A reportagem também conversou com a esteticista Gabriely Sousa, de Divinópolis, que perdeu a cadela de estimação Lilica, há cinco anos, por conta do veneno do sapo.

Nesta reportagem você vai entender em qual grupo de animais o sapo está classificado e vai ver também:

1. Veneno matou cadela em Divinópolis
2. Quais espécies de sapos são consideradas venenosas?
3. Em que ocasiões os sapos ejetam o veneno em cães, gatos e humanos?
4. O que o veneno do sapo pode ocasionar no organismo de cães, gatos e humanos?
5. Em caso de envenenamento quais as providências devem ser adotadas?
6. Jogar sal nas costas do sapo afasta o animal de dentro de casa?
7. Como manter os sapos afastados das residências?

Inicialmente, o biólogo explicou que é preciso entender que os anfíbios são constituídos por três grupos, são eles: as cecílias (cobras cegas), os urodelos (salamandras) e anuros (sapos, rãs e pererecas).

"Eles possuem um tipo de pele diferente dos outros vertebrados, uma pele permeável. Essa pele está associada aos hábitos de vida desses animais que a utilizam para trocas gasosas e absorção de água. Por não oferecer uma barreira mecânica eficiente para a integridade do animal, são necessárias várias adaptações. Uma delas são as glândulas presentes nessa estrutura que podem ser de dois tipos principais: as mucosas [que mantêm a pele úmida] e as de veneno [antimicrobianas e que afastam predadores]", explicou.

Isso quer dizer que todos os anfíbios são, em certa medida, venenosos. Entretanto, existem espécies que podem causar mais danos à saúde do que outras, como explicou o especialista.

Gabriely Sousa perdeu a cadela de estimação, Lilica, há cinco anos. A cadelinha era de estimação da família e tinha livre acesso à casa, mas também transitava pela varanda e quintal.

Gabriely sempre sai cedo para trabalhar e, por conta da alta demanda, muitas vezes só volta à noite para casa. Ela contou que no dia do incidente, chegou em casa por volta das 21h e se deparou com Lilica apresentando fortes convulsões e, ao lado dela, tinha um sapo.

A esteticista não teve dúvidas de que o quadro era de uma intoxicação pelo veneno do animal, que já estava morto. Ela estima que a cadela tenha abocanhado o sapo horas antes das convulsões e na tentativa de ajudar a cadela expelir o veneno, ministrou uma capsula de carvão ativado e também tentou fazer com que Lilica ingerisse clara de ovo.

“Eu cheguei em casa e ela já estava com convulsões. Imagino que ela tenha pegado esse sapo ainda na parte da manhã. Ela tremia muito e as convulsões não paravam. Peguei uma capsula de carvão ativado e lembro que também coloquei na boca dela clara de ovo. Mas já estava muito tarde e não tinha muito o que fazer. Passei a noite em claro com ela, até que amanheceu para procurarmos um veterinário, mas já era tarde demais. Ela faleceu pela manhã”, lembrou.

Com relação aos sapos, rãs e pererecas, Igor citou como exemplo os sapos ponta-de-flecha amazônicos, os sapos cururus e rãs pimenta.

De todos esses, os que causam mais transtornos são os cururus, que residem em matas, geralmente próximos a cursos d’água, e se alimentam de invertebrados como aranhas, minhocas, insetos, lesmas e até mesmo pequenos vertebrados como ratos, lagartos, cobras, outros anfíbios.

Em áreas rurais, são facilmente encontrados nos arredores das casas procurando lugares úmidos para repouso como banheiros e calhas, além de buscarem também alimento, devido a iluminação e restos de comida que atraem outros animais.

O biólogo destacou que, nas espécies do Sudeste brasileiro, apenas ao pressionar a glândula o veneno é liberado. Por isso os acidentes com humanos são raros e os relacionados com cães e gatos mais frequentes, pois eles mordem o animal.

"Esses sapos possuem acúmulos de grandes glândulas de veneno na região atrás dos olhos e nas canelas e, quando ameaçados, expõem essas partes do corpo aos agressores. Ao serem pressionadas, as glândulas ejetam uma substância leitosa que ao entrar em contato com as mucosas, interior da boca, olhos e nasal, causa diversos sintomas e até a morte", disse.

Os sintomas ocasionados pelo veneno são proporcionais à quantidade ingerida, segundo Igor. Uma pequena dose pode causar irritações leves e grandes dosagens implicações severas e até a morte.

Os venenos acometem principalmente os sistemas:

• Circulatório - pode ocasionar arritmias cardíacas, queda de pressão, congestão (parada do sangue em uma região), edema (inchaço); digestivo parando a movimentação dos alimentos;
• Respiratório - pode ocasionar broncoconstrição e dificultar a respiração;
• Sistema Nervoso - pode causar alucinações, tremores, convulsões, movimento involuntário dos olhos e salivação excessiva.

Em casos de envenenamento humano, onde geralmente não há a ingestão, é recomendada a lavagem do local acometido com água em abundância. Em caso de ingestão do veneno, Igor orienta a procura de uma unidade de saúde próxima caso haja piora dos sintomas.

Em caso de envenenamento de cachorros e gatos, situação em que envolve o contato com uma quantidade maior de veneno, a indicação principal é buscar imediatamente um veterinário.

"A lavagem bucal com água em abundância ou solução diluída de bicarbonato de sódio pode auxiliar a retirada do excesso de veneno, entretanto é preciso cuidado para que o animal não ingira nem aspire o líquido. A tentativa da remoção pode ser realizada também com gaze embebida em solução salina. Por fim, uma solução de carvão ativado pode ser administrada para reduzir a absorção do veneno ingerido", orientou.

O biólogo relata que os sapos são animais estigmatizados na cultura popular. Por causa da aparência, associações com feitiços, magias e bruxas e histórias tradicionais, estes animai ganharam desprezo e falta de empatia humana.

Por isso, certas ações como a de jogar sal ainda são frequentes em determinadas regiões. Como o especialista já destacou, a pele dos sapos é permeável e é por ela que eles absorvem grande parte da água do corpo.

"Ao salgá-los fazemos com que essa água saia de dentro deles, desidratando-os e matando. Com isso perdemos importantes serviços prestados por esses animais no controle de pragas, como as aranhas, moscas, ratos e cobras, e tiramos o alimento de outros que deles se alimentam", explicou.

Por fim, o especialista destaca que, para não haver desequilíbrio na fauna, é importante não matar os sapos. Para prevenir acidentes com envenenamento de cães, gatos e humanos, é preciso adotar algumas medidas que os mantêm afastados.

"Para tentar afastá-los devemos manter banheiros fechados, fazer a limpeza de ralos e calhas de chão para que não represem água e evitar que se acumulem restos alimentares que atraiam animais para as proximidades da casa", finalizou.