MERCADO IMOBILIÁRIO

Por Paula Resende, G1 GO


Painel em sala de estar projetada pelo arquiteto Ricardo Braudes está entre os trabalhos preferidos do artista Mateus Dutra — Foto: Arquivo pessoal/ Mateus Dutra

Dos muros das ruas para dentro de casas e apartamentos, o grafite tanto em telas quanto em paredes ganha cada vez mais adeptos em Goiânia e, inclusive, em algumas cidades do interior. A arte das ruas deixa a decoração moderna e exclusiva, além de conter a personalidade do morador.

“O grafite tem que ser valorizado porque é feito com muito carinho. É um processo muito meticuloso de criação, de escolhas de cores, autoral, exclusivo. É o coração do artista que está impresso ali”, disse ao G1 o artista visual Mateus Dutra, de 35 anos.

O grafite surgiu na década de 1970, em Nova Iorque e se espalhou pelo mundo. Desde então, evolui com técnicas e desenhos.

Artista Jessica Motta e arquiteto Marcos Lula desenvolveram grafite na parede de quarto — Foto: Paula Resende/G1

Segundo artistas goianos, há cinco anos esta arte começou a ser uma aliada na decoração de imóveis em Goiás, começando por estabelecimentos comerciais, como bares e até hospitais.

Arquiteto, Marcos Lula, de 26 anos, afirma que sempre tenta inserir arte urbana em seus projetos. Ele afirma que valoriza muito o ambiente.

“Acredito que o valor da execução manual nunca vai ser superado por uma máquina, sempre busco por exclusividade nos meus projetos. A partir do momento que tenho o processo de concepção com o artista e a gente faz a arte para o ambiente, eu não corro o risco de cair em um ambiente genérico, em um projeto comum”, ressalta o arquiteto.

Lula pondera que ainda não é fácil convencer os clientes de usarem esse tipo de arte. Até mesmo porque bate de frente com outras formas mais simples e baratas de aplicação, como papéis de parede.

Artistas plásticos calculam que, em média, o valor do metro quadrado de um grafite é de R$ 300. Já o papel de parede, por volta de R$ 150. Outra grande diferença é o tempo de pré-produção da arte, já que envolve, geralmente, uma troca de ideias entre autor e cliente.

Grafite pode ser aplicado tanto em telas quanto em paredes — Foto: Paula Resende/ G1

Em um dos projetos de Lula, a artista plástica Jessica Motta, de 27 anos, desenvolveu trabalhos com grafite para os quartos de dois adolescentes em um apartamento do Setor Bueno. Em um deles, ela apostou em tela. No outro, usou tinta e canetão para o desenho de uma parede.

“A proprietária do apartamento gostou do fato de não usar spray para não correr o risco de manchar os móveis e armários, que já estavam instalados, e por causa do cheiro porque já estavam morando”, explicou.

De acordo com a artista, o cômodo mais inusitado que já grafitou foi um banheiro exposto na Casa Cor 2017, desenvolvido pelos arquitetos Rannyer Xavier e Ricardo Borges. Além de bela, Jessica ressalta que a arte urbana também tem sua função social.

“Vejo o grafite como um tipo de arte um pouco mais crítica, não presa só pelo belo, pois também sempre vai passar uma mensagem”, opina a artista.

Grafite pode ser usado até em banheiros — Foto: Arquivo pessoal/ Rannyer Xavier

Superando barreiras

Dutra considera a arte urbana e a arquitetura como “irmãs”. Ele explica que, ao longo dos anos, artistas iniciaram o diálogo entre elas e abriram várias portas. Porém, apesar da aceitação maior, ainda há certo preconceito.

“Há o estereótipo de que o artista urbano tem uma vida boa, mais tempo que os outros, não tem disciplina, e isso pesa um pouco na hora de defender o preço e posição no mercado e quanto artista, mas tem melhorado bastante”, explica.

Jessica também avalia que o grafite ainda é visto de forma um pouco “marginalizada”. O uso frequente ajuda a combater isto. “Ao ver em outros locais, como bares, as pessoas começam a ver com outros olhos e querem levar para dentro de casa”, avalia Jéssica.

Dutra crê que o grafite deve ganhar cada vez mais espaço e visibilidade. “Os arquitetos estão procurando mais, os clientes abertos para este tipo de sugestão, os artistas estão se profissionalizando em aplicação, na técnica em si. Sou otimista. Até cidades do interior já estão tendo demanda”, conclui.

Mateus Dutra explica que a técnica do grafite evolui cada vez mais — Foto: Arquivo pessoal/ Lu Barcelos

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