGUAGEM TEXTO E ENUNCIAÇÃO Leia o anúncio a seguir. 1. Para produzir determinado sentido, o anúncio faz uso de recursos semânticos e sintáticos, isto é, explora tanto o sentido das palavras quanto a estrutura das orações. a. A repetição da mesma estrutura, ou seja, o paralelismo entre as frases do texto, pode ser considerada uma estratégia de progressão textual. Identifique qual é a estrutura do paralelismo observado no anúncio. b. Releia a sequência de frases do anúncio e conclua: Qual é a quebra de expectativa, no plano semântico, que ocorre na sequência de frases? 2. Reescreva o enunciado central do anúncio, eliminando as repetições e utilizando operadores argumentativos que auxiliem a organização de ideias. 3. Compare o enunciado do anúncio e a redação que você deu a ele na questão anterior. a. Discuta com os colegas e o professor: Em geral, a repetição é recomendada ou condenada nos manuais de redação de texto? b. Levante hipóteses: Por que o anúncio optou pela repetição? c. Conclua: É possível determinar quando a repetição é um bom recurso e quando deve ser evitada? Leia a tira a seguir e responda às questões 4 e 5. O termo você seguido de uma forma verbal no pretérito perfeito. O fato de a ação de acordar ocorrer depois das ações expressas pelos verbos das três primeiras frases. Ou seja, o esperado é que acordar tivesse sido a primeira ação, e não a última. Entre outras possibilidades: “Você levantou e sentou para tomar o café da manhã. Em seguida, pegou a Gazeta Mercantil e só então acordou”. Em geral, a repetição é considerada um problema, ou seja, um procedimento condenado. Porque a repetição, no contexto, tem um efeito impactante, chamando a atenção para a sequência dos fatos e para a quebra da expectativa. Em textos cuja estrutura é mais livre, como um anúncio ou um poema, por exemplo, a repetição pode ser um bom recurso para a construção de sentidos, enquanto em textos de estrutura mais rígida, como uma dissertação ou um artigo científico, por exemplo, é melhor que ela seja evitada. REGISTRE NO CADERNO © 2016 King Features Syndicate/Ipress JWT (Dik Browne. O melhor de Hagar, o horrível. Porto Alegre: L&PM, 2007.) (Gazeta Mercantil, 19/12/2005.) 195 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 195 7/6/17 08:36


4. Nessa tira, a expressão responsável por uma retomada aparece antes do termo referido. Esse procedimento de referenciação é chamado de catafórico. a. Qual é o referente, na fala da personagem da tira? b. Qual é a expressão que retoma esse referente? 5. Levando em conta a construção do humor na tira, responda: a. Qual é a expectativa criada com a fala da personagem no 1º quadrinho? b. Por que a explicitação do referente no 2º quadrinho tem efeito humorístico? “contar pra minha esposa que eu não vou estar em casa para comemorar nosso aniversário de casamento” A expressão “essa missão muito perigosa”. A de que Hagar dará a seus comandados uma missão especial, com risco de morte e enfrentamento de inimigos perigosos. A “missão muito perigosa” a que Hagar se refere é dar à esposa um recado que irá desagradá-la. Assim, ele compara a fúria da esposa aos grandes perigos enfrentados pelos guerreiros vikings. A dissertação PRODUÇÃO DE TEXTO FOCO NO TEXTO A dissertação é um texto que circula na esfera escolar e tem por objetivo avaliar a capacidade de produção de textos dos estudantes. Leia a dissertação a seguir, que recebeu nota máxima no Enem de 2012. Olhares que buscam o Brasil Ao despontar como potência econômica do século XXI, o Brasil tem cada vez mais atraído os olhares do mundo, chamando a atenção da mídia, de grandes empresas e de outros países. Contudo, é outro olhar não menos importante que deveria começar a nos sensibilizar mais: o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do globo. São pessoas com esse perfil que majoritariamente contribuem para o crescente volume de imigrantes no país, e o que se vê é uma ausência de políticas públicas eficientes para receber e integrar essas pessoas à sociedade. Não parece que a solução seja simplesmente deixar que imigrantes pouco qualificados continuem entrando no país de forma irregular e esperar que eles, sozinhos, encontrem um ofício para se sustentar. O governo ainda não percebeu que a regularização desses imigrantes e a inserção dos mesmos no mercado de trabalho formal poderiam servir como oportunidades para o país arrecadar mais impostos e possíveis futuros cidadãos, ou seja, novos contribuintes para a deficitária Previdência Social. Professor: Neste livro, trataremos a dissertação como um gênero da esfera escolar. De acordo com esse enfoque, ela corresponde à redação escolar típica, produzida para fins de avaliação, em exames, em vestibulares e em concursos em geral. O CONteXtO De PrODuÇÃO e reCePÇÃO DOS teXtOS Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai ler os seus textos? Nesta unidade, nosso projeto é a realização de um simulado da prova de redação do Enem. Com vistas a realizá-lo, trataremos no decorrer dos capítulos da estrutura do texto dissertativo-argumentativo e iremos propor a produção de dissertações, como treinamento para o simulado. REGISTRE NO CADERNO 196 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 196 5/12/16 6:24 PM


Visando aproveitar tais benefícios, o governo poderia começar a implantar, nas regiões por onde chegam os imigrantes, mais órgãos e agências que oferecessem serviços de regularização do visto e da carteira de trabalho, posto que ainda há muita deficiência de controle nesse setor. Além disso, nos destinos finais desses imigrantes poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados para os mesmos. Isso facilitaria muito a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho formal e poderia inclusive suprir a alta demanda por mão de obra em setores como o da construção civil, por exemplo. Nesse sentido, é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas a fim de que o país não deixe escapar essa oportunidade: a de transformar o problema da imigração crescente em uma solução para outros. A questão merece mais atenção do governo, portanto, pois não deve ser a toa que o Brasil, além de ser conhecido pela hospitalidade, também o é pelo modo criativo de resolver problemas. Prestemos mais atenção aos olhares que nos cercam; deles podem vir novas oportunidades. (Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/ guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 12/2/2016.) 1. O texto lido segue a estrutura das dissertações. Identifique, justificando, os parágrafos que correspondem: a. à introdução; b. ao desenvolvimento; c. à conclusão. 2. Seguindo a orientação dada na proposta da prova do Enem, o texto adota um ponto de vista. Qual é a tese quanto ao problema da imigração no Brasil defendida no texto? 3. Para fundamentar a tese que defende, o autor organiza seus argumentos em dois parágrafos e, conforme solicitado pela prova do Enem, apresenta uma proposta de intervenção. a. Identifique os argumentos utilizados em cada parágrafo. b. Qual(is) é(são) a(s) proposta(s) de intervenção sugerida(s)? 4. Na conclusão, o autor, para finalizar o texto, faz uma retomada tanto de seus argumentos como de uma imagem que apresentou no início. a. Quais argumentos são retomados? b. Identifique a imagem apresentada no início do texto e retomada na conclusão. c. Explique como essas retomadas contribuem para a estrutura da dissertação. 5. Em exames como o do Enem, há valorização do uso da norma-padrão, mas alguns poucos desvios são permitidos, desde que não prejudiquem a unidade do texto. Há no texto em estudo certas inadequações à norma-padrão formal. a. Identifique as inadequações presentes em cada um destes trechos: • “poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados para os mesmos” • “é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas” • “não deve ser a toa que o Brasil” b. Reescreva os trechos, fazendo as devidas adequações à norma-padrão. 1º parágrafo; nele o autor introduz a discussão e apresenta seu ponto de vista. 2º e 3º parágrafos; neles o autor desenvolve argumentos para justificar seu ponto de vista. 4º parágrafo; nele o autor retoma a argumentação e finaliza o texto. A de que o Brasil tem atraído muitos imigrantes, mas não tem políticas públicas para recebê-los. 3. a) Os argumentos do autor giram em torno da ideia de que auxiliar os imigrantes traria vantagens para o próprio país: no 2º parágrafo, menciona o recolhimento maior de impostos, o que, segundo ele, melhoraria a situação da previdência; no 3º, menciona a regularização dos vistos e o oferecimento de cursos para integrar as pessoas à sociedade, o que minimizaria o problema da falta de mão de obra. Regularizar a situação dos imigrantes e qualificar sua mão de obra, a fim de que eles possam se inserir no mercado de trabalho e contribuir para o crescimento do país. 4. a) O de que o problema da imigração pode ser revertido em benefícios para o país e o de que a questão merece mais atenção do governo. A de que todo o mundo está olhando para o Brasil. As retomadas ajudam a criar uma unidade no texto, pois dão ideia de que os argumentos convergem para um único fim. Essa estratégia, por reforçar tópicos já conhecidos do leitor, contribui para a fluidez da leitura. 1º trecho: cursos qualificantes voltados para os mesmos; 2º trecho: atitudes energéticas; 3º trecho: a toa. 5. b) Entre outras possibilidades: “poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos de qualificação a essas pessoas/ eles”; “é preciso que atitudes mais enérgicas sejam tomadas”; “não deve ser à toa que o Brasil”. Professor: Comente com os alunos o uso do pronome mesmo para retomar referentes no texto. Tratase de um uso que, apesar de amplamente difundido, é contestado por gramáticos mais tradicionais. A proposta de intervenção do Enem De modo geral, a dissertação escolar não exige que seja apresentada proposta de intervenção. Esse é um critério específico da prova do Enem, que exige tanto a apresentação de uma tese como de uma proposta de intervenção na vida social, relativamente ao assunto em discussão. REGISTRE NO CADERNO 197Produção de texto A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1 PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 197 5/12/16 6:24 PM


6. Com base no estudo sobre progressão referencial e operadores argumentativos realizado na seção Língua e linguagem deste capítulo, identifique no primeiro parágrafo do texto: a. os termos que retomam, respectivamente, os referentes Brasil (1ª linha) e mundo (2ª linha); b. um exemplo de progressão referencial catafórica; c. um exemplo de operador argumentativo de contraposição d. um exemplo de operador argumentativo de adição 7. Em geral, as dissertações escolares são construídas em um tom impessoal. No texto em estudo, entretanto, ocorre a presença da 1ª pessoa, observada no uso do pronome n—s. a. Levante hipóteses: Por que o tom impessoal é o mais utilizado nos textos dissertativos? b. A quem se refere a 1ª pessoa no texto em estudo? c. Explique por que, nesse contexto, o uso da 1ª pessoa não descaracteriza a impessoalidade da linguagem. HORA DE ESCREVER Como você sabe, no final da unidade será realizado um simulado com provas de redação propostas pelo Exame Nacional do Ensino Médio. Como treinamento para a realização do simulado, produza uma dissertação de acordo com a proposta do Enem 2014. Na produção desse texto, lembre-se de ficar atento especialmente à progressão referencial e ao uso de operadores argumentativos. A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema Publicidade infantil em questão no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista. Texto 1 A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução que considera abusiva a publicidade infantil, emitida pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), deu início a um verdadeiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa dos direitos das crianças e setores interessados na continuidade das propagandas dirigidas a esse público. Elogiada por pais, ativistas e entidades, a resolução estabelece como abusiva toda propaganda dirigida à criança que tem “a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço e que utilize aspectos como desenhos animados, bonecos, linguagem infantil, trilhas sonoras com temas infantis, oferta de prêmios, brindes ou artigos colecionáveis que tenham apelo às crianças”. Ainda há dúvidas, porém, sobre como será a aplicação prática da resolução. E associações de anunciantes, emissoras, revistas e de empresas de licenciamento e fabricantes de produtos infantis criticam a medida e dizem não reconhecer a legitimidade constitucional do Conanda Brasil: nos; no país; à sociedade; mundo: da mídia, de grandes empresas e de outros países; ao redor do globo o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do globo. contudo e Como recurso de persuasão do leitor, pois cria um efeito de objetividade ao veicular argumentos que, por serem baseados em dados e informações, dão a impressão de estarem isentos da subjetividade do autor. Aos brasileiros e ao Brasil como um todo. Porque se trata de um nós genérico, que representa uma coletividade e não um grupo pequeno de pessoas, cujos interesses supostamente seriam muito específicos. Professor: Volte à dissertação estudada na seção Língua e linguagem e reforce com os alunos a estrutura e as características recorrentes do gênero, algumas das quais podem variar: tese, argumentos, conclusão, tom impessoal, etc. REGISTRE NO CADERNO 198 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 198 5/12/16 6:24 PM