2 de julho

Por Eric Luis Carvalho, g1 BA — Cachoeira, Bahia


Cachoeira recupera documentos históricos da luta pela Independência do Brasil — Foto: Eric Luis Carvalho/g1

E se toda história de uma vida de lutas e conquistas fosse relegada a um amontoado de papéis esquecidos por décadas? Essa poderia ser mais uma história sobre o descaso com o passado, mas vai além. É uma história sobre como por anos, o pioneirismo da luta por independência do Brasil no recôncavo da Bahia foi esquecido.

Neste domingo, 25 de junho, completam 201 anos do anúncio da consulta feita junto ao povo de Cachoeira que concordava que se proclamasse dom Pedro de Alcântara como regente constitucional e defensor perpétuo do Brasil.

Acervo do Arquivo conta com documentos do século 18 — Foto: Acervo Arquivo Público/APMC

A decisão popular é um marco histórico nas lutas por independência, oficializada em 7 de setembro daquele ano, mas que na Bahia se estenderia até 2 de julho de 1823.

O documento histórico que atesta a decisão pioneira na luta por liberdade era um entre tantos outros esquecidos por anos, até pouco tempo, quando foi recuperado pelo Arquivo Público da cidade, que tem feito o mesmo com outros documentos históricos.

Documentos de 1822 mostram primeiros momentos da luta por independência em Cachoeira — Foto: Arquivo Público de Cachoeira

O acervo cachoeirano passou a ser reunido em 1960, pelos antropólogos Pedro Agostinho, Maria de Lourdes Ribeiro e Roberto Pinto, no entanto, por volta de 1965, com uma mudança de gestão municipal, o arquivo foi deixado de lado.

Em 1992, ele foi legalmente criado, mas somente nos últimos anos passou a ter um trabalho efetivo de recuperação de documentação.

"Praticamente toda documentação histórica dos 10 mil quilômetros quadrados do recôncavo da Bahia, com sua zona açucareira e fumageira, está aqui em Cachoeira. Nossas buscas encontraram documentos de 1790. Estamos em processo de recuperação e digitalização desses documentos", conta Cacau Nascimento, um dos historiadores contratados para cuidar do acervo.

Cacau Nascimento, é um dos historiadores responsáveis para cuidar do acervo — Foto: Eric Luis Carvalho/g1

Localizado atualmente em uma casa pertencente ao Iphan, na Rua Benjamim Constant, antiga ladeira dos Carmelitas, o arquivo tem sido fonte para pesquisas de historiadores e acadêmicos de todo Brasil e até de outros países

"Estamos falando de documentos históricos que não tinham a menor importância. Estou falando de preservação da memória e que a gente precisa dar esse real valor. Como você vai apresentar a nossa história para gerações futuras? Como algum pesquisador poderá ter acesso a esse acervo se você não valorizou e deixou se perdendo no tempo? Então isso que estamos fazendo hoje é importante porque é estar reconhecendo, valorizando e preservando sobre tudo da nossa história", disse ao g1 a prefeita da cidade, Eliana Gonzaga.

Arquivo público de Cachoeira fica na antiga ladeira dos Carmelitas — Foto: Cacau Nascimento/APMC

Capital da Bahia, pioneira do Brasil

À primeira vista, Cachoeira engana. Ela parece mais uma entre tantas cidades baianas construída às margens de imponentes rios. Talvez tenha sido esse ar interiorano, ainda que pouco bucólico, que enganou os portugueses naquele começo de século 19.

Como capital, Salvador colhe os louros do papel determinante na Independência do Brasil na Bahia, mas o fato é que sem o espírito revoltoso do povo cachoeirano não existiria a sonhada independência do Brasil. E esse orgulho é visto nas ruas, nas sacadas, no boteco à margem do Paraguaçu. Cachoeira sabe do seu papel grandioso e não tem vergonha de mostrar.

Cidade de Cachoeira na Bahia — Foto: Eric Luis Carvalho/g1

"Cachoeira é o berço da nossa independência porque tudo se iniciou aqui a partir da data magna que é 25 de junho, com o inicio das primeiras lutas. As primeiras batalhas foram foram iniciadas aqui em solo cachoeirano", destaca a prefeita da cidade.

Foi quase três meses antes do grito do Ipiranga, que uma reunidos na Câmara Municipal de Cachoeira, políticos locais anunciaram que a consulta popular feita junto ao povo da cidade decidiu que dom Pedro de Alcântara seria regente constitucional e defensor perpétuo do Brasil.

Prefeita Eliana Gonzaga de Cachoeira, na Bahia — Foto: Eric Luis Carvalho/g1

Nem mesmo uma embarcação portuguesa às margens do Rio Paraguaçu foi suficiente para aterrorizar o povo cachoeirano, que instituiu uma Junta Conciliatória e de Defesa para o governo da cidade.

Após a decisão, a tomada da embarcação foi a primeira batalha e durou três dias, até 28 de junho. Cachoeira mostrava que a Bahia estava pronta para ser território brasileiro, livre do domínio português.

Cidade foi palco de lutas históricas por independência do Brasil — Foto: Eric Luis Carvalho/g1

Na Bahia, uma lei estadual de 2007 estabelece que em 25 de junho a sede do governo seja transferida para Cachoeira por conta do marco das lutas. O projeto do então governador Jaques Wagner transfere toda estrutura do governo para a cidade.

Neste ano, o governador Jerônimo Rodrigues reunirá todo secretariado na cidade para uma série de eventos, ações e serviços nas áreas da cultura e educação. Também em 2023, o governo baiano prepara comemorações especiais pelos 200 anos da Independência do Brasil na Bahia, celebrada no 2 de Julho.

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