Por Stephen Farrell e Rami Ayyub, Reuters


Cidade palestina de Abu Dis, possível capital do novo Estado Palestino — Foto: Ammar Awad/Reuters

O anúncio na terça-feira (28) do plano de paz de Donald Trump para o conflito entre Israel e Palestina previu a região que inclui a cidade de Abu Dis como capital de um futuro Estado Palestino. O local fica a poucos quilômetros dos muros da Cidade Velha de Jerusalém.

Durante o anúncio do plano, Trump disse que Jerusalém Oriental abrigaria a capital da Palestina. Ao mesmo tempo, ele afirmou que Jerusalém permaneceria como capital indivisível de Israel.

A explicação é que Abu Dis fica dentro do distrito de Jerusalém — porém, fora dos limites municipais definidos por Israel após anexar Jerusalém Oriental em 1967, movimento não reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.

Abu Dis, proposta pelos EUA como capital do novo Estado Palestino, é separada por um muro de área controlada por Israel — Foto: Ammar Awad/Reuters

Abu Dis é um centro urbano no caminho para Jericó. A pequena cidade tem muito pouco da importância cultural ou religiosa do centro histórico de Jerusalém, que contém os lugares sagrados das três grandes religiões monoteístas: cristianismo, islamismo e judaísmo.

Porém, Abu Dis abriga um grande edifício abandonado que sediaria o Parlamento da Autoridade Palestina. O local jamais foi utilizado, sobretudo após a esperança gerada pelos acordos de Oslo se converterem em mais conflito, com o início da Segunda Intifada, em 2000.

Desde então, palestinos em Abu Dis estão separados dos bairros de Jerusalém a oeste por um alto muro de concreto que Israel construiu para interromper ataques de homens-bomba e impedir a entrada de atiradores.

Muro entre duas capitais

Muro separa a Cidade Velha de Jerusalém da cidade de Abu Dis, controlada pela Palestina — Foto: Ammar Awad/Reuters

Estudantes de uma universidade nas redondezas têm usado o muro como um anteparo para projetar filmes durante as noites quentes de verão no Oriente Médio.

O documento apresentado pela Casa Branca junto ao anúncio do plano diz que o muro deve "servir como uma fronteira entre as capitais das duas partes".

Muro separa Abu Dis, palestina, de área controlada por Israel em Jerusalém — Foto: Ammar Awad/Reuters

Além disso, o texto diz que Jerusalém deve "permanecer como a capital soberana do Estado de Israel, e deve permanecer uma cidade não dividida".

"A capital soberana do Estado da Palestina deve ficar na seção de Jerusalém Oriental localizada em todas as áreas a leste e a norte da barreira de segurança existente, incluindo Kafr Aqab, a parte ocidental de Shuafat e Abu Dis, e pode ser nomeada Al Quds ou outro nome que o Estado da Palestina determinar", continua o documento.

Lugares sagrados

Mulheres palestinas caminham em frente ao santuário Domo da Rocha em Jerusalém em junho de 2018 — Foto: Mahmoud Illean/AP

Conforme o plano, Israel teria controle da colina no coração da Cidade Velha conhecida como Har ha-Bayit (Monte do Templo) pelos judeus — ou al-Haram al-Sharif (Nobre Santuário) para os muçulmanos.

Considerado lugar mais sagrado para o judaísmo, o local abrigou templos judaicos da antiguidade. O muro construído por Herodes, conhecido como Muro das Lamentações, é um ponto sagrado de orações para os judeus.

No topo do morro, há dois imponentes templos sagrados para o Islã: o Domo da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa, construída no Século XIII. Muçulmanos consideram o local o terceiro mais importante, atrás apenas das cidades de Meca e Medina, na Arábia Saudita.

É ali que os palestinos gostariam que estivesse a capital de um futuro Estado Palestino. E é sobre ali que o presidente Mahmoud Abbas se referia quando disse que seria "impossível para toda criança palestina, árabe, muçulmana ou cristã aceitar uma cidade sem Jerusalém".

Morador de Abu Dis assiste, em café, anúncio sobre o plano de Donald Trump para Israel e Palestina na terça-feira (28) — Foto: Ammar Awad/Reuters

O anúncio de que Abu Dis abrigaria a capital de um Estado Palestino enfureceu os habitantes da cidade, que reagiram com escárnio e revolta.

"A capital da Palestina é Jerusalém", disse Mohammed Faroun, morador de Abu Dis.

Outro morador, que não se identificou, afirmou: "Trump ou quem quer que seja não será bem-vindo", disse.

"Jerusalém conta nossa história, cada pedra conta algo sobre nossa história. Nunca foi israelense ou americana. É palestina, islâmica e árabe", completou o morador.

Veja no VÍDEO abaixo outras reações no Oriente Médio sobre o plano de Trump

Plano de paz proposto por Trump gera protestos no Oriente Médio

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Proposta dos EUA para o novo Estado Palestino — Foto: Betta Jaworski/Arte/G1

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