Por Anderson Viegas, g1 MS


Caminho da celulose: g1 acompanha da produção de madeira a exportação do produto

Caminho da celulose: g1 acompanha da produção de madeira a exportação do produto

A "bola da vez”. A expressão utilizada para mostrar alguma coisa que está em evidência, em destaque, sintetiza o momento de Mato Grosso do Sul em relação ao setor de celulose. O estado atualmente é o segundo maior produtor brasileiro, fica atrás somente da Bahia, mas lidera as exportações nacionais.

Com três linhas industriais em operação, duas da Suzano, em Três Lagoas, e uma da Eldorado, no mesmo município, Mato Grosso do Sul tem capacidade instalada para processar anualmente 5 milhões de toneladas de celulose por ano.

O volume já coloca o estado como um dos maiores produtores mundiais. Se fosse um país, seria o 11º produtor mundial, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A produção “Made in MS” seria superada somente pelos Estados Unidos, o próprio Brasil, o Canadá, a China, a Suécia, a Finlândia, a Rússia, a Indonésia, o Japão e o Chile.

Nos próximos seis anos o cenário vai mudar e Mato Grosso do Sul será catapultado a liderança isolada na produção de celulose no Brasil e consolidado como um dos maiores fabricantes mundiais.

Em 2024 deve entrar em operação a nova fábrica da Suzano no estado. A planta, com capacidade de 2,5 milhões de toneladas está sendo construída em Ribas do Rio Pardo, cidade a 97 quilômetros de Campo Grande.

Com mais essa planta em operação, Mato Grosso do Sul deve ter um parque industrial em condições de produzir 7,5 milhões de toneladas de celulose por ano. Portanto, deve superar as 5,5 milhões da Bahia (atual líder nacional).

Nesta mesma perspectiva, em 2028 está previsto o início da atividade da primeira fábrica no setor da multinacional chilena Arauco. A indústria, de 2,5 milhões de toneladas será implantada em Inocência, a 330 quilômetros de Campo Grande.

Com os dois novos projetos, a médio prazo o estado vai mais que duplicar sua produção, passando das 10 milhões de toneladas – bem próximo do top cinco do ranking mundial de países e com potencial para avançar ainda mais, já que haveria condições (solo, clima e disponibilidade de áreas) para a implantação de novas linhas pelas empresas já instaladas.

Além destas iniciativas, a Bracell, uma das líderes globais na produção de celulose solúvel especial, também marca presença no estado. Desde o fim de 2021, a empresa tem áreas de cultivo de florestas em duas cidades sul-mato-grossenses para abastecer plantas em outras unidades da federação.

A formação desse cluster, que reúne algumas das maiores e mais eficientes empresas de celulose do mundo, está mudando a base econômica de Mato Grosso do Sul.

Com essa expansão, o estado mantém sua vocação para o agro, explorando a silvicultura (plantio de florestas para abastecer essas indústrias), mas agrega valor. As fábricas transformam a matéria-prima em um dos mais importantes insumos para a fabricação de diversos produtos.

Madeira de florestas plantadas é a matéria-prima para a produção de celulose — Foto: Silas Ismael

O processo que já batiza extraoficialmente Mato Grosso do Sul como “estado da celulose” e a região leste do estado, onde estão localizadas as indústrias já em operação e os projetos em execução, de “Vale da Celulose”, em referência do polo de tecnologia “Vale do Silício”, na Califórnia, Estados Unidos, vem ocorrendo de maneira sustentável.

A produção é certificada e ações estão sendo desenvolvidas pelas empresas e pelo poder público para mitigar os efeitos da instalação dessas megas fábricas.

Nesta matéria você vai ler sobre:

  • O porquê de MS ser a “bola da vez” para a celulose
  • Panorama atual das empresas de celulose no estado
  • Setor é um dos que mais emprega e melhor remunera
  • Produção “Made in MS” chega a 36 países
  • Nova fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo
  • Arauco escolhe Inocência para sua primeira planta
  • Eldorado constrói novo terminal no porto de Santos
  • Bioeletricidade, alternativa econômica e sustentável
  • Sustentabilidade como premissa básica
  • Como o setor está transformando a vida das pessoas
  • Potenciais e gargalos da celulose em MS

Bola da vez!

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Veruck, aponta que o estado se tornou a “bola da vez” para o setor de celulose devido a uma série de fatores, mas relatou que existe um componente histórico inserido nesse contexto.

“Quando houve incentivo fiscal, na década de 1970, Mato Grosso do Sul chegou a ter 500 mil hectares com florestas plantadas. Mas, sem a indústria para fazer o processamento muito se perdeu, até com incêndios, e uma parte foi destinada a produção para carvão. Entretanto, naquele momento, se teve um panorama muito claro que as terras da Costa Leste do estado tinham aptidão muito forte para a atividade e isso ficou na memória do setor florestal brasileiro”.

Essa aptidão, conforme ele, pode ser traduzida pela vocação para o agro, tradição no cultivo de grandes áreas com uma mesma cultura, baixa declividade do solo (o que possibilitava a mecanização), solos arenosos e clima tropical quente e úmido.

O clima tem uma estação chuvosa bem delimitada no verão e uma seca, no interno. As temperaturas anuais ficam na média dos 23ºC e volume de chuvas varia, em média, entre 900 e 1.400 milímetros por ano.

“Por mais que se tenha teores de argila extremamente fracos, você tem níveis de chuva na região adequados a produção de eucalipto. Não precisa fazer irrigação. Irrigação somente no início do plantio e para fortalecer as mudas. Então, essas condições criam uma situação florestal favorável”, apontou o secretário.

Além disso, havia disponibilidade de terras antropizadas, ou seja, que já haviam sido utilizadas por outras atividades. A maior parte dessas áreas eram subutilizadas pela pecuária e enfrentavam processos erosivos.

A Costa Leste do estado, banhada pela bacia do Paraná, conta ainda com boa disponibilidade de de água. O recurso é um dos principais insumos da indústria da celulose. É usado desde a limpeza da matéria-prima, passando pelo cozimento no digestor e depois na lavagem e no branqueamento da celulose.

Como as indústrias operam em circuitos semifechados grande parte dessa água é reutilizada e depois de rigoroso processo de tratamento é devolvida para os rios.

Outro ponto favorável é a localização. Essa região de Mato Grosso do Sul fica próxima ao estado de São Paulo – principal consumidor nacional de celulose, e também dos portos do Sudeste e Sul, como Santos (SP), São Francisco do Sul (SC) e Paranaguá (PR), por exemplo, para a exportação da produção.

E para fazer o escoamento, uma logística que possibilita o uso de três modais separados ou integrados: rodoviário, ferroviário (com ramais interligando terminais das empresas, a Ferronorte, por exemplo) e hidroviário (hidrovia do Paraná-Tietê).

Com as condições edafoclimáticas, geográficas e logísticas favoráveis, o estado acelerou a partir da segunda metade dos anos 2000 o seu processo de industrialização. Se criou um ambiente institucional favorável por parte do governo do estado e das prefeituras.

O esforço foi voltado para agregar valor à produção primária, gerar empregos e renda para a população, promovendo dessa forma a diversificação da base econômica e levando desenvolvimento as médias e pequenas cidades.

Entre os setores que ganharam espaço estavam as indústrias de transformação voltadas a fabricação de alimentos, de biocombustíveis e de celulose e papel.

Foi com esse pacote de atrativos e uma política de concessão de incentivos fiscais que se instalou a primeira fábrica de celulose, em Três Lagoas, em 2009. Uma unidade da Votorantim Celulose e Papel (VCP).

Na época, a indústria com capacidade para produzir 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano, sendo 90% destinada a exportação, gerou um aumento de 300% no Produto Interno Bruto (PIB) do município e de 13% no PIB do estado.

Primeira indústria de celulose de MS foi planta da VCP, atual Suzano, em Três Lagoas — Foto: Arquivo/Anderson Viegas/g1 MS

Depois, com a fusão da VCP com a Aracruz ainda em 2009, passou a ser unidade da Fibria e, em 2018 foi adquirida pela Suzano.

Um ano depois do início da operação da então Fibria, os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F, decidiram diversificar as atividades e entrar no setor de celulose, construindo uma fábrica, também em Três Lagoas.

A pedra fundamental da Eldorado Brasil foi lançada em junho de 2010 e a planta iniciou as operações em 12 de dezembro de 2012. Na época, a planta era a maior do mundo em capacidade instalada de produção, em linha única, de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano.

Planta da Eldorado, em Três Lagoas — Foto: Silas Ismael

Em 2017, a então Fibria iniciou a operação de uma nova linha, na prática uma segunda fábrica, dentro da mesma área da empresa em Três Lagoas. A nova unidade nasceu com a capacidade de processamento de 1,95 milhão de toneladas de celulose por ano.

Guindaste com capacidade para erguer até 800 toneladas, um dos maiores do país, foi utilizado para içar peça da caldeira na construção da Fibria (atual Suzano), em Três Lagoas — Foto: Arquivo/Anderson Viegas/g1 MS

Somando a primeira e a segunda linha, a empresa atingiu a capacidade de produção de 3,25 milhões de toneladas de celulose por ano.

Crescimento subestimado

Luiz Calvo Ramirez Júnior, presidente da Reflore/MS — Foto: João Carlos Castro

O presidente da Associação dos Produtores de Florestas Plantadas de Mato Grosso do Sul (Reflore-MS), Ramirez Calvo, aponta que essa rápida expansão da indústria de celulose surpreendeu positivamente.

Ele comenta que o planejamento feito pelo Poder Público e pela cadeia produtiva contribuíram nesse processo e ajudaram a impulsionar ainda mais o crescimento do setor no estado.

Ramirez explica que em 2008 foi elaborado o primeiro Plano Estadual para o Desenvolvimento Sustentável de Florestas Plantadas de Mato Grosso do Sul (PEF/MS). O documento previa que até 2030 o estado atingiria a marca de 1 milhão de hectares com silvicultura. Essa área seria destinada principalmente para atender três ou quatro linhas de produção de celulose.

Essas metas, entretanto, foram superadas 12 anos antes, conforme o presidente da Reflore-MS. “Em 2018 já tínhamos mais de 1 milhão de hectares e três indústrias, porque contamos as duas linhas da Suzano, em Três Lagoas, como duas fábricas. O nosso plano foi subestimado. Tivemos um crescimento maior do que o previsto, mas isso ocorreu porque criamos em Mato Grosso do Sul um ambiente favorável. Precisávamos de uma alternativa para diversificar a economia do estado e encontramos na celulose. Ela não compete, agrega com outras atividades”, ressalta.

Área agrícola das empresas de celulose é totalmente mecanizada e utilizar o harvester para executar simultaneamente o corte, descascamento e empilhamento da madeira — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

O presidente da Reflore-MS destaca que o resultado é uma conquista coletiva. “Diversificamos e criamos emprego. Acredito que isso fez um ambiente muito favorável. Isso foi feito com a união do Poder Público, dos empresários e dos produtores. Politicamente se criou esse ambiente favorável”, ressaltou, completando que atualmente o estado já tem 1,2 milhão de hectares cultivados com florestas para atender as três linhas de produção de celulose em atividade.

Conforme a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Sistema Fiems), o estado tem a segunda maior área plantada com eucalipto do país, respondendo por cerca de 24% da produção. O cultivo está distribuído pelas cidades de Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Água Clara, Brasilândia, Selvíria, Inocência e Santa Rita do Pardo.

Reflexos do crescimento

Presidente do Sindicato Rural do município (SRCG), Alessandro Coelho — Foto: SRCG/Divulgação

O crescimento do setor em municípios polo reflete também em outras cidades do estado, como a capital Campo Grande. O presidente do Sindicato Rural do município (SRCG), Alessandro Coelho, aponta que em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MS), implantou, inclusive, uma capacitação voltada para a área.

“Entre outras referências, Mato Grosso do Sul se consolida como polo sustentável de produção. As florestas plantadas aqui no estado, além de contribuir diretamente para os níveis de produtividade e sustentabilidade, geram empregos e a alternativa digna do trabalhador sustentar uma família. Ribas do Rio Pardo, por exemplo, vive um crescimento econômico com a instalação da fábrica de celulose, que vai gerar até 10 mil empregos diretos durante as obras e outros três mil depois do início da operação, no primeiro trimestre de 2024. Nesse sentido, é papel do Senar/MS e do Sindicato Rural contribuir com a qualificação de quem vai operar nessa empresa, e foi pensando nisso, que ampliamos o curso técnico em florestas, com mais vagas na capital", analisa.

Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) tabulados pelo Sistema Fiems apontam que a atividade de fabricação de celulose emprega formalmente (com carteira assinada) mais de 15 mil trabalhadores no estado, somando as áreas florestal e industrial.

A estimativa do governo do estado é que o setor gere outros 12,2 mil empregos indiretos (fornecedores e clientes imediatos das indústrias), totalizando pelo menos 27,2 mil trabalhadores no segmento.

Na área florestal são 8.843 empregados diretamente pelo setor (dados até setembro de 2022). É o quarto maior contingente entre as atividades agropecuárias de Mato Grosso do Sul, ficando somente atrás da pecuária de corte, cultivo de soja e de cana-de-açúcar.

Já no segmento industrial, são 6.228 empregados diretos. É a terceira maior força de trabalho no macro setor, sendo superado apenas pelos frigoríficos (bovinos, suínos e aves) e as usinas de açúcar e etanol.

Conforme a Fiems, o salário médio na área florestal é de R$ 2.890, considerando a extração de madeira em floresta plantadas, as atividades de apoio à produção florestal e o cultivo de eucalipto. Porém, se considerada somente a atividade de "extração de madeira em floresta plantada" o salário médio é ainda maior e chega a R$ 3.913, a melhor remuneração da agropecuária sul-mato-grossense.

No setor fabril, o salário médio é de R$ 4.729. Também é o mais elevado entre as principais atividades da indústria de transformação de Mato Grosso do Sul.

A projeção da Fiems é que somando a massa salarial dos trabalhadores empregados diretamente na fabricação da celulose atinja em 2022, R$ 713 milhões, sendo R$ 330 milhões dos colaboradores da área florestal e R$ 383 milhões da industrial.

Mato Grosso do Sul é o maior exportador de celulose do Brasil. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o estado embarcou em 2022, 4,462 milhões de toneladas, resultando em uma receita de US$ 1,523 bilhão.

O estado responde sozinho por 18,19% do faturamento brasileiro com a venda de celulose, que chegou a US$ 8,370 bilhões no período. Em relação ao volume, a participação sul-mato-grossense é ainda maior, 22,56% das 19,774 milhões de toneladas embarcadas.

Na balança comercial de Mato Grosso do Sul, a celulose é segunda no ranking de exportações. É superada apenas pela soja que atingiu um resultado financeiro com as vendas internacionais de US$ 2,055 bilhões no ano passado.

O produto florestal representou em 2022 quase um quinto da receita do estado com as exportações. O percentual chegou a 18,59% dos US$ 8,190 bilhões de faturamento.

O grande comprador da celulose “Made in MS” é a China. O país importou nos últimos 12 meses, 2,384 milhões de toneladas, com investimento de US$ 759,061 milhões. Representou 53,42% do volume exportado pelo estado e 40,82% da receita com as vendas internacionais do produto.

Entre os continentes, a Ásia é o grande mercado para a produção sul-mato-grossense. Dez países adquiriram a celulose do estado. As vendas chegaram a US$ 835,658 milhões, ou 54,85% da receita total do estado com a exportação do item.

A Suzano, maior player global de produção de celulose, está utilizando o know how adquirido com a planta de Três Lagoas, onde suas duas linhas têm capacidade instalada para produzirem juntas, 3,250 milhões de toneladas (1,300 milhão de toneladas a primeira e 1,950 milhão de toneladas a segunda), na construção de seu segundo site no estado, em Ribas do Rio Pardo.

Em maio de 2021 foi iniciada a construção da fábrica. A companhia investe R$ 19,3 bilhões para instalar uma planta com capacidade de produção de 2,550 milhões de toneladas por ano – uma das maiores do mundo.

A previsão é que a indústria esteja em operação em 2024. Atualmente, 4 mil pessoas trabalham no canteiro de obras da empresa e, no primeiro semestre deste ano, no pico da construção, esse número chegue a 10 mil. Quando estiver produzindo, a fábrica vai empregar diretamente 3 mil colaboradores.

O diretor de Engenharia da Suzano e responsável pelas obras de implantação da nova fábrica, Maurício Miranda Pereira, diz que a planta de Ribas do Rio Pardo vai ampliar em quase 20% a capacidade de produção de celulose de mercado da companhia e representa um passo importante para atender a demanda mundial crescente pelo produto.

Ele destacou que a escolha de Mato Grosso do Sul para receber o novo empreendimento da empresa foi feita com base em uma série de critérios.

“O nosso conhecimento sobre o estado favoreceu a tomada de decisão. Existe muita oportunidade em pastagens degradadas. A Suzano busca essas áreas e as recupera. Não cortamos árvores. Colhemos o que plantamos. Segundo ponto. Sempre tivemos uma boa acolhida, o suporte para que caminhemos para as melhores decisões de negócios. Então, sempre tivemos nas esferas municipal e estadual, a colaboração, a seriedade e a confiança para trabalhar”, ressaltou.

Diretor de Engenharia da Suzano e responsável pelas obras de implantação da nova fábrica, Maurício Miranda Pereira, — Foto: g1 MS

Maurício Miranda apontou que fatores econômicos e de logística pesaram na decisão. “Temos conhecimento da capacidade de escoamento. É um desafio, mas um desafio conhecido. Não é uma decisão simples, um projeto desse tem que ter viabilidade técnico-econômica. Em uma indústria desse porte, quanto mais próxima for a floresta, mais competitiva é. Mato Grosso do Sul favorece. Tem áreas próximas a operação industrial. Conseguimos em Ribas do Rio Pardo um modelo de competitividade tão bom quanto o de Três Lagoas”, analisou.

O diretor da Suzano diz que na implantação da nova fábrica já está ocorrendo um processo de troca de ativos florestais com a unidade de Três Lagoas, de modo que, as áreas de silvicultura mais próximas a Ribas do Rio Pardo, fiquem dedicadas a sua operação.

Ele revela que para atender a demanda por mão de obra qualificada para a unidade de Ribas do Rio Pardo, está sendo promovido em parceria com as entidades do Sistema S, em especial o Senai, um grande processo de qualificação em toda a região. As pessoas treinadas para a nova fábrica, inclusive, vão concluir a capacitação em uma etapa prática nas instalações da empresa em Três Lagoas.

O modelo de escoamento da planta nova, de acordo com o diretor, também vai se basear na logística utilizada em Três Lagoas. Neste unidade, a produção da segunda linha sai em caminhões da fábrica e segue até o terminal intermodal da empresa em Aparecida do Taboado, onde vai de trem, na malha de Ferronorte até o porto de Santos.

Para a fábrica em Ribas do Rio Pardo, o modal rodoviário será utilizado para escoamento até um novo terminal intermodal que será construído em Inocência. A carga será embarcada depois em trens, que vão levar o produto também via Ferronorte até Santos. No porto, a empresa tem dois terminais já em operação. As estruturas vão passar por adequações para receber o novo volume.

Conforme Maurício Miranda, a planta de Ribas do Rio Pardo contará com o estado da arte em tecnologia embarcada. “Vai ter a tecnologia da indústria 4.0, com sensores, imagens capturadas por câmeras e uso da inteligência artificial no controle de processos. Tudo buscando efetivamente uma melhoria contínua. Vai ter muito monitoramento para uma atuação preventiva, proativa e preditiva. Vamos enxergar as tendências do processo e apontar melhorias”.

A nova fábrica, a exemplo, da unidade de Três Lagoas, também vai cogerar energia, utilizando tanto a biomassa líquida (licor negro), quanto a sólida. Esses resíduos sobram do processo de fabricação da celulose. Essa produção de energia elétrica limpa, além de garantir a autossuficiência da planta, ainda vai disponibilizar 180 MW que serão colocados no grid nacional.

A energia, conforme Maurício Miranda, possibilitaria o abastecimento de uma cidade com até 2,3 milhões de habitantes e representa mais uma fonte de recursos para a empresa. Além de celulose e bioeletricidade, a fábrica contará com outro produto em seu portfólio.

“Muito alinhada com a questão ambiental, será a primeira unidade a produzir gás, a partir da biomassa e de resíduos de madeira. Esse gás será utilizado como combustível dos nososs fornos de cal. Então, em vez de utilizar gás natural, que é um combustível fóssil, nos estamos substituindo 100% dessa matriz energética fóssil por uma matriz energética verde, chamado de singás”.

A pedido da Indústria Brasileira de Árvores (Iba), a Fundação Getúlio Vargas – Instituto Brasileiro de Economia (FGV-IBRE) fez um estudo para estimar os efeitos diretos, indiretos e induzidos de setor de árvores cultivadas em relação à geração de emprego e renda e ao fomento aos novos negócios, em razão do papel multiplicador das grandes empresas.

O estudo, divulgado no fim de 2022, aponta que a presença das empresas de base florestal em pequenas e médias cidades produz efeito positivo nas localidades. A chegada do setor, impulsiona atividades e serviços e estimula a criação de novos negócios que possam atender à demanda por bens e serviços dos trabalhadores que estão se estabelecendo nas cidades.

Por estarem localizadas em regiões afastadas dos grandes centros, acabam se tornando um fator dinâmico essencial para as economias locais.

A projeção do estudo é de que para cada R$ 1 milhão de produção no setor seja gerado pelo fator multiplicador um valor adicionado de R$ 1,05 milhão de renda de forma indireta e induzida.

Prefeito e empresários falam sobre crescimento de Ribas do Rio Pardo

Prefeito e empresários falam sobre crescimento de Ribas do Rio Pardo

O prefeito da cidade, João Alfredo Danieze (PSOL), aponta que o efeito da instalação da fábrica na cidade foi quase imediato. O município, que antes tinha 25,3 mil habitantes (estimativa de 2021 do IBGE), ganhou, aproximadamente mais 6,8 mil moradores em razão da obra.

A arrecadação municipal também cresceu muito, aumentando a disponibilidade de recursos para investimentos na saúde, educação e assistência social, entre outras. Somente com o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (Issqn), o incremento foi de 93%, entre 2020, R$ 6,6 milhões, e 2021, 12,8 milhões.

Ele explica que nos últimos dois anos houve um superávit no orçamento. Em 2021, o previsto era R$ 120 milhões e a arrecadação chegou a R$ 150 milhões e em 2022, o projetado era R$ 185 milhões e o valor chegou a R$ 220 milhões. "É um acréscimo significativo e será ainda maior quando a fábrica estiver em operação, o que deve nos levar a triplicar nossa receita”.

Danieze diz que o setor produtivo, principalmente os segmentos de comércio e de serviços, está eufórico, com grande crescimento nas atividades relacionadas a hotelaria, gastronomia, construção civil e comércio. “Eles estão percebendo a grandiosidade disso, mas o impacto, propriamente dito deve vir entre o fim deste ano e o começo do próximo”.

O prefeito diz que entre o anúncio da instalação da fábrica e dezembro de 2022, aproximadamente 300 novas empresas se instalaram no município e o número de consultas para abertura de novos negócios não para de crescer. São pelo menos 10 por semana.

“A fábrica atrai uma série de outras atividades econômicas que não tínhamos, como uma cozinha industrial e uma lavanderia industrial. Agora temos às duas. A rede hoteleira não tinha a capacidade que tem hoje e tem várias atividades surgindo. Ribas vai receber, por exemplo, uma indústria química que vai gerar 80 empregos diretos e fornecerá produtos químicos usados no embranquecimento da celulose para Suzano. Costumo dizer que temos dois canteiros de obras. Um da fábrica, o outro na cidade, tamanha a quantidade de construções”, relata.

O gerente da unidade de competitividade empresarial do Sebrae/MS, Rodrigo Maia, explica que a chegada de uma “empresa âncora” a um município oferece uma série de oportunidades as micro e pequenas empresas. Ele comenta que essas chances são apresentadas em dois grandes momentos: durante a instalação da indústria e quando a fábrica está em operação.

“Primeiro, as micro e pequenas empresas têm a oportunidade de atender diretamente as indústrias, com bens e serviços. Também podem ser fornecedores das empresas contratadas ou subcontratadas dessas gigantes. A terceira oportunidade é o que chamamos de ‘efeito renda’, sendo a cadeia formada, por exemplo, por açougues, supermercados, farmácias, restaurantes e imobiliárias, entre outras, que vai atender dos colaboradores aos gestores das outras empresas”, explica.

Maia diz que antes mesmo do anúncio oficial da instalação da fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo, a entidade e a empresa âncora já faziam um trabalho para que o município, o setor produtivo e a população, pudessem aproveitar as oportunidades que a chegada do empreendimento oferecida. O objetivo também era preparar a cidade para mitigar os outros impactos, como, por exemplo, o aumento abrupto do número de moradores e da demanda por serviços públicos na saúde, educação, segurança e infraestrutura.

Ele comenta que foi elaborado um mapa de oportunidades, listando, a partir da visitação “in loco”, mais de 1,2 mil empresas de vários segmentos de Ribas do Rio Pardo e cidades próximas, como Campo Grande, Água Clara e Três Lagoas. Esses empreendimentos poderiam ser fornecedoras de produtos e serviços para a indústria.

Mitigação

A Suzano diz que a contrapartida ao município começou antes mesmo da terraplanagem da obra. A indústria cita uma série de ações, entre elas: um programa de educação que contribui para o desenvolvimento de estudantes e beneficia 4 mil alunos de 10 escolas; cursos de qualificação nas áreas industrial e florestal em parceria com o Senai e com uma série de atrativos para a população local, como bolsa-auxílio, alimentação e oportunidade de contratação, após a conclusão.

Também é relacionado uma parceria com a prefeitura para incentivar jovens e adultos a concluírem os estudos e um curso preparatório gratuito para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).

A Suzano informa também que tem um pacote de ações do denominado Plano Básico Ambiental (PBA) que prevê R$ 48 milhões em investimento no município para melhorias e projetos nas áreas de saúde, educação, habitação, segurança pública e segurança no trânsito.

Em Ribas do Rio Pardo, simuladores portáteis são utilizados são utilizados pela Suzano em parceria com o Senai para treinar os operadores de máquinas florestais que vão trabalhar na nova fábrica — Foto: Suzano/Divulgação

Segundo a companhia, são mais de 20 iniciativas. Uma das principais é a reforma do hospital municipal, prevista para ser iniciada em setembro deste ano. Vai ser ampliada a capacidade de atendimento da unidade de saúde, com a implementação de mais 10 leitos de terapia intensiva (UTIs), sendo seis totalmente equipados pela empresa.

Ainda previstos no plano estão o apoio a projeto habitacional com construção de casas populares para famílias sem renda inscritas no cadastro único do município; a adequação do trevo de acesso à cidade na BR-262; a implantação de uma nova delegacia de Polícia Civil, uma nova base para a Polícia Rodoviária Federal na BR-262; e apoio na melhoria da estrutura física da Polícia Militar para comportar o aumento do efetivo, o que possibilitará a transformação do batalhão em companhia.

Além do novo projeto da Suzano, outra gigante do setor, a multinacional chilena Arauco, a segunda no ranking mundial de produção de celulose, também confirmou um empreendimento em Mato Grosso do Sul. A fábrica será implantada em Inocência, também na Costa Leste do estado.

A unidade será a primeira de produção de celulose da companhia no Brasil. A empresa está presente no país desde 2002, e já tem 114 mil hectares de florestas plantadas, sendo 60 mil no Mato Grosso do Sul. Esse maciço é utilizado para abastecer cinco plantas de produção de painéis.

Diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da empresa, Mário José de Souza Neto — Foto: Arauco/Divulgação

Segundo o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da empresa, Mário José de Souza Neto, desde 2009 a empresa estuda investir em celulose no país.

Ele explica que vários aspectos foram considerados na tomada de decisão do investimento em Mato Grosso do Sul. Entre os quais: já contar com uma área cultivada no estado e o próprio clima local, que é muito favorável ao cultivo de eucalipto, resultado em um índice de produtividade que é um dos maiores do país.

“Outro ponto que nos chamou a atenção foi que vimos que o Mato Grosso do Sul tem uma política de incentivo muito clara ao desenvolvimento florestal e da celulose. Ela fomenta o setor, tanto que o estado é hoje o principal exportador de celulose do Brasil”.

Outro quesito importante, conforme Mário José, foi a logística para o escoamento da produção. “Temos várias opções para chegar ao porto de Santos e tem ainda o porto de Paranaguá como opção. Estamos ainda na fase de estudo, de planejamento da logística. Isso vai nos permitir definir qual a melhor rota. Uma das fortes candidatas é a Ferronorte, mas existe outras rotas. Por exemplo, o escoamento por hidrovia até Pederneiras (SP). Existe ainda a Malha Sul, que podemos usar para escoar por Paranaguá”, revela.

O diretor diz que a cultura da empresa é de executar seus projetos a partir de um planejamento detalhado. “O time de projetos nos possibilita que invistamos muito tempo no planejamento, no fazer as coisas de forma muito bem pensada e, obviamente, com toda a integração com a comunidade, que é algo que nos preocupa, justamente pelo impacto de um empreendimento desse porte”.

A Arauco prevê investir US$ 3 bilhões (na atual cotação do dólar R$ 15,27 bilhões) na construção da fábrica. A planta terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose e cogerar 400 MW de energia a partir de subprodutos, com o licor negro. Metade dessa energia, 200 MW, será consumida pela indústria e o restante, 200 MW serão disponibilizadas no grid.

A empresa planeja cultivar um maciço com 380 mil hectares de florestas plantadas.

A estimativa é que no pico da obra, o empreendimento empregue até 12 mil trabalhadores. Quando a planta começar a operar deverão ser 2.350 empregos, sendo 500 na indústria e 1.850 na área florestal.

Mário José revela que seguindo uma das principais diretrizes da empresa, a sustentabilidade, a nova planta terá um balanço positivo de carbono, ou seja, considerando toda a operação das áreas florestal e industrial, a captura de CO2 será maior do que as emissões.

“Vai capturar mais carbono na florestal, vai gerar energia limpa e vai ter um balanço positivo. A Arauco preza por deixar um legado positivo para as futuras gerações. Nós somos a primeira companhia a ter o certificado de Carbono Neutro no setor florestal”, ressaltou.

Apesar do projeto já ter sido anunciado, o diretor da Arauco diz que a empresa ainda tem de cumprir algumas etapas para concretizar o investimento. “Fizemos a assinatura do termo de acordo com o governo do estado e a prefeitura. Esse é o ponta pé inicial, mas existem condicionantes para que o projeto seja concretizado e implantado”, apontou.

Entre essas condicionantes, Mário José citou a obtenção do licenciamento ambiental para o projeto, o cultivo do maciço florestal e a obtenção do financiamento para o projeto. “Estamos prevendo que essas três condicionantes estejam encaminhadas e satisfeitas até julho de 2024, quando poderemos dar a luz verde para o projeto. Então temos até lá para fazer todo o planejamento e desenvolvimento da logística florestal. Depois da aprovação, teremos a início da construção que seria em janeiro de 2025 e a planta partido em março de 2028”.

Para implantar seu maciço, a empresa estuda dois modelos de operação. Um com o usufruto das áreas, um sistema similar ao arrendamento, mas que tem contrato registrado em cartório e requisitos ainda muito mais rigorosos, e a outra, a aquisição conjunta com parceiros brasileiros majoritários.

O diretor revela que o investimento para o projeto deve vir de recursos próprios da empresa e também de financiamento por meio de títulos de longo prazo da companhia, captados em dólar e com juros extremamente baixos.

Ao mesmo tempo em que trata do planejamento e da viabilização do empreendimento, a empresa trabalha com o estado e o município para preparar a cidade para receber uma indústria deste porte.

“Estamos fazendo um trabalho forte com o prefeito justamente para apoiar o município a elaborar seu plano diretor. Esse documento define as regras de uso do solo, dos terrenos e projeta para onde o município deve crescer, considerando a localização do site do empreendimento”, explica.

Município de Inocência, no leste de Mato Grosso do Sul — Foto: Prefeitura de Inocência/Divulgação

Em outra frente, o diretor da Arauco, diz que serão capacitados os empreendedores e a população da cidade, de modo que eles participem e se beneficiem da grande demanda por produtos e serviços que vai ser gerada.

“Não é desejo da Arauco que se tragam empresas de fora e que as pessoas de Inocência não participem desse crescimento. Por isso, estamos fazendo dentro do município, com a Fiems e o Sistema S um trabalho de preparação, para que as pessoas do município sejam incluídas nesse desenvolvimento que vai ser gerado”.

Da produção da futura planta, o diretor estima que 5% deve ser destinado para abastecer o mercado interno e 95% a exportação, seguindo estratégia semelhante das outras indústrias do estado.

Inocência tem 7,5 mil habitantes, segundo a estimativa mais recente do IBGE, mas o prefeito da cidade, Antonio Ângelo Garcia dos Santos, o Toninho da Cofapi, projeta que quando a fábrica estiver em operação esse número vai mais que dobrar, chegando a 18 mil ou 20 mil pessoas.

Para receber a planta, o prefeito diz que vai elaborar um projeto de desenvolvimento sustentável. O objetivo é evitar problemas que cidades que estão vivenciando processos semelhantes estão enfrentando.

“Queremos o progresso, mas de foma organizada, para que as pessoas não queiram somente trabalhar em Inocência, mas que também queiram viver em nossa cidade”, ressalta.

Entre as ações já iniciadas nesse planejamento, ele cita a implantação de núcleos industriais próximos aos trevos de acessos que levam para outras cidades e a articulação para a construção de pelo menos uma nova escola, para ampliar o hospital municipal, reforçar a segurança pública e construir mais habitações populares.

A expansão das empresas de celulose em Mato Grosso do Sul reflete no desenvolvimento de projetos e ações, principalmente da área de logística em outros estados. A Eldorado Brasil é um exemplo dessa difusão econômica.

Inaugurada em dezembro de 2012, a empresa foi a segunda companhia de celulose a entrar em operação em Mato Grosso do Sul. Na época de sua partida era a maior indústria do mundo no setor em uma única linha de produção e apresentou uma série de inovações e novas tecnologias, que fizeram com que se tornasse uma das referências em tecnologia e produtividade.

Projetada para produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano, a planta produziu em 2022, 1,8 milhão de toneladas, 20% acima de sua capacidade de design.

O gerente-geral da da fábrica, Marcelo Martins credita esse sucesso a um contínuo ciclo de aperfeiçoamento e investimento em novas tecnologias. “ A implantação da indústria 4.0 na Eldorado começou já no projeto. Desde a sua concepção, quando se imaginou fazer a fábrica. Então, a planta é altamente tecnológica, automatizada e extremamente segura. O conceito que começou no projeto foi se aprimorando ao longo da trajetória da empresa. Melhorávamos o processo e isso exigia novos desafios e com eles novas tecnologias. Se tornou um ciclo de inovação na empresa”.

Planta de produção de celulose da Eldorado é altamente mecanizada e utiliza tecnologia da indústria 4.0 — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Para estimular a cultura da inovação, a empresa criou em 2016 o programa Inovar. “As pessoas vão se deparando com as dificuldades do dia a dia e partir delas têm ideias para melhorar os processos. Cadastram essas ideias e depois as sugestões são analisadas. As que dão retorno, a companhia aplica e paga um prêmio para o profissional”, explica o gerente de Inovação e Tecnologia, Luiz Roberto Fernandes de Araújo.

Outro diferencial implementado pela empresa, segundo Luiz Roberto, é seu programa de monitoramento de ativos. A iniciativa usa a inteligência em artificial para fazer o acompanhamento do desempenho de máquinas e equipamentos. “Com esse monitoramento conseguimos predizer quando o equipamento pode falhar, ou, ao contrário, dentro das condições operacionais atuais quando ele pode vir a falhar. Com esse processo, a indústria quase não para mais para a manutenção e vamos aumentando a vida útil dos equipamentos em operação”.

Graças ao monitoramento que faz em sua área florestal, a indústria consegue fazer um mix de matérias-primas com as árvores que recebe na indústria.

“Hoje conseguimos ter uma noção clara do que está na floresta. Identificamos toda a madeira que vai entrar da fábrica. Fazemos um mix dessa madeira e isso gera uma maior produtividade da fábrica e um melhor aproveitamento da madeira”, explica o gerente.

Com esse controle, a empresa consegue, por exemplo, fazer a previsão do volume que vai produzir no próximo ano. “Temos a fábrica toda modelada e calculamos qual vai ser a produção com base na madeira que vai ser entregue na indústria”.

Com esse avanço constante, a Eldorado, que em 2022 completou uma década de operação comemorou além do “aniversário” um feito importante. Atingiu a marca de 16,5 milhões de toneladas de celulose produzidas no acumulado desde a partida. Esse volume, na previsão da empresa, seria alcançado somente no seu 11º ano, ou seja, em dez anos a companhia entregou um ano a mais de produção.

O escoamento de sua produção é feito pelo modal rodoviário. Caminhões levam a celulose até os portos ou até diretamente os clientes locais. Entre 130 e 150 veículos saem da fábrica por dia. Para acelerar a operação, a empresa desenvolveu um sistema logístico que conta com a contratação de fretes por aplicativo, agendamento para os carregamentos, estrutura de atendimento aos motoristas (banheiro e local para refeição) e ainda monitoramento durante todo o trajeto da carga, por meio de uma central de controle.

A operação mais frequente é o despacho dos carregamentos para o porto de Santos, em São Paulo, para onde são encaminhadas 50% das cargas. A companhia avança ainda mais nesse controle e já iniciou o monitoramento também dos navios com sua produção.

Em Santos, a empresa tem um terminal, o Rishis, de 10 mil metros quadrados e capacidade de 32 mil toneladas. A estrutura recebe as cargas, armazena e depois despacha para os navios, seja em operações de container ou de breakbulk, com estivagem diretamente nos porões das embarcações.

O terminal, entretanto, tem uma limitação de capacidade e outra de distância. Está a quatro quilômetros do atracadouro dos navios. Por isso, demanda uma segunda operação logística também com caminhões para fazer o transporte da celulose até local de carregamento das embarcações.

Para agilizar esse processo, a companhia investe na construção de uma estrutura maior. A empresa venceu um leilão da agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) realizado em 2020, obtendo a concessão de um novo terminal no porto, com atracadouro de navios ao lado.

“A companhia investe R$ 500 milhões entre o leilão e a construção da estrutura, chamada de Eblog. O terminal terá 50 mil metros quadrados e terá capacidade para armazenar até 150 mil toneladas de celulose e de expedição de 3 milhões de toneladas por ano”, comenta o gerente-geral de logística da empresa, Flávio da Rocha Costa.

Obras do terminal Eblog da Eldorado, em Santos — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Com o novo terminal a projeção da companhia é de um ganho de produtividade de 50% nas operações portuárias, o que vai possibilitar simultaneamente o recebimento de cargas da indústria e o embarque nos navios.

Flávio Rocha diz que além de caminhões, a estrutura poderá receber ainda uma composição com até 72 vagões, possibilitando que a companhia amplie o leque de alternativas logísticas, viabilizando, por exemplo, o uso da malha da Ferronorte, por meio do seu terminal intermodal em Aparecida do Taboado.

Cultivo de florestas plantadas da Bracell — Foto: Bracell/Divulgação

A Bracell, uma das líderes mundiais na produção de celulose solúvel, tem fábricas instaladas na Bahia e em São Paulo. Em Mato Grosso do Sul, a “bola da vez do setor”, a companhia tem áreas de cultivo desde 2021. No estado, faz o plantio, colheita e o transporte de madeira.

A empresa tem sede administrativa em Campo Grande e operações florestais em Água Clara, onde tem instalado uma unidade operacional para dar suporte às equipes de campo, e Brasilândia. Atualmente, tem 400 colaboradores diretos em Mato Grosso do Sul e cerca de mil terceirizados.

A busca por uma matriz energética limpa, que utiliza fontes renováveis, ou seja, recursos que podem ser recompostos em determinado período de tempo, é um dos grandes desafios globais na atualidade. A indústria da celulose, neste contexto, sempre se posicionou, por vocação, como uma das referências no assunto.

Mato Grosso do Sul, segundo dados do Sistema de Informações de Geração (Siga) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de dezembro deste 2022, tem potência outorgada para gerar 5.725 MW, sendo 89,3% de fontes renováveis.

O Siga da Aneel aponta que a biomassa representa 44,19% dessa potência outorgada de geração, o que representa 2.530 MW. Desse volume, 708 MW, o equivalente a 12,37% da capacidade instalada no estado, são das indústrias de celulose já em operação.

Essas plantas utilizam a bioeletricidade que produzem para atender o consumo interno e disponibilizam o excedente para o grid do Sistema Interligado Nacional (SIN). A venda a rede pública representa uma fonte de renda a mais no caixa das empresas e ainda possibilita a utilização no processo de subprodutos dos processos produtivos, como o licor negro e a biomassa florestal, implementando na prática o conceito de economia circular.

Um dos quatro empreendimentos de produção de energia do setor de celulose listados pelo Siga da Aneel no estado é a usina termoelétrica Onça Pintada, da Eldorado Brasil. A unidade foi inaugurada em 2021 e utiliza os tocos que ficavam no campo após a colheita do eucalipto, além de resíduos, como galhos e folhas, para produzir energia elétrica.

Com o processamento, além de assegurar o aproveitamento de 100% da matéria-prima que produz, ainda gera energia limpa e tem uma nova fonte de renda para a empresa. A planta tem capacidade para produzir até 50 MW.

Usina termoelétrica Onça Pintada, da Eldorado — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Segundo a Energisa MS, o consumo máximo histórico de Mato Grosso do Sul é de 1.213 MW. A capacidade instalada das empresas de celulose em operação já é suficiente para atender 58,3% dessa demanda.

ESG

A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) aponta que a ESG, que representa a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa (Environmental, Social and Governance) é prioritária na agenda e nos planos estratégicos da cadeia produtiva de árvores plantadas em todo o país.

Ressalta ainda que alinhar a obtenção de resultados financeiros, a preservação ambiental e o bem-estar da população, o tripé da sustentabilidade, é uma condição primordial para o desenvolvimento e a continuidade do próprio negócio.

A área agrícola é um exemplo da preocupação do setor com o meio ambiente. A atividade usa 100% de sua matéria-prima de florestas plantadas. As áreas cultivadas são terras já antropizadas, ou seja, que eram utilizadas por outros segmentos do agro, como a pecuária, e que estavam sendo subutilizadas, enfrentando geralmente processos erosivos.

Com tecnologia, inovação e adoção de boas práticas de manejo florestal, como o plantio em mosaico entremeado as florestas nativas, criando corredores ecológicos, essas áreas são recuperadas pelo setor.

Contribuem ainda no processo a mecanização e o investimento em biotecnologia para o desenvolvimento de especiais mais adaptadas as condições de solo e clima do estado.

O presidente da Reflore-MS, Ramirez Calvo, cita como outras vantagens ambientais cumulativas nessas áreas a redução da erosão, a melhoria da vazão de mananciais hídricos e ainda aumento da biodiversidade.

Além do cultivo de suas florestas as empresas mantêm ainda áreas de preservação. Em Mato Grosso do Sul, a projeção da Semadesc é de que para cada hectare plantado com eucalipto, o estado tenha 0,6 hectare de área preservada pelas companhias de celulose.

As empresas ainda fazem a gestão da biodiversidade e o monitoramento dos ecossistemas, de modo que possam mitigar os impactos do processo e proteger as áreas ecologicamente sensíveis.

Na flora, dentre os serviços ambientais prestados pela conservação da biodiversidade, se destaca a reserva de produtos madeireiros e não madeireiros. Na fauna, estão presentes os inimigos naturais de pragas; eficientes dispersores de sementes e polinizadores; e um banco genético com soluções para os desafios globais do uso responsável dos recursos naturais.

As empresas também desenvolvem um trabalho muito intenso para fazer a prevenção e o combate a incêndios florestais. As ações incluem campanhas educativas e estruturas com brigadistas, equipamentos, torres de observação, veículos, drones e até aeronaves, em alguns casos.

Outro aspecto positivo do cultivo de florestas plantadas é a mitigação da emissão de gases do efeito estufa (GEEs). Estudo da Embrapa Florestas aponta que as árvores acumulam carbono em sua biomassa por um longo período de tempo, assim como no solo e até mesmo nos produtos a que dão origem.

A pesquisa diz ainda que esses cultivos mantêm a capacidade de consumir metano atmosférico, sendo um mecanismo adicional de redução desse gás na atmosfera.

Um outro aspecto favorável aos cultivos, conforme o trabalho, é que devido à redução da pressão por extração de madeira de florestas nativas, reduz também as emissões por desmatamento.

O estudo indica ainda que essas vantagens permitem que o balanço de carbono de sistemas florestais plantados seja muito positivo, possibilitando até mesmo a geração de receita a partir da certificação com baixa emissão e também a comercialização de créditos de carbono.

A Eldorado, por exemplo, em dez anos de operação registra uma remoção acumulada, segundo seu relatório social, de 33,5 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera.

As empresas instaladas em Mato Grosso do Sul possuem algumas das principais certificações nacionais e internacionais. Esses selos reconhecem e comprovam a responsabilidade ambiental da produção florestal das companhias.

O Ibá detalha ainda que o setor investe em tecnologia para viabilizar a economia circular e otimizar o uso da água em seus diversos processos. Conforme a entidade, em média 82% da água captada pelas empresas no país é devolvida aos cursos d’água.

De acordo com a instituição, esse dado demonstra que o segmento é um grande usuário, mas não um grande consumidor, já que boa parte da sua captação é devolvida aos rios, córregos e lagos após o tratamento, se tornando disponível para os demais usos na bacia.

Social

Outra vertente da ESG que recebe atenção redobrada do setor é a social. A Indústria Brasileira de Árvores destaca que as empresas desenvolvem vários projetos voltados a promover a melhoria nas condições de vida da população vizinha às áreas de suas operações. Além disso, geram e disseminam conhecimento por meio da formação do público interno e comunidades voltadas a responsabilidade ambiental.

Além disso, implementam também iniciativas voltadas para o desenvolvimento econômico, ambiental, de saúde, sociocultural, entre outros, impulsionam a capacitação de mão de obra, melhoram o desenvolvimento financeiro-econômico local, além de aumentar a qualidade de vida, a renda das famílias, e a oferta de emprego.

No leste de Mato Grosso do Sul, a Eldorado, desenvolve projetos em 15 comunidades, 13 assentamentos e 12 distritos, que ficam a cerca de três quilômetros do raio de influência das áreas de manejo da companhia.

Analista de sustentabilidade da Eldorado, Suellen Ribeiro Marinho — Foto: Silas Ismael

A analista de sustentabilidade Suellen Ribeiro Marinho diz que foi feito um diagnóstico que identificou o perfil de cada localidade atendida e que a partir deste levantamento são desenvolvidos os projetos conforme o perfil ou grau de impacto. As ações vão desde as de fomento econômico, passando pela educação ambiental, engajamento social e saúde.

Em uma área próxima a indústria, no assentamento Pontal do Faia, a companhia fez em parceria com o Sebrae/MS o repasse de kits para estimular a produção de hotifruti por meio do projeto de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), além de oferecer assistência técnica e gerencial, estímulo ao associativismo e a regularização da produção.

Além do apoio para atividade, o presidente da Associação dos Produtores do Pontal do Faia, Valdemar Fernandes Gomes Neto, conta que a empresa também é consumidora da produção local. “Temos 12 produtores plantando e entregando via associação. A produção semanal de folhas é de aproximadamente 1,5 mil quilos e metade dessa produção vai para a Eldorado. Também atendemos o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que repassa para a assistência social”.

Presidente da Associação dos Produtores do Pontal do Faia, Valdemar Fernandes Gomes Neto — Foto: Silas Ismael

Em 2021, a empresa começou a desenvolver o projeto Limão, que vai beneficiar 14 famílias de assentamentos da região com mudas, kits de irrigação e assistência técnica para a implantação e o desenvolvimento de pomares. Com esta e outras ações, a empresa beneficiou no último ano 3,5 mil pessoas.

Valdemar diz que o apoio possibilita que as famílias assentadas consigam sobreviver a partir da venda da sua produção e até pensar em novos projetos para agregar valor ao que produzem. “Queremos fazer o processamento dos vegetais, assim vamos assegurar mais qualidade. E isso é hoje uma nova tendência em razão da correria no dia a dia. Também estudamos um projeto com galinhas poedeiras, para a produção de ovos. Junto com entidades parceiras estamos fazendo estudos. A nossa vida melhorou 1000% a partir desses projetos e parcerias”.

Outro exemplo de trabalho desenvolvido nessa área pelas empresas da celulose é a iniciativa da Suzano, que vai capacitar 150 micro e pequenos empresários dos municípios de Água Clara, Campo Grande, Inocência, Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas. A iniciativa é realizada por meio do Programa de Desenvolvimento e Capacitação de Micro e Pequenos Fornecedores (Semear) em parceria com o Sebrae/MS. O objetivo é fortalecer o setor e contribuir com o desenvolvimento das regiões contempladas.

O foco do curso será a qualificação de fornecedores. Caberá à Suzano ministrar temas sobre responsabilidade socioambiental e gerenciamento de dados empresariais para ser um fornecedor da companhia, por exemplo. Já o Sebrae cuidará de assuntos ligados à gestão empresarial, como: diagnóstico da empresa, gestão de finanças e regularização de cadastro. “Vamos auxiliar a micro e pequena empresa a saber em que ela pode melhorar seu produto ou serviço, a organizar sua documentação e fazer um melhor controle de seu negócio para que esteja pronta para atender qualquer empresa de grande porte. Estamos abrindo uma porta, dando uma ótima oportunidade para todas as participantes”, comentou Cláudio Mendonça, diretor-superintendente do Sebrae/MS.

A previsão é que as capacitações sejam iniciadas após o dia 20 de junho e realizadas presencialmente e a distância, de forma híbrida. Todos os empreendedores sairão certificados quanto às normas internacionais para atender grandes empresas.

Transformando vidas

Mais que uma mudança na base econômica de Mato Grosso do Sul, o setor de celulose está promovendo uma transformação de vidas no estado, gerando novas oportunidades de emprego e de geração de renda, seja diretamente nas empresas ou indiretamente pelos empreendimentos e iniciativas que fomenta.

Empresária de Ribas do Rio Pardo, Lucimara, e a sobrinha Fabiana, na primeira sede de sua lavanderia — Foto: Lucimara Vilhalva/Arquivo Pessoal

Um exemplo é o da empresária Lucimara da Costa Vilhalva, de Ribas do Rio Pardo, onde a Suzano, constrói sua nova unidade. Em setembro de 2020, em meio a uma pandemia de Covid-19, durante uma crise econômica mundial, ela decidiu realizar seu sonho e abriu seu próprio negócio.

Percebeu uma grande oportunidade ao descobrir que na cidade não havia lavanderia. Comprou dois 'tanquinhos" e usou outras duas máquinas de lavar que já tinha em casa. Abriu a “Lavanderia Rio Pardo” em um cômodo de sua própria residência. A sobrinha, Fabiana, foi a grande parceira. Enquanto Lucimara se dividia entre o emprego na loja e o seu negócio, era ela que tocava o empreendimento no dia a dia.

A história da “Lavanderia Rio Pardo” que caminhava, até então, para ser uma maratona – uma prova de longa distância e de tempo – rumo ao crescimento, se transformou subitamente em uma corrida de 100 metros – de grandes resultados em curto espaço de tempo – graças ao impulso que não somente a empresa, mas toda a economia da cidade recebeu a partir do anúncio da instalação e começo das obras da Suzano. Em maio de 2021 foi iniciada a construção da fábrica.

Alavancada pelo aumento da demanda de serviços provocado pela instalação da indústria, a lavanderia de Lucimara deu um “sprint” na corrida do desenvolvimento. Em pouco mais de um ano o número de clientes cresceu tanto que ela precisou investir na compra, financiada, de uma linha industrial de máquinas de lavar e de secar. Para abrigar o novo maquinário teve de se mudar do espaço de 60 metros quadrados em sua casa, para um imóvel de 400 metros quadrados, no centro da cidade.

Se antes, a lavanderia contava somente com a sobrinha de Lucimara para fazer todas as funções, atualmente já tem oito funcionários, todos, devidamente formalizados. Ela também deixou o emprego que mantinha na loja, para se dedicar totalmente ao empreendimento e buscou um sócio para auxiliá-la no gerenciamento do negócio.

O sucesso da lavanderia faz Lucimara já pensar nos próximos passos. Aproveitou um benefício concedido pelo município, a cessão de um terreno no distrito industrial, e começou a construir a sede própria de sua lavanderia. A edificação já está com a estrutura física (paredes e cobertura) adiantada e a previsão é da conclusão até meados deste ano.

"Me surpreendi, porque chegou um momento em que eu queria muito, mas nunca imaginei que seria nesse patamar. No começo recebemos muita ajuda. As pessoas indicavam uma para a outra os nossos serviços. Com a vinda da fábrica isso aumentou muito. Só tenho a agradecer, principalmente a minha família e, em especial, a minha mãe, a minha maior incentivadora”, comenta a empreendedora.

Outra história de sucesso é de Mayza Campos, responsável pelos processos de manutenção da expedição da Eldorado, em Três Lagoas. Ela está há sete anos na empresa. Entrou na companhia com uma oportunidade de estágio pelo programa Jovem Aprendiz. “Eu terminei o colégio e já surgiu essa oportunidade. Foi o primeiro contato com uma empresa, que me acolheu e me deu muitas oportunidades. É uma realização para mim como pessoa e como profissional trabalhar aqui”.

Também tiveram a vida transformada pela chegada da indústria os empresários Jailson de Oliveira Plácido e Wagner Luciano Nascimento da Silva, proprietários do “Lar Doce Bar choperia”, que abriu as portas em junho de 2022, em Ribas do Rio Pardo.

“A vinda da indústria foi o principal fator do nosso investimento. Nós, que moramos na cidade, sabemos da necessidade que a população tem. Veio uma quantidade de pessoas muito significativa e não tinha entretenimento. Então, percebemos no ramo alimentício uma grande falta de opções. Havia dias que as pessoas saiam à noite e nem sequer tinham onde se sentar na cidade. Por isso, após várias pesquisas e levantamentos, decidimos trazer essa ideia para cá”, relata Jailson.

Empresários Jailson de Oliveira Plácido, Wagner Luciano Nascimento da Silva e Alessandra Barbosa dos Santos — Foto: g1 MS

Os dois são riopardenses. Além de empreendedor, Jailson é arquiteto e tem escritório montado na cidade. Wagner estava morando em São Gabriel do Oeste, com a esposa, Alessandra Barbosa dos Santos. O casal trabalhava com confinamento de gado de corte, mas decidiu voltar para a cidade natal de olho nas oportunidades de negócio que se abriram em meio a chegada da gigante industrial.

“Em 2016, quando saímos da cidade a situação era difícil. Ribas estava praticamente abandonada. Por isso, na primeira oportunidade que tivemos, mesmo a mais de 300 quilômetros de distância da família, nós fomos. Quando a construção da fábrica teve início e a economia da cidade começou a aquecer tivemos vontade de voltar. Mas, ao mesmo tempo, ficava aquele receio, por ser uma cidade pequena. Então decidimos fazer uma aposta e acreditar. Começamos a desenhar o projeto em janeiro deste ano com o Jailson. Entre março e abril a cidade alavancou. Foi de um mês para o outro e, aí tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo. Não tinha mais volta”, explica Alessandra.

Lar Doce Bar Choperia, aberta em Ribas do Rio Pardo — Foto: Lar Doce Bar Choperia/Divulgação

Atualmente, a choperia tem três funcionários fixos e a dedicação integral de Wagner e Alessandra. Jailson reforça o time aos fins de semana, mas os empresários dizem que para atender o grande movimento estão contratando “diaristas”. “No fim de semana contratamos pessoas que trabalham por diária, mas vamos precisar de mais colaboradores fixos. Entretanto, a mão de obra no município está complicada. Não estamos encontrando trabalhadores e isso é uma situação que todos os empreendedores estão enfrentando. Estão sendo abertas várias empresas novas e tem outras, de vários estados do país vindo para cá, mas a população precisa embarcar junto, ser capacitada, para não ficar para trás”, analisa Wagner.

O sucesso na choperia fez Jailson continuar a investir na cidade. Com um outro sócio, Walterson Winsenfad, abriu em janeiro deste ano a Bella Flora floricultura e paisagismo. O objetivo, segundo ele, é atender uma demanda crescente do mercado local, ainda mais com a expansão da construção civil. “O ambiente é completo, vendemos tudo em geral de floricultura e no paisagismo fazemos o projeto de paisagismo e executamos. Em meio de tantas obras na cidade um verde é sempre bem-vindo”, comenta o empreendedor.

Em menos de um ano, o arquiteto Jailson de Oliveira Plácido abriu um segundo empreendimento, uma floricultura, em Ribas do Rio Pardo — Foto: Jailson de Oliveira Plácido/Arquivo Pessoal

Em Três lagoas, a paulista Bruna Carla, trabalhou primeiro em uma empresa terceirizada do setor e depois encantada com a indústria, participou de um processo seletivo e ingressou na Eldorado, onde está há mais de 8 anos. Atualmente é assistente administrativo na área de Recursos Humanos da expedição e aponta os diferenciais que a fizeram buscar uma posição na empresa. “Temos uma determinação que pegamos como um dos valores da empresa. Prezamos muito pelos detalhes e temos muita paixão pelo que fazemos”, ressalta.

Gargalos x Potencial

Secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, aponta que se com os projetos em andamento a produção do estado vai chegar a 10 milhões de toneladas de celulose por ano, mas que existe potencial para ampliar ainda mais esse volume, podendo chegar a 15 milhões, somente com a instalação de novas linhas pelas plantas que possuírem uma única.

Entretanto, aponta que neste processo o estado ainda tem alguns gargalos a serem superados. O primeiro é ampliação do maciço florestal para atender as indústrias. “Nós temos um gargalo que é a questão das florestas plantadas. O que há quatro anos não era, porque eu tinha 250 mil hectares de eucalipto sem demanda no estado e com preço baixo. Essa realidade mudou. Tem muita demanda por biomassa e, por outro lado, um aumento excepcional da demanda por celulose. Eu preciso ampliar para Ribas. Eu preciso ampliar para a Arauco, em Inocência e nós ainda não sabemos se uma empresa com a Eldorado também vai fazer essa ampliação. Então, hoje, no curto prazo Mato Grosso do Sul já tem sinalizado o plantio de mais 300 mil hectares de eucalipto”.

Forwarder utilizado para recolher e empilhar toras de madeira utilizadas para a produção de celulose — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Segundo o secretário, outro ponto de atenção é a questão logística tanto para levar a matéria-prima para as indústrias quanto para escoar a celulose. “Vamos pegar uma fábrica. Ela recebe pelo menos menos 300 bitrens carregados com eucalipto por dia, durante 12 meses. Essas fábricas param hoje somente 10 dias por ano, girando 24 horas por dia. Então, você tem uma pressão sobre as estradas vicinais, sobre as Brs. Essa mesma fábrica vai ter uma saída de 250 carretas por dia, carregadas com celulose, então estamos falando de uma movimentação de 600 caminhões de carga, fora os caminhões que ficam circulando vazios. E isso tem sido na questão da celulose o nosso grande desafio”.

Sobre o escoamento da produção, o secretário lembra que grande parte da produção estadual é exportada e que a principal opção é o porto de Santos, em São Paulo. “A discussão está centrada em qual a melhor alternativa para chegar lá. O desafio de curto prazo de Mato Grosso do Sul é a logística”, analisou.

O secretário apontou que a questão da sanidade vegetal também deve merecer atenção redobrada. “Uma coisa que falamos muito pouco é do eucalipto. Eu tenho uma monocultura, que tem 1,2 milhão de hectares e devo chegar a 2 milhões. As empresas têm um nível de preservação de áreas nativas em comparação com as florestas plantas que é extraordinário. Para cada hectare de eucalipto plantado tenho 0,6 hectare de área preservada no estado. Olha a proporção. Olha a importância dos corredores ecológicos que elas fazem. Mas, por outro lado, eu tenho uma monocultura. Então, estamos focando muito na questão da sanidade vegetal. Estamos fazendo estudos, porque até então era uma coisa desconhecida no estado. Não temos um estudo de longo prazo do eucalipto e hoje temos pragas pontuais, mas pode ser que tenhamos problemas mais sérios no futuro. Por isso, temos que fazer a prevenção da sanidade vegetal”.

MS tem mais de 1,2 milhão de hectares com florestas plantadas, segundo a Semadesc — Foto: Silas Ismael

Verruck cita que outro ponto que deve ser abordado é o da mão de obra. “A Suzano veio com uma logística de 60 quilômetros [para contratações], mas a partir da concorrência vai ter que abrir. A Arauco está instalando suas florestas próximo a Eldorado. Ou seja, a Eldorado pode ter que mudar, porque a área florestal é a grande geradora de empregos dessas empresas. Em uma planta que tem 3 mil funcionários, 2,5 mil são da área agrícola. O Mato Grosso do Sul é um estado de 2,8 milhões de habitantes e tem tido problemas com falta de mão de obra qualificada em todos os setores”.

Ele disse que entidades do sistema S, com o Senar/MS e o Senai, têm feito um esforço para oferecer qualificação em todos os municípios. “A remuneração do setor é uma das maiores em termos de média no estado, seja no setor industrial, seja na agrícola. Então, temos demanda por mão de obra, temos boa remuneração e temos qualificação. O que falta é o elemento humano. Então, é natural em todo esse processo de celulose, por mais que você tente que as pessoas locais façam essa apropriação, que tenhamos uma movimentação, que pessoas de outros estados também venham para Mato Grosso do Sul em busca dessas oportunidades”.

Além de ações voltadas para a logística, sanidade vegetal e qualificação profissional, Verruck diz que o estado também trabalha para avançar em uma nova etapa do processo industrial do setor. Primeiro, para trazer indústrias que atendam as demandas das fábricas de celulose, criando hubs de produção.

A segunda vertente do trabalho é para tentar implantar em Mato Grosso do Sul indústrias que aproveitem parte da celulose produzida no estado. “Vamos continuar a vender a celulose no mercado externo, mas para o interno vamos trazer essas outras indústrias, que chegam na ponta. Elas fazem papel, fazem papel higiênico, guardanapo. Então esse é o próximo passo da nossa lógica. Consolidar a indústria da celulose e trazer outras para fazer com que essa celulose que seria transformada em outros estados, seja processada aqui”.

O presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Sistema Fiems), Sérgio Longen, ressalta o papel da entidade no processo de industrialização e diversificação da economia do estado, sobretudo no que se refere ao suporte para as empresas se instalarem. Ouça mais no áudio acima.

“Essa assistência é feita não somente por programas de qualificação, mas também no apoio na implantação e suporte. Por exemplo, quando uma grande empresa se instala, temos um programa de formação de fornecedores que prepara as pequenas empresas locais para venderem seus produtos e serviços para essa grande indústria. São projetos complementares que fazem parte do nosso trabalho, não somente do Sistema Indústria, mas do próprio Sebrae”.

Para estimular ainda mais o setor, o Sistema Fiems implantou em 2017 uma unidade voltada realizar pesquisa aplicada para desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos inovadores em transformação de biomassa, o Instituto SENAI de Inovação Biomassa (ISI Biomassa).

Seu trabalho também é voltado a agregar maior às commodities, matérias-primas e biomassa residual, atraindo novas divisas, tornando as indústrias brasileiras mais competitivas, pela introdução de novas tecnologias em produtos e processos.

A entidade tem quatro linhas de pesquisas:

  • Biotecnologia Industrial e Engenharia de Bioprocessos;
  • Utilização de Resíduos e Engenharia de Processos;
  • Energia e Sustentabilidade de Biomassa;
  • Desenvolvimento de Materiais Orientados a Produto.

Nova unidade

Prefeito de Ribas do Rio Pardo, João Alfredo Danieze, formaliza doação de área ao Sistema Fiems para construção de CISS — Foto: Fiems/Divulgação

Em Ribas do Rio Pardo, a prefeitura fez a doação de uma área de 16 mil metros quadrados ao Sistema Fiems, para a construção de um centro integrado SESI Senai (CISS). O terreno fica próximo a rodovia BR-262.

A unidade vai oferecer cursos de formação profisssional e também serviços em saúde, educação, cidadania e lazer. Segundo a Fiems, a meta é atender cerca de 350 pessoas por mês.

“Este é um sonho do setor empresarial, e sabemos da importância desse investimento para o município. Nosso projeto está em fase final de elaboração dos projetos técnicos complementares. Assumi o compromisso com o prefeito de dar a ordem de serviço até o mês de maio. Quando finalizarmos os projetos, já vamos licitar a obra e temos recursos assegurados para isso”, comentou o presidente do Sistema Fiems, Sérgio Longen.

Além da doação do terreno, o município também vai pavimentar as vias do entorno do empreendimento.

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