Por Phelipe Caldas, g1 PB


Daiane Silva Barbosa, artista plástica indígena — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Uma mulher indígena, pertencente à etnia Potiguara. Uma jovem de apenas 21 anos, que é estudante universitária, assalariada, bolsista. E que encontrou nas artes plásticas uma forma de se expressar. De contar um pouco de sua história. De dar visibilidade a sua gente. Esse é um pouco do perfil de Daiane Silva Barbosa, que mora na Aldeia Três Rios, no município paraibano de Marcação, e que sonha com o dia que conseguirá se sustentar integralmente a partir de sua própria arte.

Pois neste domingo, 8 de maio, quando no Brasil se comemora o Dia do Artista Plástico, Daiane fala um pouco de seu trabalho, das dificuldades de ser uma artista plástica indígena, do encantamento que é transmitir para as pessoas um pouco de suas vivências a partir da pintura.

“Pintar é a minha paixão”, resume Daiane.

Daiane Silva Barbosa, indígena potiguara e artista plástica — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Ela explica que o processo começou de forma quase ocasional, ainda quando tinha dez anos de idade e viu uma foto dela de quando era bebê. A vontade de realizar uma espécie de autorretrato amador foi imediato. “Queria fazer igual, e fiz. Começou assim”, relembra, dizendo em seguida que conseguiu impressionar a própria mãe com o resultado.

Daiane não parou mais. Continuou desenhando, testando, aprimorando. Ainda assim, ela explica que nunca viu isso como uma possível profissão. “Na minha mentalidade, eu nunca ia ganhar dinheiro com arte”.

Isso mudou quando ela entrou no curso de Secretariado Executivo Bilingue na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Descobriu que existia todo um mercado de arte e começou a investir. Comprou telas, tintas, uma mesa digitalizadora que permite ela desenhar diretamente no computador. Aprimorou ainda mais a técnica.

Daiane Barbosa pinta o seu povo — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Chegou a entrar num curso de educação à distância de Artes Visuais, que precisou abandonar quando começou a trabalhar. Mas, ela garante, vai retomar tão logo se forme no outro curso, daqui a no máximo mais um ano.

“Estou trabalhando porque ganhar dinheiro com arte é muito difícil”, atesta Daiane Barbosa, sem no entanto desistir do seu sonho.

Ganhando dinheiro com arte

Foi mais ou menos na época que entrou na universidade, e que descobriu a possibilidade de transformar as artes plásticas em profissão, que Daiane Barbosa passou a investir mais. Paralelo a isso, criou um perfil no Instagram em que divulga o seu trabalho.

Autorretrato da artista plástica Daiane Barbosa — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Rapidamente, começou a chamar a atenção de uma ou outra pessoa. E, pouco a pouco, foi ganhando espaço. Daiane comenta que sua arte já foi parar em estados como Rio Grande do Sul, Acre, Minas Gerais e São Paulo. Além da própria Paraíba, claro.

Pessoas que já compraram telas suas, já a contrataram para ilustrar livros, convidaram para participar de exposição. Para além disso, Daiane já foi premiada em concurso promovido pela Lei Aldir Blanc na Paraíba. “Às vezes, do nada, chega um pessoal para falar comigo no meu Instagram. E acaba fazendo uma encomenda pelo privado”, comemora.

Ainda assim, dentro da Paraíba, e principalmente dentro de sua aldeia, o processo é difícil. O dinheiro é mais curto, a valorização menor, oferecem pouco por cada trabalho. Nem sempre vale a pena, visto que tela e tinta são produtos caros, custeados por ela mesma. “É pouca visibilidade na Paraíba, mas sigo trabalhando na minha arte”, explica.

Tela com a qual Daiane Silva Barbosa foi premiada com o concurso da Lei Aldir Blanc 2020 — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Arte indígena

Daiane Barbosa ainda quer fazer novos cursos. Aprender novas técnicas sobre estrutura e cores, profissionalizar mais o seu trabalho, inserir-se definitivamente no mundo da arte. Muito precisa ser trabalhado ainda, ela admite. Mas algo que já está muito claro em sua trajetória é sua predileção pela temática indígena, algo que cerca praticamente todos os seus trabalhos até aqui e que ela não pretende alterar no futuro.

Para a artista, isso é parte fundamental de sua própria vida:

“A minha arte vai para todos os lugares. E com ela posso dar visibilidade ao tema indígena. Que as pessoas olhem para mim e saibam que eu sou uma menina indígena dando visibilidade à minha própria cultura”, enfatiza Daiane Barbosa.

Daiane Barbosa com algumas de suas telas: "sou uma menina indígena dando visibilidade à minha própria cultura" — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

Ela explica que isso é importante principalmente porque “as indígenas ficam se reconhecendo” em sua arte. Observam, refletem, admiram-se, encantam-se. “Às vezes chega uma indígena perto de mim, vê uma tela minha e exclama: 'Olha, colocou uma pintura potiguara na arte dela'. Isso é maravilhoso”.

Além do mais, como única artista plástica de sua aldeia, que precisou sozinha aprender a se desenvolver como profissional, Daiane se sente feliz ao ser inspiração para outras jovens indígenas. “Muitas não sabem que a arte pode ser levada a sério. Mas aí elas me vêm. E se inspiram. Querem ser artistas também. É transformador”.

Por fim, ela se diz feliz por representar o seu povo a partir de algo que lhe faz tão bem:

“Quando eu penso em arte, eu penso em calmaria. A alma se acalma. É como uma terapia”, conclui.

Tela de Daiane Barbosa: meninas reconhecem as próprias pinturas potiguara no trabalho da artista plástica — Foto: Daiane Silva Barbosa/Daiarts

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