Por Alba Valéria Mendonça, g1 Rio


Na Unidos da Tijuca, as águas da Baía de Todos os Santos é o fio condutor e narrador do enredo sobre a cultura e a vida do lugar — Foto: Divulgação/Mauro Samagaio

A Unidos da Tijuca vai cantar as histórias, as lendas e o cotidiano do povo que vive às margens da Baía de Todos os Santos, na Bahia. Um enredo baseado na oralidade, na afetividade, cultura, espiritualidade e banhado nos sentimentos dos moradores de pertencimento àquela região. E tudo isso vai ser contado de forma bem criativa: pelas águas da baía.

Um enredo caudaloso, mas que ninguém pense na obviedade de alegorias repletas de água, que seria um recurso esperado. É a onda de criatividade que vai ditar o fluxo de "É onda que vai... é onda que vem... Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra", do carnavalesco Jack Vasconcelos. A Unidos da Tijuca será a quarta escola a desfilar no domingo (19).

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Unidos da Tijuca vai mergulhar na cultura peculiar da população ribeirinha da Baía de Todos os Santos — Foto: Divulgação/Mauro Samagaio

A ideia é construir uma narrativa fundeada na emoção, de forma lúdica. Por isso, lá estarão as sereias, peixes, botos, histórias de pescadores, festas, músicas, lendas, contos e encantos naturais daquela população ribeirinha.

"Muito já se cantou a Bahia na Sapucaí. Mas costumo dizer que a nossa é diferente porque vamos cantar a baía sem H. E um trabalho assim exige um exercício artístico de criação, que vai da escolha dos materiais às cores, com fantasias e alegorias mais fluidas, que permitem movimentos marcados e ritmados, como as ondas. As expressões corporais vão causar esse efeito especial, de balanço das águas, no chão e nas alegorias, mas sem tirar a liberdade do componente", disse Jack.

O carnavalesco se surpreendeu e se encantou com a riqueza da cultura popular peculiar e engajada da região pouco explorada daquelas ilhas, que integram o ambiente da segunda maior baía do mundo.

"Todos os moradores se conhecem e sabem suas histórias, que passam de geração a geração, com muito orgulho. Eles têm uma noção muito grande de pertencimento daquele lugar. Eu me apaixonei pela história do lugar", disse Jack.

Na Unidos da Tijuca, muita criatividade para falar das águas da Baía de Todos os Santos sem usar o recurso óbvio: a água — Foto: Divulgação/Mauro Samagaio

O carnavalesco — que já foi chamado de tropicalista por causa de seus desfiles coloridos — usa a cor como elemento básico de comunicação. Para falar de água, os tons de azul vão sobressair, mas estarão ladeados pelo alaranjado do pôr do sol e pelo colorido das festas.

A escola começa contando a lenda indígena que explica a criação da baía. Logo depois, lembra o início da colonização, das riquezas trazidas e a descoberta da beleza natural da região.

Um dos pontos fortes do enredo é a religiosidade dos povos indígenas, africano e europeu, que se fundem e resultam na mistura do catolicismo, com os cultos afro e os rituais indígenas. Um sincretismo que vai se espalhar por todo o país.

A vida simples, mas rica em cultura, festas e tradições da população ribeirinha da baía, será retratada pela Unidos da Tijuca — Foto: Divulgação/Mauro Samagaio

A Tijuca também vai mostrar a vida simples, mas carregada de cultura, das populações ribeirinhas com a pescaria e mostra a baía como uma grande estrada para o comércio dos produtos das ilhas, com suas feiras. E a importância das águas da baía para o sustento do povo.

Cada ilha tem suas histórias e lendas a respeito de naufrágios e tesouros perdidos debaixo d'água. Segundo Jack, há inclusive uma ilha pequena desabitada, chamada de Ilha do Medo, porque se acredita assombrada. A baía, que tem 10% de seu volume em água doce — que recebe de três rios — é considerado o ponto de encontro de orixás africanas.

"O povo diz que por ter água doce e salgada, é na baía que Iemanjá, a rainha do mar, e Oxum, a senhora das águas doces, se encontram. É também um santuário ecológico diversificado, com botos e rodeada de mangues", contou Jack.

Povo que vive às margens da baía celebram rituais religiosos da ancestralidade africana, como vai mostrar a Unidos da Tijuca — Foto: Divulgação/Mauro Samagaio

E como é carnaval, a Unidos da Tijuca vai encerrar seu desfile lembrando as festas, as músicas e danças, procissão em homenagem a Nossa Senhora da Ajuda e blocos carnavalescos.

"O povo da Baía de Todos os Santos é muito festeiro. Tem festa praticamente o ano inteiro. Então, é isso que a Tijuca vai mostrar: um lugar culturalmente rico, bonito, abençoado e festeiro. E nós vamos embarcar nessa viagem, num banho de axé", disse o carnavalesco.

Cante o samba:

Seleção do Samba: Unidos da Tijuca

Seleção do Samba: Unidos da Tijuca

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