A tatuagem, comum no corpo de jovens descolados, agora começa também a ganhar força entre setores da sociedade que, até então, a viam como uma marca de marginalidade, como a Polícia Militar.
Pela primeira vez na história da corporação, os inscritos para o
próximo concurso poderão ter tatuagens, desde que pequenas e que
fiquem sob o uniforme. A medida está sendo comemorada não só
pelos candidatos, mas também pelos policiais.
“Acredito que 90% dos policiais de todos os
grupamentos têm tatuagem. Essa liberação mostra que a PM está
acompanhando a evolução dos tempos”, disse um policial do
Batalhão de Operações Especiais (Bope), de 28 anos, que fez sua
segunda tatuagem em outubro passado.
“Quando fiz concurso para a polícia, há seis anos, tive de remover a tatuagem que tinha, desde os 7 anos, no braço direito com a inicial do meu nome. Do contrário, não iria ser aceito na PM”.
Atualmente, o policial ostenta na parte interna do braço direito
o símbolo do curso de operações táticas do Bope: uma caveira
circundada por louros, sobre a frase “Força e honra”. A tatuagem
fica escondida pela manga do uniforme.
“É uma marca muito forte de identificação. Ela
pode colocar minha vida em risco, caso seja abordado por algum
marginal. Mas sempre gostei de tatuagens. Gravei o símbolo da
corporação porque tenho orgulho do que faço”, disse o policial
do Bope.
Um outro policial militar que está há dez anos na corporação disse que com a liberação se sente mais à vontade para fazer uma segunda tatuagem. Ele tem o símbolo do Esquadrão Anti-Bombas gravado nas costas.
"Agora, vou gravar o nome da minha filha na parte interna do braço. Não sofro discriminação no trabalho, mas sinto que outras pessas ainda acham que tatuagem é coisa de marginal", disse o policial.
O tatuador Beto Ohara disse que em 12 anos de trabalho, só se
recorda de ter tatuado um policial militar. E o desenho
escolhido também foi o símbolo da corporação. Ohara acredita que
agora, com a liberação da tatuagem para os candidatos ao
concurso, os policiais deverão procurar mais os estúdios.
“Os militares costumam tatuar os símbolos dos
grupamentos e batalhões onde servem. Eles trazem os desenhos
prontos. Já tatuei policiais civis e federais, mas só me lembro
de um PM. Eles não têm preferência por uma determinada imagem”,
disse o tatuador.
Há quatro anos trabalhando na Taurus Tattoo, no
Centro do Rio, Roberto Pinto Fonseca Júnior, diz que a tatuagem
está saindo dos guetos. Atualmente juízes, promotores, advogados
e executivos têm feito tatuagem, assim como policiais civis e
federais.
“Muita gente espera para fazer tatuagem depois de
aprovados em concursos públicos, inclusive os policiais. Eles
temem ser discriminados. Quando o fazem pedem desenhos pequenos,
em áreas do corpo de pouco exposição. A tatuagem está na moda,
os jovens curtem. Não é mais uma coisa de marginais, como era
antigamente. Até as pessoas mais velhas, com mais de 40 anos,
que tinham um certo receio, estão fazendo tatuagens”, disse
Roberto.
Entre os desenhos mais pedidos pelos policiais
estão os símbolos da corporação e santos de devoção, como São
Jorge. Dragões, inscrições orientais, desenhos tribais, tigres,
águias, escorpiões estão entre os mais pedidos.
“Inconscientemente, eles escolhem símbolos fortes,
como dragões e guerreiros. Mas a escolha é mais pelo lado
artístico do que para criar uma identidade com a profissão”,
explicou Roberto, que torce para que a liberação para os
candidatos da PM aumente o número de clientes de seu estúdio.