09/05/2013 12h52 - Atualizado em 09/05/2013 16h55

Peritos refutam laudo e dizem a júri que PC Farias e Suzana foram mortos

PC Farias e a namorada foram encontrados mortos em junho de 1996.
Equipe descartou tese de suicídio e disse que Suzana tentou se defender.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Maceió

 
9/5/2013 - O médico-legista Daniel Muñoz contesta primeira hipótese dos peritos e faz demonstração do uso da pistola (Foto: Jonathan Lins/G1)O médico-legista Daniel Muñoz contesta hipótese de suicídio de Suzana Marcolino (Foto: Jonathan Lins/G1)

Peritos que contestaram, em 1996, o laudo inicial sobre as mortes de Paulo César Farias, o PC Farias, e da namorada, Suzana Marcolino, afirmaram nesta quinta-feira (8) ser impossível Suzana ter se suicidado. É o 4º dia de júri popular do caso. Eles apontaram falhas em laudo anterior, para afirmar que ela estava em posição de defesa. O julgamento começou na segunda (6), no Fórum de Maceió, e a previsão é que a sentença saia nesta sexta (10).

(Acompanhe em tempo real a cobertura do júri popular, com fotos e vídeos produzidos pela reportagem do G1 diretamente do Fórum de Maceió).

Quatro policiais são acusados de duplo homicídio triplamente qualificado. PC Farias e Suzana Marcolino foram encontrados mortos em uma casa de Praia de Guaxuma, Alagoas, em junho de 1996.

O perito Domingos Tocchetto, da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul, afirmou que é impossível Suzana ter se matado. Segundo ele, exames realizados nas mãos dela não identificaram nenhuma partícula metálica apta a demonstrar que ela utilizou uma arma de fogo para atirar. Além disso, nenhum exame desse tipo foi feito para checar outras pessoas da casa.

"Se ela tivesse atirado para seu peito, o vídeo mostrou o tempo que demora essa arma para recuar. Numa distancia de 3 cm [do corpo], porque não apareceu sangue nas maos de Suzana, por que não apareceu na arma? Isso exclui a possibilidade", disse.

"A ausência de resíduos de pólvora nas mãos de Suzana, da falta de sangue nas mãos e na arma dela são provas de que ela não impunhou a arma", afirmou. Segundo ele, havia manchas de sangue no criado-mudo ao lado da cama, o que indica que Suzana recebeu um tiro em pé, e não se matou sentada. Ele disse, no entanto, que nenhum teste foi feito para identificar de quem era o sangue.

9/5/2013 - No telão, é exibida imagem que simula uma suposta tentativa de defesa de Suzana Marcolino (Foto: Jonathan Lins/G1)No telão, é exibida imagem que simula uma
suposta tentativa de defesa de Suzana
Marcolino (Foto: Jonathan Lins/G1)
Lavar as mãos não remove as partículas porque elas entram na pele"
Domingos Tocchetto, perito

Os policiais foram acusados por omissão, por não terem impedido as mortes. O laudo inicial da equipe do médico-legista Badan Balhares concluiu que Suzana matou PC Farias e se suicidou em seguida. Mas, após ser contestado pelo legista George Sanguinetti, uma nova perícia foi feita, concluindo que o casal havia sido assassinado (Veja dúvidas sobre os dois laudos).

Em seguida, o legista Daniel Muñoz, da USP, que exumou o corpo de Suzana, afirmou que os vestígios encontrados nas mãos de Suzana estavam nas palmas. "Só tem uma saída. Ela estava com as mãos em volta da arma. É uma posição de defesa", afirmou.

A perícia concluiu que o disparo foi efetuado a 3 centímetros de distância da vítima, e não com a arma encostada no peito. "Tiro suicida é com arma encostada", afirmou. "Se houve refluxo de sangue, saiu sangue pelo orifício de entrada, e esse sangue atingiu o antebraço esquerdo e direito, a coxa direita e esquerda, ou seja, saiu uma quantidade  razoável de sangue, lógico seria que tivesse sangue na arma", completou. Não foi encontrado sangue no revólver.

Perito mostra foto de figurante simulando posição em que Suzana deveria estar na cama. (Foto: Jonathan Lins/G1)Perito mostra foto de figurante simulando posição em que Suzana deveria estar na cama (Foto: Jonathan Lins/G1)

Os primeiros peritos afirmam que não havia sangue porque a arma recuou na hora do tiro. "Tudo bem, isso é uma explicação. Mas é só uma explicação. E o juiz nos pediu provas", disse Muñoz. "Nós fizemos testes que mostraram que deveria ter sangue", afirmou. "A posição mais provável de Suzana é que ela estava levantando da cama em uma postura instável. Ninguém se suicida levantando da cama", disse.

Só tem uma saída. Ela estava com as mãos em volta da arma. É uma posição de defesa"
Daniel Muñoz, médico-legista da USP

O perito diz também que a altura errada de Suzana no primeiro laudo, de 1,67 m em vez de 1,57 m, "10 cm de diferença", prejudicou a perícia. "Se Suzana tivesse 1,57 m, haveria uma diferença entre trajeto [distância] e trajetória [caminho da bala] de cerca de 7 cm. Por isso, a Suzana não estava sentada", completou. "Se ele tivesse 1,67 m, ainda assim, não haveria coincidência. De qualquer modo, ela teria que estar levantando da cama."

9/5/2013 - Perito Domingos Tochetto usa uma arma para explicar a trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)O perito Domingos Tochetto usa uma arma para
explicar trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)

"Se ela estivesse sentada, ela teria que ter 2 metros de altura para haver coincidência entre trajeto e trajetória", afirmou Muñoz. "Então ela não estava sentada. Ela estava levantando. Essa é uma prova cabal de que, no caso da Suzana, foi homicídio."

O júri
Encerrada essa fase, começa o interrogatório dos réus, que têm o direito de permanecer em silêncio. Nesse caso, o silêncio não significa confissão. Também não é permitido que o réu fique algemado, exceto se comprovada a necessidade. Entenda como funciona o júri popular.

Por fim, os jurados se reúnem na sala secreta, o que deve ocorrer apenas na sexta-feira (10), para proferir o veredicto do caso. Com base nele, culpado ou inocente, o juiz vai redigir a sentença e dosar a pena, se houver condenação, ou o alvará de soltura, se determinada a absolvição.


3º Dia

Nesta quarta, terceiro dia de julgamento, o médico-legista Badan Palhares e outros peritos de sua equipe prestaram esclarecimentos e reafirmaram que Suzana Marcolino matou PC Farias, deixando uma mensagem de despedida, para, em seguida, cometer suicídio.

"Como perito, o local de crime define, por si só, que aquilo é um homicídio seguido de suicídio", disse. Ele chefiou a equipe de peritos que fizeram o primeiro laudo sobre as mortes. “Hoje não tenho nenhuma dúvida”, afirmou. “Absolutamente nenhuma.”

Badan mostra instrumento utilizado para identificar a trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)Badan mostra instrumento utilizado para identificar
a trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)

Ao todo, dez pessoas foram ouvidas na sessão, entre elas, a irmã de Suzana: "Ela jamais se mataria", disse Anna Luiza aos jurados.

Badan, que não concedeu entrevistas antes do julgamento, apresentou em slides um resumo de todo o procedimento de perícia realizado na casa de Guaxuma, onde os corpos foram encontrados. Ele afirma que tudo comprova a tese apresentada: Suzana matou PC Farias e, em seguida, cometeu suicídio.

8/5/2013 - O legista José Lopes depõe sobre a morte de PC Farias e de sua namorada (Foto: Jonathan Lins/G1)O legista José Lopes fala sobre laudo de morte de
PC Farias e Suzana (Foto: Jonathan Lins/G1)

O perito José Lopes da Silva Filho, que fez a necropsia nos corpos, disse que a altura da vítima não interfere na conclusão a que chegou a equipe de perícia em 1996.

O perito disse que o disparo que atingiu PC foi à distância e o de Suzana foi próximo.

Segundo ele, a bala passou por três pontos, por isso, foi possível se chegar à trajetória exata. Segundo o Lopes, não há “nenhuma dúvida”, de que foi um homicídio seguido de suicídio e que Suzana estava sentada na cama, com joelhos dobrados e tronco inclinado para frente.

Dois delegados que atuaram nas investigações da morte negaram as acusações do irmão do empresário, Augusto Farias, de que teriam feito uma proposta para livrá-lo do processo. Um deles disse, no entanto, ter recebido uma proposta de suborno de um jornalista com o mesmo intuito, que foi gravada.

Anna Luiza Marcolino fala na condição de declarante no Fórum de Maceió. (Foto: Jonathan Lins/G1)Anna Luiza Marcolino fala na condição de
declarante no Fórum de Maceió
(Foto: Jonathan Lins/G1)

A irmã de Suzana Marcolino, Anna Luiza Marcolino, afirmou que nunca viu a arma que teria sido usada para matar PC e a namorada. "Ela jamais se mataria", disse. "

Ela também pediu que a defesa tome cuidado com as palavras usadas para se referir a Suzana, porque "nenhuma mulher aceita ser chamada de prostituta, ainda mais quando não é". "Ela não pode ser condenada porque era uma jovem que gostava de viver e acreditava nas pessoas”, afirmou.

Eônia Pereira fala sobre patrimônio de Augusto Farias em depoimento. (Foto: Jonathan Lins/G1)Eônia Pereira fala sobre patrimônio de Augusto
Farias em depoimento. (Foto: Jonathan Lins/G1)

Antes, falou Eônia Pereira, ex-cunhada de PC Farias, primeira testemunha convocada pelo juiz Maurício Breda. Ela e os peritos foram chamados para falar como declarantes. Por isso, não prestaram juramento e não estavam obrigados a falar a verdade.

Ela afirmou que não se dá bem com Augusto Farias e que PC Farias “bancava caprichos” dos irmãos. Segundo Eônia, o patrimônio de Augusto aumentou "substancialmente" após o crime.

Suzana sempre sonhou alto. Acho até que ela pagou um preço muito alto pelo sonhos"
Zélia Maciel, prima de Suzana Marcolino

Augusto Farias chegou a ser apontado como suspeito de ser mandante da morte do irmão. Nesta terça, quando foi ouvido como testemunha de defesa no júri, ele voltou a negar as acusações e disse que “nunca imaginou” que um dia seria apontado como suspeito. Então deputado federal,  Augusto não foi processado pelo crime. O inquérito contra ele foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de provas.

No 3º dia de júri, também foi ouvida a última testemunha de defesa, a prima de Suzana Marcolino. Zélia Maciel de Souza afirmou que foi comprar a arma do crime com a namorada de PC Farias e que Suzana falava que iria se casar com o empresário. “Suzana chegou pra mim e disse que ia casar e que eu ia ter uma surpresa porque era com um homem muito rico”, disse a testemunha. “Suzana sempre sonhou alto. Acho até que ela pagou um preço muito alto pelo sonhos.”


2º Dia

No 2º dia de júri, 13 testemunhas prestaram depoimento no Fórum de Maceió, entre elas, o irmão do empresário, Augusto César Cavalcante Farias, que disse acreditar na hipótese de crime passional no caso. Ele  também afirmou que nunca imaginou que seria apontado como mandante dos assassinatos. Já a suposta amante de PC Farias, Cláudia Dantas, confirmou que eles se encontravam. Ao final, a filha de PC Farias, Ingrid, disse ter ouvido do pai que ele queria romper o namoro com Suzana Marcolino.

“Naquela cena você começa a desconfiar de tudo e de todos. Os seguranças estavam lá, até que prove o contrário, eram de confiança”, disse Augusto Farias. “Depois de toda a apuração é que nós nos convencemos [de que era um homicídio seguido de suicídio].”

Sobre as acusações de que ele teria mandado matar o irmão, Augusto disse que foi apontado porque foi o primeiro a chegar à cena do crime. Ainda segundo Augusto, PC disse que deixaria Suzana Marcolino para tentar um relacionamento com Cláudia Dantas.

7/5/2013 - Claudia Dantas, suposta amante de PC, diz ao júri que eles tiveram encontros (Foto: Jonathan Lins/G1)Claudia Dantas, suposta amante de PC, diz ao júri
que eles se encontravam (Foto: Jonathan Lins/G1)

'Encontros'
Ouvida na sequência, Cláudia, apontada como a pivô do namoro entre PC e Suzana, afirmou aos jurados que teve três encontros com o empresário e que, na noite do crime, ele disse a ela que terminaria com Suzana Marcolino. A testemunha disse ainda que havia recebido um ramalhete de flores de PC Farias.

A primeira a depor foi Milane Valente de Melo, que era namorada do irmão de PC Farias, Augusto, à época do crime. Ela afirmou que teve contato com o empresário apenas algumas vezes e que não próxima de Suzana Marcolino. Segundo ela, Augusto achava que Suzana estava interessada no dinheiro do irmão e foi apresentada a ele na cadeia.

7/5/2013 - Ingrid Farias foi a última testemunha a depor no segundo dia de julgamento do caso PC Farias. (Foto: Jonathan Lins/G1)Ingrid Farias, filha de PC Farias, foi a última a
depor no segundo dia de julgamento do caso
PC Farias. (Foto: Jonathan Lins/G1)

Arma
Também foram ouvidos Monica Aparecida Rodrigues Calheiros e o marido, José Jefferson Calheiros de Medeiros. Ela vendeu uma arma para Suzana Marcolino. Segundo ela, na época, “em qualquer esquina se achava venda de arma” e ela vendeu a arma por R$ 250 para que a ex-namorada de PC praticasse tiro. Segundo o juiz, lendo os autos, a arma foi vendida por R$ 350 e paga com um cheque. “Ela foi lá pra comprar a arma e pediu para testar”, afirmou a testemunha.

Última a prestar depoimento, Ingrid Farias, filha de PC Farias, disse que tinha 14 anos quando perdeu a mãe e 16 anos quando perdeu o pai. Morando na Suíça à época, ela diz que conheceu Suzana Marcolino e que, pouco antes do crime, ouviu do pai que ele “queria acabar porque não estava muito feliz”.


1º Dia

Na segunda (6), cinco homens e duas mulheres foram os escolhidos para compor o Conselho de Sentença do júri popular.

Duas testemunhas prestaram depoimento. Leonino Tenório de Carvalho, que hoje é jardineiro na casa da praia, afirmou que não permaneceu no local na noite do crime e que somente viu os corpos pela manhã.

Militares acusados no caso PC Farias demonstram cansaço ao final do primeiro dia de júri. (Foto: Jonathan Lins/G1)Policiais militares acusados no caso PC Farias
demonstram cansaço ao final do primeiro dia
de júri (Foto: Jonathan Lins/G1)

A testemunha disse que ele, o garçom e os seguranças arrombaram a janela do quarto onde o casal estava e que chegaram a mexer no corpo de PC, mas não no de Suzana. Ele afirmou ainda que, dias depois do crime, o colchão foi queimado porque já estava exalando odor.

Em seguida, o garçom Genival da Silva França falou por três horas. Ele afirmou não ter ouvido os disparos, mesmo tendo dormido na casa do caseiro. Ele serviu o jantar a PC Farias, o irmão Augusto Farias com a namorada 'Milene', e Suzana Marcolino. O funcionário disse também que presenciou mais de uma briga entre PC e Suzana.

Entenda o caso
PC Farias foi tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1989 e, à época do assassinato, respondia em liberdade condicional a diversos processos, entre eles sonegação fiscal, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. Ele foi encontrado morto ao lado da namorada na casa de praia de sua propriedade. (Veja a cronologia em vídeo)

Quatro policiais respondem por duplo homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, uso de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas e impunidade)

Os PMs que o encontraram eram responsáveis pela segurança particular de PC Farias.

Segundo a Promotoria, eles agiram por omissão, porque estavam presentes na cena do crime, mas relataram não ter ouvido os tiros e não impediram as mortes.

tópicos: