14/12/2014 14h00 - Atualizado em 14/12/2014 14h00

Após primeiro gibi, jovem de Uberaba sonha com carreira de desenhista

Carlos Lacerda cria personagens e histórias próprias desde os 13 anos.
Estudante foi convidado por professora para criar 'A História da Álgebra'.

Mariana DiasDo G1 Triângulo Mineiro

Desenho Carlos Lacerda, Uberaba (Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)Universitário faz curso para aperfeiçoar desenhos (Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)

O dom de desenhar começa a dar oportunidades para o estudante de Engenharia da Computação Carlos Lacerda Rios Neto, de 21 anos. Em outubro, seus traços deram origem ao seu primeiro gibi, chamado "A História da Álgebra". O projeto faz parte do mestrado da professora Soraia Ibrahim, que o convidou para fazer os desenhos. Foram duas semanas de trabalho para transpor a história para o papel, esboçar o desenho em folhas separadas até a versão à caneta e inserção de balões de fala no computador.

Soraia contou que Carlos foi aluno dela na disciplina de Cálculo, no curso de Engenharia e, sempre que a professora passava pelas salas, ela o via desenhando. "Perguntei ao Carlos se tinha interesse em fazer este trabalho e ele aceitou na maior boa vontade. Tanto eu como minha orientadora adoramos os desenhos. O Carlos tem muita habilidade, o potencial dele é excelente. Quero concluir o meu mestrado logo para poder publicar o gibi”, ressaltou Soraia.

Segundo Carlos, a professora usou o gibi para lecionar para seus alunos do 8º ano de uma escola municipal. Ela elaborou o roteiro com a ajuda da orientadora Marilene Ribeiro Resende, e encaminhou para Carlos o texto contendo a narração e as falas dos personagens. O estudante, então, ficou encarregado de criar o visual dos personagens, a ambientação, a dinâmica entre eles e os quadros, além de uma colorização primária, para dar mais vida às cenas.

“Apesar de simples, foi um trabalho bem interessante de ser feito. Pude ter uma boa noção de como funciona uma história em quadrinhos na prática, e que não é uma tarefa nada fácil pensar em roteiro, personagens, enquadramento, nos balões de fala, etc. Mas foi um trabalho bastante prazeroso, e que desejo repetir”, destacou.

Desenho Carlos Lacerda, Uberaba (Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)Carlos desenvolveu desenhos para gibi sobre álgebra
(Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)

Dom
Os primeiros rabiscos de Carlos apareceram por volta dos 3 anos de idade, quando seu pai viajou para Tocantins. “Como sempre fui bem apegado a ele, fiquei um pouco triste com a sua partida, e tal cena ficou na minha cabeça. Então, mais tarde acabei colocando-a no papel. A partir daí comecei a desenhar com mais frequência, representando os personagens que gostava, além de algo relacionado a futebol, que também gostava na época”, relembrou.


Os primeiros bonecos eram os modelos "palito", que representavam cenas do cotidiano do jovem. Depois, foram surgindo as reproduções de super-heróis, como Homem Aranha, Batman e Superman.

“Foi só aos 6 anos que passei a me interessar pela prática de desenhar mesmo, ao acompanhar alguns animes e mangás, como Pokémon, Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, e jogos, especialmente RPGs, como Final Fantasy e algumas revistas especializadas. Mais uma vez, desenhava aqueles personagens à minha maneira, mas o resultado era um pouco melhor se comparado com os de anos atrás, mesmo que ainda bastante desproporcionais”, explicou.

Já aos 13 anos, apesar de ainda representar alguns personagens de obras das quais é fã, Carlos começou a criar personagens e histórias próprias, algo que faz até hoje, mesmo que alguns rascunhos estejam engavetados. “Comecei a fazer um curso de desenho, o que ajudou a evoluir bastante em diversos aspectos. Atualmente, o desenho tem sido mais como um hobby mesmo, mas penso em trabalhar nesse ramo no futuro, criando personagens e histórias para jogos, HQs e outras mídias”, revelou.

Desenho Carlos Lacerda, Uberaba (Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)Alguns desenhos são inspirados em super-heróis 
(Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)

Técnicas
Para aperfeiçoar os desenhos é necessário dedicação, estudo e prática, aspectos que Carlos aprimora desde 2011, no curso de Desenho Artístico da Escola de Artes Dr. Odilon Fernandes. O universitário não tem ideia de quantas produções já fez. A quantidade de desenhos por mês varia bastante, pois depende de alguns fatores como o tipo de desenho, material, objetivo e tempo. “Há meses em que produzo mais, e também há períodos em que as ideias não aparecem tanto, o que faz com que a produtividade caia”, contou.

Carlos afirma que desenha melhor nos momentos em que está sozinho e em locais mais tranquilos, onde pode se concentrar ao máximo. O desenhista também gosta de escutar alguma música para produzir. “Mas também desenho perto dos amigos e de outras pessoas, para trocar experiências, o que acaba sendo muito válido e prazeroso. Quando estou à toa ou entediado, sempre acabo rabiscando ou desenhando algo em um pedaço de papel – acho que é uma mania mesmo”, observou.

Quanto à inspiração, não há uma específica para o estudante. “Ela pode vir de alguma situação do cotidiano, de algo que assisti ou que li, um jogo, uma música. Muitas vezes a ideia simplesmente surge na mente. Ou é preciso sentar na cadeira e botar a cabeça pra funcionar mesmo”, reforçou.

O jovem também procura variar a temática do desenho, reproduzindo alguns cenários/paisagens, mas o foco principal são os personagens, o que mais gosta de fazer. Quanto ao estilo, Carlos sempre gostou de mangá e de HQs, além da arte de alguns jogos. Ele também admira a caricatura e o trabalho de pintores como Da Vinci, Rembrandt, Michelangelo.

Quanto ao tipo ou estilo mais difícil, o estudante tem aprendido sobre texturas, as quais são bastante complexas e possuem muitas variações, além de algumas serem bem minuciosas e requererem muito tempo.

Desenho Carlos Lacerda, Uberaba (Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)Carlos gosta de lugares tranquilos para desenhar
(Foto: Carlos Lacerda/Arquivo Pessoal)

“Mas tudo é questão de tempo e prática. Não tenho uma técnica específica, apenas tento reproduzir o que vejo e o que vem em minha mente. Sobre os materiais, os que uso são bem simples. Lápis, com graduações diferentes, como HB, 2B, 4B, 6B, lapiseira, borracha, caneta esferográfica, nanquim, lápis de cor, papel sulfite e papel para desenho. Ultimamente tenho tentado aprender um pouco sobre colorização digital e vetorização, mas ainda tenho que aprender muito”, completou.

Agora, a meta de Carlos é fazer o “rascunho” virar realidade. “Meu maior sonho é trabalhar no ramo. Criar personagens para jogos, HQs, animações e outras mídias. E, quem sabe, em um futuro mais distante, ter meus próprios personagens em uma história própria, que leve algo de positivo para as pessoas e que elas possam se identificar”, finalizou.

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