Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
Editoriais e crônicas de ARARY SOUTO, publicados no JORNAL DO PARANÁ de Ponta Grossa, entre os meses de março e maio de 1952.
OBSERVAÇÃO ACRESCENTADA EM 18.3.2012:
Nesta data, catalogando antigas imagens em arquivo,
Francisco Souto Neto descobriu a foto original (acima) da publicação
feita no Jornal do Paraná, de PONTA GROSSA NO ANO DE 1950.
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Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
TEXTOS de ARARY SOUTO, publicados em diversos jornais de São Paulo e Paraná entre os anos 40 e 50.
HOMENAGEM PÓSTUMA
Num verdadeiro impulso de brasilidade, evocando seus dias de labor, sangrando o solo de sua pátria em busca do ouro negro tão ambicionado pelos estrangeiros, lembramos aos brasileiros que se bateram pela nacionalização da indústria do petróleo em nossa terra, tão patrioticamente apoiada pelo eminente presidente da república, general Eurico Gaspar Dutra, o que foi o vulto de Francisco Souto Júnior, amigo e adepto de Monteiro Lobato, nos primórdios da exploração do petróleo no chão brasileiro. Este relato é de conhecimento de muitos patrícios que viram em Souto Júnior a encarnação da honestidade, da bondade, de amor à família e ao solo pátrio. Com sacrifício físico e monetário, esse homem dedicou sua vida aos estudos do nosso subsolo, às expensas da Companhia Petrolífera Brasileira, que infelizmente tão má orientação teve, e foi o primeiro homem no Brasil, e quiçá na América do Sul, que fez brotar a tão ambicionada nafta nas sondagens petrolíferas do bairro da Graminha, município de São Pedro, Estado de São Paulo
Fazendo um retrospecto desse grandioso feito, voltemos ao ano de 1923 e vamos encontrar nas colunas do Jornal de São Pedro, em um número do mês de outubro daquele ano, o seguinte comentário: “Petróleo – É com grande satisfação que informamos aos nossos leitores os resultados das pesquisas do petróleo nesta última semana, a cargo do ilustre engenheiro Souto Júnior. S. s., após uma profundidade pouco superior a dezoito metros, teve a feliz oportunidade de encontrar bem sensíveis depósitos de nafta, ou petróleo bruto, tendo em seguida enviado telegrama à sede em São Paulo, comunicando essa prodigiosa descoberta, acompanhado de uma regular quantidade do precioso líquido. Hoje ou amanhã deverão chegar, de São Paulo, o exmo. dr. Baloni e demais engenheiros, intensamente empenhados nessa questão, que, parece, está francamente resolvida. Ao sr. Souto Júnior, cujo nome e esforços patrióticos, estamos certos, ficarão perenemente ligados à grandiosidade da nossa terra, enviamos destas modestas linhas as nossas mais sinceras felicitações”.
Mais ou menos nessa ocasião o jornal O Estado de São Paulo, em manchetes, publicava tão auspiciosa notícia, tecendo comentários, os mais francos, em prol do acontecimento, com gravuras fieis, concitando o povo brasileiro, então incrédulo, a acompanhar o maior feito mineralógico em nosso solo. Em 26 de outubro de 1923, recebia o Jornal de Piracicaba prova fiel da honradez e patriotismo de Souto Júnior, pela carta que este lhe dirigiu e da qual, entre outros assuntos, dada a humildade desse baluarte, e a vicissitude que enfrentou com os maus brasileiros e a corja de sabotadores que, mancomunados, tudo fizeram para abortar o jorro do líquido negro neste chão tão maculado por indivíduos de ruim jaez. É o que transcreve aquele jornal, com o seguinte cabeçalho: O QUEROSENE EM SÃO PEDRO. E no seu singelo diapasão, declara Souto Júnior: “Sou um brasileiro que procura, por todas as formas, honrar a Pátria que lhe serviu de berço; repetindo, da significação do acontecimento, é o motivo de vir abusar de vossa bondade. Cumpre-me, também, levar ao vosso conhecimento que só agora disponho de uma máquina perfuradora, após nove anos de lutas sem tréguas, máquina esta pertencente à Companhia Petrolífera Brasileira, por cuja prosperidade, e com a maior boa vontade, tenho empregado os meus sinceros esforços, convindo notar que a referida máquina ainda não está em funcionamento. Está claro, sr. redator, que nas condições que com a máxima sinceridade acima exponho, não poderia eu descobrir os desejados ‘pools’ de petróleo, o que, aliás, não é necessário para se proclamar, alto e bom som, a existência do tão cobiçado mineral, e que provo solenemente com a oferta que faço à minha idolatrada Pátria, de uma infiltração de nafta, com pronunciamento pouco vulgar, e em perfeito estado de conservação, manifestando-se em rochas, que me autorizam afirmar sob minha palavra de honra, a existência do petróleo em nossa zona, devendo fatalmente estender-se por horizonte vastíssimo. Peço vênia para desafiar, baseando sempre no principal motivo que aqui me traz, refutando maleivosas manifestações contrárias, a contestação sensata da minha afirmativa. Por isso, sr. redator, proclamo novamente, alto e bom som, a existência de petróleo em nosso caro Brasil, penitenciando-me no Sagrado Altar da Pátria, se notabilidades no assunto me desmentirem, após as análises cuidadosas dessas ocorrências. Convém ainda notar (o que é de máxima importância) que todos os mencionados caprichos geológicos foram encontrados pelo humilde missivista, a dezoito metros de profundidade, em um poço cavado, com acompanhamento de todas as espécies de sacrifício, a picareta e explosões. Poderia ir além, se já não estivesse abusando de vossa bondade, motivo pelo qual encerro minha obscura missiva, agradecendo, mais uma vez, de todo coração, pela sua atenção. Francisco Souto Júnior”.
Hoje, nas imediações onde Souto Júnior sacrificou uma existência, erguem-se, majestosas, as termas sulfurosas de São Pedro, fruto do seu esforço em busca do petróleo. A dois do corrente entregou sua alma ao Criador, esse brasileiro puro e imaculado. Eu não podia deixar de lhe prestar este tributo, porque, além de ter sido o meu maior amigo, ele foi, também, meu extremoso pai.
Arary Souto.
Ponta Grossa, 17 de outubro de 1948.
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OBSERVAÇÃO ACRESCENTADA EM 1º.11.2011:
A transcrição acima, feita do original em arquivo, assinado por Arary Souto, difere em algumas poucas palavras do texto publicado no Jornal de Piracicaba. Essas pequenas alterações foram feitas, obviamente, pelo próprio autor. Na transcrição, entretanto, a ortografia foi atualizada, como todas as demais transcrições feitas neste blog.
Francisco Souto Neto.
Curitiba, 1º de novembro de 2011.
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BOIADA PANTANEIRA
No amortecer do dia, quando a carícia amena e boa da tarde convida a todos para o descanso a se aproximar, lá pelos lados do vermelhão poente, envolta num turbilhão de poeira, balouçando suas desmesuradas guampas, numa lentidão demonstrativa do pouco caso pela proximidade do pouso reparador de energias, surge a boiada pantaneira, ouvindo-se um ou outro mugido de algum boi saudoso dos pagos deixados para muito atrás… Com a buzina da sua origem, vem ponteando a boiada o peão artista, que a fez mugir com a perícia de que só ele é capaz, como lhe implorando ordem; e o seu mugido tristonho faz lembrar o turuna saudoso do tempo que se passou… Entra na manga e, com a lentidão natural do “tucura”, é feito o aperto para a entrada no mangueiro e a necessária contagem… Dezoito talhas e vinte e oito de sobretalhas: faltam onze… Fechada a porteira, fechada a boiada. Onze… Ei-los que se aproximam, arrastando-se, cabeças baixas, estropiadas: é a culatra. Também… dezesseis marchas… só poderiam chegar assim, afora os companheiros que ficaram para trás: eles eram dezesseis. Seu pouso é em separado, pois não suportam a apertura de um mangueiro apinhado. A peãolada, suarenta e empoeirada como seus montados, corre sôfrega para o desencilho e para o córrego que a espera para o banho gostoso do cavalo e cavaleiro. Bóia feita: arroz, feijão, carne e mandioca. Noite… No galpão varrido para afastar ao máximo o carrapato do chão, braseiro fumacento, redes armadas, ouve-se o acorde melancólico de um violão barato, acompanhado de um “rasqueado” típico à guarânia que o companheiro choraminga, entrecortada pelas “cuspidas” ocasionadas pelo naco de fumo… Na rede, ao fundo, ronca o peão cansado, alheio às lamúrias daquele baracá ensebado… Depois… a pausa ordenada por Morfeu, sob aquele céu pontilhado de estrelas, numa quietude abalada de vez em quando pelo mugido prolongado de um ou outro boi, parecendo protestar contra aquela situação, ou do intrometido “joão-corta-pau” ou algum mentiroso “amanhã-eu-vou”… Madrugada… é aceso o fogo, chaleira inseparável é colocada no tripé. A rodinha está feita e o mate tira-jejum, insubstituível do peão, é servido. Dali até o almoço… No horizonte nascente aparece a “barra do dia”, toque natural de levantar acampamento. É apressado o serviço; o cozinheiro guasca, que tem o privilégio de ir adiante, sabe ele porque, já está com o cargueiro pronto e, num convite ao pingo sobrecarregado, desaparece na estrada sem fim, para lá adiante, “beira-córgo”, à sombra dum piquí, esperar seus companheiros para o almoço de todos os dias…
Perto do galpão é feita a forma e escolhido o matungo magruça para o sacrifício que lhe coube por tarefa. Empurrada a tropa para a frente é tirada a boiada que, porteira afora, vai procurando o capim escasso, num corre-corre sôfrego, abrandado pelo buzinar nervoso e pelos brados de paz da peãolada alerta. Tudo em ordem, segue a sua marcha para as quatro léguas daquele dia e balouçando as guampas compridas e com aqueles mesmos mugidos tristonhos, lá ao longe, na curva daquele varjão orlado por um compacto cerrado, envolta numa nuvem de poeira, desaparece a boiada pantaneira…
Arary Souto
Ponta Grossa, dezembro de 1948.
O PÁSSARO NÔMADE
Contam os velhos no “tataipú” que fiquei enlouquecido de amor e que, por isso, me tornei errante a vagar pelos campos afora. Nasci não sei onde, e quando me tornei adulto compreendi que fui predestinado a viajar, a correr o meu mundo, sem saber onde dormir ou onde morrer: não sei minha idade, não conheço pai, mãe ou irmãos, e não tenho companheiros. Vivo sozinho e meu teto é o céu: hoje estou aqui e amanhã a muitas léguas distantes. O que mais aprecio no mundo é a natureza, os pagos do meu rincão… Nas minhas jornadas prefiro dormir na cabeceira de algum varjão, e à noite gosto de olhar o pisca-pisca das estrelas lá no firmamento. Gosto de olhar a Lua rolando na imensidão do vácuo, pálida e fria como um sonho errante… Gosto de ouvir o curiango alegrando a noite com o seu piado estridente, e o urutau, em contraste, lá ao longe na beira do rio, lamuriando-se da vida com aquele canto soturno… Gosto do uivo do arisco guará nas noites quentes; gosto da carícia da madrugada e de sentir o seu frescor; de ouvir o cantar do galo anunciando a aproximação do dia; de ver a aurora que precede o nascer do astro-rei; de ouvir, na lombada distante, o piado saudoso da perdiz; de apreciar a florada dos campos na primavera e o vento lamber a campanha em flor. Ao terminar o inverno, gosto de ver a queimada ao longe com o seu penacho de fumaça; sinto as árvores ficarem nuas no outono e espalharem as folhas ressequidas pelo chão. Gosto das chuvas de verão e de escutar o trovão ribombar lá naquele amontoado de nuvens negras, prenunciando tempestade. Nas noites escuras gosto de ver o corisco rasgar o céu. Gosto e aprecio tudo o que a natureza me deu para ver e sentir, porque tudo que tenho de meu é essa dádiva divina que me seduz e pela qual me tornei o errante e enlouquecido “guira-caní”…
(N.A. – O “guira-caní” é um pássaro semelhante ao nosso “caminheiro”, com a diferença de ser muito irrequieto, tal e qual o “aracuã”. Nunca é visto num mesmo local e percorre, com rapidez, muitas léguas num só dia. É encontrado em o Norte da Argentina, Paraguai e Oeste de Mato Grosso.)
Arary Souto
Ponta Grossa, setembro de 1948.
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Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
Editoriais e crônicas de ARARY SOUTO, publicados no JORNAL DO PARANÁ de Ponta Grossa, durante o mês de fevereiro de 1952.
18 crônicas e os seguintes 5 editoriais (além de inúmeras matérias não assinadas, de interesse do jornal):
PAUSA PARA PENSAR…
O NOVO HORÁRIO DOS BANCOS
E MAIS ESTA ESPIGA!…
ABUSOS
CONSEQUÊNCIAS.
Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
Editoriais e crônicas de ARARY SOUTO, publicados no JORNAL DO PARANÁ de Ponta Grossa, durante o mês de janeiro de 1952:
Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
EDITORIAIS de ARARY SOUTO, e algumas crônicas, publicados no JORNAL DO PARANÁ de Ponta Grossa, durante a primeira quinzena de dezembro de 1951:
Francisco Souto Neto – VELHOS JORNAIS, ANTIGOS RECORTES (Décadas de 40 a 90 do Século XX)
EDITORIAIS de ARARY SOUTO, e algumas crônicas, publicados no JORNAL DO PARANÁ de Ponta Grossa, durante a primeira quinzena de dezembro de 1951:
GUARDA-NOTURNA,
A FALTA DE TRIGO NO BRASIL,
OS DIREITOS DO HOMEM,
NAQUELE TEMPO ERA ASSIM,
MESA REDONDA PARA SER RESOLVIDA A SITUAÇÃO DO MATE
CONFIRMA A FEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO MATE OS SEUS PROPÓSITOS DE IMPOR ABSURDOS PREÇOS, ATRAVÉS DE UM RUINOSO E ILEGAL MONOPÓLIO DO MATE.
Constam também cinco crônicas “BOM DIA” e um telegrama do senador Flávio Guimarães.
(ATENÇÃO: FALTA A PRIMEIRA PÁGINA DO
JORNAL DO PARANÁ DE 12.12.1951)
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